Não está “nice”

Foto: Alexandre Debbache (OGC Nice Médias) & Serge Haouzi (Nice-Matin) - Bautheac e Pied lamentam as chances perdidas em Mônaco

Bautheac e Pied lamentam as chances perdidas em Mônaco

Grande surpresa da última temporada do Campeonato Francês, o Nice vai encerrando esta edição da competição com chances (pequenas, é verdade) de rebaixamento. Ao perder no domingo (20) para o Monaco, em partida válida pela 34ª rodada do torneio, as Águias ficaram na 15ª colocação com 39 pontos, seis acima do Sochaux, primeiro time dentro da zona de rebaixamento. Quando a 34ª jornada da temporada anterior foi encerrada, o Nice tinha 57 pontos, era o 6º colocado e estava somente três atrás do Lyon, sonhando com a impensável vaga na Liga dos Campeões (que se traduziu apenas em vaga na Liga Europa).

Muitos se questionam os motivos que levaram a esta queda de rendimento, principalmente porque a base do time foi mantida, assim como o experiente técnico Claude Puel. Analisando todas as nuances da temporada do Nice, levantei alguns pontos que podemos justificar como primordiais para esse notório declínio do time. Vamos a eles:

Lesões

A razão mais notada foi a série de lesões que assolou o time. Puel só conseguiu repetir a escalação uma vez durante todo campeonato (1-0 Guingamp e 0-1 Toulouse, 8ª e 9ª rodada). O treinador ainda foi obrigado a utilizar 27 jogadores durante a temporada.

Puel também se viu obrigado a aproveitar muitos atletas da base. Por mais que o Nice tenha uma reconhecida excelência na formação de jogadores, o número utilizado foi elevado e ocasionado pelas lesões. Foram 12 jogadores de 23 anos ou menos que atuaram nesta temporada pelas Águias, incluindo Mouez Hassen, 19 anos, Mohamed Said Benrahma, 18, Albert Rafetraniaina e Franck Honorat, ambos com 17.

O mais novo a entrar em campo foi um dos filhos do técnico: Paulin Puel, de apenas 16 anos. Isso foi na partida diante do Monaco. O detalhe é que Claude Puel já tinha o filho Gregoire (também jovem, de 22 anos) em campo, encerrando a partida, então, com as duas crias no time.

Devo ressaltar, também, que alguns dos sub-23 do elenco principal já são presenças constantes nos jogos, como são os casos de ‘Timo’ Kolodziejczak, 22 anos, e do meteoro Neal Maupay, 17.

Além da juventude do time, a dupla de zaga, que era um dos pontos fortes na última temporada, foi desmantelada. O argentino Renato Civelli se transferiu para o Bursaspor (Turquia) e Nemanja Pejcinovic não conseguiu manter o ritmo anterior. Em 2013/14, o sérvio fez apenas 14 jogos e participou de apenas uma partida em 2014, estando no estaleiro há mais de dois meses.

Para tentar tapar estes buracos, Puel fez diversas improvisações, como utilizar o lateral-esquerdo Kolodziejczak e o meio-campista Didier Digard na zaga. O remendo que mais está durando é a presença do também meio-campista Mathieu Bodmer entre os zagueiros. Aos 31 anos, o atleta é “macaco velho” no futebol francês e já desempenhou inúmeras funções pelos clubes que defendeu. Atuar no miolo de zaga foi apenas mais uma das posições que cumpriu com eficiência.

Pior ataque

Foto: Alexandre Debbache (OGC Nice Médias) & Serge Haouzi (Nice-Matin) - Cvitanich não marca há três meses

O argentino Dario Cvitanich não marca há três meses

Se a defesa sofreu por falta de peças, o ataque é ineficaz em função da queda de rendimento do principal atleta da posição. Hoje, o Nice tem o pior ataque do Campeonato Francês com apenas 29 gols marcados, média inferior a um por jogo. Neste mesmo estágio da temporada passada, as Águias haviam balançado as redes 51 vezes e tinham o 6º melhor ataque da competição ao lado do Montpellier (o Nice terminou com 57 tentos, o 5º mais positivo).

