Europeus e a Copa das Confederações: 1999 – Vexame alemão

confederations cup 1999 logoNa terceira parte da série especial de aquecimento para a Copa das Confederações 2013, chegamos à primeira edição do torneio que não foi realizada na Arábia Saudita. Em 1999, o México foi o responsável por sediar a competição.

Assim como nas duas edições anteriores, a Europa foi representada por apenas uma seleção, daquela vez, pela campeã continental, a Alemanha, que se recusou a disputar o torneio dois anos antes. Recusa também houve do lado da então campeã mundial França, que teria direito de participar do torneio.

Como você poderá ver nos parágrafos seguintes, a participação germânica não foi nada boa, muito pelo contrário.

Confira nas próximas linhas a terceira parte do especial Copa das Confederações:

A EDIÇÃO

Ribbeck teve passagem pouco marcante pela seleção

Ribbeck teve passagem pouco marcante pela seleção

Com o passar dos anos, a Copa das Confederações foi ganhando os moldes que observamos nos dias atuais. O torneio, que foi nomeado como Copa do Rei Fahd em suas duas primeiras edições e foi realizada na Arábia Saudita nas três primeiras, ganhou a chancela FIFA a partir da terceira e na quarta, que é a edição destacada de hoje, recebeu nova sede: o México. Pela terceira vez em quatro campeonatos, a seleção da América do Norte disputaria a Copa das Confederações.

Em 1999, no quesito número de participações, os mexicanos só perderam para a Arábia Saudita que, apesar de não ser mais sede, conseguiu cavar seu espaço na competição ao conquistar a Copa da Ásia de 1996. É importante lembrar que os Emirados Árabes Unidos participaram da edição de 1997, justamente, por terem sido vice-campeões da citada edição da Copa da Ásia.

O Brasil, atual campeão da Copa das Confederações, participou da competição no lugar da França que, como vencedora da Copa do Mundo, recusou o convite de disputar o torneio e deu lugar a seleção brasileira, vice-campeã mundial.

Os Estados Unidos, segundo colocado da Copa Ouro, encerrava o quadro de “veteranos” da Copa das Confederações de 1999, segunda participação norte-americana.

Entre os novatos, encontrava-se a Nova Zelândia, campeã da Copa da Oceania, o Egito, campeão africano, a Bolívia, vice-campeã da Copa América – o campeão Brasil chegou como vencedor da Copa do Mundo -, além da Alemanha, personagem principal desta matéria.

Os germânicos poderiam estar na sua segunda participação, afinal de contas, teriam direito de participar da edição de 1997 como campeões da Eurocopa do ano anterior. Com a recusa, a República Tcheca, vice-campeã, participou e levou o terceiro lugar da Copa das Confederações daquele ano.

A Alemanha vivia um momento de transição naquela época. Apesar do título europeu em 1996, a participação na Copa do Mundo de 1998 foi decepcionante e ficava nítida a necessidade de renovação. Visando isso, o experiente, porém, pouco vencedor – como técnico, mas sim como assistente – Erich Ribbeck assumiu a seleção e passou a mesclar o elenco com jovens como Enke, Ballack, Ricken e Baumann com veteranos do naipe de Lehmann, Marschall e Lotthar Matthäus – com 38 anos na época.

CLASSIFICAÇÃO

Michael Preetz foi o responsável pela primeira vitória alemã em Copas das Confederações

Michael Preetz foi o responsável pela primeira vitória alemã em Copas das Confederações

O grupo alemão não era exatamente forte, também não era fraco, principalmente se fossemos comparar com a chave alternativa. O grupo A contava com México, Bolívia, Egito e Arábia Saudita, definitivamente, adversários mais acessíveis que Brasil, Nova Zelândia e EUA, seleções do grupo da Alemanha.

Para complicar e trazer mais nervosismo para a cabeça germânica, a estreia seria diante do Brasil de Vanderlei Luxemburgo. O que aliviava um pouco era, com todo respeito, a bizarrice que foi a convocação brasileira da época com jogadores do naipe de Odvan, Evanílson, Beto, Roni, Warley e outros. Em compensação, Luxa convocou atletas como Dida, Flávio Conceição, Serginho, Émerson e Zé Roberto, que viviam ótimos momentos nas carreiras. Além destes, Alex e Ronaldinho Gaúcho, ambos jovens, começaram a desempenhar papeis de destaque na seleção justamente na Copa das Confederações.

