O Mal do Goleiro Moderno

Goleiros e suas "inteligentes" saídas de gols (Getty Images)

44 minutos do 2º tempo. Seu time vai vencendo um dos jogos mais importantes da temporada pelo placar mínimo. O empate seria trágico. A equipe não só deixaria de vencer a peleja, como também perderia algumas colocações na tabela de classificação e ficaria distante de conquistar objetivos maiores.

Eis que o time adversário joga a bola na área de seu time. A gorduchinha vai em direção da marca do pênalti, onde se encontra um bolo de jogadores dos dois times. Até que um herói surge do nada: o goleiro. Ele vai de encontro à bola, porém, de encontro também a ‘muvuca’. Como era de se esperar, ele perde a disputa. O objeto mais cobiçado do espetáculo cai nos pés do centro-avante adversário, que com a trave aberta não perdoa e anota o gol da discórdia.

Cena normal, não?

Mas a pergunta é: o que passa na cabeça do goleiro quando alguém joga a bola em sua área, em um local distante de sua meta e lhe faz sair de lá para catá-la? Desconfiança nos companheiros de time? Vontade de se tornar o nome do jogo? Ou seria simples despreparo?

Para mim, é uma mistura disto tudo.

Comecei a abrir meus olhos para este tipo de lance ao ver uma entrevista do ex-goleiro Emerson Leão para o excelente jornalista Mauro Beting em seu programa no “Band Sports”. Segundo o atual treinador do São Paulo, os goleiros da atualidade saem em bolas desnecessárias, se arriscam demais, quando poderiam muito bem ficarem posicionados em suas metas esperando a bola chegar para poder tomar uma atitude.

Mauro até deu uma humorada retrucada, ao dizer que o entrevistado nunca saia do gol em jogadas aéreas quando ainda era jogador, porém, Leão disse que só saia em bolas que achava necessário e que se havia um zagueiro por perto, por que sair da meta?

Eu já considerava um tanto quanto exageradas as saídas de alguns goleiros, mas nunca havia tido tanta atenção nesses lances como passei a ter após a entrevista de Leão. E ele tem total razão! Atualmente, os goleiros decidem jogos com defesas de primeira classe, salvando pênaltis e algumas vezes fazendo um papel que um jogador de linha faria – sendo um líbero e até um atacante -, mas fugiram do “frango” na hora de decidir uma partida contra o seu time.

Em algumas partidas de futebol que assisto, noto o lance descrito nos primeiros parágrafos se repetir. Há momentos que o goleiro se dá bem e pega a bola. Também há o caso do juiz que acha o arqueiro intocável e assinala a falta, quando no caso, foi justamente o goleiro que partiu pra cima do adversário. Mas, qual é a vantagem do atleta ao fazer isso? Qual o intuito? Pra quê partir pra cima de um bolo enorme de jogadores pra tentar pegar uma bola que nitidamente não é sua, e pior, de uma bola que está distante de seu posicionamento no campo?

Não sou daqueles que acha que o goleiro tem de ficar os 90 minutos embaixo da trave – já vi muitos gols de longe, onde pra muitos, o arqueiro estava “adiantado” -, mas ele tem de ter a percepção e a leitura do lance, para assim notar que é uma ocasião em que ele tem tudo a perder se for disputar a bola.

De cabeça, consigo fazer uma pequena lista de goleiros jovens e muito promissores, que tem na saída de gol um grande defeito:

No Bayern de Munich, Neuer encontrou uma zaga alta e boa em lances aéreos, mas em seus tempos de Schalke 04, fazia a torcida Azul Real ter calafrios com suas saídas da meta.

A jóia, Marc-André ter Stegen mostra até algo pior, que é o posicionamento antes da bola chegar. Nos escanteios contra o Borussia Mönchengladbach, Stegen se coloca no meio da pequena área e na maioria dos lances fica sem tempo de voltar pro gol e sair novamente para evitar o tento adversário.

Hugo Lloris também se arriscou jogando pelos Bleus

Hugo Lloris do Lyon tem reflexos muito apurados. Embaixo dos três paus é com certeza um dos melhores goleiros do mundo, mas joguem uma bola em sua área pra ver o que acontece! A revelação do Nice fica em dúvida em boa parte dos lances. Sai, não sai, marca, posiciona… Enfim, ele fica sem saber o que fazer.