Parte dessa fraqueza ofensiva passa pela fraca temporada do atacante Dario Cvitanich. Depois de anotar 19 gols e ser o vice-artilheiro da temporada passada do Campeonato Francês, o argentino foi às redes somente oito vezes em 2013/14. Para piorar, o atleta de 29 anos fez somente um gol em 2014 e não marca há três meses (nove jogos).

E se na temporada passada Cvitanich teve como maior seca apenas três partidas, nesta o argentino já ficou sem marcar por sete jogos e, atualmente, nove. O nervosismo pela falta de gols do argentino é refletido no número de cartões. Já são oito cartões amarelos, dois há mais que toda temporada passada.

Troca de casa

Querendo ou não, o fato do Nice ter trocado de estádio nesta temporada fez diferença. O acanhado Stade du Ray, com capacidade para 18.696 pessoas, era um diferencial do time devido à pressão que a torcida exercia em cima dos adversários. O pequenino estádio deu espaço a moderna Allianz Riviera, palco da próxima Eurocopa, e capaz de receber mais de 35 mil pessoas.

A média de público subiu significativamente, é verdade. Em 2012/13, a média era de 10.246 (terceira pior) e na anterior de 9.207 (segunda pior). Nesta já é de 24.160 pessoas, sétima melhor média do campeonato.

O que pesa de forma contrária, entretanto, não é a presença de público, mas sim os resultados. Na 34ª rodada da temporada passada, o Nice havia vencido 11 dos 18 jogos realizados no Stade du Ray, tendo a segunda melhor campanha como mandante. Na atual temporada venceu nove de 17 e ainda tem o dobro de derrotas (seis contra três).

Péssimo visitante

Porém, se campanha na Allianz Riviera poderia lhe credenciar a um posto no meio da tabela, a atuação longe dela é lamentável. O Nice tem a terceira pior campanha como visitante, tendo perdido 11 jogos e vencido apenas dois de 17.

O mais impressionante ainda é o ataque. Lembra que falei que tinha o pior ataque com 29 gols? Pois é, oito desses 29 gols foram como visitante. OITO! É disparado o pior ataque entre os times que jogam fora de casa.

Na temporada passada, o Nice somou 26 pontos longe de casa, 20 até a atual rodada.

Tabela difícil

Na matemática, o Nice precisa somar sete pontos dos 12 que disputará para evitar o rebaixamento, mas, pela tabela, essa fuga deverá vir antes. O Sochaux, que é o primeiro time dentro da zona de rebaixamento, pega o Paris Saint-Germain no próximo dia 27. Uma (provável) derrota já diminui a nota de corte para 39, fazendo com que o Nice precise somar quatro pontos.

A tabela do Nice, apesar da mínima chance de queda, inspira cuidados. No próximo dia 26 recebe o Stade de Reims, equipe que classifico como uma das mais perigosas quando joga fora de casa. Tem a 8ª melhor campanha como visitante e assim já atrapalhou as vidas de Lyon, Marseille e Lille.

Logo em seguida, as Águias fazem dois confrontos diretos longe da Allianz Riviera. Pegam o Sochaux no dia 4 de maio e o Evian, em partida sem data confirmada. A participação será encerrada em casa diante do Lyon.

A chance de rebaixamento, volto a dizer, é minúscula, mas o Nice precisará curar alguns traumas, principalmente o de jogar fora de casa. Apesar de ser muito mais forte que os adversários diretos, não pode se acomodar na vantagem técnica, muito menos se apegar na tabela mais difícil dos rivais. A fórmula é simples: jogar futebol!

Crédito das imagens: Alexandre Debbache (OGC Nice Médias) & Serge Haouzi (Nice-Matin)

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Peço perdão pela demora em atualizar o blog. Tenho estado muito ocupado com o trabalho e a faculdade e nem sempre tenho aquela meia-hora marota pra começar a digitar alguma coisa. Sempre que possível tentarei trazer alguma coisa, isso eu garanto.