Tudo ou nada

Não existe termo melhor para definir a final da UEFA Champions League entre Bayern x Chelsea do que “tudo ou nada”. O time alemão fez uma temporada ótima, mas acabou sendo dominado em território nacional pelo Borussia Dortmund, já a equipe inglesa, mesmo com a conquista da FA Cup, não teve uma temporada brilhante e só poderá voltar a disputar a próxima Liga dos Campeões se conquistá-la neste sábado.

A declaração final de fracasso ou glória dos dois times será definida na Allianz Arena e no blog, você acompanhará abaixo uma “pequena” análise do que as duas equipes podem apresentar no jogo decisivo:

BAYERN

A Allianz Arena está pronta para receber bávaros e londrinos (Reuters)

Finalista na temporada 2009/2010, o Bayern volta a disputar uma final de UEFA Champions League, podendo se tornar o primeiro time a conquistar o torneio jogando em seu estádio. Munich vive este jogo e, a expectativa de ver o time local na grande decisão surgiu desde a estreia bávara, ainda na fase prévia do torneio, diante do Zurich. Porém, dizer que jogar em casa é uma grande vantagem pro clube alemão beira a inocência. A UEFA distribuiu os ingressos para os dois clubes em quantias iguais, sem falar dos convidados da entidade. Isso não impede que um torcedor do Chelsea venda sua entrada para um alemão e vice-versa, mas o estádio não estará todo vermelho como num jogo normal.

Mas a vantagem de jogar em casa está no conhecimento do gramado. Parece besteira, mas os “atalhos do campo” podem ser uma arma pro Bayern. Seus atletas estão acostumados com a Allianz Arena, sabem os melhores caminhos e essa é a grande, talvez, única vantagem de jogar em casa nesta grande final.

Para a partida deste sábado, o experiente treinador Jupp Heynckes terá alguns desfalques importantes. Holger Badstuber, David Alaba e Luiz Gustavo estão todos suspensos e a escassez de nomes do elenco bávaro veio à tona. O comandante do barco alemão provavelmente improvisará jogadores nas funções dos atletas impedidos de jogar a partida.

Na zaga, Tymoshchuk, volante, pode ser o substituto de Badstuber, enquanto Philipp Lahm, que retornou a lateral-direita, pode ser deslocado para o lado oposto e substituir Alaba, fazendo com que o brasileiro Rafinha entre no time. A entrada de Contento é outra possibilidade, com isso, Lahm não seria deslocado para a esquerda. Na cabeça-de-área, a tendência é que Heynckes coloque Toni Kroos e Bastian Schweinsteiger lado a lado, e não como meia e volante – respectivamente. Isso não chega a ser um problema, já que Joachim Löw já utilizou, em algumas oportunidades, esta formação na Seleção Alemã.

Dos três desfalques, talvez, Luiz Gustavo seja o mais sentido, mas pelo conjunto da obra, não dá para dizer que um fará mais falta que outros. A subestimada zaga do Bayern vinha bem, com Boateng e Badstuber se entendendo no miolo de zaga, com Lahm voltando à velha eficiência e Alaba mostrando que, mesmo tendo jogado por algum tempo no meio campo, pode atuar bem na lateral-esquerda, sua posição de origem. Veremos como se sairá remendada.

No setor ofensivo, tudo 100%. Franck Ribéry, Arjen Robben e Mario Gomez, principais nomes do time na temporada ao lado de Toni Kroos, chegam inteiros fisicamente para a final e são alguns dos grandes trunfos de Heynckes para superar a desfalcada defesa do Chelsea.

O COMANDANTE

Jupp Heynckes pode ganhar a Champions League pelo segundo time diferente (FCBayern.de)

O experiente Jupp Heynckes estará novamente presente a uma final da UEFA Champions League. Sua última havia sido em 1998, quando treinava o Real Madrid e bateu o Valencia na grande decisão. Desde então, o alemão rodou por alguns clubes que não haviam chegado ao maior torneio de clubes da Europa, retornando agora, com o Bayern, e voltando em grande estilo.