Um goleiro que quase teve sua carreira “queimada” por esse defeito foi David de Gea. O espanhol assumiu a bronca desde cedo no Atlético de Madrid e com muita personalidade se tornou titular incontestável nos Colchoneros. Nesta temporada, ele se transferiu para o Manchester United da Inglaterra, país que mesmo com futebol evoluído, ainda pratica a forma mais rude e antiga do esporte na Grã-Bretanha, o famoso “chuveirinho”. Isso pra um goleiro que tem problemas de saída de gol complica demais. Não à toa, De Gea falhou em jogadas aéreas em alguns jogos seguidos. O resultado disto tudo foi à reserva.

E eu poderia gastar muitos mais caracteres para destacar outros goleiros com problemas de saída de gol, mas que mesmo assim, se arriscam e tentam se tornar heróis. Só que estes poucos exemplos já demonstram como esse trauma atravessa os países.

Mas o que fazer para acabar com este problema?

Creio eu que assim como em jogadores de linha – que muitas vezes finalizam mal ou só com uma perna, que não cabeceiam bem e não têm noções táticas – isso vem da base. Depois que o atleta pega a mania – em casos citados acima, “não pega a mania” -, fica difícil fazê-lo perder.

Mas é claro que com muito treinamento, uma boa orientação e bastante foco no que está fazendo, o goleiro pode parar de sair desnecessariamente do gol em bolas aéreas.

Só que para isso acontecer, os treinadores – em “treinadores”, englobo as comissões técnicas em geral, não só o “professor” – precisam mudar a forma de treinar seus goleiros. Não ficando apenas no campo e nas ações possíveis de se ter em um jogo, mas partir pro psicológico. De algum modo deve entrar na cabeça do goleiro que em lances onde já existem companheiros lutando pela bola, ele não deve sair de sua meta. E isso não vem só com o dia-a-dia no CT do clube, vem com trabalho psicológico, algo que em muitos aspectos é necessário em um time de futebol, mas ignorado por cartolas e treinadores.

Para o bem do futebol, precisa-se trabalhar isso com os jovens goleiros. Isso é também pro bem das futuras gerações de arqueiros. Muito mais do que simples jogos, grandes campeonatos estão sendo decididos em saídas descabidas e impensadas de goleiros. A culpa, obviamente, cai sobre o atleta, que já tem essa característica de tentar ser o herói desde a sua formação na base, porém, devemos jogar um pouco desta culpa sobre os preparadores de goleiros e quem os cerca que não os prepara corretamente para este tipo de situação.

Até quando os goleiros irão comprometer os jogos com saídas como essa?

Balanço da janela: Inglaterra

Dando sequencia as análises finais das contratações, chegamos ao local onde as negociações são mais intensas, a Premier League. Na liga mais milionária do mundo, todos querem entrar pra mostrar seu valor e quem já está lá, mas se deu mal, quer sempre uma segunda chance. Vamos as principais mexidas!

Kun Agüero foi a grande contratação do City

Fazendo jûs ao apelido de “novo rico”, o Manchester City foi a equipe que mais gastou na terra da rainha. Foram mais de 81 milhões de libras investidos em contratações. A mais cara foi a de Kun Agüero, 39,6 milhões de libras. Os Citizens também gastaram uma nota preta para tirar Samir Nasri do Arsenal. Foram 24 milhões investidos. Completam a lista de chegadas no clube azul de Manchester, Gael Clichy, Stefan Savic, Costel Pantilimon e Owen Hargreaves.

Na lista de dispensados do clube, estão jogadores como Jô, Given, Boateng, Wright-Philips, Bellamy, Santa Cruz e Adebayor, todos eles com rodagem no elenco azul. Desses todos, somente os dois últimos a serem citados saíram por empréstimo. A venda mais lucrativa foi a de Jêrome Boateng, onde o City conseguiu quase 12 milhões ao vendê-lo pro Bayern.

