Um dos grandes símbolos do Real Madrid é Raúl González. O atual atacante o Schalke se tornou popular nos Merengues após usar durante vários anos a camisa 7. E durante algum tempo, Raúl foi algoz do Barcelona no Superclásico, marcando gols decisivos.
Raúl já se foi e hoje a camisa 7 é usada por um português, um tal de Cristiano Ronaldo!
Ainda há quem diga que ele é pipoqueiro, injustiça tremenda. Ronaldo cansou de decidir jogos em sua época de Manchester United e tem feito a sua parte com a camisa do Real Madrid. Hoje foi só a prova de que o termo “pipoqueiro” junto com seu nome não combinam.
Cristiano Ronaldo jogou durante boa parte da partida como centro-avante. José Mourinho – taxado por alguns como retranqueiro, mas disso eu falo depois – preferiu sacar Karim Benzema do time e colocar Mesut Özil, deixando o time sem um centro-avante fixo. Ronaldo fez uma espécie de centro-avante, ou como virou moda falar, virou um “falso nove”. Jogando assim, ele se esforçou. Se movimentou, buscou jogo, mas em vários lances se atrapalhava nos movimentos.
Com a entrada de Adebayor na metade do segundo tempo, Cristiano Ronaldo passou a jogar pelos flancos e foi melhor aproveitado. O português passou a ajudar muito nos contra-ataques e criou algumas chances de gol.
Na prorrogação, quando alguns jogadores davam sinal de cansaço, o português estava com um fôlego daqueles! Dava piques em que saia muito atrás do marcador e chegava bem a frente. Até que um flash-back de um jogo importante veio em sua memória.
Na final da Liga dos Campeões da temporada 2007/08, Ronaldo jogava pelo Manchester United e após levantamento de Wes Brown, o português subiu sozinho e testou pro fundo das redes, fazendo o gol dos Red Devils na final que acabara em 1×1, mas com vitória de seu time nas penalidades. Veja o gol:
Agora, perceba no jogo de hoje contra o Barcelona: Após levantamento de Dí María, Cristiano Ronaldo sobe livre e cabeceia pro fundo das redes:
Não são lances iguais, mas pela representatividade do jogo, pode-se dizer que são parecidos.
E de novo a mística da camisa 7 decidindo à favor do Real Madrid. Já não bastava o Raúl fazer tantos gols com a camisa madridista vestindo a sete, surge um novo jogador que já tem vários gols com essa mesma camisa e esse mesmo número, mas que só agora veio a mostrar seu verdadeiro valor. Foi muita grana investida e Florentino Pérez espera de Cristiano Ronaldo exatamente isso, que além de marcar gols, que ele possa decidir e trazer títulos para o Real.
Sobre o jogo…
Boa partida. O primeiro tempo foi nervoso. O Barcelona foi de certa forma surpreendido, só que do mesmo modo em que foi surpreendido no sábado. Khedira, Xabi Alonso e Pepe pegavam Messi, Xavi e Iniesta e assim, o time catalão não conseguia rodar bem a bola e nem trabalhar o jogo como costuma fazer. Enquanto o Real Madrid marcava forte no campo adversário e não se intimidava e saia pro jogo, mas tinha dificuldades de criar jogadas.
Pepe, que inexplicávelmente apareceu durante uma dezena de vezes na área do Barcelona – como um legítimo centro-avante -, criou a grande oportunidade da etapa inicial, mandando a bola na trave, quando ele apareceu na grande área para cabecear. Se um balanço da primeira etapa fosse feito, poderia ser dito que o Real Madrid foi melhor, já que marcou forte, travou o jogo adversário e foi mais perigoso no ataque.
Mas na etapa final o jogo mudou de vez. A marcação ficou mais frouxa e o Real Madrid recuou. Messi passou a voltar mais para armar as jogadas e a dupla Xavi-Iniesta passou a trabalhar mais no jogo, porém, sem tanta eficiência. O Barcelona mandou durante a segunda etapa inteira. Criou muitas chances, se aproveitou do buraco no lado direito de defesa do Real e Messi jogou muito. Mas nada de gol…legal, porque tivemos um irregular de Pedro, tento bem anulado. Jogo para a prorrogação.
A partida estava naquele marasmo tradicional de início de prorrogação, até que veio o gol de Cristiano Ronaldo. O Barcelona sentiu demais o gol. A equipe ficou presa contra a parede e não sabia exatamente o que fazer. Situação adversa no placar não é algo típico da vida do Barça. Não teve jeito, o Real Madrid venceu a segunda batalha e vai com muita moral para os jogos da Champions League, além, de é claro, ser campeão da Copa do Rei.
Não é nada, não é nada, mas o time que os derrotou por 5×0 no primeiro turno da Liga BBVA, não o venceu em dois jogos em menos de uma semana. Nas duas partidas, um empate e uma vitória. São dois resultados que podemos dizer que favorecerem ao Real Madrid. A vitória, é claro, pois valeu um título, mas o empate também, pois foi lá que os Merengues descobriram como parar o Barcelona.
Pep Guardiola terá de descobrir algo para surpreender Mourinho, já que o português aprendeu um modo de parar o Barcelona.
Sobre Mourinho…
E o glorioso André Rizek – acreditem, ele não sabe o que significa o termo “hat-trick” -, apresentador do programa “Redação Sportv” soltou uma das frases mais esdrúxulas que já ouvi sobre futebol vinda de um jornalista: “José Mourinho é um Celso Roth de terno“.
Rizek entra na seleta lista de jornalistas e torcedores que devem ter visto apenas os duelos “Mourinho versus Barcelona”. Primeiramente: o time que se expor contra o Barça vai levar um sacode, até porque com muitos jogadores de frente e poucos defensores, vai ter uma marcação ruim, pois é difícil tirar a bola do Barcelona. Segundo: a Inter de Mourinho jogou retrancada no Camp Nou na temporada passada, não só pelas circunstâncias da partida, que todos conhecem e eu não preciso ficar explicando, mas porque na ida, no Giuseppe Meazza, a Inter venceu por 3×1 e tinha vantagem na volta.
Nos dois jogos contra o Barcelona nessa atual temporada, o Real Madrid não entrou com nenhuma retranca. Força defensiva é diferente de retranca. Aliás, no jogo de hoje, os Merengues saíram mais pro jogo que o Arsenal – na volta das oitavas-de-final da Champions League – por exemplo. O time inglês é taxado de “ofensivo, joga bonito, e blá, blá, blá”, mas não finalizou nenhuma vez na então partida.
Nas épocas anteriores de Mourinho no Porto, no Chelsea e na Inter, o português sempre treinou times ofensivos. Os Dragões campeões europeus jogavam com três atacantes e com volantes que se mandavam pro ataque. Nos Blues bi-campeões ingleses, o time também tinha três atacantes. Sem falar que na Inter, quando era preciso, Mourinho tirava um zagueiro para enfiar um centro-avante no time.
Enfim, chamá-lo de retranqueiro é coisa de quem quer aparecer – caso do Rizek, que não tem o que falar e embarca nessa histórinha – ou coisa de quem viu só dois ou três jogos de determinado time, jogador, treinador, etc..