Os 20 melhores jogos de 2013 na França

O surpreendente Epinal foi um dos personagens de 2013

O surpreendente Epinal foi um dos personagens de 2013

O ano de 2013 chegou ao final e o Europa Football preparou um apanhado especial com os 20 jogos mais marcantes do ano na França. A lista inicialmente seria de sete jogos, mas se estendeu a duas dezenas de partidas.

Para a formação da tabela de jogos, foram selecionadas partidas realizadas pelo Campeonato Francês da 1ª, 2ª e 3ª divisão, além de jogos da Copa da França e da Copa da Liga.

A lista foi elaborada de forma cronológica para que não haja discussões do tipo: “como o jogo A ficou na frente do jogo B?”.

Sem mais delongas, confira os 20 jogos marcantes de 2013 na França:

2012/2013

6 de janeiro – Epinal (4) 3-3 (2) Lyon – Copa da França (32 avos de final)

O Lyon começou 2013 com um tropeço monumental na Copa da França. Enfrentando o modesto Epinal, da terceira divisão, logo em sua estreia na competição, o time comandado por Rémi Garde sofreu uma vergonhosa derrota nos pênaltis. Depois de sair com 2-0 contra em 15 minutos, o OL virou na metade da etapa final, mas sofreu o terceiro gol, foi para a prorrogação e, posteriormente, disputa de pênaltis. Nos tiros da marca fatal, brilhou a estrela do goleiro Olivier Robin, um dos grandes heróis da classificação do Epinal. A aventura do time da terceira divisão parou nas oitavas-de-final, quando o RC Lens o eliminou com um triunfo por 2-0.

1 de fevereiro – Guingamp 4-3 Niort – Campeonato Francês/Segunda Divisão (23ª rodada)

Brigando pelo acesso à elite do futebol francês, o Guingamp deu enorme demonstração de força na 23ª rodada da Ligue 2. Enfrentando o ameaçado Niort, então 16º colocado, o EAG precisou de um milagre para vencer. Após sofrer o empate em 3-3 aos 31 minutos do 2º tempo, o Guingamp buscou a vitória no nono minuto de acréscimo! O gol foi do artilheiro Mustapha Yatabaré.

1 de fevereiro – Laval 4-5 Auxerre – Campeonato Francês/Segunda Divisão (23ª rodada)

No mesmo dia do maluco 4-3 entre Guingamp x Niort, outro jogo agitado marcou a 23ª rodada da segundona francesa. O Laval, que lutava contra o descenso, ia trazendo o Auxerre para esta briga ao abrir 2-0 com 40 minutos de jogo. Porém, antes do intervalo, o AJA buscou o empate com dois gols da joia Yaya Sanogo. Quando o relógio marcava 20 minutos do 2º tempo, mais reviravoltas e o marcador apontava 4-4, sendo que Sanogo havia anotado os dois gols do Auxerre. O placar só foi definido aos 43 minutos, quando Christopher Jullien fez o gol da vitória do AJA, 5-4.

11 de fevereiro – Angers 3-2 Lens – Campeonato Francês/Segunda Divisão (24ª rodada)

Na rodada seguinte da segunda divisão da França, virada heroica do Angers diante do Lens. Perdendo em casa por 2-1, o time mandante se viu em situação delicada quando Fabien Boyer foi expulso aos 40 minutos da etapa final. Porém, El Jadeyaoui, aos 45’, e Ayaru, aos 50’, viraram para o Angers e fecharam a partida em 3-2.

29 de março – Chateauroux 2-3 Angers – Campeonato Francês/Segunda Divisão (30ª rodada)

O Angers voltou promover virada heroica no dia 29 de março, em partida válida pela 30ª rodada da Ligue 2. Após abrir o placar com menos de 20 minutos diante do Chateauroux, o Angers vacilou entre os 30 e 32 minutos da etapa final, sofrendo a virada. Porém, aos 47 minutos e aos 49, Ravet e Fall marcaram, respectivamente, e deram a vitória aos visitantes.

6 de abril – Toulouse 3-4 Nice – Campeonato Francês (31ª rodada)

Contra o Toulouse, Anin marcou o último gol antes do acidente de carro

Contra o Toulouse, Anin marcou o último gol antes do acidente de carro

Para muitos, Toulouse 3-4 Nice será marcado pela bizarrice. Ali Ahamada e David Ospina, goleiros dos dois times, falharam na maioria dos gols. O arqueiro do Toulouse, inclusive, foi expulso no segundo tempo. O jovem Bosetti também foi excluído da partida por tentar dar um carrinho voador em M’Bengue. Mas o que marcou foi o autor do gol da vitória do Nice: Kevin Anin. O volante fez seu último gol antes do grave acidente de carro que sofreu meses depois e que lhe tirou dos gramados, muito provavelmente, de forma definitiva.