Sua missão, ao retornar para o clube bávaro, era consertar a defesa do time. Com Louis van Gaal não tinha jeito. Diversos atletas passaram pelo setor e ninguém se firmou. Mas com Heynckes, a defesa ganhou uma cara desde o princípio. Boateng e Badstuber foram os nomes de confiança desde o começo e mesmo com o deslocamento do primeiro citado para a lateral-direita, a entrada de van Buyten não comprometia.

Porém, o que falta a zaga bávara são nomes de peso. A melhor defesa da Bundesliga é simplesmente menosprezada mundo afora, sendo tratada como lixo e muito ruim, sendo que não é bem assim. É claro que dos quatro titulares, apenas Lahm enche os olhos com sua classe em campo, mas isso não significa que seja impossível armar uma defesa sólida e capaz de segurar o ímpeto adversário. Heynckes conseguiu construir isso.

No ataque, o técnico duas vezes campeão alemão apenas seguiu utilizando a fórmula que vinha dando certo, com o acréscimo de Toni Kroos, mais efetivo, tanto na faixa central da linha de três meias, quanto na cabeça de área.

Caso conquiste a UEFA Champions League desta temporada, Jupp Heynckes poderá igualar os feitos de José Mourinho, Ottmar Hitzfeld e Ernst Happel ao conquistar o torneio por mais de um clube.

O CARA

Ribéry foi um dos grandes nomes da temporada (Witters)

Apesar do ótimo conjunto adquirido, parte atualmente, parte com o tempo, a torcida do Bayern deposita suas esperanças em Franck Ribéry. O francês, que não disputou a final de 2010 por estar suspenso, fez grande temporada e ainda esteve livre das lesões, podendo ter uma seqüência maior de jogos.

Posso estar sendo exagerado, mas colocaria Ribéry entre os cinco melhores do mundo nesta temporada. Não foi o melhor jogador da Bundesliga, o que faz eu me contradizer um pouco, mas em jogos decisivos ele apareceu e participou ativamente dos jogos, foi o melhor atleta bávaro na temporada.

Ribéry costuma atuar na ponta esquerda e joga visando o gol, seu bom controle de bola facilita isso. O francês atua com classe dentro de campo, busca o drible, a finalização, é um jogador incisivo e pode, por linhas tortas, reescrever a final de 2010, onde o Bayern, sem tê-lo em campo, se viu muito dependente de Robben, que muito bem marcado pela Inter, não conseguiu atuar bem.

Desde sua chegada ao Bayern, Ribéry se tem se destacado mais nas assistências do que nos gols. Só para tomar de exemplo, o francês deu o passe final para 63 gols, sendo que ele marcou vinte há menos, isso em toda sua carreira na Alemanha. Nesta temporada, a história foi a mesma. O camisa 7 marcou 12 gols e deu 20 assistências.

Isto não significa que o francês seja a estrela absoluta do time e que só ele pode decidir. Toni Kroos e Bastian Schweinsteiger são dois meio-campistas clássicos, de bom toque de bola e finalização de média e longa distância, podendo decidir também com suas assistências. Arjen Robben é outro atleta decisivo, porém, precisa perder a estigma de bobear em jogos gigantes. Não custa lembrar que o holandês perdeu um gol feito na final da Copa do Mundo e ainda desperdiçou um pênalti no confronto contra o Borussia Dortmund, no Campeonato Alemão. No comando de ataque, Mário Gomez. Pra ele, não existe tempo ruim, a bola passa perto dele e já vai pra direção da meta. Sua função é fazer gols e desde os tempos de Stuttgart, ele vem mostrando que sabe fazer.

