EURO 2012: O grupo do enrosco

Nem grupo da morte, nem grupo das ‘babas’. A chave C da UEFA Euro 2012 tem um favorito claro, porém, não deixa de apresentar a esta equipe adversários conhecidos como “carne de pescoço”.

Atual campeã do torneio, a Espanha pode ser a primeira na história a conquistar a Eurocopa, a Copa do Mundo e de novo o torneio europeu em seguida, por isso é reconhecidamente a favorita do grupo. A Itália despontava como segunda candidata a vaga, porém, um novo escândalo envolvendo o futebol do país atormenta o momento psicológico da seleção. Já a Croácia surge com um time muito técnico e capaz de surpreender, enquanto a Irlanda, mesmo longe de torneios importantes desde 2002, tem jogadores experientes, além de um técnico estrategista.

Confira abaixo a análise dos quatro selecionados.

ESPANHA: Em busca de um feito inédito

Decisivo em 2008, Torres pode receber mais uma chance com Del Bosque

Acostumada a gerar grandes expectativas antes dos torneios, mas não correspondê-las, a Espanha retorna a Eurocopa com fama de favorita e, também, com pinta de que pode novamente conquistar o continente. O time treinado por Vicente Del Bosque pode se tornar a primeira seleção na história a conquistar a UEFA Euro, a Copa do Mundo e novamente o torneio europeu em sequência. Em 2008, quando ainda era comandada por Luís Aragonés, a Fúria ergueu o caneco no seu continente, dois anos depois, já com Del Bosque de técnico, veio o primeiro título mundial.

Mas para a disputa do torneio que inicia na sexta-feira, a Espanha não poderá contar com seu artilheiro, David Villa. O atacante do Barcelona se contundiu em dezembro, na disputa do Mundial de Clubes, e não se recuperou a tempo para a competição. Com isso, a tendência é que Fernando Torres seja seu substituto. O atacante do Chelsea, novamente, não fez boa temporada, porém, foi decisivo no duelo diante do Barcelona na UEFA Champions League, onde fez o gol que eliminou o time catalão.

Caso Torres não engrene, Del Bosque deverá apostar em Fernando Llorente do Athletic Bilbao. O atacante de 1,95 de altura balançou as redes em 29 oportunidades nesta temporada, dezoito vezes há mais que o concorrente do Chelsea.

A ausência de Villa não mudará o estilo de jogo espanhol de muito toque de bola, controle de jogo e movimentação. Os grandes “caras” deste estilo são Xavi, Iniesta – que deverá jogar mais aberto – e Xabi Alonso.

Dentre esses três atletas, surge David Silva. Bem na Euro 2008 e discreto na última Copa – devido a uma lesão -, o meia fez ótima temporada pelo Manchester City e foi um dos grandes responsáveis pelo título inglês, onde foi líder no quesito assistências. Mesmo com uma queda de rendimento na segunda metade da temporada, Silva tem tudo para encontrar sua melhor forma diante dos técnicos companheiros de time.

Na defesa, uma ausência deve ser muito sentida no espírito do time: Carles Puyol. O defensor do Barcelona sofreu uma lesão no joelho no fim da temporada e por isso ficará de fora do torneio. Com isso, Sérgio Ramos deve ser deslocado para o miolo de defesa e formar dupla com Piqué.

A novidade do time está na lateral-esquerda. Após anos e anos atuando com o “patinho feio” Joan Capdevila, o técnico Vicente Del Bosque viu em Jordi Alba, de apenas 23 anos, a solução para seus problemas na posição. Com sete assistências na temporada, Alba tem pouca experiência pela seleção espanhola, mas nos cinco jogos que fez, convenceu a todos de que deveria ser o titular da posição.

Essa é a Espanha, que chega ao torneio como favorita e com a mescla Barcelona-Real Madrid, que tem tudo para dar certo nesta Eurocopa.

