Laços diplomáticos

Após conflitos no passado, sérvios e croatas buscam o entendimento no Lyon

A Iugoslávia apresentou ao mundo histórias de muitas lutas e intensas contradições. Territórios como a Eslovênia e a Croácia desejavam, de qualquer modo, conquistar suas independências, enquanto a Sérvia, coordenada por Slobodan Milošević, buscava uma Iugoslávia centralizada e nacionalista. A grande consequência disso tudo foram as várias guerras ocorridas no princípio dos anos 90.

Uma dessas guerras envolveu a independência da Croácia, que aconteceu em 1991, mesmo contra a vontade dos sérvios. Essa conquista do povo croata foi o fósforo acesso em um barril de pólvora que era a Iugoslávia. Os sérvios decidiram fundar a República Sérvia de Krajina – cidade croata – e foi dado o início a guerra.

A Sérvia, contando com o apoio das forças militares iugoslavas, conseguiu tomar boa parte do território da Croácia e forçou a população local a se refugiar em outras áreas. Pesquisas da época mostravam que a população sérvia, em terras croatas, era maior do que os próprios croatas. Reflexos da guerra.

Em 1992, a Croácia adotou novas estratégias de guerra e conseguiu se recuperar no combate. Com a derrota iminente, os sérvios se viram obrigados a aceitar o cessar fogo e passaram a conviver com a nova nação desmembrada da Iugoslávia, a Croácia.

A guerra foi há pouco tempo, mas o sentimento ainda vive nos povos dos respectivos países. Existem croatas que não falam com sérvios e vice-versa. Até mesmo politicamente esse contato entre as nações ainda é pequeno. Com a deposição de Milošević na última década, a aproximação entre croatas e sérvios começou a acontecer, mas sempre existe aquele receio.

Em uma terra mais distante, iniciou-se nos últimos meses uma tentativa de conciliação entre os países via futebol. O Olympique Lyonnais, que já tinha em seu elenco o croata Dejan Lovren, tirou do Paris Saint-Germain, o sérvio Milan Biševac. Com o desprestígio de Cris – na época, reserva e criticado publicamente pelo presidente Jean-Michel Aulas -, a tendência era que o técnico Rémi Garde escalasse a dupla como titular na defesa.

Estatisticamente, não dá para analisarmos de forma definitiva o resultado dessa aposta, afinal de contas, Lovren e Biševac só participaram de sete partidas – cinco pelo Campeonato Francês e uma de cada pela Copa da Liga e Liga Europa – juntos. Mesmo com o número escasso de atuações, a quantidade de gols sofridos preocupa: nove. Além disso, o Lyon conquistou somente três vitórias com os dois juntos. Só para tomar de exemplo, a dupla formada por Bakary Koné e Biševac venceu três dos cinco jogos que fizeram juntos, mas sofreram gols em todos os jogos.

O Lyon, com Koné e Lovren juntos, venceu todas as partidas, mas foram apenas três nesta temporada. Em contrapartida, esses dois têm mais longevidade no atual elenco. No último ano, os dois participaram de 11 partidas, com seis vitórias, dois empates e três derrotas. Porém, o time sofreu 12 gols.

Mas Garde deve continuar insistindo com a promissora dupla Lovren e Biševac. O croata é jovem e dotado de enorme potencial, já o sérvio carrega anos de experiência na Ligue 1 e polivalência na defesa. O único empecilho parece ser a condição física de Lovren, que sempre o atrapalhou na França. Biševac, que costumava receber muitos cartões amarelos, conseguiu controlar essa sina nas últimas temporadas.

Esse sucesso depende apenas do entrosamento dos dois dentro de campo. Lovren e Biševac são jogadores bem entendidos fora das quatro linhas e não carregam sentimentos nacionalistas para o Stade Gerland. Pelo que é noticiado na França, os dois jogadores se dão bem e são até amigos. Já é uma amostra que sérvios e croatas podem formar laços para o futuro, mostrando que sentimentos como xenofobia, nacionalismo exacerbado e ignorância são antiquados e que o futebol pode superar tudo isso.

*Crédito da imagem: OLWeb.fr

É hoje o dia!