13 de abril – Fréjus St-Raphaël 2-2 Epinal – Campeonato Francês/Terceira Divisão (32ª rodada)

O modesto Epinal volta a nossa lista com a busca de um empate heroico na terceira divisão francesa. Perdendo por 2-0 pro Fréjus St-Raphaël e jogando com 10 desde os 25 minutos da etapa final, quando Dembele foi expulso, o pequenino time que havia derrotado o Lyon na Copa da França arrancou um pontinho nos minutos finais da partida. Rother, aos 40’, e Chouleur de pênalti, aos 45’, foram os responsáveis pelo empate.

17 de abril – Évian (4) 1-1 (1) PSG – Copa da França (quartas-de-final)

Após empate por um gol no tempo regulamentar e na prorrogação, o milionário Paris Saint-Germain sucumbiu ao valente Évian na disputa por pênaltis das quartas-de-final da Copa da França. Com Ibrahimović parando no goleiro Laquait e Thiago Silva acertando o travessão, o time da capital saiu de campo eliminado da competição. O triunfo foi o gás que o time de Annecy necessitava para chegar até a final da competição.

20 de abril – Saint-Étienne 1-0 Rennes – Copa da Liga (Final)

Dois times na fila chegaram à decisão da Copa da Liga Francesa: o Saint-Étienne, que não vencia nada desde 1981, e o Stade Rennais, que não ergueu troféu algum desde 1971. Por fim, venceu o time mais tradicional e que estava há menos tempo na fila. O ASSE fez 1-0 com o artilheiro Brandão, marcando na decisão pelo segundo ano seguido (no ano anterior havia marcado pelo Marseille). O título também foi a consagração de Pierre-Emerick Aubameyang, astro do time, e de Christophe Galtier, técnico do time e mentor deste longo e ótimo trabalho.

24 de maio – Red Star 2-1 Fréjus St. Raphaël – Campeonato Francês/Terceira Divisão (38ª rodada)

Um dos jogos mais simbólicos da temporada na 3ª divisão francesa foi justamente na última rodada. No Stade Bauer, na capital do país, o Red Star, 15º colocado, enfrentava o Fréjus St. Raphaël, 3º colocado. Para resumir: estavam frente-a-frente um time que estava caindo de divisão e outro que estava subindo. Com dois gols de Jean-Jacques Mandrichi, o Red Star venceu de virada e evitou o rebaixamento (o Bourg-Péronnas perdeu pro Carquefou e foi ultrapassado pelos parisienses). De quebra, o tropeço fez com que o Fréjus St. Raphaël fosse deixado para trás pelo CA Bastia, que venceu o Créteil Lusitanos, e ficasse sem o acesso.

31 de maio – Évian 2-3 Bordeaux – Copa da França (Final)

Durante toda temporada 2012/13, tanto Évian quanto Bordeaux não acreditavam que pudessem conquistar algum título. O time de Annecy se preocupava mais em permanecer na elite francesa, enquanto a equipe da terra dos vinhos fazia campanha mediana na Ligue 1. No último dia de maio, entretanto, os dois times estavam com seus fãs no Stade de France decidindo a Copa da França. Em uma partida pra lá de animada, os Girondins venceram por 3-2 e levaram o troféu para a casa. O grande nome da partida foi o centroavante Cheick Diabaté, autor de dois gols e que também perdeu um pênalti. A conquista foi justa, mas muitos sentiram pena do simpático Évian, que fez por merecer chegar à decisão e vendeu caro a derrota.

2013/2014

6 de outubro – Montpellier 5-1 Lyon – Campeonato Francês (9ª rodada)

Durante as últimas temporadas, temos apertado na tecla (tanto no blog quanto no podcast) que o Lyon está em um patamar abaixo dos times de ponta da França, apesar de ainda esboçar alguns brilharecos. Porém, logo na 9ª rodada do Campeonato Francês da atual temporada, o OL sofreu uma derrota simbólica e que demonstrou o novo momento do clube. Enfrentando o Montpellier, que ainda não havia vencido na temporada, o Lyon foi destruído com uma humilhante derrota por 5-1. O nome do jogo foi Rémy Cabella, autor de dois gols e dois passes para gols.

