Como de costume, a temporada para os londrinos do Chelsea começou cheia de sonhos e expectativas. O time já não era mais treinado pelo experiente Carlo Ancelotti, e sim pelo jovem André Villas-Boas, campeão da UEFA Europa League na temporada anterior com o Porto. Uma nova conquista da Premier League e o tão aguardado título europeu eram as metas do já calejado elenco blue.
Com nomes de peso como Frank Lampard, Didier Drogba, Ashley Cole e John Terry, e ainda algumas jovens apostas, como Daniel Sturridge, David Luiz e Oriol Romeu, AVB tinha tudo para fazer um grande trabalho na Inglaterra. Tudo começou bem para o português, que viu seu time vencer sete (um nos pênaltis) dos primeiros dez jogos da temporada. O único revés aconteceu na 5ª rodada, na derrota por 3×1 diante do Manchester United.
Porém, os meses finais de 2011 reservaram muitos problemas aos Blues. Foram quatro derrotas, quatro empates e cinco vitórias nos últimos dois meses do ano. O mais preocupante é que alguns destes tropeços foram novamente em jogos grandes. O Chelsea perdeu duas vezes para o Liverpool e uma vez para o Leverkusen. No último dia de 2011, o time londrino foi derrotado em casa para o até então desacreditado Aston Villa por 3×1 e a partir de então, a vida de André Villas-Boas passou a se tornar um inferno.
As críticas para cima do comandante português eram incessantes e pesadas. Somado a tudo isso, novamente falou-se sobre as “patotas” existentes no elenco do Chelsea. Essa conversa já existia desde o tempo que Luis Felipe Scolari treinava o clube inglês, e sem Michael Ballack, as “lideranças” ficaram a cargo de Drogba, Terry e Lampard.
Contando com atletas insatisfeitos e outros tantos não rendendo o esperado – entenda-se Fernando Torres -, os maus resultados se tornaram rotina e Villas-Boas duraria apenas mais três meses. A derrota diante do West Bromwich foi a página final da decepcionante passagem do treinador português, que colecionou em suas últimas semanas de “vida útil”, cinco vitórias, três derrotas, quatro empates e o incrível prejuízo de estar perdendo pro Napoli por 3×1 na série das oitavas-de-final da UEFA Champions League.
Subitamente, o Chelsea cresceu de produção com a saída de André Villas-Boas e com a efetivação do italiano Roberto Di Matteo – que já tinha uma boa passagem pelo West Brom em sua curta carreira. Foram quatro vitórias seguidas logo de cara, algo que não acontecia desde o início da temporada, curiosamente, época da chegada de AVB, em suas semanas de adaptação.
Depois da derrota para o Manchester City no dia 21 de março, os Blues só voltariam a ser derrotados no começo de maio, no 2×0 diante do Newcastle quando já estavam levando a Premier League com a barriga.
Honestamente, eu não gosto muito de sair acusando jogadores de fazerem “corpo mole” ou algo do gênero, mas no caso do Chelsea, parece ser nítido que a “patota” só aceita trabalhar com quem eles querem. Porém, a evolução do clube londrino não se deve apenas a um excesso súbito de vontade de Drogba, Lampard e Cia., mas Di Matteo também tem seus méritos. O deslocamento de Ramires da cabeça de área para a linha de armadores foi uma ótima sacada. O brasileiro conseguiu melhorar seu rendimento e ter suas arrancadas melhor exploradas. O ex-volante encarnado foi eleito o melhor jogador do time na temporada!
O italiano também aproveitou para apostar em homens mais experientes, como John Obi Mikel e Salomon Kalou, em preterimento os jovens Romeu e Sturridge, que perderam muito espaço após a saída de Villas-Boas. Cá pra nós, Mikel e Kalou, com a qualidade técnica que possuem, não podem, em hipótese alguma, fazer “corpo mole” pra derrubar treinador, já que são jogadores de nível inferior a outros do elenco.
Desde que Roberto Di Matteo assumiu o comando técnico londrino, o time conquistou treze vitórias, três derrotas e quatro empates. Os Blues ainda ergueram o troféu da FA Cup pela sétima vez na história.
Na UEFA Champions League, a campanha que já era regular com Villas-Boas, se tornou heróica pela superação. Os treze gols marcados na fase grupos colocaram os ingleses na ponta da chave, o que não significava caminho fácil no mata-mata. O perigoso Napoli ajudou a instalar a crise em Stamford Bridge ao vencer o duelo de ida por 3×1. Na volta, já com Di Matteo, o Chelsea venceu por 4×1 e conseguiu reverter o resultado.
A classificação “um tanto quanto” sufocante diante do Benfica nas quartas-de-final mostrava que o time inglês estava vários degraus abaixo do seu adversário na semifinal, o Barcelona. A série ficou marcada nos grandes jogos da UEFA Champions League. O Chelsea marcou como nunca, segurou o time catalão com unhas e dentes, tomou pressão nos dois jogos, mas com a dupla Ramires e Drogba inspirada, os Blues conseguiram chegar a mais uma final. O brasileiro participou de dois dos três gols ingleses na série, enquanto o marfinense mostrou seu lado “catimbeiro” e incomodou demais.
Essa nova final para o clube londrino consegue ser bacana e injusta ao mesmo tempo. Foi simplesmente sensacional ver a reação inglesa diante do Napoli quando estava quase eliminado, e ainda observar a enorme superação diante do poderoso Barcelona. Porém, fica aquela pontinha de raiva ao ver que os jogadores responsáveis por estas glórias, foram os mesmos que derrubaram Villas-Boas.
É a história de 2008 se repetindo. Roman Abramovic já comandava o Chelsea e buscava obsessivamente o título europeu, e para isso, também contava com um treinador português que fez sucesso no Porto, José Mourinho. Diferentemente de Villas-Boas, Mou já fazia sucesso na Inglaterra e figurava entre os principais treinadores do continente europeu. Porém, o magnata russo, sedento por resultados, demitiu o português e apostou em Avram Grant, que assim como Di Matteo, levou o clube para a final da UEFA Champions League. Em Moscow, os Blues tropeçaram diante do rival inglês, Manchester United.
O italiano terá o mesmo destino do israelita e será um técnico “tampão”? Talvez o título europeu mude os rumos da repetida história londrina.