CONVOCADOS:

Goleiros: Iker Casillas (Real Madrid), José Manuel Reina (Liverpool-ING) e Victor Valdés (Barcelona)

Defensores: Álvaro Arbeloa, Sergio Ramos e Raúl Albiol (Real Madrid), Jordi Alba (Valencia), Juanfran Torres (Atlético de Madrid) e Gerard Piqué (Barcelona)

Meio-Campistas: Javí Martinez (Athletic Bilbao), Xabi Alonso (Real Madrid), Santiago Cazorla (Málaga), Xavi, Fabregas, Busquets e Iniesta (Barcelona), Juan Mata (Chelsea-ING), Jesus Navas (Sevilla) e David Silva (Manchester City-ING)

Atacantes: Álvaro Negredo (Sevilla), Fernando Llorente (Athletic Bilbao), Pedro (Barcelona) e Fernando Torres (Chelsea-ING)

ITÁLIA: 2006 E 1982 como exemplos

Grande destaque da Juve, Pirlo tentará carregar a Itália na Euro

Em 1982, Paolo Rossi chegava à Espanha para a disputa da Copa do Mundo graças a uma ação judicial que reduziu sua suspensão de três para dois anos. Naquela época, o escândalo Totonero fez com que diversos jogadores fossem presos e Rossi era um deles. No Mundial, o atacante, na época da Juventus, arrebentou e a Azzurra foi tri-campeã do mundo. Vinte e quatro anos depois, outro escândalo futebolístico atacava a Velha Bota, desta vez o Calciopoli. Este caso envolveu os clubes, gerou diversas punições e até rebaixou a Juventus, mas na Copa do Mundo, o Calcio deu a volta por cima e a Itália conquistou o tetra-campeonato mundial.

Em 2012, novo escândalo de apostas e agora com interferência direta na seleção do país. Domenico Criscito é um dos acusados de envolvimento no caso. Atualmente no Zenit da Rússia, o lateral-esquerdo foi excluído da lista de convocados para a Eurocopa.

Diante desses escândalos, a Itália tentará, novamente, se reerguer e levantar o caneco. Para isso, o técnico Cesare Prandelli aposta na mixagem de novos atletas com os mais experientes. No elenco atual, Gianluigi Buffon, Daniele De Rossi e Andrea Pirlo se unem a Fabio Borini, Mario Balotelli e Sebastian Giovinco nesta nova caminhada.

O setor mais produtivo do time é o meio-campo, onde está reunida muita técnica e disposição. Lá estará Andrea Pirlo, grande nome do time. O camisa 21 fez temporada brilhante pela Juventus e será o responsável por dar o toque de classe na faixa central do gramado. Como a Azzurra deve jogar sem um meia-armador, numa espécie de 4-3-3, Pirlo será o grande responsável por trabalhar a bola tanto na defesa, quanto no ataque.

Falando no setor ofensivo, é lá que Prandelli tem suas dúvidas. Mario Balotelli deverá ser titular, mas todos sabem que ele é uma bomba prestes a estourar e ficará sempre aquela interrogação quanto ao limite de sua paciência. Antônio Cassano também deverá ter sua vaguinha no time, mas o AVC que teve no final do ano o deixou durante um bom tempo inativo e acaba gerando dúvidas quanto sua forma física.

Giuseppe Rossi deveria ser o outro titular, mas o atacante do Villarreal ficou fora da lista final por estar com uma grave lesão. Com isso, sobraria uma vaga que seria disputada entre Giovinco e Di Natale. Riccardo Montolivo corre por fora, mas caso entre, será para jogar mais recuado, como um meio-campista.

Independente da formação escolhida, Cesare Prandelli opta por um ataque leve, de movimentação e sem um centro-avante fixo. Basta ver que nomes como Luca Toni e Vincenzo Iaquinta não tiveram vez com o ex-comandante da Fiorentina.