6 de outubro – Olympique de Marseille 1-2 Paris Saint-Germain (9ª rodada)

O primeiro “Le Classique” da atual temporada foi muito nervoso, só para variar. Mas quem colaborou (e muito) para que o jogo fosse tenso foi a arbitragem comandada por Clément Turpin. Thiago Motta cometeu pênalti em Mathieu Valbuena aos 30 minutos da etapa inicial e, de forma absurda, foi expulso. O lance gerou a revolta de todos no PSG, ainda mais porque André Ayew converteu a cobrança. Com Maxwell e Ibrahimović, o clube da capital virou e saiu do Vélodrome com os três pontos. Vale destacar também a participação do jovem Adrien Rabiot, que entrou para ocupar a lacuna deixada após a expulsão, não sentiu a pressão e jogou bem.

27 de outubro – Saint-Étienne 2-2 Paris Saint-Germain – Campeonato Francês (11ª rodada)

Lemoine foi expulso após receber cotovelada

Lemoine foi expulso após receber cotovelada

Duas rodadas depois, a arbitragem voltou a aparecer em um jogo do PSG, desta vez, ajudando o clube da capital. Perdendo pro Saint-Étienne no Geoffrey-Guichard por 2-0 e sendo completamente dominado pelos Vérts, os parisienses foram beneficiados pelo árbitro Ruddy Buquet, que expulsou Fabien Lemoine. O volante do ASSE disputava bola com Ezequiel Lavezzi e, durante o “puxa-puxa”, recebeu uma cotovelada. Com o rosto ensanguentado, viu o cartão vermelho. O Saint-Étienne sentiu o baque e cedeu o empate nos acréscimos.

3 de novembro – Lille 2-0 Monaco – Campeonato Francês (12ª rodada)

Fazendo campanha surpreendente no Campeonato Francês, o Lille, de René Girard, iria testar forças contra o milionário Monaco na 12ª rodada da competição. Em tarde inspirada do centroavante Nolan Roux, os Dogues mostraram que não estavam para brincadeira, venceram por 2-0 com dois gols do atacante e provocaram a primeira derrota dos monegascos na Ligue 1.

10 de novembro – Saint-Étienne 1-2 Lyon – Campeonato Francês (13ª rodada)

Se a situação do Lyon não é nada boa na questão de títulos, o contrário é dito quando os torcedores lembram o derby contra o Saint-Étienne. O OL engordou a lista de jogos invictos no Geoffrey-Guichard alimentada desde 1994 com mais um triunfo nesta temporada. O gol da vitória dos visitantes (que mais parecem mandantes) veio nos acréscimos, com um gol de cabeça de Jimmy Briand. Porém, não foi apenas isso que marcou a partida. Sem poder levar torcedores para o jogo, o elenco do Lyon ficou com sangue nos olhos durante a partida e até mesmo o veterano Joël Bats (aquele da Copa de 86 e do pênalti de Zico) provocou a torcida adversária, provocando uma confusão que poderia ter trazido maiores problemas para a realização da peleja.

22 de novembro – Fréjus St. Raphaël 2-3 Bourg-Péronnas – Campeonato Francês/Terceira Divisão (13ª rodada)

Acredito que muita gente nunca tenha ouvido falar do Fréjus St. Raphaël. Mas, a partir deste post, vai conhecê-lo como “time da virada”, porém, não no sentido criado no Brasil. Já nesta temporada, o Fréjus viu o triunfo diante do Bourg-Péronnas desandar nos minutos finais. Vencendo por 2-1 no Stade Eugène-Pourcin, os ventos começaram a mudar quando o senegalês Matar Fall foi expulso aos 43 minutos da etapa final. Como tragédia pouca é bobagem, aos 46’, Jordan Gaubey, e aos 47’, Lakdar Boussaha, viraram o jogo. Desde então, o Fréjus não venceu mais e despencou da 4ª colocação para a 8ª na 3ª divisão do país.

1 de dezembro – Paris Saint-Germain 4-0 Lyon – Campeonato Francês (15ª rodada)

O Lyon voltou a receber um choque de realidade ao encarar o PSG em Paris. Inoperante no Parc des Princes, o OL saiu da capital humilhado e com um 4-0 na bagagem. O sueco Zlatan Ibrahimović marcou duas vezes de pênalti, sendo a primeira cobrança no estilo Panenka.

15 de dezembro – Lyon 2-2 Olympique de Marseille – Campeonato Francês (18ª rodada)

Lyon e Marseille podem não estar em seus melhores dias, mas sempre é garantia de bom jogo quando se enfrentam (recentemente tivemos um 5-5, por exemplo). Este ano foi a vez das duas equipes nos presentearem com um bem jogado 2-2 no Stade Gerland. Os mandantes abriram 2-0 com Lacazette e Gomis, e tiveram chances de alargar a vantagem, mas as desperdiçaram e pagaram um preço caro: o empate. Gignac e Thauvin marcaram em falhas do goleiro Remy Vercoutre e levaram um ponto para a casa.