TIME BASE

Com os desfalques de Luiz Gustavo, Alaba e Badstuber, Jupp Heynckes terá de rebolar para escalar seu time pro jogo decisivo. Confira abaixo a possível escalação do Bayern:

(4-2-3-1): Neuer – Lahm, Tymoshchuk, Boateng e Contento (Rafinha) – Kroos, Schweinsteiger – Robben, Müller e Ribéry – Gomez

NÚMEROS

Temp. Jgs. Vit. Emp. Der. GM GS
Bayern na UCL 28 260 144 60 56 493 257
Bayern contra ingleses 39 14 13 12 59 50
Bayern v Chelsea – Competições UEFA 2 1 0 1 5 6

CHELSEA

Quando o milionário Roman Abramovic comprou o Chelsea, seu grande sonho era tornar o clube londrino um dos maiores do mundo, e para conseguir este feito, obviamente, seu time precisaria conquistar a UEFA Champions League. Desde que os Blues se firmaram como uma potência inglesa, esse título se tornou prioridade para o russo, para não dizer obsessão.

O Chelsea só volta a Champions League se vencê-la (Reuters)

O responsável inicial para saciar a sede de títulos de Abramovic nesta temporada foi André Villas-Boas, mas o português se tornou mais um a ser “queimado” por Drogba, Terry, Lampard e Cia., acabou sendo demitido após uma série ruins de resultados no início de 2012. Roberto Di Matteo foi efetivado ao cargo de treinador e colocou as coisas no lugar. O Chelsea se tornou uma equipe mais aguerrida em campo e assim conseguiu bater o poderoso Barcelona antes de chegar à final.

Assim como Jupp Heynckes, o bem menos experiente Di Matteo terá importantes desfalques na defesa. Branislav Ivanovic, um dos grandes nomes da campanha londrina está suspenso. O capitão John Terry foi expulso no jogo de volta das semifinais e também não estará em campo na decisão. O treinador italiano vai ter de apostar nos jovens David Luiz e Gary Cahill, que mesmo acumulando boas atuações na temporada, ainda não possuem uma “largura” prum jogo deste tamanho. Na frente da zaga, Raúl Meireles também estará de fora.

Além dos desfalques do setor defensivo, o Chelsea não poderá contar com o brasileiro Ramires, um dos grandes nomes da semifinal diante do Barcelona. O meio-campista foi reposicionado por Di Matteo, que o tirou da cabeça de área e o colocou na ponta direita. Sua correria, às vezes insana, foi mais bem explorada e o camisa 7 passou a decidir jogos. Com o Bayern tendo de atuar com um lateral-esquerdo reserva – ou não da posição, caso jogue Lahm -, as investidas de Ramires pelo setor seriam de grande utilidade.

O jogo do Chelsea também passa a mudar se a bola chegar aos pés de Frank Lampard e Juan Mata. Enquanto o primeiro ainda tem lá sua utilidade defensiva, o segundo se torna peça nula em campo se não trabalhar com a bola. Canhoto de qualidade, Mata se adaptou bem ao futebol inglês, foi titular incontestável durante a temporada inteira e precisa da bola no pé para funcionar. Já Lampard, passou por uma má fase interminável – de duas ou três temporadas seguidas -, mas após ser reserva com Villas-Boas, tem reencontrado a melhor forma com Di Matteo. Para defender o ídolo do Chelsea, não acho que esse crescimento técnico tenha sido ocasionado por um eventual “corpo mole”. Desde os tempos de Ancelotti e no English Team, Lampard tem jogado mal.

No ataque, Didier Drogba, que mesmo mais técnico e inteligente que Gomez, também sabe transformar uma bola quadrada em gol. Foi outra peça importante nas semifinais.

O COMANDANTE

Di Matteo poderá, logo de cara, ganhar a Champions League (Chelseafc.com)

De um lado, Jupp Heynckes, técnico veterano, de vários títulos e diversas histórias a contar; do outro lado, Roberto Di Matteo, jovem ainda e apenas com a FA Cup, conquistada há algumas semanas, no currículo. O italiano caiu de pára-quedas no comando técnico do Chelsea, mas enxerga a conquista da UEFA Champions League como a oportunidade certa de deixar de ser um treinador “tampão” para ser de vez o efetivo do cargo.