Enquanto isso, a defesa é muito consistente. Mesmo com o problema de Criscito e a lateral-esquerda, a força e rigidez do setor não fogem com a dupla Chielini e Bonucci. Na lateral-direita, Maggio, que atua como um ala no Napoli, mas parece estar se adaptando bem a função mais defensiva na Azzurra. Balzaretti, a surpresa Ogbonna e até Chielini surgem como possíveis substitutos de Criscito.

A Itália chega à Euro desacreditada. Prandelli já chegou a dizer que “para o bem do futebol no país, não seria problema nenhum não disputarem a competição”, mas eles devem jogar e tentar, na base da tradição, peso da camisa e novas ideias, chegar a um novo título europeu.

CONVOCADOS:

Goleiros: Gianluigi Buffon (Juventus), Morgan De Sanctis (Napoli) e Salvatore Sirigu (Paris Saint-Germain-FRA)

Defensores: Ignazio Abate (Milan), Federico Balzaretti (Palermo), Andrea Barzagli, Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini (Juventus), Christian Maggio (Napoli) e Angelo Obinze Ogbonna (Torino)

Meio-Campistas: Daniele De Rossi (Roma), Alessandro Diamanti (Bologna), Emanuele Giaccherini, Claudio Marchisio e Andrea Pirlo (Juventus), Riccardo Montolivo (Fiorentina), Thiago Motta (Paris Saint-Germain-FRA) e Antonio Nocerino (Milan)

Atacantes: Mario Balotelli (Manchester City-ING), Fabio Borini (Roma), Antonio Cassano (Milan), Antonio Di Natale (Udinese) e Sebastian Giovinco (Parma)

CROÁCIA: Despontando como zebras

Após a ausência em 2008, Eduardo se sente aliviado por poder disputar em 2012

A Croácia foi uma das seleções que, de certa forma, herdou a técnica e habilidade da Iugoslávia. Até por isso, podemos considerar o time da marcante camisa xadrez como uma das postulantes a “zebra” na Eurocopa 2012.

A seleção armada por Slaven Bilic é jovem e muito talentosa. O grande nome desta geração é Luka Modric, do Tottenham. O meia tem muita capacidade técnica, além de qualidade para jogar na marcação e na armação do time. É o ponto de equilíbrio da equipe e tem tudo para brilhar na UEFA Euro.

Modric ainda conta com boas peças de apoio. Pela direita, o agressivo Srna deverá aparecer diversas vezes na linha de fundo. No outro lado, Ivan Rakitic deverá usar a parte mais interna do campo, além de arriscar chutes de longa distância. A única dúvida está em quem será o companheiro na faixa central do meia do Tottenham. Uns apostam em Vukojevic do Dynamo de Kiev, outros preferem acreditar que Dujmovic do Zaragoza será o titular.

No ataque, o brasileiro naturalizado croata, Eduardo da Silva deverá escrever a história que deveria ter sido escrita há quatro anos atrás. Na edição de 2008, o atacante, que era uma aposta de Bilic, não disputou o torneio por ter sofrido uma fratura no tornozelo, que o tirou de toda temporada. Agora, atuando na Ucrânia, Eduardo se sente inteiro fisicamente e pronto para ser o homem-gol da Croácia.

Seu parceiro de ataque deverá ser Mario Mandzukic, que entre brigas e abraços com o técnico Félix Magath no Wolfsburg, teve uma temporada regular. O reserva da dupla seria Ivica Olic, porém, o jogador, que recentemente deixou o Bayern, se contundiu e foi cortado. Será a grande chance para Nikica Jelavic do Everton e Nikola Kalinic do Dnipro. Ambos precisarão mostrar serviço para conquistar a confiança de Bilic.

Um problema está na defesa. Corluka e Pranjic atuaram pouco por seus clubes – o primeiro terminou a temporada no Leverkusen -, enquanto Gordon Schildenfeld necessita de mais experiência em jogos grandes. O veterano Josip Simunic deve formar dupla de zaga com Schildenfeld, mas se ele já não empolgava no auge, imagina agora aos 34 anos?