Os Citizens fizeram altos investimentos para continuarem com o ambicioso plano de tomar conta do futebol inglês. É um dos favoritos ao título inglês e se o time encaixar, pode fazer barulho na Uefa Champions League.

Outro time que também não economizou na hora das transferências foi o Chelsea. O time londrino gastou 75 milhões de euros e acabou dando uma renovada em seu elenco. O jogador mais caro foi Juan Mata, de 23 anos, contratado por 23 milhões de libras. Por 19 milhões, veio Lukaku, de 18 anos. Oriol Romeu, Ulises Dávila, Thibaut Courtois e o brasileiro Lucas Piazón, outros contratados dos Blues estão todos abaixo dos 21 anos. Apenas Raúl Meireles – contratado por 11 milhões de libras – está acima dessa margem. O português tem 28 anos.

A diretoria do Chelsea aproveitou para se desfazer de jogadores que estavam sem espaço ou que decepcionaram em sua passagem pela Inglaterra, como no caso de Yuri Zhirkov, que foi vendido pro Anzhi por 13 milhões de euros. Jogadores como Benayoun e Mancienne foram outros a mudar de ares.

De Gea, Jones e Young são os novos Red Devils

O Manchester United seguiu a receita do Chelsea e decidiu trazer alguns jovens valores para seu elenco, como David De Gea, de 20 anos e Phil Jones, de 19. Ashley Young, que não chega a ser um jovem, mas que também não é nenhum veterano, também se juntou aos Red Devils. A grande diferença das jovens contratações das duas equipes está justamente nos valores. Enquanto o Chelsea trouxe Lukaku por 19 milhões e Courtois por 7 milhões, o Manchester United fez com que não houvesse essa disparidade. De Gea veio por 17 milhões, Jones por 16 milhões e Young por 15 milhões.

Outra diferença das negociações entre as duas equipes inglesas está nas dispensas. O Chelsea trouxe jovens valores, mas mandou poucos veteranos embora, já o United deu essa renovada. Van der Sar e Scholes encerraram suas carreiras, enquanto John O’Shea, Wes Brown e Owen Hargreaves, todos com muitos anos no clube, acabaram mudando de ares.

O Manchester ainda “se livrou” de duas apostas que não deram certo: Gabriel Obertan e Bebé. O francês nunca repetiu suas boas atuações dos tempos de Bordeaux e seleções de base de seu país, enquanto o português, contratado do nada por Sir Alex Ferguson, mostrou que do nada veio, pro nada voltará. Obertan foi em definitivo pro Newcastle, enquanto Bebé foi por empréstimo pro Besiktas.

Aparentemente, não só pelos negócios, como também pelo começo de temporada, a renovação do Manchester United tem sido mais bem sucedida que a renovação do Chelsea.

O Liverpool aos poucos tenta se acertar e nessa última janela de transferências, gastou mais de 57 milhões de libras. Os Reds não chegaram a fazer grandes loucuras e se reforçaram mais com destaques da própria Premier League do que com estrelas de fora. Jordan Henderson – negócio mais caro do clube, 15 milhões – veio do Sunderland, Charlie Adam veio do Blackpool, Downing chegou do Aston Villa, Bellamy regressou ao Liverpool após algum tempo de Manchester City e José Enrique veio do Newcastle. Completam a lista de reforços dos Reds a revelação uruguaia, Coates e o goleiro brasileiro Doni.

Mas pode-se dizer que o grande reforço do Liverpool foram as saídas de muita gente que pouco acrescentou ao time em seu tempo por lá. Paul Konchesky foi pro Leicester por 1,4 milhões, N’Gog foi pro Bolton por 3 milhões, Jovanovic foi pro Anderlecht por 704 mil euros, enquanto Poulsen, Ínsua, Kyrgiakos, El Zhar e Degen saíram de graça. Aquilani e Cole, apostas furadas dos Reds foram por empréstimo para Milan e Lille, respectivamente.

O Liverpool se mexeu bem, mesmo não tendo feito loucuras. Foram contratações pensadas e boas, além das ótimas saídas, porque o ruim de ter esses malucos no banco de reservas, é que em alguma hora eles terão de entrar.

Será que se machucará pouco?

