O passo adiante de Lacazette

Lacazette foi anunciado no Arsenal nesta quarta-feira (5) | Foto: Divulgação/Arsenal

Chegou a hora de Alexandre Lacazette. Após algumas temporadas tendo nome ventilado em algumas das principais equipes do futebol europeu, enfim apareceu o momento de deixar o Olympique Lyonnais e buscar voos maiores no Arsenal, disputando a badalada Premier League.

Vendido aos Gunners por € 53 milhões, o atacante formado no próprio Lyon sai do clube com diversas sensações. Individualmente, deixa a França com o status de quarto maior goleador da história do OL, com 129 tentos. Se continuasse onde está, fatalmente subiria mais no ranking, já que o terceiro e o quarto colocado, Serge Chiesa e Bernard Lacombe, respectivamente, estão com 134 e 149 gols.

Além disso, Lacazette se tornou o jogador do Lyon com mais gols em uma única temporada do Campeonato Francês. Primeiro, em 2014/15, bateu recorde histórico de André Guy, de 1968/69, com 25 gols, terminando o ano com 27 tentos. Na última edição do torneio nacional, Laca bateu o próprio recorde e marcou 28 vezes.

Em contrapartida, coletivamente, a sensação é de que deixa um clube que não foi capaz de estar em mesmo nível. Desde a temporada 2009/10 entre os profissionais, conquistou apenas a Copa da França de 2012 pelo OL. Pouco, muito pouco.

As razões para esse currículo pouco extenso em títulos são várias e passam muito pelos técnicos incapazes de fazer o time render mais e até mesmo da montagem dos elencos, quase sempre desequilibrados e pautados no que o clube produzia na base. Lacazette, entregando pelo menos 20 gols desde 2013/14, certamente é o menor dos culpados por não ter conquistado tantos títulos.

O Lyon agora fica para trás e ele terá um árduo desafio pela frente na Premier League. O Campeonato Francês vem fornecendo um terreno fértil para os clubes ingleses, mas Lacazette é um dos poucos que vai com status elevado nas últimas temporadas. Com a iminente saída de Alexis Sanchez, o francês chega para ser o grande nome do comando de ataque do time de Arsène Wenger, até mesmo pelo status de maior negociação da história do clube inglês.

Só que da mesma maneira em que ir para a Premier League é um novo desafio na carreira de Lacazette, essa transferência também é um risco assumido a menos de um ano para a Copa do Mundo. Com apenas 11 jogos na seleção principal, um passo em falso na Inglaterra pode enterrar qualquer chance de estar no time inicial de Didier Deschamps na Rússia.

E sempre gosto de lembrar: a posição mais aberta dos Bleus é o ataque. A sombra de Lacazette ronda a posição há muito tempo, só que, hoje, Olivier Giroud é o cara da função. O estilo bruto de jogo do Gunner e os poucos indícios de que pode ser um atacante realmente capaz de decidir jogos grandes, porém, mantém a função órfã do descartado Karim Benzema. Em meio a isso, surgiu Kyllian Mbappé, o prodígio que desponta como o futuro francês e que já dá amostras de que pode ser aproveitado agora.

Por outro lado, é claro, Lacazette pode acertar em cheio, ter uma temporada de ouro e, enfim, se tornar um nome de peso na seleção. Basta lembrar o caso de Dimitri Payet, que trocou o Marseille pelo West Ham na temporada que culminaria com a Eurocopa. Explodiu na Inglaterra, teve temporada de destaque nos Hammers e chegou ao torneio europeu com status de peça-chave do time. Por que não pode acontecer o mesmo com o novo reforço do Arsenal?

O inferno de Mamadou Sakho

Sakho está fora dos planos de Jürgen Klopp, no Liverpool | Foto: Getty Images

Sakho está fora dos planos de Jürgen Klopp, no Liverpool | Foto: Getty Images

Mamadou Sakho é o típico zagueiro francês: alto, de ombros largos, forte fisicamente e parece ter duas vezes o tamanho que realmente tem. Na França, em qualquer esquina é possível encontrar defensores assim e todo time deve ter um ou dois no elenco.

Entretanto, diferente de muitos outros, Sakho nasceu para o futebol em algo semelhante a um berço de ouro. Formado no Paris Saint-Germain, na época em que o clube não era milionário, o zagueiro era tido como a grande esperança do futuro de uma equipe que era grande só no papel. Ainda longe dos xeiques e das cifras hipnotizantes, os parisienses sonhavam alto e tinham no zagueiro uma grande referência para crescer.

Lapidado desde os 12 anos de idade em Camp des Loges, o defensor cresceu rápido, inclusive sendo titular do PSG campeão nacional sub-18… quando tinha apenas 15 anos. Dois anos depois, já estava entre os profissionais do clube. Em pouco tempo, Sakho foi de promessa a capitão do time e foi um dos que ganhou respeito da torcida parisiense por conseguir transitar da “era pobre” pro momento milionário da equipe.