22 de dezembro – Paris Saint-Germain 2-2 Lille – Campeonato Francês (19ª rodada)

Mavuba marcou no último jogo do ano na Ligue 1

Mavuba marcou no último jogo do ano na Ligue 1

O ano de 2013 (e nossa lista) não poderia ser encerrado da melhor maneira possível. PSG e Lille protagonizaram um dos melhores jogos do ano na França, e com uma surpresa: o time do norte não se assustou com o adversário milionário e jogou de igual pra igual, mesmo atuando fora de casa. A partida acabou 2-2, mas poderia ter acabado com vitória lillois, time que criou as melhores chances na etapa final. O jogo também ficou marcado pelo entrevero entre Ibrahimović e Rio Mavuba. Os dois se agrediram e receberam apenas o cartão amarelo (minutos depois, Mavuba marcou para o Lille).

Um domingo como nenhum outro

Épinal fazendo história(Foto: Getty Images)

Épinal fazendo história
(Foto: Getty Images)

Não foi um domingo normal. Eu deveria ter percebido isso logo após acordar. Também pudera, pulei da cama antes das nove horas, coisa rara se tratando de um ser preguiçoso somado há um dia em que, geralmente, “fazer nada” é a obrigação principal. Mas nem percebi e segui o domingo como se fosse qualquer outro.

Mero engano, não era um domingo qualquer.

Rodeado pelo tédio da manhã, me deparei com uma partida que, assim como todo o domingo, seria previsível. De um lado, o Épinal, clube da Lorena, escondido atrás do sofá do maior time da região, o Nancy. Como grandes feitos, o Épinal tem dez participações na segunda divisão. No outro canto, estava o imponente e multicampeão Lyon, que ainda vinha com a fama de ser o grande perseguidor do milionário Paris Saint-Germain em solo nacional – porque, convenhamos, o Olympique de Marseille não tem bola pra brigar pelo caneco. Não restavam dúvidas, eu iria assistir ao uma partida de um único time. Bastava ver o primeiro tempo, almoçar e tirar o merecido cochilo da digestão.

Os indícios de uma vitória do Lyon tão tranquila como devorar aquela macarronada do domingo – é nisso que dá falar de um jogo da hora do almoço – estavam tão claros que o Épinal nem usava seu uniforme. A Federação Francesa de Futebol não é tão organizada quanto a Liga de Futebol Profissional da França, mas eles levam suas frescuras ao ponto de ebulição para tudo dar certo. Na Copa da França, os times não usam a numeração fixa dos campeonatos que disputam semanalmente e, sim, a tradicional numeração de 1 a 11. Além disso, as marcas estampadas na camisa de cada time são de patrocinadores do torneio, ou seja, a camisa usada na Copa da França é totalmente diferente da usada nos jogos de campeonato. Diversos clubes não têm condições financeiras de atender a todas essas frescuras exigências e recebem uma mão da FFF, ganhando o uniforme da federação. Era essa a situação vivida pelo Épinal.

Mas voltando ao jogo, quem, em sã consciência, apostaria que um time, pelo menos no momento, rebaixado à quarta divisão francesa e sem uniforme próprio, bateria o vice-líder do Campeonato Francês? Não me venham com o papo de “é copa, é jogo único”, quem diz isso só está tentando mostrar alguma imparcialidade, mas, no fundo, sabe (?) qual vai ser o resultado final do jogo.

Mas então, voltamos às primeiras palavras do texto: “não foi um domingo normal”. Não fazia nem quinze minutos que a bola estava rolando no Estádio de la Colombière e o placar apontava 2×0 para o Épinal. Na hora, fiquei sem saber se estava tendo ilusões causadas pela fome gerada pelo fantástico cheiro de comida que vinha da cozinha ou se era real mesmo. Precisei entrar em alguns sites especializados para confirmar e sim, o pequeno time da Lorena batia o gigante Lyon com dois tentos de vantagem.

A história parecia tão absurda que os gols foram marcados por Tristan Boubaya, um rapaz de 23 anos que ainda não havia marcado pelo clube da Lorena. O conto foi se tornando ainda mais absurdo! Aquele inexplicável triunfo do Épinal sobre o Lyon era o primeiro em casa desde agosto de 2012.

Mas “quem avisa amigo é”, diria aquele amigo imaginário que sempre surge na hora em que é tomada uma atitude contrária a pensada por esse cidadão. Antes mesmo de saborear meu almoço, a partida já estava empatada em 2×2. Era óbvio que voltaríamos ao tradicional marasmo dominical e acompanharíamos a mais uma vitória do Lyon. Mas os visitantes estavam com calma. Eles até esperaram eu almoçar para dar o rumo normal de meu dia. O tento da virada saiu aos 18 minutos da etapa final em um pênalti cobrado por Lisandro López.

