Às vésperas do decisivo duelo contra o Valencia pela Liga dos Campeões, o Paris Saint-Germain não passa por seu melhor momento na temporada. Nos últimos três jogos, o time da capital francesa perdeu dois confrontos diante de equipes da parte debaixo da tabela e venceu o rival Marseille sem merecer. Por não ser a primeira vez na temporada que isso acontece, me senti obrigado a refletir: qual é o principal problema do PSG?
Olhando o time por um todo, o problema não é o conjunto. Carlo Ancelotti conseguiu arrumar o amontado de jogadores bem abastados financeiramente e deu uma cara de “time” ao Paris. Seu 4-4-2, no melhor estilo britânico, foi bem assimilado pelos jogadores e desde que o italiano adotou esse sistema tático, os resultados apareceram e a equipe fez partidas muito boas entre o final de dezembro e o início de janeiro.
Analisando setor por setor, também não há uma grande justificativa. A defesa conta com o melhor goleiro da Ligue 1, Salvatore Sirigu, e com uma linha de zagueiros segura – sim, coloco Jallet, que faz boa temporada, nessa sacolada. Apesar de faltarem reservas decentes pras laterais, sobram para a faixa central da zaga, vide o fato da ausência de Thiago Silva não estar sendo completamente sentida. Qualquer apuro maior também pode ser suprido pelos volantes Matuidi e Verratti que se fixaram como titulares, apesar da ausência de Thiago Motta. O ataque recusa maiores apresentações, é o mais positivo da Ligue 1.
Olhando individualmente, jogador por jogador, também fica complicado encontrar um motivo que caiba nesse atual momento. É só olhar que o elenco parisiense é composto por jogadores como Ibrahimović, Thiago Silva, Lucas, Lavezzi, Pastore e por aí vai.
Mas caracteristicamente, penso ter encontrado um dos problemas, talvez o maior, do time de Ancelotti: a falta de um armador.
Muitos me questionam: “por que Pastore não sai do time? Ele é muito ‘soneca’”. Há um motivo lógico. Entre Lavezzi, Ménez e Lucas, não há um armador, todos apostam na correria e sem campo pra correr, eles são apenas “mais um” no time do PSG. Pastore, apesar de atuar pelo lado de campo, tem o passe mais qualificado e características de armação. Além disso, jogando pela direita e, com a chegada de Lucas, pela esquerda, ganhou poder tático e compõe muito bem a linha defensiva do time de Paris.
Mas é aí que entra o papo de Pastore ser “soneca”. Nesses três jogos que o PSG esteve inócuo em campo, o argentino se limitou a compor a linha defensiva e colaborou muito pouco para o jogo ofensivo do time de Ancelotti. Pelo centro, Pastore era apenas um “dorminhoco” em campo, diferente do que é visto pelo lado de campo, quando, ao menos, colabora defensivamente.
E no elenco, quem poderia ser o substituto de Javi e cumprir mesma função? Ninguém. Não me venham com papo de Ménez, reserva imediato de qualquer posição no ataque. O atacante francês é habilidoso e conduz muito bem a bola, mas tem dificuldades com os fundamentos e é o famoso “fominha”, não lembra em nada qualquer tipo de armador. Além disso, Lucas e Lavezzi têm características semelhantes, porém, com mais fundamento.
Para resumir a presença de Javier Pastore entre os titulares, cabe dizer o seguinte: um lapso de bom futebol do argentino é mais importante do que um lapso dos outros meias-atacantes, porque ele pode organizar uma jogada para o homem-gol, Ibra, enquanto os demais são mais individualistas e, possivelmente, criariam jogadas para eles mesmos.
Mas olhando profundamente, o PSG tinha um jogador que poderia fazer o que Pastore faz, armando pelo lado de campo e com o adendo de ser mais “elétrico” em campo: Nenê.
Até onde sabemos, o brasileiro deixou o Paris Saint-Germain por não estar nos planos de Carlo Ancelotti. Mas será que foi exatamente isso que forçou sua saída do clube? O próprio Nenê comentou, semanas antes de acertar com o futebol árabe, que seu relacionamento com o técnico italiano era saudável, mas com o diretor Leonardo não era bem assim. Nada impede que Léo tenha forçado a barra para que Nenê não fosse mais presença no time. Pode parecer uma acusação leviana, mas o ambiente interno do futebol não é nenhum mar de rosas, ainda mais em clubes onde a exigência é muito grande, como é o caso do PSG.
Especulação desnecessária à parte, o fato é que Nenê poderia ser o jogador que fizesse o diferencial nesse time do Paris Saint-Germain. Veloz, habilidoso e com ótimos fundamentos, um jogador mais completo que Pastore, com identificação com a torcida e que se encaixaria perfeitamente no sistema tático de Ancelotti. O clube calculou mal quando o deixou sair tão passivamente.
Os motivos da saída de Nenê seguirão desconhecidos até o próprio vir a público e declarar que deixou o PSG “por causa de A, B e C”, mas enquanto isso fica registrada a falta que o brasileiro faz o clube e que poderia ser o diferencial do time nesse momento decisivo da temporada.