O Mineiro e o Pardal

No confronto Stevens x Klopp, venceu o holandês

A diferença entre o simples e a maluquice foi retratada no clássico entre Borussia Dortmund x Schalke, realizado no último sábado. O mineiro Huub Stevens fez o óbvio e passou a escalar seu time sem grandes invenções e acabou vencendo a disputa contra Jürgen Klopp, que decidiu testar um esquema mirabolante no duelo.

Stevens finalmente percebeu que o lugar do capitão Benedikt Höwedes é no miolo da zaga e não na lateral-direita. O defensor do Schalke foi correto durante a partida, não brilhou porque não foi tão exigido, mas ainda viu seu parceiro Joël Matip ter atuação quase perfeita – exceto por um gol perdido com a trave aberta.

Lewis Holtby já estava jogando mais avançado, como um armador – como destaquei semanas atrás – e no clássico teve grande atuação, inclusive, dando uma assistência para o segundo gol do jogo, anotado pelo volante Marco Höger. Com essas boas atuações pelo Schalke e também pela seleção sub-21, o meia azul real entra no radar de Jögi Löw e começa a sonhar com uma vaga no selecionado principal da Alemanha.

Nos basta dar os parabéns a Huub Stevens por essas atitudes que só melhoram o time do Schalke. Sim, colocar Höwedes e Holtby em suas devidas posições não foi mais do que sua obrigação e era algo óbvio, mas nenhum outro treinador do clube tinha tido essa visão anteriormente. Tomar uma decisão que saltava a vista de tão clara também é missão do treinador e Stevens parou de insistir no erro.

Já Jürgen Klopp participou do quadro “Professor Pardal por um dia”. No papel, o time escalado jogaria no habitual 4-2-3-1, mas em campo, o que se viu foi uma tática maluca.

O volante Sven Bender jogou entre os zagueiros Hummels e Subotić, formando uma trinca de defensores. Sebastian Kehl atuou na frente deste trio e atrás de uma linha de quatro jogadores, formada por Piszczek, Leitner, Perisić e Grosskreutz. Marco Reus e Robert Lewandowski formavam o ataque aurinegro.

Essa estratégia foi uma furada completa, já que Kehl, Leitner e Perisić foram totalmente envolvidos pelo meio-campo adversário e a defesa esteve perdida e desentrosada – vide o gol de Afellay, onde Bender e Subotić disputaram a mesma bola. Para completar, o time estava descompactado, com os defensores muito recuados e os atacantes muito avançados, criando um rombo no meio-campo, espaço esse muito bem aproveitado pelo Schalke.

Depois de 30 minutos de domínio azul, Klopp reajustou a equipe com certa dose de loucura. O lateral direito Piszczek foi atuar no lado oposto e Bender saiu da zaga para atuar no flanco direito. O Dortmund conseguiu dar uma equilibrada na peleja, mas o Schalke continuava com o domínio da partida.

O desespero e o ‘abafa’ da etapa final impossibilitaram que qualquer tática existisse e só bastou para justificar a vitória do Schalke 04 no clássico após duas temporadas.

Como explicar, Klopp?

Klopp declarou que foi a pior atuação do Dortmund na temporada. Também pudera, sua escalação foi um desastre e nem a desculpa dos desfalques cola para haver as drásticas mudanças que vimos. Mario Götze e Kuba já eram ausências conhecidas desde o meio da última semana e opções para substituí-los não faltavam. Gündoğan e Schmelzer foram desfalques de última hora, mas alterações “seis por meia dúzia” poderiam ser feitas. O próprio Bender, que atuou na defesa, poderia ser o substituto do turco germânico, enquanto Grosskreutz poderia ser improvisado na lateral-esquerda. Se Klopp não estivesse seguro em fazer uma improvisação, poderia colocar Chris Löwe que é da posição.

Não existem desculpas para as drásticas mudanças feitas no clássico. Fazer testes em clássico não dá. Fazer testes em uma semana como essa – onde o Dortmund ainda enfrenta o Real Madrid – é inaceitável. Jürgen Klopp tem muitos créditos pelo bicampeonato nas últimas temporadas, mas pisou feio na bola no último sábado.