Ótimo no jogo físico e de boa qualidade técnica para um defensor do biótipo que tem, ele sempre se saiu bem em Paris. Salvo um ou outro equívoco, coisa natural para um jovem, Sakho fez valer todo o cuidado e dedicação que recebeu na base do clube.

Deixou o PSG em 2013 com o título de campeão francês, o ápice que teve pelo clube. Além disso, acumulou conquistas individuais, como Jogador Jovem do ano da União Nacional dos Futebolistas Profissionais (UNFP em francês) em 2011, mesma temporada em que entrou na seleção do campeonato.

Formado em Paris, Sakho foi capitão do PSG durante algumas temporadas | Foto: Divulgação/PSG

Formado em Paris, Sakho foi capitão do PSG durante algumas temporadas | Foto: Divulgação/PSG

Hoje, com 26 anos (fará 27 em fevereiro) e na quarta temporada na Inglaterra, Sakho se vê em cenário totalmente oposto. Longe de Paris, o zagueiro vive um inferno que parece não ter fim em Liverpool, culminando com uma temporada 2016/2017 desastrosa, onde somente entrou em campo pelo time sub-23 dos Reds.

O que agrava a situação do francês é que o problema principal passa longe de estar somente dentro das quatro linhas. Dentro de campo, aliás, acumula boas atuações – apesar de deixar a impressão de que poderia render mais. Ao longo da passagem pelo futebol inglês, entretanto, Sakho possui uma série de episódios controversos, que foram minando-o dentro do próprio clube.

Em 2014, por exemplo, ao saber que ficaria de fora do clássico contra o Everton, simplesmente abandonou o estádio. O episódio foi contornado após um pedido de desculpas. Dois anos depois, teve a suspeita de doping no mês de abril, que fez com que a Uefa o investigasse. O Liverpool optou por afasta-lo durante a investigação. Ele chegou a ser suspenso, mas foi absolvido em julho. Neste meio tempo, perdeu tempo, espaço e ficou fora da Eurocopa, que seria disputada na própria França.

O estopim, entretanto, foi durante a pré-temporada. O atraso no voo para os Estados Unidos, onde o Liverpool se preparava para a temporada, e também para sessões de tratamento médico e refeição desagradaram ao técnico alemão Jürgen Klopp, que o mandou embora da terra do Tio Sam e o afastou para o time sub-23, situação que se mantém até este momento.

A irresponsabilidade na pré-temporada esfriou a relação entre Klopp e Sakho | Foto: Getty Images

A irresponsabilidade na pré-temporada esfriou a relação entre Klopp e Sakho | Foto: Getty Images

Longe da seleção francesa desde março de 2016, Sakho não jogou pelo time principal nesta temporada. A última aparição pelos Reds foi em 20 de abril de 2016, na goleada por 4×0 sobre o Everton, onde foi bastante elogiado pela marcação em cima do belga Romelu Lukaku. Cabe acrescentar que o declínio do francês teve início em um de seus principais momentos no clube, se não o melhor. O zagueiro era titular de Klopp, vinha de boas atuações e com gols decisivos, como na classificação para a semifinal da Europa League, na vitória por 4×3 sobre o Borussia Dortmund.

Porém, o episódio do doping – depois comprovado que era inocente – o deslocou totalmente do cenário do clube. Perdeu espaço e prestígio e não mostrou responsabilidade para recuperar dentro da pré-temporada.

Somado a tudo isso, o histórico de lesões é preocupante e contribuiu para que não conseguisse ter uma grande sequência. Desde que chegou ao Liverpool foram sete problemas, conforme o site Transfermarkt:

– Temporada 13/14: estiramento na coxa – 59 dias;

– Temporada 14/15: estiramento na coxa – 77 dias;

– Temporada 14/15: lesão no quadril – 14 dias;

– Temporada 14/15: estiramento na coxa – 46 dias;

– Temporada 15/16: ruptura dos ligamentos do joelho – 38 dias;

– Temporada 15/16: lesão no joelho – 7 dias;

– Temporada 16/17: problemas no tendão de Aquiles – 42 dias;

Somente por lesão, Sakho perdeu 52 partidas do Liverpool, quase a mesma quantidade de jogos que teve na Premier League: 56. Números estarrecedores que aumentam a sensação de inferno que vive em Liverpool.

O francês agora tem jogado pelo time sub-23 do Liverpool | Foto: Getty Images

O francês agora tem jogado pelo time sub-23 do Liverpool | Foto: Getty Images

O fato é que os Reds querem se livrar de Sakho de qualquer maneira. O problema é que o zagueiro renovou contrato em 2015 e agora tem vínculo até junho de 2020, o que faz com que o Liverpool queira ao menos £20 milhões para deixa-lo sair. Sevilla, Galatasaray e Swansea City surgiram como interessados. Até o fechamento da janela, muita coisa vai rolar.