A Croácia deposita suas fichas neste jovem time que tem tudo para fazer uma boa campanha. Com os escândalos abalando o futebol italiano, o selecionado croata surge como uma candidata real a uma vaga para o mata-mata. Basta provarem que são capazes de brilhar como Suker, Prosinecki e Cia.

CONVOCADOS

Goleiros: Stipe Pletikosa (Rostov-RUS), Danijel Subasic (Monaco-FRA) e Ivan Kelava (Dinamo Zagreb)

Defensores: Jurica Buljat (Maccabi Haifa-ISR), Domagoj Vida (Dinamo Zagreb), Vedran Corluka (Bayer Leverkusen-ALE), Josip Simunic (Dinamo Zagreb), Gordon Schildenfeld (Eintracht Frankfurt-ALE), Ivan Strinic (Dnipro Dnepropetrovsk-UCR) e Danijel Pranjic (Bayern-ALE)

Meio-Campistas: Darijo Srna (Shakhtar Donetsk-UCR), Tomislav Dujmovic (Zaragoza-ESP), Ognjen Vukojevic (Dynamo Kiev-UCR), Ivan Rakitic (Sevilla-ESP), Luka Modric (Tottenham-ING), Ivan Perisic (Borussia Dortmund-ALE), Niko Kranjcar (Tottenham-ING), Milan Badelj (Dinamo Zagreb) e Ivo Ilicevic (Hamburgo-ALE)

Atacantes: Nikola Kalinic (Dnipro Dnipropetrovsk-UCR), Nikica Jelavic (Everton-ING), Mario Mandzukic (Wolfsburg-ALE) e Eduardo da Silva (Shakhtar Donetsk-UCR)

IRLANDA: Retranca empolgante

Robbie Keane tentará corresponder as expectativas da eufórica torcida irlandesa

A Copa do Mundo de 2002 foi o último torneio que a Irlanda disputou. De lá pra cá, o time bateu na trave algumas vezes antes de entrar em outra competição. A batida mais dolorosa foi em 2009, quando o time britânico caiu na repescagem para o Mundial diante da França, no fatídico jogo em que Henry deu uma “leve” ajeitada na bola com a mão e tocou para Gallas marcar.

Qualificada para a Euro 2012, a Irlanda conta com o experiente técnico Giovanni Trapattoni, que conseguiu fazer uma mistura chata para os adversários: juntou a força defensiva italiana com antiga truculência britânica. Hoje, a Irlanda possui uma defesa firme e um ataque que baseia seu jogo nas bolas aéreas.

Embora este seja um estilo de jogo feio de se ver, há tempos o povo irlandês não ficava tão empolgado com o futebol. O simples fato de disputar a Eurocopa, mesmo que seja para fazer figuração, já deixa a torcida eufórica, como poucas vezes foi visto.

Os fanáticos mais antigos lembrarão-se da única participação irlandesa na história da Eurocopa, que foi em 1988, e naquela edição, a seleção britânica protagonizou uma das maiores zebras da história do torneio. A vitória por 1×0 sobre a favorita Inglaterra foi comemorada como um título, não só por ter sido a primeira na história da competição, mas por ter sido sobre uma arrogante rival da Grã-Bretanha.

Para conseguir surpreender novamente, Trapattoni leva para Ucrânia e Polônia um time experiente, com quatro remanescentes da campanha de 2002: Robbie Keane, Damien Duff, Richard Dunne e Shay Given. O quarteto forma o grande pilar construído por Trap. Sem eles, nada disso seria possível e um surpreendente avanço para as quartas-de-final também será impossível se os quatro não estiverem em boa ligação.