Por uma hora, alemães e brasileiros protagonizaram um duelo equilibrado no Jalisco de Guadalajara, porém, depois do primeiro gol, a porteira foi escancarada e sacramentada com a goleada do Brasil por 4×0. Ronaldinho e Alex foram os grandes nomes do jogo e três dos quatro gols saíram dos pés deles.

Apesar do massacre sofrido na estreia, Ribbeck não fez grandes mexidas para o duelo diante da Nova Zelândia. O confronto já seria decisivo, pois as duas seleções perderam na estreia e quem saísse de campo sem os três pontos estaria muito próximo da eliminação. Sabendo disso, os alemães trataram de definir a partida em menos de 40 minutos com grande participação de Michael Preetz. O histórico atacante do Hertha Berlin – e que hoje é dirigente neste mesmo clube – anotou o primeiro gol e deu o passe para Matthäus marcar o segundo, sacramentando a primeira vitória alemã na Copa das Confederações.

Na rodada decisiva diante dos Estados Unidos, o saldo de gols fez diferença. Com saldo zerado, os norte-americanos jogavam pelo empate contra os alemães, que tinham saldo -2. Porém, a Alemanha voltou a decepcionar e saiu de campo derrotada por 2×0, com dois belos gols anotados por Ben Olsen e Joe Max Moore.

A precoce eliminação na Copa das Confederações foi apenas o início da derrocada de Erich Ribbeck que, após vexame na Eurocopa do ano seguinte, foi demitido com um dos piores aproveitamentos de um técnico na história da seleção alemã. Desde então, Ribbeck nunca mais treinou um time.

DECISÕES

Sem europeus nas fases finais desde a inclusão de seleções do continente na Copa das Confederações, as semifinais da competição ganharam rosto americano. Das quatro seleções semifinalistas, duas eram da América do Norte e um da América do Sul. A Arábia Saudita era a única intrusa nesse grupo.

Na semifinal 100% americana, clássico entre México e EUA, decidido por Blanco na prorrogação. No outro duelo, massacre brasileiro, 8×2 para cima dos árabes. Na final disputada no estádio Azteca, jogo eletrizante entre México x Brasil. Os mexicanos abriram 2×0 antes do intervalo, cederam o empate, mas abriram 4×2 antes dos 30 minutos da etapa derradeira. Zé Roberto descontou, mas não pôde evitar a conquista do título no lado do México em uma das piores participações europeias na história da Copa das Confederações.

*Imagens: Getty Images

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Europeus e a Copa das Confederações: 1995 – A consagração dos irmãos Laudrup

Em uma época em que os amistosos entre seleções estão se tornando cada vez mais banais, uma competição como a Copa das Confederações ganha um elevado nível de importância. Em 2013, teremos o prazer de receber as principais nações de todos os cantos do planeta em nosso país na nona edição do torneio.

Desde 2005, a Copa das Confederações ganhou a alcunha de “evento teste” para a Copa do Mundo que é realizada sempre no ano seguinte, porém, mais do que isso, essa competição ganha em importância por se tornar um dos raros momentos em que os técnicos poderão ficar algumas semanas treinando suas seleções, feito impossível em períodos de amistosos.

Para criar um clima para a competição que vem se aproximando, o Europa Football inicia nesta semana uma série que aborda o histórico das seleções do Velho Continente na Copa das Confederações. Começamos com a segunda edição, afinal, no ano de estreia nenhum europeu foi convidado a participar do torneio.

Em 1995, a Dinamarca, campeã europeia em 1992, representou a Europa na competição realizada, assim como três anos antes, na Arábia Saudita e que tinha o nome do Rei Fahd.

A EDIÇÃO

A segunda edição da Copa das Confederações foi muito diferente das que temos visto recentemente, a começar pelo nome: Copa Rei Fahd. Fahd bin Abdul Aziz Al-Saud reinou na Arábia Saudita por mais de duas décadas e nomeou assim a competição por ela ser realizada em seu país.