Entendeu a diferença entre uma decisão simples e apostas malucas? Huub Stevens e Jürgen Klopp mostraram o resultado destas apostas no clássico. Os Azuis Reais colocam os três pontos na conta de Stevens, os aurinegros têm razões para culparem Klopp, mas a verdade é que pudemos ver os técnicos perderem e ganharem um mesmo jogo.

*Créditos das imagens: Getty Images

TOP 7: Dortmund bicampeão!

Após bater o Borussia Mönchengladbach por 2×0 neste sábado, o Borussia Dortmund se sagrou bi-campeão alemão. Foi à oitava vez que o time aurinegro conquistou o maior torneio da Alemanha. Se no último ano eu levantei os sete jogos chave para aquela conquista, desta vez falarei dos sete motivos que resultaram neste novo título.

– Aprendendo a jogar feio

Mesmo jogando mal, o BVB conquistou algumas vitórias (Reuters)

Quem se acostumou a ver o Borussia Dortmund da temporada passada, notou um time de toque de bola envolvente, jogo intenso e muita técnica. Não foi o caso do atual time ter perdido todas essas características, mas em alguns jogos o BVB precisou jogar feio para vencer, como nos duelos contra Hertha Berlin, Bayer Leverkusen e Werder Bremen, onde o futebol apresentando pelos comandados de Klopp foi abaixo do esperado. Na temporada anterior, qualquer jogo em que o Dortmund não conseguisse encaixar seu estilo técnico ia pro buraco.

– Götze

Quando Mário Götze se machucou no final de 2011, tudo parecia acabar para o Borussia Dortmund. Na época da lesão, o time estava jogando muito mal e só o garoto de 19 anos ia se sobressaindo, mas quando ele foi para no estaleiro, justamente o contrário começou a acontecer. O BVB passou a jogar bem sem o camisa 11 e acabou se tornando “independente” dele. Kuba, seu substituto, entrou e arrebentou. Kagawa – tema de um tópico seguinte – também se achou na temporada. Não que a saída de Götze tenha feito bem ao Dortmund, mas a sua ausência pôde mostrar aos demais

– Bons reservas

Um dos problemas da temporada passada do Borussia Dortmund era justamente o banco de reservas. Existiam poucas opções que realmente poderiam decidir jogos vindos da suplência. Isto mudou nos dias atuais. Kevin Grosskreutz e Ivan Perisic se revezavam na meia-esquerda, dependendo da ocasião e proposta de jogo, Jürgen Klopp escolhia um ou outro. Na zaga, Felipe Santana sempre entrou bem e chegou a marcar no clássico diante do Schalke. No 2º turno, Ilkay Gündogan finalmente justificou o investimento e proporcionou uma boa disputa de posição com Sven Bender. Essa variação só ajudou Klopp, que conseguiu ter uma base forte, mas podendo fazer mexidas objetivas!

– Poloneses

Piszczek, Lewandowski e Kuba tiveram boa dose de importância na conquista da Salva de Prata

Na temporada passada, o polonês Lukasz Piszczek já havia sido um dos destaques do Borussia Dortmund na lateral-direita, atuando sempre com regularidade e surgindo bem como uma válvula de escape, mas no bicampeonato ele viu dois conterrâneos lhe darem uma forcinha: Jakub Blaszczykowski e Robert Lewandowski. O primeiro está há muito tempo em Dortmund e sempre foi um reserva atuante, mas com a lesão de Götze, Kuba, como é carinhosamente chamado, ganhou mais oportunidades e foi muito bem. Podemos dizer que ele vive o melhor momento da carreira! Já Lewandowski usou a primeira temporada como adaptação e a segunda para deslanchar. Com Barrios contundido e demorando a voltar à velha forma, Lewangoalski tomou conta da posição e anotou 20 gols na Bundesliga, se tornando o artilheiro da equipe.

– Crescendo nos grandes jogos

Claro que nos torneios de pontos corridos deve-se vencer a maior quantidade de times possíveis, só que às vezes é mais importante derrotar os concorrentes diretos do que os times de meio de tabela. O Borussia Dortmund de Jürgen Klopp passou com êxito nesse quesito. Diante de Bayern, Schalke e Gladbach – 2º, 3º e 4º colocados, respectivamente -, o BVB somou 16 dos 18 pontos possíveis. Apenas um empate com os Potros mudou essa seqüência, que não deixa de ser ótima e mostrando ser um dos grandes fatores para esta conquista.