Acabou. Era só deitar, relaxar e cochilar na frente da TV, afinal, o Lyon confirmou a vitória…

Mas o Épinal empatou. Sim! Os mandantes conseguiram igualar o marcador com Valentin Focki. E eu voltava a questionar se realmente estava acordado, já que, assim como Boubaya, Focki não marcava há um bom tempo, desde fevereiro de 2012, mais precisamente. Alguma coisa estava errada!

Rémi Garde, técnico do Lyon, talvez estivesse dizendo o mesmo quando via seu zagueiro, Bakary Koné, ter atuação terrível. Possivelmente, um daqueles indiscretos bonecos de posto, se remexendo de um lado para o outro na defesa, teria uma participação mais segura que o burquinense.

Mas não era um domingo normal (seria mais anormal se um boneco de posto estivesse jogando mesmo)…

Fomos para o tempo extra e o Épinal, por incrível que pareça, encontrou a fraqueza de seu oponente: a bola aérea. Bastava jogar a redondinha na grande área que era perigo na certa. Já havia saído dois gols assim, por que não o terceiro? Talvez o boneco de posto, citado no parágrafo anterior, ganhasse mais bolas no alto do que Koné.

O Épinal cansou. Fazer três gols no Lyon é um trabalho árduo, ainda mais quando se é um dos fortes candidatos a disputar a quarta divisão do país. No outro lado, Garde fez uma mísera alteração, mas os dez guerreiros que correram por mais de 100 minutos pareciam crianças em um parque de diversões, corriam como nunca. Corriam para vencer, corriam para evitar o vexame.

Correram em vão.

Ter de passar de fase contra o Épinal na disputa de pênaltis já era vexatório o bastante para o Lyon. Poderiam, tranquilamente, pegar suas coisas e voltar para casa sem nem passar pela marca fatal. Não fariam, ficaria mais feio ainda.

Àquela altura, já era torcedor desde criança do Épinal. Não fazia ideia se era sonho ou se estava acontecendo mesmo, mas queria muito que o time da terceira divisão passasse de fase e escrevesse seu nome na história das zebras da Copa da França.

Olivier Robin: Nome de herói, agindo como herói(Foto: Getty Images)

Olivier Robin: Nome de herói, atitude de herói
(Foto: Getty Images)

Todo o feito dependeria de um herói. Para o goleiro do Épinal, isso já era meio caminho andado, pois, nome de herói ele já tem. Olivier Robin criou carreira própria, deixou Gothan City de lado e se aventurou como goleiro na França. Era o momento ideal para mostrar a Batman e ao mundo todo que fez a escolha certa ao se mudar para a Europa e largar a carreira de super-herói.

Ele, mais do que ninguém, sabe o que é mais perigoso: ser herói ou goleiro.

O heroísmo de Robin começou logo na segunda cobrança, quando defendeu o tiro de Fofana. Em seguida, pressionado pelo erro do companheiro Do, o goleiro do Épinal bateu de frente com o Coringa. Durante a partida, Koné fez todos rirem com suas pixotadas para dar o golpe de misericórdia na disputa de pênaltis. “Daria”, eu quis dizer. Os vilões nunca vencem, contam as histórias, e Koné mandou a bola na lua e voltou a dar alegrias a Robin.

Nas duas cobranças seguintes do Épinal, somente acertos. Isso significava que o nanico time da Lorena, vice-lanterna da terceira divisão e que nem tinha condições de organizar o uniforme para a peleja, estava eliminando o Lyon, um dos grandes postulantes ao título da Ligue 1.

Isso seria um sonho (pesadelo para os torcedores do Lyon)? Acredito que sim. Há mais indícios. Na mesma Copa da França, o SC Bastia foi eliminado por um adversário local, o CA Bastia, também da terceira divisão. Sem falar do PSG, que quase se complicou diante do Arras da quinta divisão.

Bom, se essa ladainha toda não foi em momento algum real, talvez ninguém esteja lendo esse texto. Talvez passemos a acreditar que o nosso querido esporte bretão “não é uma caixinha de surpresas” e que “tem muito bobo no futebol”. Talvez devamos extinguir todas as copas, afinal, não tem como um time praticamente amador bater um grande clube do país.

Mas é viagem minha, ignorem tudo isso. Aconteceu, não foi um domingo qualquer. Ainda bem que existe o futebol para imortalizar dias como esse.