Pequenino Croix, da 5ª divisão, disputa derby inédito contra gigante do norte

Foto: Reprodução - Separados por 8 km, Croix e Lille se enfrentarão na Copa da França

Foto: Reprodução – Separados por 8 km, Croix e Lille se enfrentarão na Copa da França

Que a Copa da França proporciona histórias fantásticas e que demonstram que o futebol europeu tem, sim, suas raízes humildes, todos sabemos. Percursos de clubes como Quevilly e Epinal em temporadas recentes não me deixam enganar. Na próxima terça-feira, no norte do país, teremos outras dessas histórias.

O Iris Club de Croix, equipe localizada na pequena comunidade, de apenas 20 mil habitantes, chamada de Croix, no município de Lille, chegou a impensável fase de 16avos de final da Copa da França. Neste estágio da competição, o adversário será justamente o Lille OSC, maior clube da região e campeão francês em 2011.

Apenas 8 km separam os dois clubes e o confronto regional será deveras marcante para o nanico Croix. Líder do grupo B da CFA 2 (equivalente a 5ª divisão) e invicto na temporada, eles terão uma oportunidade única de enfrentar um dos principais times do país e que semanas atrás segurou o Paris Saint-Germain na capital.

Mais do que isso, o Croix observa esse jogo como uma fonte de renda. O pequeno Stade Henri-Seigneur, de gramado sintético e com capacidade para apenas duas mil pessoas, será resguardado e o clube ressuscitará um local de marcantes lembranças para os torcedores do adversário em questão, o Lille: a partida da próxima terça-feira será jogada no Stade Lille Metrópole, antiga casa dos Dogues.

Foi neste estádio que o Lille ganhou o Campeonato Francês em 2011, fez boa parte de suas campanhas em copas e recebeu adversários importantes em torneios UEFA, como foi o Liverpool na Liga Europa de 2010 e a Inter de Milão na Liga dos Campeões em 2011.

Como hoje o LOSC usa o moderno Stade Pierre-Mauroy, o antigo estádio, que fora inaugurado em 1976, ficou relegado a competições de atletismo, jogos dos times de base do Lille, além de partidas de rúgbi do Lille Metrópole Rugby.

Foto: Stadium LM - Para este jogo, o Stadium Lille Metrópole será utilizado

Foto: Stadium LM – Para este jogo, o Stadium Lille Metrópole será utilizado

Durante algumas semanas, até sugeriram a realização da partida no Stade Pierre-Mauroy, mas o Croix preferiu exercer seu mando em outro estádio. Sempre é bom lembrar que os mandos de campo na Copa da França funcionam da seguinte maneira: se o confronto envolve times que tem duas divisões de diferença, o time da divisão inferior tem o mando. Algo diferente disso passa para sorteio.

Equilíbrio no orçamento

Patrice Weynants, presidente do Croix, acredita que possa equilibrar o orçamento do clube com essa partida no Lille Metrópole. “Se conseguirmos 60 ou 70 mil euros para equilibrar o orçamento e acertar as contas do fim do mês, nos será bem vindo”, declarou em entrevista ao canal France 3. A única preocupação do presidente está em cima do gramado, já que o estádio tem sido palco de jogos de rúgbi.

Segundo o Google Maps, a distância entre os dois estádios é de pouco mais de 7 km, por isso, não deverá afetar tanto para o torcedor do Croix.

É uma oportunidade única para o clube do norte. Fundado em 1952, o Croix nunca avançou da quinta divisão e não tem grandes feitos em sua história. O grande título foi a divisão regional Nord-Pas-de-Calais Honneur, da 6ª divisão, em 2011 e que lhe colocou na 5ª divisão.

O momento em que mais apareceu na mídia francesa foi quando o seu atleta Geoffrey Cabaye, irmão de Yohan Cabaye (jogador do Newcastle e da Seleção Francesa) foi convocado pra seleção vietnamita.

Apesar disso, o Croix é um clube que podemos chamar de “arrumado”. Possui time reserva disputando divisões inferiores, equipe de veteranos jogando copas distritais e ainda conta com categorias de base com times do sub-9 ao sub-19.

Mas eles sonham alto nesta temporada. Além de liderarem a chave em que estão na 5ª divisão, o Croix é o único time invicto do grupo, com dez vitórias e dois empates. Em outras palavras: o Croix não perdeu na temporada, já que os duelos da Copa da França são em jogos únicos. Aliás, na Copa, eliminaram o Neiges Le Havre, o Lilas e o Saint-Armand, todos os clubes de divisões abaixo da 5ª. O Lille será o primeiro time “de cima” a cruzar o caminho do Croix.

