Limite ultrapassado

Os jogadores do Lyon passaram por apuros na Córsega | Foto: OlWeb

Violência nos estádios é um assunto bastante delicado e difícil de se abordar. Por mais que se cobrem punições a “torcedores” brigões, é quase impossível isolar os clubes dessas discussões. Muitos deles são coniventes e fazem vista grossa por interesses alheios aos jogos e que, por muitas vezes, possuem até cunho político.

Mas há momentos em que medidas radicais precisam ser tomadas em prol da coletividade. Ver os ultras do Bastia – a “Bastia 1905” – invadirem o gramado do estádio Armand Cesari para brigar com jogadores do Lyon no aquecimento e no intervalo do jogo foi algo totalmente fora do compasso e que obriga a LFP (Liga de Futebol Profissional, em português) a tomar medidas bruscas para evitar problemas maiores e diminuir a sensação de impunidade.

Para quem quiser entender mais do ocorrido, o colega Filipe Papini, do Brasil Lyonnais, fez um compilado dos acontecimentos. Veja e se espante com a brutalidade, que fez com que o jogo durasse apenas 45 minutos.

Já vi muita coisa em termos de violência nos estádios, mas nada parecido com aquilo. Vi confusões entre torcedores e jogadores do próprio time, brigas entre si e com organizadas adversárias, mas nada a ponto do que foi visto na Córsega, uma invasão a campo antes mesmo de a bola rolar. Foi desproporcional e inconsequente.

Vale ressaltar que a torcida do Bastia já possui um histórico violento nesta temporada. O L’Equipe fez o levantamento:

vs PSG: Lucas foi cobrar um escanteio e tentaram agredi-lo com um cabo de bandeira. Por mais que o brasileiro tenha simulado, fica nítido que o torcedor teve a intenção de atingi-lo.

vs Nice: o italiano Mario Balotelli foi perseguido desde o aquecimento por gritos racistas. Não foram um ou dois gritos. Foram vários, insistentes e ofensivos. Como mostra o vídeo abaixo, a “torcida” chegou a imitar macacos e ainda soltaram ofensas como “espécie de m…”.

vs Nantes: Durante o jogo, os Canários empataram no último minuto em 2×2. O técnico Sérgio Conceição vibrou efusivamente e desagradou o banco do Bastia. Na saída para o vestiário, muito tumulto e isso passou para a torcida, que atacou o ônibus do Nantes. Os atletas e a comissão técnica tiveram que esperar os ânimos se acalmarem e a escolta chegar para se dirigirem ao aeroporto.

É uma ficha corrida bastante preocupante e suficiente para punições duras. É claro que os infratores precisam ser identificados e punidos, mas mediante a reincidência e a aparente falta de vontade em coibir esse tipo de situação, é preciso colocar o próprio Bastia no jogo.

A LFP precisa pensar em medidas eficazes, mas exemplares. Só os acontecimentos desta temporada já são razão suficiente para, pelo menos, banir a Bastia 1905 dos estádios franceses ou colocar o clube da Córsega para atuar com portões fechados. Qualquer medida que afaste esse grupo dos estádios será positiva. É hora de dar um “basta” e mostrar que o limite já foi esgotado.

Histórico cultural

Vale acrescentar a discussão que a violência vista pela torcida do Bastia, especialmente pelo grupo Bastia 1905, tem uma relação muito próxima com a questão cultural da Ilha da Córsega. Historicamente, a região tem ligações com grupos separatistas e nacionalistas. A própria Bastia 1905 é ligada a esses blocos e já usou do argumento de xenofobia e preconceito para rebater punições passadas – já foram impedidos de viajar e obrigaram a equipe a atuar com portões fechados.

Para acrescentar a discussão, recomendo dois conteúdos do Xadrez Verbal:

– o post do blog do historiador Filipe Figueiredo, que conta bem como é a política e a cultura da Ilha da Córsega:

– e o podcast no Central 3, que abordou esse mesmo tema, tendo o viés futebolístico:

Engraçado… lamentável

Dois fatos marcaram o futebol na Europa Central.

Na Alemanha, Manuel Neuer fez o seu provável último jogo com a camisa do Schalke e foi campeão da DFB Pokal, após meter 5×0 no Duisburg. Na festa de comemoração, o Schalke foi as ruas e Neuer estava lá, cumprimentando os torcedores, até que do nada, surge uma mão e lhe dá um tapa. Como não surgiu uma grande reação do arqueiro alemão, posso dizer que foi engraçado.

O outro fato é lamentável. O Rapid Wiena perdia o derby da cidade pro Austria Wiena, 2×0, até que os Ultras – como diriam aqueles, a “torcida organizada deles” – se irritaram e invadiram o campo. Tocaram o terror, me pareceu que tentaram atacar a torcida adversária, abordaram os jogadores, – que inteligentemente foram se direcionando aos vestiários logo após a invasão dos Ultras – mas o cordão militar de 400 policiais agiu, avançou e encurralou os marginais. Como eu twittei: “Ultras: Uma raça que tem que acabar!”

O jogo foi suspenso e no fim do jogo, os técnicos lamentaram muito o ocorrido.

Simplesmente lamentável e vergonhoso pro futebol austríaco!