Entre os veteranos, surge Darron Gibson, de apenas 24 anos. A revelação do Manchester United se notabilizou pelos chutes de longa distância. Nesta temporada, ele ficou sem espaço nos Red Devils e se viu obrigado a mudar de ares e foi jogar no Everton. Esse espaço recebido em Liverpool foi primordial para que pudesse conquistar seu lugar na Eurocopa.

Trapatonni também conta com boas opções de ataque. Além do experiente e ídolo irlandês Keane, o italiano terá à disposição Jonathan Walters do Stoke City e Shane Long do West Brom. Eles marcaram 11 e 8 gols, respectivamente, nesta temporada. A dupla atua na Inglaterra, como boa parte do elenco irlandês. Apenas Darren O’Dea, que joga na Escócia, McGeady, na Rússia e Robbie Keane, nos EUA, atuam fora da Inglaterra.

Essa é a Irlanda, que mesmo longe das competições internacionais há mais de dez anos, apresenta uma equipe calejada e chata. Não deve ir longe, mas tem tudo para ser uma pedra no sapato da tradicional Itália e das técnicas Croácia e Espanha.

CONVOCADOS:

Goleiros: Shay Given (Aston Villa-ING), Keiren Westwood (Sunderland-ING) e David Forde (Millwall-ING).

Defensores: John O’Shea (Sunderland-ING), Richard Dunne (Aston Villa-ING), Sean St Ledger (Leicester City-ING), Stephen Ward (Wolverhampton-ING), Kevin Foley (Wolverhampton-ING), Stephen Kelly (Fulham-ING) e Darren O’Dea (Celtic-ESC)

Meio-Campistas: Keith Andrews (West Bromwich-ING), Glenn Whelan (Stoke Cit-ING), Darron Gibson (Everton-ING), Damien Duff (Fulham-ING), Aiden McGeady (Spartak Moscou-RUS), Stephen Hunt (Wolverhampton-ING), Paul Green (Derby County-ING) e James McClean (Sunderland-ING)

Atacantes: Robbie Keane (Los Angeles Galaxy-EUA), Kevin Doyle (Wolverhampton-ING), Simon Cox (West Bromwich-ING), Jonathan Walters (Stoke City-ING) e Shane Long (West Bromwich-ING)

Grupo da morte? Discordo

Toda vez que chegamos no dia de um sorteio para os grupos de uma grande competição, sempre fica aquela expectativa de ver um “grupo da morte”. A expectativa é tanta, que a gente às vezes enxerga um grupo forte e logo já vamos chamando de “grupo da morte”. Na maioria das vezes o grupo só tem uns times de destaque e só, não é um grupo da morte. Pelo menos pra mim, foi o que aconteceu nesta sexta-feira, após o sorteio dos grupos da Uefa Euro 2012.

O grupo B do torneio será formado pelo segundo e terceiro colocado da última Copa do Mundo, respectivamente, Holanda e Alemanha. Além de ter seleções de certo renome, como Dinamarca e Portugal, nomes constantes em Eurocopa.

Logo após a confirmação do grupo, vários comentários surgiram como “temos o grupo da morte” ou “este é o grupo que queríamos ver”. Mas honestamente, discordo da afirmação de que o grupo B da Eurocopa é o “grupo da morte”.

Joachim Löw, Morten OIsen, Paulo Bento e Bert Van Marwijk: técnicos do grupo B (Sports File)

Primeiro de tudo: a Alemanha está acima das três seleções. A Nationalelf não tem uma grande solidez defensiva, porém, o ataque compensa. Podolski, Müller, Özil e Klose formam um quarteto letal. Isso que Jögi Löw tem a disposição no banco jogadores como Götze, Reus e Mário Gomez. Nas eliminatórias, a Alemanha fez dez jogos e venceu todos, tendo marcado 34 gols e sofrido 7. A seleção não só é favorita no grupo como é favorita ao título.