Enfim chegou o grande dia! Após uma semana de ansiedade e muita espera, finalmente chega o grande dia onde Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain irão duelar no Stade Vélodrome em busca dos valiosos três pontos.

Pela situação das duas equipes na tabela de classificação da Ligue 1, ninguém pode pensar em tropeçar neste duelo. O Olympique de Marseille, que havia iniciado mal a temporada, conseguiu engrenar uma série de jogos sem derrota – sete jogos, mais precisamente -, mas na última rodada acabou perdendo essa invencibilidade para a grande pedra no sapato das duas equipes, o Montpellier. O time comandado por Didier Deschamps caiu diante do MHSC no Stade de la Mosson, 1×0, gol contra de Diawara.

Já o Paris Saint-Germain também vinha de uma grande invencibilidade que durava desde a primeira rodada, quando o time comandado por Antoine Kombouaré caira diante do Lorient. Na última rodada, o PSG perdeu pro Nancy por 1×0 e viu o Montpellier também se tornar uma pedra no sapato. Se no caso do OM, o time comandado por René Girard só lhe tirou a invencibilidade de sete jogos, no caso parisiense, houve a aproximação do Montpellier e no último sábado (26), a ultrapassagem na tabela de classificação. Com três gols de Olivier Giroud – artilheiro da Ligue 1, com 11 gols -, o MHSC derrotou o Sochaux por 3×1 e chegou a 33 pontos, abrindo três para o PSG.

O placar de certa forma alargado conseguido pelo Montpellier, atrapalhou um pouco a vida do Paris Saint-Germain. Se o time parisiense vencer por um gol de diferença, não assumirá a liderança, pois empatará no saldo e o ataque do Paris é pior que o ataque do Montpellier – 32 gols à 26 pro Montpellier. Ou seja, se o PSG quer voltar a ponta da competição, que vença por dois gols de diferença.

Engana-se quem pensa que a vitória não importa tanto para o Olympique de Marseille. O OM viu neste sábado times como Lille, Rennes e Toulouse vencerem e abrirem uma distância cada vez maior para os atuais vice-campeões franceses. O LOSC e o SRFC tem 28 pontos, já o TFC tem 26 e eles ocupam, respectivamente, a 3ª, 4ª e 5ª colocação da Ligue 1. O Olympique está lá atrás, na 10ª colocação, com 18 pontos. Ou seja, se Didier Deschamps quer levar o seu time para mais uma edição da Uefa Champions League, precisa parar de perder pontos e tratar de iniciar uma arrancada mais consistente que a última. Daqueles sete jogos invictos, foram 4 vitórias e 3 empates.

OLYMPIQUE DE MARSEILLE

Tudo são rosas para o Marseille na Liga dos Campeões. O time depende de si para conquistar uma vaga nas oitavas de final da maior competição de clubes da Europa. Mas o mesmo não pode ser dito da equipe na Ligue 1.

O Marseille ocupa a 10ª colocação com 18 pontos e não está perto de nada. Nem tão perto da zona de rebaixamento e nem um pouquinho perto da zona de classificação para as competições européias. Até por isso, o técnico Didier Deschamps é muito questionado nos arredores do Vélodrome.

Ele já sairia no final da temporada passada graças a série de tropeços no momento final do campeonato, que acabaram dando o título ao Lille, além do normal desgaste. Foi convencido a ficar e o time tem feito bonito fora da França, mas feio dentro de seu próprio país.

Gignac e Deschamps bateram boca após a derrota pro Olympiacos

Ao que me parece, o time já está desgastado. Alguns jogadores já não rendem mais como rendiam temporadas atrás, outros mostram vontade de sair e mais alguns outros ainda nem mostraram pra que vieram pro clube, não é Gignac? Só pra constar, o atacante sempre está contundido e nunca está em sua melhor condição física. Resultado, Deschamps chutou o balde contra Gignac. Ambos discutiram e dificilmente o jogador voltará a vestir a camisa do Marseille.