– Kagawa

Shinji Kagawa perdeu quase todo o 2º turno da temporada passada, mas não fez tanta falta como no início desta edição da Bundesliga, quando curiosamente estava inteiro fisicamente. O japonês iniciou a competição jogando muito mal e amargando até o banco de reservas. Chegou 2012 e com o ano novo veio o “futebol velho” de Kagawa, que passou a ser “O Cara” do Dortmund. A evolução do japonês foi tão grande que não é exagero algum dizer que ele é o melhor jogador da Bundesliga. Nove dos treze gols do japonês foram no 2º turno da competição!

– Jürgen Klopp

Klopp recebeu o tradicional banho de cerveja dos campeões (BVB.de)

Grande mentor deste novo momento do clube, Jürgen Klopp merece boa parte dos méritos possíveis desta nova conquista do Borussia Dortmund. Paizão, o treinador de 44 anos foi quem se livrou de veteranos inúteis, trouxe jovens de valor e soube mesclar com experientes bons de bola, como Roman Weidenfeller e Sebastian Kehl. Não tem como não dar méritos ao e toda sua comissão técnica e diretoria. É difícil imaginar, na Europa inteira, talvez até no planeta todo, um treinador que tenha uma relação tão afetiva com elenco e torcida como Jürgen Klopp.

Parabéns ao Borussia Dortmund e sua imensa torcida pelo bicampeonato alemão!

Pássaro novo na Renânia do Norte-Vestfália

Não! Não é um post ecológico que vai defender o habitat natural de aves da região alemã. Por incrível que pareça, falo de futebol.

É que recentemente, migrou para a cidade de Leverkusen um tal de pardal. Dizem que ele é professor e que descolou um emprego de treinador do time da região que disputa a primeira divisão da Bundesliga.

É, pard... ops, Dutt! (Reuters)

Antes de me esquecer, chamam esse pardal de Robin Dutt!

Já faz algumas rodadas que fiquei com essa impressão do pobre cidadão, mas antes de acusá-lo injustamente, decidi ter calma, pois ele quase levou o Freiburg para a Europa League na última temporada, era início de trabalho no Leverkusen e se ele fez um time como o Freiburg, com poucos investimentos e jogadores bem limitados, quase ir para a Europa League, por que ele não conseguiria com um time de maior investimento e de jogadores renomados como o Leverkusen?

Não acusei nada, não quis me precipitar, mas acho que este é o momento certo para botar a boca no trombone: Robin Dutt é sim um professor pardal!

A prova final veio hoje. O Leverkusen vencia o Hamburgo na BayArena por 2×0 e cedeu o empate ao HSV. Se eu pudesse escolher um único culpado, seria Dutt.

Na primeira etapa, o Leverkusen estava armado num interessante 4-3-3, com Rolfes jogando centralizado, protegendo a defesa e com a dupla Bender e Ballack saindo pro jogo. Mais na frente, Sam e Schürrle jogavam abertos, com Stefan Kiessling na referência. Esse esquema deu certo. Até sair o primeiro gol, o Leverkusen não deixou o Hamburgo jogar. Depois que o primeiro zero saiu do marcador, a deficiência do adversário permitiu um domínio maior dos Aspirinas.

A saída de bola do Hamburgo era muito lenta e feita somente de toques de lado. O time não avançava com a pelota! O Leverkusen nem fazia força pra roubá-la, pois sabia que uma hora ou outra, o HSV erraria um passe. O segundo gol, marcado por Lars Bender foi de total merecimento, não só pro Leverkusen como pro jogador. O irmão de Sven – jogador do Dortmund – era o condutor do time. Fez sua parte na defesa e controlava o ritmo ofensivo da equipe. Foi o melhor em campo na etapa inicial.

O gol que o Leverkusen sofreu no final da primeira etapa foi só uma repetição de jogos passados: bola na área, surge alguém livre e manda pras redes. Esse “alguém” no caso foi o zagueiro Heikko Westemann.

Não era pro Leverkusen sofrer tanto por um gol bobo… mas sofreu demais e agradeceu aos céus quando ouviu o último apito de Knut Kircher.