A segunda força do grupo é a Holanda. Atuais vice-campeões mundiais, a Laranja pode não apresentar um futebol vistoso como outrora, mas tem um time muito consistente. O grande pecado do time fica na falta de um homem decisivo. Sneijder acaba sendo mais um “coadjuvante decisivo”. Não é o cara que põe a bola na rede, mas é aquele que sempre deixa os companheiros em condições de fazer o gol. Robben vive machucado e desde que voltou nesta temporada, tem produzido pouco. Van Persie, grande nome holandês do momento, não traduz na seleção o que produz no Arsenal, vide a última Copa do Mundo, onde marcou somente um gol.

A terceira força do grupo fica dividida entre Portugal e Dinamarca. Muito se falou após o sorteio do grupo B que “os dinamarqueses eram a primeira seleção eliminada do torneio”, não por ser mais fraca que alemães e holandeses, mas por serem mais fracos até que os portugueses, claramente colocando a seleção de Portugal no mesmo patamar das duas citadas anteriormente. Não custa lembrar que no grupo H das eliminatórias para a Euro, Dinamarca e Portugal caíram na mesma chave e os dinamarqueses terminaram na primeira colocação, mandando o time lusitano para a repescagem. Claro que a Dinamarca já viveu anos melhores, mas colocá-la abaixo de Portugal é no mínimo desatualização.

O início dos anos 2000 – entenda-se “era Scolari” – foram ótimos para a seleção portuguesa, que conseguiu grandes feitos, como um vice-campeonato europeu e um quarto lugar mundial, mas o time envelheceu, Felipão se foi e o time está se reformulando de forma lenta. Paulo Bento já se envolveu em algumas confusões com alguns jogadores mais experientes e tenta remontar Portugal do jeito que dá, mas o futebol apresentado não agrada tanto assim…

Não é “grupo da morte”. Diria eu que é o “grupo da atenção”. Alemanha e Holanda são as melhores seleções do grupo e estão alguns patamares – ou vários patamares – acima de Portugal e Dinamarca. Mas é aquela história: são seleções perigosas. A atenção definirá os jogos. O time mais ligado levará os três pontos.

DEMAIS GRUPOS

O grupo A com certeza é o mais fraco de todos. Ele será composto por Polônia, República Tcheca, Grécia e Rússia.

Franciszek Smuda, Fernando Santos, Dick Advocaat e Michal Bilek são os treinadores do grupo A (Getty Images)

Quem agradece são os russos, que mesmo não tendo mais aquele brilhantismo de 2008, são os favoritos da chave. O time chegou na Euro vencendo o grupo B e possuem jogadores mais rodados e técnicos, pontos que lhes coloca na lista de favoritos do grupo.

Tchecos e poloneses deverão brigar pela segunda vaga. A República Tcheca já teve times muito melhores do que o atual comandado por Michal Bílek, mas pelo menos este atual time tem experiência, algo que pode ser um ponto pra lá de positivo em um grupo desses. Já os poloneses tem o fator casa, já que terão sua torcida à favor. Não adianta dizer que não adianta de nada, pois se houver uma ligação entre elenco e torcida, adiantará sim.

Gregos correm por fora, mas é aquela história, eles já não mostraram brilhantismo algum em 2004, quando conquistaram o torneio, imagina agora que o time está envelhecido e o futebol no país está quebrado…

Do grupo B já falei, agora chegamos ao grupo C, onde quem se deu bem foi a Espanha, que terá Itália, Irlanda e Croácia como adversários. Os espanhóis são francos favoritos e só uma tragédia os tirará da fase de mata-mata.

A segunda força é a reformulada Itália de Cesare Prandelli. Mas não adiantam apenas os resultados satisfatórios, o time dentro de campo ainda não tem uma grande solidez. Por isso, tudo pode acontecer quando se pega uma Irlanda, por exemplo. Os irlandeses são experientes e “cascudos”. Serão adversários complicados.

O duelo entre Itália e Irlanda marcará o reencontro da Azzurra com Giovanni Trapattoni, experiente técnico italiano e que treinou a seleção italiana de 2000 à 2004.