Após essa briga, a diretoria do Marseille decidiu que nenhum jogador iria para a entrevista coletiva na sexta-feira. Decisão normal, não era o melhor momento para entrevistas. As perguntas seriam muito mais voltadas para a briga de Gignac com Deschamps do quê para a derrota pro Olympiacos ou o duelo diante do PSG. Talvez não seja o caso de largar de vez a temporada e pensar em uma reformulação para a temporada seguinte, mas há casos que devem ser repensados no clube.

O único desfalque na equipe do Olympique de Marseille segue sendo Rod Fanni, que está sem jogar desde a 12ª rodada da Ligue 1. O defensor está com uma lesão no dedo do pé e Jérémy Morel seguirá jogando em seu lugar.

O Olympique de Marseille também vive a expectativa de marcar o gol 100 em Le Classique. Em toda a história do duelo, o OM anotou 99 gols em cima do PSG, sendo o primeiro gol de Bernard Bosquier e o 50º de Basile Boli.

As duas equipes estão em situações delicadas neste momento. Não pela situação de tabela, mas sim pelas crises internas e a crise do Marseille me parece ser pior que a do Paris Saint-Germain. A briga de Deschamps e Gignac pode desencadear outros conflitos que talvez estejam escondidos da mídia. Pelo clima tenso que vive o Olympique, coloco o Paris como favorito no duelo.

O CARA

Neste momento conturbado do Olympique de Marseille, o peso da responsabilidade estar caindo sobre as costas de jogadores rodados, como Lucho, Diarra e Mandanda, mas ele está caindo sobre o jovem Loic Rémy, de 24 anos. O ex-atacante do Olympique Lyonnais é o artilheiro do OM com 6 gols na Ligue 1. Ele costuma se dar bem quando joga no Stade Vélodrome, já que 4 dos seus 6 gols foram anotados no estádio do Marseille.

É, Rémy! A responsabilidade agora é tua

Rémy não é um jogador brilhante, longe disso, mas faz sua parte. Não à toa esteve nas últimas convocações da Seleção Francesa. Boa parte desse sucesso se rende a seu novo posicionamento. Durante boa parte de seu carreira, ele se notabilizou como um segundo atacante muito bom. Nítidamente era um homem de lado de campo e de muita movimentação. Mas desde que chegou ao Marseille, Rémy tem sido utilizado como centro-avante. Outro motivo deste sucesso é ocasionado pelo fracasso de Gignac, que chegou cheio de pompa do Toulouse e não jogou 10% do que jogou nos seus tempos de TFC.

Por ser um jogador leve e de bastante movimentação, Rémy conseguiu sucesso como centro-avante também porque costuma trocar bastante de posição com os atacantes de lado de campo, Valbuena e André Ayew. Isso confunde a marcação e amplia a variação de jogadas do Marseille.

Rémy pode ser chamado de “herói”. O Marseille tem jogadores como Lucho González, Mandanda, Alou Diarra e Mathieu Valbuena, mas ele, Rémy, que atrás de todas essas polêmicas conseguiu sucesso e é a grande esperança de gols do Marseille.

Provável escalação (4-3-3): Mandanda; Azpilicueta, Diawara, Nkoulou e Morel; Diarra, Cheyrou e Valbuena; Amalfitano, Rémy e André Ayew (Treinador: Didier Deschamps)

PARIS SAINT-GERMAIN

Para o jogo desta tarde – noite na França – o técnico do Paris Saint-Germain, Antoine Kombouaré tem apenas uma dúvida: quem jogará ao lado de Mamadou Sakho na zaga? Milan Bisevac ou Zoumana Camará? Além desta dúvida, Antoine Kombouaré não poderá contar com seu lateral-esquerdo titular, Tiéné, que está com uma lesão no quadril e nem foi convocado para a partida. Sylvain Armand deverá ser seu substituto. Mas caso aconteça uma derrota, não será nem pela dúvida, nem pelo desfalque que Kombouaré será criticado.

Desde o empate diante de Girondins de Bordeaux, a equipe do Paris Saint-Germain tem sido muito criticada e todas as críticas pesam em cima de Kombouaré, que tem um grande elenco a disposição, mas não faz com que o time renda o esperado pela torcida e principalmente pelos qatarianos que compraram o clube recentemente. Novos nomes de técnicos surgem no Parc des Princes e embora alguns jogadores já declarem seu apoio a Kombouaré, isso parece não ser o bastante para uma permanência no comando técnico após uma nova derrota.

