Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain possuem vários atrativos para formar uma rivalidade destrutiva na Europa. Os dois clubes são de cidades antagônicas, com diferenças culturais e sociológicas, além de possuírem torcidas fanáticas que não se bicam, fazendo com que tenham um forte potencial comercial, que foi devidamente explorado durante as décadas de 1990 e 2000. Assim surgiu Le Classique, tido como o maior clássico da França.
Dentro das quatro linhas também há grande rivalidade. Enquanto o PSG se orgulhava do Parque dos Príncipes e do rápido crescimento, o Marseille batia no peito e, com muito orgulho, gritava que era o único francês a vencer uma Liga dos Campeões.
Todos esses fatores, porém, estão indo por água abaixo pela disparidade técnica entre as duas equipes nos últimos anos. Ambos se mostram incapazes de competir em níveis iguais. O cenário atual mostra um Paris milionário desde a chegada da Qatar Sports Investiments defronte um OM, que passou por dificuldades financeiras e somente agora, com o norte-americano Frank McCourt no comando, tenta se reerguer. O reflexo disso é uma doutrinação parisiense que perdura seis anos.
A última vez que os torcedores do Marseille voltaram para casa com uma vitória foi no dia 27 de novembro de 2011, quando derrotaram o já milionário PSG por 3×0. Era a primeira temporada do time da capital francesa com investimento do Qatar e a equipe ainda passou alguns maus bocados no primeiro semestre com o técnico Antoine Kombouaré, que viria a ser demitido na virada do ano. Um dos pontos altos desse preocupante rendimento foi exatamente esta derrota no Vélodrome.
Desde aquele dia, foram 14 jogos, com impressionantes 12 vitórias do PSG e dois empates. Neste período, o Paris fez 32 gols (média de 2.28 por jogo) e sofreu somente 11. Graças a esse novo cenário, o time da capital francesa passou a ser o dominador do clássico. Em 91 jogos ao longo da história, acumulou 38 vitórias contra 32 do OM e 21 empates.
No último jogo, aliás, o PSG sequer tomou conhecimento do maior rival e meteu 5×1, em pleno Vélodrome. Foi a maior goleada do clássico, igualando o mesmo placar aplicado pelo próprio PSG em janeiro de 1978.
Se dividirmos Le Classique em antes e depois do PSG milionário, notaremos bem o desequilíbrio em que ficou este grande jogo. Antes da versão qatarina do Paris, foram 76 jogos, com 26 vitórias parisienses, 19 empates e 31 triunfos do OM, que também tinha o melhor ataque, com 105 gols contra 92. Na nova versão parisiense são 15 jogos, com 12 vitórias do time da capital, dois empates e somente uma vitória marselhesa.
É essa discrepância que me preocupa. O Marseille tinha a vantagem antes, mas era equilibrado. O OM nunca teve esses 14 jogos de invencibilidade – o máximo que atingiu foram nove jogos entre 1990 e 1994, com seis vitórias e três empates – tampouco acumulou dez vitórias seguidas como fez o PSG entre 2012 e 2016. É fora do comum e preocupante para o futuro do clássico. Hoje, somente a rivalidade entre as cidades de Marseille e Paris e das duas torcidas mantém o confronto vivo.