Mesmo chegando num momento de turbulência, seria errado dizer que Roberto Di Matteo não tinha experiência nenhuma como treinador. Em seu período no West Bromwich, levou o clube a uma boa posição na tabela da Premier League, mas com a queda natural de rendimento, sofreu com a impaciência dos dirigentes e foi demitido.

No Chelsea, sua grande sacada foi deslocar Ramires da faixa mais disputada do campo para a mais livre, dando carta-branca para o brasileiro dar suas arrancadas. No resto, apenas algumas mexidas opcionais, como as entradas de Mikel e Kalou, para as saídas de Romeu e Sturridge.

Vindo do Chelsea, não ouso dizer que Di Matteo tem o elenco em mãos, já que todos sabem do histórico de confusões de alguns jogadores, mas o fato é que os atletas confiam no italiano. Os motivos, só eles sabem, mas confiam e como foi dito anteriormente, a conquista da UEFA Champions League colocaria o treinador num patamar alto do conceito de Roman Abramovic, aumentando suas chances de permanecer como treinador dos Blues.

O CARA

Decisivo nas semifinais, Drogba é a esperança londrina para a final (chelseafc.com)

Os ingleses adoram idolatrar um jogador local. No caso do Chelsea, Frank Lampard e John Terry eram os grandes ídolos da torcida, mas nos últimos anos, a dupla tem caído de rendimento e o marfinense Didier Drogba, que têm se mantido regular desde que chegou à Terra da Rainha, ocupou o posto de “cara” do time.

O atacante consegue mesclar virtudes de um centro-avante moderno, como a movimentação e agilidade ao sair da área, com qualidades de um jogador mais antigo, como a força física e presença de área. Por essas e outras, Didier Drogba, mesmo não vivendo a melhor de suas temporadas, pode ser colocado como um dos melhores de sua posição no mundo.

Como foi dito no parágrafo anterior, Drogba não está no melhor de sua carreira, mas um jogador de alto nível pode, e deve, brilhar nos jogos onde esse lampejo é necessário. Foi o que aconteceu com o marfinense nas semifinais diante do Barcelona, onde anotou um gol e foi peça chave ao incomodar bastante os defensores adversários, seja na catimba, seja com a bola no pé.

Na atual temporada, Didier Drogba anotou 12 gols em 24 jogos, o que só ajuda a reforçar a tese de que mesmo não estando no auge, pode ser decisivo e contribuir para um possível título europeu.

Além do marfinense, Di Matteo poderá contar com o apoio de Juan Mata, que tomou conta da camisa 10 do Chelsea, assim como Lampard, autor do gol londrino na final de 2008. Caso o banco de reservas precise ser acionado, Fernando Torres é a melhor opção. Embora não justifique o astronômico valor da transferência que o levou para Londres, o espanhol já tem 11 gols na temporada e tem estrela, como provou no jogo de volta diante do Barcelona e na final da última Eurocopa.

TIME BASE

Com quatro desfalques, mas com um elenco mais recheado de opções, Roberto Di Matteo não precisará se revirar como Heynckes e deverá ter substitutos da posição para substituir Ivanovic, Terry, Ramires e Raúl Meireles.