Kombouaré está ameaçado no comando do PSG

Me parecerá precipitado. Sempre critiquei muito o atual técnico do Paris Saint-Germain. Kombouaré sempre apostou em jogadores de nível técnico duvidoso, além de nos jogos em que uma mexida tática ou técnica se via necessária, ele estragava o time. Mas na atual temporada ele tem feito o simples e sempre manda a campo o que tem de melhor. Por ter à disposição um trio formado por Ménez-Pastore-Nenê, suas mexidas durante a partida não se viam necessárias e por isso não atrapalhava tanto o time (caso queiram ler um texto maior sobre o caso Kombouaré, acessem Os Geraldinos, onde escrevi um texto sobre o tema). Porém, Kombouaré gosta de desafios e sabe que este é o melhor momento para enfrentar o Marseille. Isso tudo para o PSG pegar confiança com uma eventual vitória.

A última vitória do Paris Saint-Germain diante do Olympique de Marseille foi ainda na temporada passada, 2×1 no Parc des Princes. Não é nenhum tabú, mas o tempo sem vitória do time parisiense em cima do grande rival em Marseille já é um pouquinho mais extenso. Foi no dia 28 de outubro de 2008. Após estar perdendo por 2×1, o PSG buscou a virada e venceu o Marseille no Stade Vélodrome por 4×2. O homem do jogo foi Guillaume Hoarau, autor de dois gols.

O CARA

Para poder quebrar este pequeno tabú de três anos sem vencer o Olympique de Marseille no campo adversário, o Paris Saint-Germain conta com Javier Pastore, maior contratação da história da Ligue 1 – 42 milhões de euros. Mesmo tendo números satisfatórios – 6 gols, 2 assistências e 35 finalizações na L1 -, o argentino tem sido muito criticado nas últimas rodadas. O PSG tem atuado abaixo do esperado nas últimas rodadas e o peso desses atuações ruins tem caído em cima de Pastore, que também está indo mal, sendo apenas sombra do enorme investimento feito em sua contratação. Porém, a decisão é unânime: Pastore está cansado!

Cansado, Pastore?

O ex-jogador e campeão mundial de 1998, Emmanuel Petit, o meio-campista do Saint Etienne e ex-jogador do Marseille, Laurent Battles e o também meio-campista Tino Costa, hoje no Valencia e que jogou no Montpellier, foram bem claros quando perguntados pela France Football: a longa sequencia de jogos somadas as viagens para a América do Sul por jogos da Seleção Argentina cansaram Pastore. Além dos jogos pela seleção “hermana”, o camiseta número 27 do PSG tem 12 jogos pela Ligue 1 e 1011 minutos jogados.

É claro que é muita coisa, mas fica também a atenção de como deve estar a forma física de Pastore. O também argentino Lionel Messi tem números mais assustadores de jogos na temporada, nem por isso mostra sentir um eventual cansasso. Claro que há a diferença técnica e de preparação física entre ambos, mas fica o detalhe.

Cansaço à parte, o Paris Saint-Germain tem motivos de sobra para depositar em Pastore toda a sua confiança para a conquista dos três pontos. Ele tem sido decisivo, isso ninguém pode negar! Seu primeiro gol com a camisa parisiense foi no apertado 1×0 diante do Stade Brestois. No confronto direto diante do Montpellier, Pastore marcou dois dos três gols do time na vitória por 3×0. Sem falar do duelo contra o Lyon, onde seu gol abriu o caminho para a vitória por 2×0.

O cara pode estar cansado e isso pode pesar contra o PSG, mas Pastore é um jogador acima da média e é quem pode decidir para o time parisiense.

Provável escalação (4-2-3-1): Sirigu; Ceará, Camará (ou Bisevac), Sakho e Armand; Matuidi e Sissoko; Ménez, Pastore e Nenê; Gameiro (Treinador: Antoine Kombouaré)