Sem confiança, sem moral dentro do clube e sem condição física ideal, Sakho, em uma idade onde poderia estar atingindo o auge de uma carreira que iniciou de forma meteórica, hoje se vê no ocaso dela, buscando um clube para jogar e, enfim, voltar a velha forma.

A culpa é do Lyon

Gomis finalmente encontrou um novo clube

Gomis finalmente encontrou um novo clube

Após semanas de pura especulação, o centroavante Bafétimbi Gomis parece ter definido seu destino: o Newcastle. Jean-Michel Aulas, presidente do Lyon, confirmou o acerto por oito milhões de euros, mais dois de bônus e acrescentou que algumas taxas e formas de pagamento faltam para a concretização da negociação.

Positivamente para a carreira do atacante, essa transferência significa uma provável evolução técnica. O Predador jogará em uma liga mais forte, em um clube ambicioso (apesar dos resultados decepcionantes na última temporada) e tradicional na Inglaterra. Além disso, Gomis encontrará um clube com dez jogadores franceses e não deverá demorar a se adequar ao ambiente do plantel.

Se internamente esse entrosamento não deverá tardar a aparecer, dentro de campo pode demorar e lhe causar um grave prejuízo em curto prazo. Há uma nítida mudança de ritmo entre o futebol praticado na França e na Inglaterra. A Ligue 1 é mais cadenciada e técnica, com um jogo mais lento até; já a Premier League preza pelo ritmo de jogo, intensidade, velocidade e participação de todos os atletas.

Não será nenhuma surpresa se Bafé Gomis demorar a se adaptar ao jogo inglês simplesmente por ser um centroavante à moda antiga, de pouca mobilidade e muita presença física na grande área. Se essa demora na adequação a Premier League realmente ocorrer, o jogador poderá ver sua vaga entre os 23 convocados para a Copa do Mundo de 2014 em risco.

O Predador está justamente entre os cotados para a posição mais aberta do time de Didier Deschamps: o ataque. Karim Benzema ainda não decolou na carreira e está há mais de um ano sem marcar pela seleção; Olivier Giroud, apesar de alguns brilharecos, ainda não transmite a confiança necessária para ser o “homem gol” do time.

Gomis já fez três gols com a camisa dos Bleus

Gomis já fez três gols com a camisa dos Bleus

Em seguida vem Gomis, mas junto dele chegam André-Pierre Gignac (com menos chances por sua rixa com Deschamps), Jérémie Aliadière e até mesmo o garoto Yaya Sanogo, da seleção sub-20, todos querendo uma mísera oportunidade.

Se a França chegar à Copa e o nome de Bafé Gomis não aparecer na lista final do técnico dos Bleus, a culpa não será somente sua, mas, em grande parte, será também do Lyon e de Jean-Michel Aulas.

JMA já adotou, há algum tempo, a política do corte de custos e não queria a permanência do atacante no clube pelo alto salário. Aparentemente, só ele não o queria lá, já que até mesmo o técnico do time, Rémi Garde, deu a entender nas entrelinhas de suas entrevistas que a decisão era única e exclusivamente do presidente.

Desde o princípio, Gomis declarou que gostaria de permanecer no Lyon, mas não foi ouvido e nem participou da pré-temporada da equipe. O argentino Lisandro López tem sido o atacante titular nesses jogos iniciais de temporada.

O próprio Predador tem consciência que uma mudança de ares, nessa altura do campeonato e faltando menos de um ano para a Copa do Mundo, a primeira de sua carreira, não é de todo bom. Sua ida para o Newcastle, visando o Mundial que será realizado no Brasil, é mais um ponto de interrogação do que um avanço. No futuro pode ser um progresso, mas agora, não.

Só que o futebol é imprevisível. Gomis pode arrebentar na Inglaterra, liderar o ranking de artilheiros da Premier League, assumir a titularidade da seleção e trazer o bicampeonato do mundo para a França, mas eu fico com a opção pessimista e coloco o Lyon e Aulas como culpados por uma eventual ausência no mundial.

É claro que o clube tem seus interesses e obrigações financeiras, mas nada que um bom papo não resolva. Não estávamos falando de um atleta odiado pela torcida e que corria risco de vida ao dar uma simples caminhada na rua, estávamos falando de um jogador reconhecidamente carismático e um dos principais goleadores do país. Além de todas essas qualidades, Gomis ainda queria ficar, duvido que esteja feliz em mudar de clube, mas era pra ser assim. No Newcastle, ele terá que ser, mais do que nunca, o Predador para conseguir chegar a Copa. Com 27 anos, é difícil imaginar que chegue em melhor forma técnica em 2018.

Imagens: Made In Foot e Zimbio