É difícil imaginar que possa ir longe na Copa da França, mas não custa sonhar. Estamos falando da Copa da França, a copa dos feitos impossíveis. A copa em que um time do naipe do Quevilly conseguiu disputar uma decisão frente o poderoso Lyon. Por que não, Croix?

>> Leia também: relato de outro derby do norte, esse entre Croix e Wasquehal (em inglês);

Um domingo como nenhum outro

Épinal fazendo história(Foto: Getty Images)

Épinal fazendo história
(Foto: Getty Images)

Não foi um domingo normal. Eu deveria ter percebido isso logo após acordar. Também pudera, pulei da cama antes das nove horas, coisa rara se tratando de um ser preguiçoso somado há um dia em que, geralmente, “fazer nada” é a obrigação principal. Mas nem percebi e segui o domingo como se fosse qualquer outro.

Mero engano, não era um domingo qualquer.

Rodeado pelo tédio da manhã, me deparei com uma partida que, assim como todo o domingo, seria previsível. De um lado, o Épinal, clube da Lorena, escondido atrás do sofá do maior time da região, o Nancy. Como grandes feitos, o Épinal tem dez participações na segunda divisão. No outro canto, estava o imponente e multicampeão Lyon, que ainda vinha com a fama de ser o grande perseguidor do milionário Paris Saint-Germain em solo nacional – porque, convenhamos, o Olympique de Marseille não tem bola pra brigar pelo caneco. Não restavam dúvidas, eu iria assistir ao uma partida de um único time. Bastava ver o primeiro tempo, almoçar e tirar o merecido cochilo da digestão.

Os indícios de uma vitória do Lyon tão tranquila como devorar aquela macarronada do domingo – é nisso que dá falar de um jogo da hora do almoço – estavam tão claros que o Épinal nem usava seu uniforme. A Federação Francesa de Futebol não é tão organizada quanto a Liga de Futebol Profissional da França, mas eles levam suas frescuras ao ponto de ebulição para tudo dar certo. Na Copa da França, os times não usam a numeração fixa dos campeonatos que disputam semanalmente e, sim, a tradicional numeração de 1 a 11. Além disso, as marcas estampadas na camisa de cada time são de patrocinadores do torneio, ou seja, a camisa usada na Copa da França é totalmente diferente da usada nos jogos de campeonato. Diversos clubes não têm condições financeiras de atender a todas essas frescuras exigências e recebem uma mão da FFF, ganhando o uniforme da federação. Era essa a situação vivida pelo Épinal.

Mas voltando ao jogo, quem, em sã consciência, apostaria que um time, pelo menos no momento, rebaixado à quarta divisão francesa e sem uniforme próprio, bateria o vice-líder do Campeonato Francês? Não me venham com o papo de “é copa, é jogo único”, quem diz isso só está tentando mostrar alguma imparcialidade, mas, no fundo, sabe (?) qual vai ser o resultado final do jogo.

Mas então, voltamos às primeiras palavras do texto: “não foi um domingo normal”. Não fazia nem quinze minutos que a bola estava rolando no Estádio de la Colombière e o placar apontava 2×0 para o Épinal. Na hora, fiquei sem saber se estava tendo ilusões causadas pela fome gerada pelo fantástico cheiro de comida que vinha da cozinha ou se era real mesmo. Precisei entrar em alguns sites especializados para confirmar e sim, o pequeno time da Lorena batia o gigante Lyon com dois tentos de vantagem.

A história parecia tão absurda que os gols foram marcados por Tristan Boubaya, um rapaz de 23 anos que ainda não havia marcado pelo clube da Lorena. O conto foi se tornando ainda mais absurdo! Aquele inexplicável triunfo do Épinal sobre o Lyon era o primeiro em casa desde agosto de 2012.

Mas “quem avisa amigo é”, diria aquele amigo imaginário que sempre surge na hora em que é tomada uma atitude contrária a pensada por esse cidadão. Antes mesmo de saborear meu almoço, a partida já estava empatada em 2×2. Era óbvio que voltaríamos ao tradicional marasmo dominical e acompanharíamos a mais uma vitória do Lyon. Mas os visitantes estavam com calma. Eles até esperaram eu almoçar para dar o rumo normal de meu dia. O tento da virada saiu aos 18 minutos da etapa final em um pênalti cobrado por Lisandro López.