Outra diferença estava no formato do torneio. Em 1992, quatro equipes participaram da competição em duas semifinais; em 1995, elevou-se a quantidade de seleções para seis, o que motivou a formação de dois grupos de três times.

Apenas duas seleções participaram das duas edições: a Arábia Saudita, que foi o país sede nas duas ocasiões, e a Argentina, que disputou a competição em 1992 por ter conquistado a Copa América de 1991 e chegou em 1995, não só com o status de atual campeã da Copa Rei Fahd, mas como bicampeã da América do Sul.

A novidade da edição seguinte a Copa do Mundo dos Estados Unidos estava na presença de uma seleção europeia: a Dinamarca. Os nórdicos haviam conquistado a Eurocopa em 1992 jogando o torneio como zebras, afinal de contas, só entraram na competição como convidados e saíram com o caneco entre as mãos.

Diferente do torneio continental, a Dinamarca viajou para a Arábia Saudita como uma das principais candidatas ao título, senão a grande favorita, apesar das grandes diferenças do elenco entre 1992 e 1995. Apesar de Richard Møller Nielsen permanecer como técnico, apenas o goleiro Mogens Krogh e o astro Brian Laudrup eram os remanescentes da conquista europeia. Porém, o reforço era o irmão de Brian, Michael, que se desentendeu com Nielsen em 1992, mas voltou à seleção anos depois.

Como a competição foi realizada em janeiro, muitos clubes não liberaram seus atletas e Nielsen teve de armar a base com jogadores que atuavam na Dinamarca. Dos 19 convocados, apenas seis atuavam fora do país nórdico.

As outras novidades do torneio eram o Japão, campeão asiático invicto em 1993, o México, campeão da Copa Ouro de 1993 marcando impressionantes 28 gols em cinco partidas, além da Nigéria, campeã da Copa Africana de Nações de 1994 e surpresa da Copa do Mundo do mesmo ano.

CLASSIFICAÇÃO

Brian Laudrup foi a grande estrela dinamarquesa em 1995(DBU)

Brian Laudrup foi a grande estrela dinamarquesa em 1995
(DBU)

A Dinamarca caiu em uma chave que lhe rendia cuidados. Ao seu lado, colocavam-se a Arábia Saudita, que novamente recebia o torneio e vinha com o vice-campeonato da edição anterior, e o México, que sempre foi uma seleção “chata”.

Os nórdicos começaram a competição nos camarotes assistindo ao duelo entre sauditas e mexicanos. Apesar das dificuldades, os latino-americanos fizeram valer sua superioridade e venceram por 2×0 com dois gols anotados na etapa complementar. O artilheiro do duelo foi o atacante Luís Garcia Postigo, autor dos dois tentos mexicanos e que se tornaria goleador máximo da competição com três gols.

A Dinamarca estreou dois dias depois diante dos donos da casa. Apesar de ser o duelo inicial, era o mais decisivo. Uma vitória lhe colocaria em condições iguais diante do México na rodada seguinte e eliminaria a Arábia, porém, qualquer resultado adverso tornaria sua primeira estadia na Copa das Confederações em um verdadeiro fracasso.

Nielsen levou um time completamente diferente do que foi visto em 1992 na Eurocopa. Como já foi dito anteriormente, apenas dois campeões foram para a Arábia, mas somente Brian Laudrup foi titular na partida de estreia. Michael, seu irmão, não participou do jogo, mas isso não foi problema. Brian Laudrup abriu o placar na etapa inicial num tiro praticamente sem ângulo. No último lance da partida, Wieghorst fez o gol que sacramentou o triunfo por 2×0.

A partida seguinte definiria o classificado do grupo: México x Dinamarca. Quem vencesse chegaria a uma inédita final, porém, o empate forçaria a prorrogação. Isso mesmo! Como as duas seleções venceram pelo mesmo placar na rodada inicial, a decisão teria de sair de alguma maneira naquele mesmo dia.

Porém, tudo conspirava a favor dos mexicanos naquele dez de janeiro. Com menos de trinta minutos, Nielsen precisou sacar seu goleiro titular, Lars Hogh, que já nem era o principal jogador da posição – este era Schmeichel.

