
Payet se contundiu na final da Liga Europa | Foto: A.Mounic/L’Equipe
Uma dor, a lesão e as lágrimas que escorriam pela face nada mais eram do que os símbolos de um título que não viria mais. O copioso choro de Dimitri Payet, com 32 minutos de jogo, não era apenas de alguém que se contundia numa final de campeonato e, sem qualquer intenção, deixava o time na mão. Ele externava a dor de alguém que representava boa parte das esperanças do Marseille na decisão da Liga Europa em Lyon.
Payet tem sido a personificação do torcedor do OM em campo. A disposição e a entrega contínua muitas vezes se somavam a um lançamento longo ou a um chute precioso que deixava todos de queixo caído, apenas admirando o que os olhos observavam.
Além da personalidade, Payet e Marseille se confundiam em seus perfis recentes. Ambos vivem a controversa situação de entenderem quais seus reais papeis no contexto francês.
O OM é o maior e mais tradicional clube do país, mas vem sendo maltratado nos últimos anos por gestões estranhas e por um rival trilhardário que compra qualquer jogador badalado que vê pela frente. Precisou vir um norte-americano comprar o clube para tentar colocar tudo em ordem, com ambição e sonhos altos.
Já Payet é um dos mais talentosos jogadores de sua geração. É dono de um chute poderoso e de uma técnica refinada. Mas nada disso o tornou campeão. Já são 31 anos de idade e ele simplesmente não tem um título relevante na carreira.
A conquista da Liga Europa era o ponto em comum entre os dois. O Marseille poderia pegar aquela taça, enfiar entre os braços e correr para Paris gritando: “é assim que se faz!”. Payet seria o fio condutor disso tudo, o grande personagem daquela conquista.
Querendo ou não, mais do que a personificação do torcedor em campo, ele era a liderança técnica do time. O cara das assistências. Dos gols. Das viradas de bola. Era o cara ideal para erguer o troféu, para redimir todos os fracassos do passado e celebrar o início de um futuro brilhante.
Quando Payet saiu de campo, o placar já estava 1 a 0 para o Atlético de Madrid. Sua contusão, porém, foi como se os outros dois gols tivessem saído em seguida, um atrás do outro.
Os lábios apertados e o olhar marejado eram indícios de um choro copioso, que marcaria a decisão no estádio Groupama. Arrepiei com a cena. Senti a dor que Payet sentiu. Mais do que o atleta, estava ali o homem que sabia que representava um grupo importante, que sabia que era peça fundamental para um time.
Dane-se a Copa, a chance de jogar o torneio que todo jogador sonha em jogar, deveria estar pensando. O momento era aquele, pouco importava o que viria depois. A final da Liga Europa era no dia 16 de maio de 2018. Não voltaria mais. Não tinha jogo em Madrid. Aquela taça ficaria com algum time naquela noite.
As lágrimas que escorreram do rosto de Payet se esvaíram no gramado junto com as chances de título do Marseille. A esperança acabou ali, o sonho deixou de existir. A dor do camisa 10 é compartilhada. Eu senti, a torcida sentiu e o time também. O Marseille se contundiu com a contusão de Payet e, assim, viu o sonhado troféu da Liga Europa cair nos braços do Atleti.