Era só botar a cabeça no lugar e voltar pra etapa final… assim como era pro Leverkusen seguir tranquilo após o gol sofrido…

Se vira, Reinartz (Reuters)

Robin Dutt resolveu agir e tirou de campo Sidney Sam para colocar Reinartz. Pra quem não acompanha a Bundesliga, Sam é meia/atacante, enquanto Reinartz é zagueiro, mas sabe Deus porque, Dutt o colocou como volante. Deu tudo errado! Ele mexeu na estrutura do meio campo e o time morreu.

Rolfes passou a jogar atrás de uma linha de quatro formada por Schürrle, Reinartz, Ballack e Bender, pelo menos eu acho que era isso, pois o time de desestruturou. Um negócio escroto e sem noção que o nobre pardal armou. Dutt acabou com seu meio campo, viu o Hamburgo pressionar e empatar, com Jansen.

Dutt percebeu a besteira que havia feito e tirou de campo Rolfes e colocou Derdyiok. O esquema ficou semelhante ao original, mas o atacante suíço não tem a agilidade de Sam – que estava muito mal na partida, diga-se de passagem – e por isso tornava o esquema apenas “semelhante”.

A grande mudança que esse esquema causou foi no surgimento de Castro. Reconhecidamente um lateral ofensivo, o camisa 27 ficou muito preso, porque Reinartz “inteliJentemente” subia junto com ele e ficava um enorme buraco na direita. Até que chegou o momento que Castro se tocou que era pra ficar atrás… Quando Derdyiok entrou e Reinartz virou o primeiro volante, Gonzalo Castro pôde avançar com mais tranquilidade.

"Eu mal tenho condições de jogar, vou ter mesmo de decidir..." Deve ter pensado o mascarado Ballack

Nada disso adiantou pra tirar o 2×2 do placar.

Dediquem esse marcador a Robin Dutt, que destruiu o time do Leverkusen. Tinha uma equipe muito bem armada na primeira etapa, desarrumou, sabe-se lá porque tirou Bender da faixa central e abriu na esquerda, colocou um zagueiro de volante, prendeu seus dois laterais – que tem boas qualidades ofensivas – e fica achando que Ballack, jogando o que está jogando, será a solução de seus problemas. Pobre coitado…

…e o Hamburgo!

Já vejo evoluções no time. Claro que táticamente fica difícil notar alguma grande mudança nesse início de trabalho de Thornsten Fink, mas a grande dessarrumação vista anteriormente sumiu. Os laterais sobem alternadamente, Marcell Jansen já vem entendendo o que significa jogar no meio campo e parou de ficar sempre esperando que alguém de trás venha salvar sua vida, percebendo que ele é que tem de salvar a vida de quem está à sua frente.

Também está nítido que a posição de Gokhän Töre é mesmo aberto na direita. Antes do início da temporada, falei que a técnica deste garoto me chamou a atenção e centralizado ele não conseguia mostrar o que tinha de melhor. Pelo flanco direito, Töre consegue criar jogadas mais agudas, vide o lance do segundo gol do Hamburgo, onde ele veio por dentro e deu belo passe por elevação para Jansen, que concluiu para as redes.

…e a arbitragem!

Está uma lástima nesta rodada! Na sexta, o senhor Guido Wilkmann deu um pênalti absurdo em Nicolai Müller do Mainz e estragou o jogo. Na ocasião, o time da Renânia Palatinado virou o jogo e deixou o time do Stuttgart nervoso em campo. O Mainz venceu por 3×1.

Em outro jogo da rodada que vi – que por acaso foi o supracitado Leverkusen x HSV -, o árbitro Knut Kircher anulou um gol muito esquisito do Hamburgo, onde não ficou claro se ele assinalou toque de mão de Jansen – que não houve – ou falta de Guerrero em Friedrich – não vi falta no lance. Mais tarde, ele deixou de marcar um pênalti de Töre em Bender. Em outras palavras, prejudicou os dois times.

Não vi os outros jogos – exceto Dortmund x Wolfsburg, onde nada de anormal aconteceu – pra saber se aconteceram irregularidades, apenas pênaltis em Bremen x Colônia e Nüremberg x Freiburg. QUERO IBAGENS!