Mogens Krogh entrou em seu lugar e seria um dos responsáveis diretos por uma possível eliminação dinamarquesa. Aos 26 minutos da etapa complementar, Jorge Rodríguez foi lançado em profundidade, Krogh se antecipou e desviou de cabeça, mas cortou mal e a bola parou nos pés de Luís Garcia, que, sem goleiro, fez seu terceiro tento na competição.

No último lance da partida, a Dinamarca, já no desespero das bolas aéreas, arrancou o empate com Peter Rasmussen de cabeça, forçando a prorrogação e, posteriormente, a disputa de pênaltis.

Na temida série de tiros da marca fatal, Mogens Krogh conseguiu se recuperar da falha no tempo normal e evitou que os tiros de Marcelino Bernal e Luís Garcia se tornassem gols. Com os 100% de aproveitamento nas cobranças, a vaga para a final foi confirmada para os nórdicos.

O ADVERSÁRIO

Na final da Copa Rei Fahd, a Dinamarca bateria de frente com a Argentina, atual campeã do torneio. A seleção de Daniel Passarella, assim como a de Richard Nielsen era formada por muitos jogadores locais. José Chamot e Gabriel Batistuta eram os únicos “estrangeiros” da lista final.

Entre os convocados de Passarella, já notávamos jovens nomes que viriam fazer parte da seleção no futuro, como Roberto Ayala, Javier Zanetti, Ariel Ortega, Marcelo Gallardo e Hernán Crespo, todos abaixo dos 22 anos na época.

O grande nome do time, obviamente, era Gabriel Batistuta. Na primeira edição do torneio, ele já havia sido o artilheiro ao lado do norte-americano Bruce Murray, ambos com dois gols. Na edição de 1995, Batistuta já batera seu recorde na estreia ao marcar dois dos cinco tentos argentinos na goleada por 5×1 sobre o Japão.

Essa larga vitória sobre a seleção nipônica fez toda a diferença na rodada final, onde o empate sem gols com a Nigéria serviu para coloca-los na final da Copa Rei Fahd pela segunda vez seguida.

A DECISÃO

Um dos poucos brilhos de Rasmussen  na Dinamarca foi na Copa Rei Fahd(DBU)

Um dos poucos brilhos de Rasmussen na Dinamarca foi na Copa Rei Fahd
(DBU)

No dia 13 de janeiro de 1995, 35 mil pessoas foram ao King Fahd II Stadium acompanhar a grande decisão da segunda Copa Rei Fahd. Dinamarqueses e argentinos eram esperados na final desde o início da competição, afinal, estariam frente-a-frente os campeões da Europa e da América do Sul, únicos continentes que ergueram a Copa do Mundo.

A bola rolou e com menos de dez minutos a Dinamarca começou a traçar os rumos da partida. Em jogada tramada pela direita por Michael Laudrup, Jes Hogh foi derrubado na grande área por Christian Basedas. O árbitro emiradense Ali Bujsaim não pestanejou e assinalou o pênalti, que foi convertido por Michael Laudrup.

Mesmo jogando nos contra-ataques, a Dinamarca era mais perigosa e levou perigo ao gol de Carlos Bossio em várias oportunidades.

Aos 30 minutos, Peter Rasmussen tirou proveito de bela arrancada de Brian Laudrup pela esquerda e tratou de marcar o gol do título dinamarquês. Rasmussen nunca foi presença constante nas convocações da seleção de seu país, não à toa, não fez nem quinze partidas com a camisa da Dinamarca, porém, foi de extrema importância na Copa Rei Fahd ao marcar dois gols – seus únicos pela seleção – em momentos decisivos da competição.

Minutos mais tarde, o argentino José Chamot perdeu a cabeça e após cometer falta no campo de ataque, jogou a bola em cima do adversário e foi expulso.

Após o último apito do árbitro dos Emirados Árabes Unidos, a Dinamarca pôde festejar seu título da Copa Rei Fahd, com os irmãos Brian e Michael Laudrup erguendo o troféu. Assim encerrava-se a primeira participação europeia em uma Copa das Confederações.

Aguarde os próximos posts da série!