A Croácia corre por fora e não deve ser excluída. Os croatas tem jogadores de boa qualidade, como Srna, Modric e Olic. Se o conjunto – e a condição física – ajudar, o time pode ser uma das zebras do torneio. Não duvido disso!

O grupo D também é cascudo, ele é formado por França, Inglaterra, Suécia e um dos países sede, Ucrânia.

Enquanto a França sente falta de Zizou, ele coloca a Irlanda no Grupo B (Sports File)

Franceses e ingleses são os favoritos, mas a fase de ambos não ajuda. Les Bleus terminaram 2011 invictos, porém, jogando mal. Laurent Blanc tem testado muita gente e não encontrou uma base firme. Sem falar do fato da França ainda sentir falta de um Zidane. Não precisa exatamente de alguém que jogue como Zizou – como se fosse fácil encontrar outro -, mas precisa sim de um protagonista, de alguém que ponha a bola debaixo do braço e chame o jogo. Falta isso pra França. Já no English Team falta um melhor ambiente interno. Na copa passada tivemos o famoso caso de John Terry e Wayne Bridge. Desta vez, temos as várias trocas de capitão e a suspensão de Wayne Rooney. Somado a isso, Fábio Capello ainda não tem um time bem definido. Assim como na França, dá pra sentir que falta um “algo mais”.

A Suécia pode ser encarada como uma Dinamarca: já foi melhor, mas não pode ser desprezada. A diferença de suecos para dinamarqueses está em Ibrahimovic, esse é o homem que pode decidir para a Suécia, embora ele sofra do mesmo mal de Van Persie, o mal de dar uma sumida nas grandes competições.

A Ucrânia reserva todas as suas expectativas em cima da dupla Andriy Shevchenko e Andriy Voronin. A dupla é experiente, mas são as opções que eles tem. São matadores, o problema fica no resto do time. Não adianta ter dois bons jogadores de frente e os outros 9 jogadores não forem de boa qualidade. Para isso, o técnico Oleh Blokhin torce para que os milhares de torcedores que irão aos estádios ucranianos torcer por sua seleção, façam com que esses jogadores “melhorem”.

Confira a tabela da Eurocopa

(Quase) encaminhado

Enfim tivemos os jogos de ida da repescagem da Uefa Euro 2012 e com os resultados, já temos praticamente tudo encaminhado para a competição que será realizada na Polônia e na Ucrânia. O único confronto que está mais aberto é Bósnia x Portugal.

As intensas disputas no gramado ruim de Bilino Polje marcaram Bósnia x Portugal (Getty Images)

O duelo entre bósnios e portugueses foi o único que manteu o esperado equilíbrio. Aliás, Portugal de certa forma surpreendeu ao ter jogado de forma mais ofensiva no Bilino Polje. O time lusitano teve mais finalizações e obrigou o time mandante a fazer faltas mais duras. Em contrapartida, as melhores chances foram criadas pela Bósnia. No final da partida, o atacante do Hoffenheim, Ibisevic, teve duas boas oportunidades, mas acabou as desperdiçando.

Outro fator que deixou a partida mais tensa e imprevisível foi o estado do gramado, que não era bom. No decorrer da partida, os morrinhos artilheiros atrapalharam mais os atacantes do que os goleiros…

Se o jogo de ida já foi tenso, vide as poucas oportunidades criadas, o ambiente em torno do jogo e o gramado ruim, o jogo de volta no Estádio da Luz tende a ser mais tenso ainda. Os jogos de Portugal em seu país costumam ser muito nervosos, muito por causa da impaciente torcida que costuma pegar no pé de alguns jogadores quando o resultado não vem.