Acabou. Era só deitar, relaxar e cochilar na frente da TV, afinal, o Lyon confirmou a vitória…

Mas o Épinal empatou. Sim! Os mandantes conseguiram igualar o marcador com Valentin Focki. E eu voltava a questionar se realmente estava acordado, já que, assim como Boubaya, Focki não marcava há um bom tempo, desde fevereiro de 2012, mais precisamente. Alguma coisa estava errada!

Rémi Garde, técnico do Lyon, talvez estivesse dizendo o mesmo quando via seu zagueiro, Bakary Koné, ter atuação terrível. Possivelmente, um daqueles indiscretos bonecos de posto, se remexendo de um lado para o outro na defesa, teria uma participação mais segura que o burquinense.

Mas não era um domingo normal (seria mais anormal se um boneco de posto estivesse jogando mesmo)…

Fomos para o tempo extra e o Épinal, por incrível que pareça, encontrou a fraqueza de seu oponente: a bola aérea. Bastava jogar a redondinha na grande área que era perigo na certa. Já havia saído dois gols assim, por que não o terceiro? Talvez o boneco de posto, citado no parágrafo anterior, ganhasse mais bolas no alto do que Koné.

O Épinal cansou. Fazer três gols no Lyon é um trabalho árduo, ainda mais quando se é um dos fortes candidatos a disputar a quarta divisão do país. No outro lado, Garde fez uma mísera alteração, mas os dez guerreiros que correram por mais de 100 minutos pareciam crianças em um parque de diversões, corriam como nunca. Corriam para vencer, corriam para evitar o vexame.

Correram em vão.

Ter de passar de fase contra o Épinal na disputa de pênaltis já era vexatório o bastante para o Lyon. Poderiam, tranquilamente, pegar suas coisas e voltar para casa sem nem passar pela marca fatal. Não fariam, ficaria mais feio ainda.

Àquela altura, já era torcedor desde criança do Épinal. Não fazia ideia se era sonho ou se estava acontecendo mesmo, mas queria muito que o time da terceira divisão passasse de fase e escrevesse seu nome na história das zebras da Copa da França.

Olivier Robin: Nome de herói, agindo como herói(Foto: Getty Images)

Olivier Robin: Nome de herói, atitude de herói
(Foto: Getty Images)

Todo o feito dependeria de um herói. Para o goleiro do Épinal, isso já era meio caminho andado, pois, nome de herói ele já tem. Olivier Robin criou carreira própria, deixou Gothan City de lado e se aventurou como goleiro na França. Era o momento ideal para mostrar a Batman e ao mundo todo que fez a escolha certa ao se mudar para a Europa e largar a carreira de super-herói.

Ele, mais do que ninguém, sabe o que é mais perigoso: ser herói ou goleiro.

O heroísmo de Robin começou logo na segunda cobrança, quando defendeu o tiro de Fofana. Em seguida, pressionado pelo erro do companheiro Do, o goleiro do Épinal bateu de frente com o Coringa. Durante a partida, Koné fez todos rirem com suas pixotadas para dar o golpe de misericórdia na disputa de pênaltis. “Daria”, eu quis dizer. Os vilões nunca vencem, contam as histórias, e Koné mandou a bola na lua e voltou a dar alegrias a Robin.

Nas duas cobranças seguintes do Épinal, somente acertos. Isso significava que o nanico time da Lorena, vice-lanterna da terceira divisão e que nem tinha condições de organizar o uniforme para a peleja, estava eliminando o Lyon, um dos grandes postulantes ao título da Ligue 1.

Isso seria um sonho (pesadelo para os torcedores do Lyon)? Acredito que sim. Há mais indícios. Na mesma Copa da França, o SC Bastia foi eliminado por um adversário local, o CA Bastia, também da terceira divisão. Sem falar do PSG, que quase se complicou diante do Arras da quinta divisão.

Bom, se essa ladainha toda não foi em momento algum real, talvez ninguém esteja lendo esse texto. Talvez passemos a acreditar que o nosso querido esporte bretão “não é uma caixinha de surpresas” e que “tem muito bobo no futebol”. Talvez devamos extinguir todas as copas, afinal, não tem como um time praticamente amador bater um grande clube do país.

Mas é viagem minha, ignorem tudo isso. Aconteceu, não foi um domingo qualquer. Ainda bem que existe o futebol para imortalizar dias como esse.

