O adeus de um subestimado

Cheyrou fez mais de 300 jogos pelo Marseille | Foto: OM.net

Fim da linha para Benoît Cheyrou. Aos 36 anos, o meio-campista com passagens por Lille, Auxerre e Olympique de Marseille pendurou as chuteiras por cima, como campeão da Major League Soccer, o campeonato norte-americano, com o Toronto FC.

Clássico meio-campista, daqueles que os saudosistas se acostumaram a ver e admirar, podemos dizer que Cheyrou deixa a carreira com fama de subestimado. Inteligente, dotado de ótima técnica e potente finalização e, acima de tudo, vitorioso, dificilmente ele estará nas grandes lembranças futebolísticas, principalmente por não ter se estabelecido em nível internacional.

Parte disso se deve as poucas lembranças na seleção francesa. Apesar da consistente carreira em clubes, nos Bleus foi poucas vezes lembrado. Cheyrou defendeu o time nas categorias sub-18 (conquistou a Eurocopa em 2000, no mesmo time de Philippe Mexès e Djibril Cissé) e sub-20, mas despediu-se das quatro linhas sem uma partida sequer pela equipe principal.

Explicações são difíceis de encontrar. A partir de 2007, ano em que chegou ao Marseille, Cheyrou atingiu grande nível técnico, se notabilizando como um meio-campista defensivo capaz de quebrar linhas através de passes longos e aproximação na grande área para criar jogadas. Entre 2008 e 2010, esteve no time do ano na UNFP (em tradução, a União dos Jogadores Nacionais de Futebol) e se tornou um dos grandes jogadores do país. Isso foi insuficiente para convencer os técnicos dos Bleus a convoca-los.

O contestadíssimo Raymond Domenech foi o único a convoca-lo em 2010, mas sem colocá-lo em campo, preferindo em seu período como treinador nomes como, por exemplo, Alou Diarra, Lass Diarra, no já envelhecido Claude Makélélé e Mathieu Flamini. Passaram ainda pelo comando técnico Laurent Blanc e Didier Deschamps – o atual treinador – e nada de Cheyrou ser lembrado.

Pode ser que ele nunca pudesse ser um fator desequilibrante na França da última década, alguém capaz de trazer um título de peso que não vem desde a Euro 2000, mas fica uma lacuna em sua carreira.

Cheyrou, que atuou profissionalmente desde 1999, conseguiu ter trajetória mais vitoriosa até que a do irmão, Bruno Cheyrou (que, curiosamente, fez três jogos pela seleção francesa) e foi símbolo de um Marseille que saiu de uma seca de quase duas décadas sem títulos (apesar de uma saída conturbada em 2014). Inclusive, em votação popular, ficou num “time reserva” da história do clube quando completou 110 anos e chegou a ser eleito o melhor jogador da temporada do time em 2008/09 – quando perdeu a Ligue 1 para o Bordeaux.

Há quem desgoste da banalização da palavra “craque”, que prefira usar só em casos especiais. Penso que quem preza pelo respeito a profissão de jogador de futebol e consegue apresentar um “algo a mais”, capaz de nos prender por 90 minutos e acompanhar a um recital com a bola nos pés merece ser chamado assim. Por vezes subestimado e esquecido, mas craque e vitorioso. Assim Benoît Cheyrou pendura as chuteiras.

Carreira:

Lille (1999-2004) | 116 jogos e 3 gols

*Campeonato Francês – 2ª divisão | 1999/2000

Auxerre (2004-2007) | 131 jogos e 8 gols

*Copa da França | 2004/2005

Marseille (2007-2014) | 306 jogos e 28 gols

*Campeonato Francês | 2009/2010

*Copa da Liga | 2009/2010 e 2010/2011

*Supercopa da França | 2010 e 2011

Toronto [Canadá] (2015-2017) | 68 jogos e 5 gols

*Campeonato Canadense | 2016 e 2017

*Major League Soccer | 2017