O Arsenal gastou bastante… mas não dá pra dizer que gastou bem. Dos 54 milhões de libras gastos pelos Gunners, o investimento mais caro foi no jovem de 18 anos, Oxlade-Chamberlain, 12 milhões. O clube londrino ainda gastou 10 milhões cada em Gervinho e Arteta. Per Mertesacker veio por 6 milhões. Curiosamente, Mertesacker e Arteta gostam de um departamento médico…

Carl Jenkinson, o brasileiro André Santos, Park Chu-Young e Benayoun completam a lista de contratados do Arsenal. Nada que deixe o torcedor Gunner ansioso por títulos…

Se o Arsenal “ganhou” pouco nas contratações, perdeu demais nas saídas. Por 25 milhões de euros, Fàbregas foi pro Barcelona, já Samir Nasri, por 24 milhões, foi pro Manchester City. A saída dos dois ocasionou uma dura queda no nível do time, que já não era dos mais altos… Clichy, Bendtner, Denílson, Eboué e Vela foram outros atletas com rodagem no time titular do Arsenal que deixaram o clube.

Que ergam as mãos os torcedores do Arsenal contentes com as mexidas no seu time!

BOLA DENTRO (CHEGADAS)

– Scott Parker, bom meio campista que estava no West Ham, chegou no Tottenham. Negócio bom e barato dos Spurs, que gastaram 4 milhões de libras;

Bryan Ruíz está a disposição de Martin Jol

– O Fulham trouxe dois jogadores interessantes para esta temporada: Bryan Ruíz, ex-Twente e Grygera, ex-Juventus. Os dois devem ajudar bastante;

– O Aston Villa foi outro que se mexeu bem. Trouxe do Wigan, Charles N’Zogbia, do Manchester City o experiente goleiro Shay Given e o meio campista Jermaine Jenas veio do Tottenham. Devem dar experiência ao jovem time do Villa;

– O West Brom trouxe de volta Zoltán Gera. Gosto do futebol do húngaro. Ele havia perdido espaço no Fulham, mas acredito que no WBA ele possa não só jogar mais partidas como ser decisivo;

– O Newcastle trouxe boas peças de reposição para os lugares de Carroll e Nolan. Vieram Demba Ba e Yohan Cabaye;

– O Stoke City se mexeu bem nessa janela. Trouxe o zagueiro Upson, que estava no West Ham e tem passagens pela seleção inglesa. Trouxe também o volante Palacios, além de Peter Crouch. Não havia time mais propício para Crouch jogar! Tinha de ser no time dos laterais malucos;

BOLA DENTRO (SAÍDAS)

– O Tottenham se livrou do fraco Alan Hutton, que foi pro Aston Villa. De quebra, ainda arranjou um time para Bentley, o West Ham. Pena pros Spurs que no caso de Bentley é só um empréstimo;

– Por empréstimo, o Aston Villa mandou para a Grécia o limitado Jean II Makoun. Ele ficará no Olympiacos;

– O West Bromwich conseguiu faturar quase 2 milhões de libras mandando o frangueiro goleiro Scott Carson para o Bursaspor;

– O pessoal do Stoke City não deve ter pensado duas vezes quando viu que o contrato de Eidur Gudjohnsen estava se encerrando e decidiu: “Vá com Deus!”. E ele foi… Está no AEK Athenas;

BOLA FORA (CHEGADAS)

– O Tottenham trouxe o veteraníssimo Brad Friedel. Ele é bom goleiro, mas não sei o que os Spurs querem com um goleiro de 40 anos em seu elenco;

– O Manchester City vive emprestando Adebayor de time em time. O próximo time do togolês será o Tottenham, torcida que odeia o atacante. Junte uma torcida irada com um atacante mediano! Só pode dar coisa ruim;

– Com o passar dos anos, o futebol de Tuncay Sanli cai… e com o passar dos anos aparecem mais clubes lhe dando chances. Agora será a vez do Bolton;

– Ainda no Bolton, chegou N’Gog. Atacante horroroso!;

BOLA FORA (SAÍDAS)

– O Bolton perdeu seu principal atacante, Johan Elmander. E ainda não ganhou nenhum trocado, porque ele foi de graça pro Galatasaray. Perda total;

Até a próxima!