Não arrisco palpite pra esta peleja. O fator casa pode pesar à favor de Portugal, mas não podemos esquecer que na última rodada da fase de grupos da Euro, os bósnios fizeram um primeiro tempo perfeito diante da França no lotado Stade France – motivo principal que fez assustar-me com a inoperância ofensiva da Bósnia diante de Portugal -, mostrando que estádio lotado não é problema. A paciência da torcida pode ser um fator preponderante pro sucesso português.

Os croatas humilharam os turcos (Getty Images)

O resultado mais surpreendente acabou acontecendo na Turk Telekom Arena. Turcos e croatas fariam pra mim o jogo mais “sai faísca” da rodada, porém, nada disso foi visto. Com Luka Modric em dia inspirado, a Croácia dominou a partida e fez 3×0 com extrema facilidade. Com 32 minutos, Olic e Mandzukic já haviam feito dois tentos. Na etapa final, Corluka fechou a conta.

O prejuízo turco não ficou apenas no alargado placar, mas também na relação time-torcida. Não sei exatamente o que aconteceu – não assisti a partida e o meu turco não é dos melhores – mas durante a segunda etapa, Volkan Demirel defendeu um chute de Modric e ironicamente aplaudiu a torcida, que retrucou vaiando o arqueiro. Essa disputa prosseguiu, até que o experiente capitão, Emre chegou para pedir calma para a torcida (Veja no vídeo abaixo).

Se com 50 mil torcedores à favor já estava difícil, com eles contra se tornou mais complicado ainda para a Turquia…

Não dá pra imaginar os croatas fora de mais uma Eurocopa.

Gol no fim deixou a República Tcheca em boas condições de classificação (Getty Images)

Outra seleção que de certa forma me surpreendeu foi a República Tcheca. Com um time envelhecido e pouco talentoso, os tchecos conseguiram um resultado bom de se administrar diante da animada e perigosa Montenegro.

A partida foi muito equilibrada, mas também muito faltosa. Foram 46 faltas cometidas – 20 dos tchecos e 26 dos montenegrinos – durante a partida, além de seis cartões amarelos – 2 tchecos e 4 montenegrinos. Václav Pilar fez o primeiro gol da República Tcheca no meio da segunda etapa, em um canudo de fora da área. Quando as luzes se apagavam, os tchecos conseguiram o gol que lhes dava tranquilidade, com Sivok, aos 47 minutos.

Faltou para Montenegro a velha “manha de fim de jogo”. No levantamento para a grande área, Sivok estava completamente livre, à poucos passos da pequena área para mandar pras redes. Se esse tipo de erro já é inaceitável no meio da partida, imagine no final.

Ficou complicado para Montenegro. O time de Vucinic e Jovetic precisará reverter dois gols e a tal da experiência poderá faltar. Não duvido que os montenegrinos partam pra cima feito malucos logo no começo e em um contra-ataque os tchecos definam a partida.

Aposto na República Tcheca!

Irlanda muito próxima da classificação (Getty Images)

No outro duelo, nada de surpresa. A experiência irlandesa se sobressaiu diante da empolgação estoniana. O experiente Robbie Keane anotou dois gols, enquanto Andrews e Walters fecharam a conta em 4×0.

Já era esperado um resultado semelhante em condições normais e essa expectativa aumentou quando foram juntados os fatores expulsões… Aos 35′ da etapa inicial, Stepanov levou o segundo amarelo e foi expulso com a partida ainda em 1×0. Na etapa final, quando a partida já estava em 3×0, o capitão Piiroja também foi expulso.

Vitória muito tranquila da Irlanda que lhe deixa em ótimas condições de classificação. Só uma catástrofe os tira da Eurocopa. Pro time da Estônia, fica o aprendizado e aquela velha frase: “Nas derrotas, acumule experiências e não fracassos”. É por aí. Se houver um abatimento, dificilmente a seleção nacional voltará a subir, mas se forem tiradas lições disso, a Estônia poderá voltar a figurar entre as surpresas da Europa.

Irlandeses, tchecos e croatas já podem começar a organizar as malas pra Ucrânia e Polônia 2012!