Müller ou Robben: Eis a questão

Em má fase, Robben e Müller não conseguem render juntos (Reuters)

Eu estava pronto para escrever um texto sobre determinado assunto neste momento, mas a classificação do Bayern para a semifinal da DFB Pokal – Copa da Alemanha – me forçou a mudar totalmente estes planos.

Uma das mudanças, inclusive, era o título. Este post se chamaria “Müller, o queridinho da Baviera“. Eu destacaria o seu péssimo momento no Bayern, somadas as críticas do ex-bávaro Mario Basler, que pegou no pé de Robben. Só pra não ficar confuso, só queria demonstrar que mesmo jogando mal, Müller tinha sua pele aliviada ao ver outros companheiros sendo criticados e ele não.

Acontece que esta tarde, o Bayern meteu 2×0 no Stuttgart pela copa alemã e Müller foi muito bem, tendo participado dos dois gols bávaros. Detalhe: o camisa 25 do Bayern foi escalado de forma diferente por Jupp Heynckes. Com Kroos de volta a linha de armadores no lugar de Robben, Müller foi deslocado para a direita, posição do holandês.

Não é de hoje que é sabido que a revelação da Copa do Mundo de 2010 rende muito mais jogando pelo flanco direito, porém, ele “quebrava um galho” pelo centro. Só que nesta temporada, nem isso ele tem conseguido fazer.

Robben, que ficou um bocado de tempo contundido, voltou, mas jogando mal. Marcando poucos gols e raramente sendo decisivo. As críticas de Basler não me surpreenderam nem um pouco. Não sei se o holandês estava “jogando com o nome”, talvez Heynckes, sabendo de seu potencial, estivesse esperando o momento em que ele voltasse a apresentar o futebol de sua primeira temporada na Alemanha, mas isso estava demorando demais pra acontecer. Uma atitude tinha de ser tomada!

O mesmo servia pra Müller, que jogando um futebolzinho sem-vergonha, se mantinha como titular do Bayern, sobrecarregando jogadores como Kroos e Ribéry.

Heynckes tem a bomba em mão, não pode deixá-la explodir (Reuters)

Jupp Heynckes ainda tentou um jeito de encaixar todo mundo no mesmo time ao colocar Kroos e Schweinsteiger como volantes, mas a fórmula que está dando certo na Seleção Alemã, não deu resultados no clube bávaro. O jogo do Bayern depende demais das presenças ofensivas de Kroos e Schweini, com os dois de volantes, isso fica impossível, já que um dos dois precisa ficar e proteger a defesa. Como isto ficava acontecendo constantemente, o jogo ficava sobrecarregado em Müller, Robben e Ribéry, sendo que os dois primeiros estão em má fase e o terceiro é uma granada prestes a explodir.

Na partida de hoje contra o Stuttgart, Heynckes tomou uma nova atitude. Robben ficou no banco – um dia após as críticas de Basler -, com Müller jogando aberto na direita e o Bayern jogou muito bem. Mesmo com Schweinsteiger tendo permanecido cerca de 20 minutos em campo – o #31 do Bayern se lesionou… de novo – Kroos esteve em uma grande jornada, contando com o auxílio de Alaba, que substituiu Schweini.

Thomas Müller, jogando aberto na direita, foi decisivo e bem mais participativo que o normal. O #25 do Bayern precisa de espaço pra correr, já que normalmente busca as jogadas diagonais, além de ser aquele tipo de jogador que se tem espaço, consegue driblar. Sem espaço, só toca. Diferente de Robben, que sabe driblar curto e não precisa ter grande liberdade pra finalizar. São estilos diferentes, mas que mesmo assim se encaixam na meia direita.

Hoje foi o dia da decisão: Jupp Heynckes, se ainda acha que o Bayern pode voltar a erguer a Salva de Prata e a “orelhuda” mais cobiçada da Europa, precisa se decidir: Robben ou Müller. Eles até cabem juntos no mesmo time, mas isto tem prejudicado a grande ação ofensiva do time, que é a chegada de trás de Kroos e Schweinsteiger. Robben no time titular significa Müller jogando centralizado, que significa Kroos de volante e finalmente, significa Bayern jogando mal.

A bola está com Heynckes! Insista no erro – que, repito, pode até dar certo, mas não parece que dará – ou faça o simples e conquiste as vitórias com bom futebol!