(4-3-1-2): Cech – Bosingwa, Cahill, David Luiz e Cole – Mikel, Essien, Lampard – Mata – Kalou e Drogba

NÚMEROS

Temp. Jgs Vit. Emp. Der. GM GS
Chelsea na UCL 10 113 57 33 23 178 96
Chelsea contra alemães 15 8 3 4 21 12
Chelsea v Bayern – Competições UEFA 2 1 0 1 6 5

DECLARAÇÕES

Por muitos anos Drogba tem sido um dos melhores atacantes do Campeonato Inglês e é definitivamente perigoso. Ele pode marcar a qualquer momento. Mas às vezes ele exagera um pouco. Às vezes ele é um ator fantástico em campo (Jupp Heynckes)

Nós queremos jogar o nosso jogo e nós podemos fazer isso. Nós já mostramos isso nesta competição, contra o Manchester City, por exemplo. Eu também penso que o Chelsea será mais agressivo amanhã do que foi contra o Barcelona (Bastian Schweinsteiger)

Eu não posso dizer qual foi a última vez em que estive em uma final. Talvez tenha sido como juvenil. Eu conquistei alguns troféus quando era pequeno, mas essa pode ser minha primeira medalha como profissional (Gary Cahill)

A atmosfera aqui já está maravilhosa. Ser azarão não é ruim se você tem confiança em você mesmo (Frank Lampard)

Extremidade bávara

Desde que o Bayern bateu o Zürich na fase pré-grupos da UEFA Champions League, o que mais se fala em Munich é da possibilidade do time local disputar a final do torneio em sua casa. Sábado será este dia! Os bávaros, comandados por Jupp Heynckes, poderão participar da final do maior torneio do continente europeu em seu estádio, a Allianz-Arena.

Para chegar à final, que pode resultar em seu quinto título continental, o Bayern alternou durante a temporada os dois extremos, mas para conquistar mais um troféu, os bávaros terão de chegar novamente a ponta máxima de suas qualidades.

O começo de temporada do time alemão foi simplesmente avassalador. Mesmo com a derrota na abertura da temporada – 1×0 diante do Borussia Mönchengladbach -, o Bayern conseguiu, em seguida, estabelecer uma grande série invicta e sem sofrer gols. O goleiro, outrora odiado, Manuel Neuer ficou vários minutos sem sofrer gols e quase quebrou alguns recordes germânicos. Suas seguras atuações fizeram com que os torcedores bávaros deixassem a vaidade de lado e admirassem o arqueiro que defendia a meta de seu time.

Com dois gols a menos que Messi, Mário Gomez é o vice-artilheiro da Liga (Reuters)

Na frente, o ataque atuava de forma competente. Nas primeiras dez rodadas da Bundesliga, o setor formado por Mário Gomez, Franck Ribéry e Thomas Müller anotou 26 gols. Borussia Mönchengladbach e Hoffenheim foram as únicas equipes que não sofreram gols do Bayern. Em contrapartida, Hamburgo, Freiburg e Hertha sofreram cinco, sete e quatro – respectivamente – num mesmo jogo.

Além dos atletas citados no parágrafo anterior, Toni Kroos foi outro a obter grande destaque no time alemão. Sem nunca ter passado confiança para a imprensa e aos torcedores do Bayern, o meio-campista se encontrou nesta temporada ao jogar centralizado na linha de três armadores, demonstrando técnica, habilidade e precisão nos passes. A companhia de Bastian Schweinsteiger, obviamente, fez bem a Kroos, mas ele soube aproveitar bem e se tornou a cabeça pensante do time.

Ao término do primeiro turno, a sensação deixada para a Europa era de que o Bayern de Munich era a única equipe capaz de parar a dupla Real Madrid e Barcelona na UEFA Champions League. Com os times de Manchester eliminados ainda na fase inicial do torneio e com as equipes italianas demorando a encontrar a melhor forma, sobrava apenas o time bávaro com a dura missão de ser comparado à dupla espanhola.

Um novo ano chegou e tudo mudou para os lados do Bayern, que demorou a engrenar e atuar de forma convincente. Esses acontecimentos geraram algo óbvio, se tratando de um time do tamanho do Bayern, as críticas! A imprensa alemã começou a pegar pesado e a questionar Jupp Heynckes. No meio do vendaval, brigas entre os jogadores durante os jogos acabaram escancarando a crise no clube entre os meses de fevereiro e março.

