O dia 25 de maio de 1983 entrou para a história do Hamburg SV e também do futebol alemão. O clube do norte derrotou a Juventus pelo marcador mínimo, gol de Félix Magath, e sagrou-se campeão europeu pela primeira vez, tornando-se também o segundo clube do país a obter tal feito. A conquista também era uma forma de recuperar-se após a perda do caneco em 1980 quando o campeão foi o Nottingham Forest.
A equipe treinada pelo lendário Ernst Happel tinha tudo para se tornar uma das grandes potências da Alemanha daquele momento em diante. Nos seis anos do austríaco no comando técnico, além do título europeu, o HSV foi bicampeão alemão em 82 e 83 e ficou outras duas vezes na segunda colocação.
Porém, desde que Happel deixou o clube em 1987, o Hamburg só voltou a aparecer nas três primeiras posições da Bundesliga na temporada 1999/00, quando acabou em terceiro lugar, atrás de Bayern e Leverkusen, mas muito distante da briga pelo título. Aliás, título esse que nunca mais veio, vale ressaltar.
O curioso da situação do Hamburg é que o clube nunca passou por efeitos como os de Köln, Borussia Mönchengladbach, Nürnberg e outros campeões nacionais que em alguns momentos foram clubes “ioiô”. Os dinossauros nunca caíram para a segunda divisão (único time alemão a disputar todas as temporadas da Bundesliga), por consequência, nunca sofreram com graves problemas financeiros ou algo do tipo. É um clube, de certa forma, estável, por isso a estranheza desse atual momento.
Se não bastassem apenas os resultados inexpressivos em âmbito nacional, o Hamburg também não segue a linha da maioria dos clubes do país. Dortmund, Bayern, Leverkusen, Bremen (apesar de este também viver fase horrorosa), Schalke e muitos outros observam o mercado alemão e de países emergentes, gastam pouco e ainda formam jogadores com a intenção de utilizá-los com frequência no time principal e não para vendê-los antes mesmo de chegarem à equipe de cima. O HSV não faz nada disso, aliás, faz o contrário.
Desde a temporada 2008/09, quando caiu para o rival do norte, Werder Bremen, na semifinal da Copa da Uefa, o Hamburg tem contratado de montão, inclusive, trazendo jogadores de renome internacional como Ruud van Nistelrooy e Zé Roberto, além de jovens promessas por altos valores, como o sueco Marcus Berg, artilheiro da Eurocopa Sub-21 de 2009, comprado por 10 milhões de euros.
O auge das contratações foi a temporada 2011/12 quando Frank Arnesen assumiu a direção de esportes do clube. O dinamarquês trabalhou por cinco anos no inglês Chelsea e montou uma filial do time londrino na Alemanha. Em seu primeiro ano, o diretor trouxe cinco jogadores oriundos dos Blues e, de todos eles, apenas o turco Gökhan Töre rendeu, não à toa, foi vendido no ano seguinte para o Rubin Kazan da Rússia.
Para a última temporada, Arnesen acertou a mão ao contratar menos e fazer investimentos cirúrgicos como trazer de volta o ídolo Rafael van der Vaart, resgatar a carreira do goleiro René Adler e surpreender com o volante Milan Badelj e com o centroavante Artjoms Rudnevs. Ainda assim, o desempenho na Bundesliga foi abaixo do esperado e o Hamburg, na 7ª colocação, ficou novamente fora das competições internacionais.
Para a próxima temporada, o clube do norte decidiu mudar. Frank Arnesen deixou a barca e Oliver Kreuzer assumiu a direção de esportes. O alemão de 47 anos jogou no Bayern de Munique por seis temporadas nos anos 90 e já está há mais de uma década trabalhando na parte administrativa do futebol. Sua última experiência foi no Karlsruhe, por onde ficou duas temporadas.
A meta de Kreuzer é diminuir a alta folha salarial do clube. Hoje, ela gira em torno de 50 milhões de euros e a ideia é deixa-la abaixo dos 40 milhões. Para alcançar tal objetivo, o destaque do time, Heung-Min Son, foi vendido por 10 milhões ao Bayer Leverkusen e o flop Marcus Berg (terceira maior contratação da história do clube e autor de míseros cinco gols em menos de 50 jogos) também deixará o clube em direção do Panathinaikos.
Apesar dessa filosofia “pé no chão”, o Hamburg parece continuar com a sina de jogar dinheiro fora. Para tomar de exemplo, o reforço mais recente foi o zagueiro Johan Djourou. O francês já era um fracasso no Arsenal e passou seis meses terríveis jogando no Hannover. Apesar de o investimento ter sido barato (750 mil euros), o retorno dentro de campo não parece que será dos maiores.
Em decadência na carreira, o veterano Roque Santa-Cruz também esteve próximo de acertar com o clube. Kreuzer o contatou, mas a mulher do paraguaio não queria morar em Hamburg e o jogador recusou a transferência.
A janela de negociações foi aberta há pouco tempo, isso significa que ainda poderemos ver outras bizarrices no clube do norte. E é assim que o HSV, andando na contramão do futebol germânico, vai se esforçando para manter o status de único clube que disputou todas as edições da Bundesliga.
Imagens: UEFA