Os problemas foram deixados de lado e o time bávaro voltou a jogar bola. Da derrota para o Bayer Leverkusen, no dia 3 de março, até o tropeço que resumiu sua vida útil na Bundesliga, contra o Dortmund, em 11 de abril, o Bayern venceu cinco jogos, anotando dezoito gols e sofrendo apenas três gols. Destes dezoito tentos, treze foram apenas em Hoffenheim e Hertha, sete e seis, respectivamente.

Na UEFA Champions League, os torcedores alemães tiveram a sorte de ver seu time no extremo inferior em apenas um momento, já que o Bayern passou tranquilamente pela fase de grupos – que tinha equipes fortes, como Manchester City e Napoli. O clima esquentou nas oitavas-de-final diante do Basel. Na derrota por 1×0, a imprensa alemã registrou discussões e possíveis trocas de agressões entre os atletas no vestiário. Foi exatamente aí que existiram os questionamentos ao time, todos eles afastados com o incontestável 7×0 do jogo de volta.

O confronto contra o fraco Olympique de Marseille nas quartas-de-final foi um mero treino para a série diante do Real Madrid. Após vencer por 2×1 na Alianz-Arena, os bávaros perderam na volta pelo mesmo marcador, mas superaram os merengues na disputa de pênaltis, tirando o doce da boca de José Mourinho, que enxergava uma grande possibilidade de conquistar a Europa sem nem precisar enfrentar o Barcelona, eliminado no dia anterior.

Jupp Heynckes pode novamente ser campeão europeu (AFP/Getty Images)

Mas a decisão do torneio expôs um problema antigo do Bayern: o elenco. Com vários desfalques no setor defensivo, Jupp Heynckes terá se inventar algo para poder cobrir as ausências, mas aí que está o problema: Ele vai ter que “inventar”, pois o grupo de jogadores bávaros não possibilita ao treinador uma opção simples e confiável.

Mesmo com a humilhante derrota por 5×2, diante do Dortmund na final da DFB Pokal, o Bayern chega com a mente no lugar. Desde a derrota pro mesmo algoz da copa nacional, mas na Bundesliga, o time bávaro passou a concentrar suas atenções na UEFA Champions League e levar o Campeonato Alemão com a barriga, sem passar sustos.

O Bayern também leva para a decisão “apenas” o problema da defesa, que outrora ajustada – sim, ajustada, sempre disse que a zaga bávara é subestimada -, estará remendada no duelo contra o Chelsea. O ataque está voando, até a dupla Robbéry, antes brigada, está bem, com o holandês de contrato renovado.

O sábado ficará marcado na história da Baviera, com a união afinca entre população e time. Na vitória ou na derrota, o dia 19 ganhará um lugarzinho especial na história bávara.

O Bayern não é o Sevilla!

Schweinsteiger mostra toda a força bávara (AFP)

Bayern de Munich, clube vinte e duas vezes campeão alemão, quinze vezes campeão da Copa da Alemanha e quatro vezes campeão europeu. Este é um currículo pra lá de invejável e digno de respeito mútuo. Mas os dias que envolveram o confronto dos bávaros contra o Real Madrid mostraram que muitos não tratam o time alemão assim.

No início, até davam ao Bayern o respeito que lhe era merecido, não só pela história, mas pelo time atual. Manuel Neuer, Arjen Robben, Franck Ribéry, Bastian Schweinsteiger e Mário Gomez são jogadores world class. Isso que nem citei alguns coadjuvantes que vira e mexe decidem algumas partidas. Não era um time milionário que seria capaz de desmerecer um elenco destes!

A única discordância que eu tinha da maioria das pessoas estava em relação à defesa do time bávaro. Claro que não é um setor que encha os olhos, mas foram apenas 21 gols sofridos nos 32 jogos da Bundesliga, a melhor defesa da temporada alemã.

Só que após o jogo de ida a história mudou. O gol de Mesut Özil transformou o Real Madrid em franco favorito e o Bayern em um Sevilla. O time da Andaluzia é visto nos últimos anos como um adversário forte, com bons valores individuais, mas que não tem capacidade de fazer frente à madridistas e blaugranas. É assim que trataram os bávaros que tinham 2×1 de vantagem.

Vi, li e ouvi coisas como “o Bayern vai ter de jogar muito mais no Bernabéu” – sempre levando em conta que os alemães foram superiores no jogo de ida – ou “o gol fora deixou o Real Madrid com enorme vantagem”. Calma aí, os bávaros possuem tanta tradição quanto os espanhóis, eles só não estão em uma liga enormemente badalada pela mídia. Não estou comparando a qualidade da Liga BBVA com a Bundesliga, mas o fato é que o Campeonato Alemão é mais “fechado”, não tem tantas estrelas e valoriza bastante os jogadores locais, coisa que não é muito normal na Espanha. Isso não quer dizer que na Alemanha não tenham bons times e que na Península Ibérica só existam equipes espetaculares..

Passam os dias e o Barcelona vive duas desilusões. No sábado, a derrota que provavelmente renderá o título nacional ao rival de Madrid, e na terça-feira o empate diante do Chelsea, que resultou na sua eliminação da UEFA Champions League. Esses tropeços só serviram para “derrubar” mais ainda o Bayern.

O que mais vi após a eliminação catalã foi gente colocando o Real Madrid como franco favorito ao título (!!!), Cristiano Ronaldo com enormes chances de ganhar a Bola de Ouro pelo fato de Messi não jogar mais a Liga e coisas do tipo. Vi até pessoas da mídia esportiva destacando que “Mourinho é tão sortudo que pegará o Chelsea na final sem Meireles, Terry e Ramires”. E não foi um Rica Perrone da vida que falou isso e sim um cara que acompanha o futebol europeu. Pelo jeito, não acompanha tanto assim…

Mero engano – estou sendo bonzinho – do amigo, pois o “Sevilla alemão” ou a “zebra” mostrou para o mundo que não é bem assim que se deve tratar o poderoso time da Baviera. Jogando de igual pra igual, o Bayern provou que tem todo o peso do Real Madrid. O 2×1 madridista forçou o tempo extra e posteriormente as disputas de pênaltis, vencida pelos bávaros, em grande atuação do outrora odiado Manuel Neuer.

Casillas nada pôde fazer na cobrança de Schweinsteiger (Reuters)

Depois desta série de atos desrespeitosos de torcedores e mídia, vieram novas injúrias ao Bayern. Claro que tivemos elogios e críticas cabíveis aos bávaros, essas sim devemos levar em conta, mas sempre surgem aqueles que dizem “a zebra passeou em Madrid” ou “teremos uma final fraca em Munich”. Uns até apelaram pra ignorância e atacaram diretamente o próprio Real, como se eles tivessem perdido uma semifinal da UEFA Champions League para o Sevilla. Em outras palavras, tiraram todos os méritos do time alemão.

Onde está a tradição do Bayern? No lixo? Não sabem que ela existe? Então fazem o que acompanhando futebol? Bayern tem camisa, tem história, tem time, tem torcida e tem tudo que julgavam não ter nos últimos dias. Não precisa ser um maluco por futebol internacional para saber que o time bávaro é gigante. É muito mais que um clube, é uma marca. É como Flamengo e Corinthians, por exemplo. Não importa a fase que vive, sempre terá alguém fora do Brasil que conhecerá a dupla e saberá de suas forças.

É vergonhoso classificarem a final da Champions League como fraca, decepcionante e com adjetivos do tipo. A tradição está no lado bávaro e a força econômica no lado londrino. Será uma grande final, claro, sem o apelo que teria um Real x Barça, mas com dois times capazes de deixarem sua marca na história das finais de UEFA Champions League.

Assim espero!