Aposta de risco… Dúvida cruel

Fahrmann sentindo dores após cometer o pênalti em Kouemaha (Firo)

A duas semanas atrás, o Schalke 04 era duramente derrotado em casa por 2×1 para o Kaiserslautern. O placar foi magro, mas o futebol apresentado pelos visitantes durante os 90 minutos (principalmente nos primeiros 45) sugeriram inclusive um placar mais elástico e vexatório para os mandantes.

Mas na primeira etapa veio o golpe fatal: após rápida arrancada, o atacante Schechter deixou Kouemaha de frente para o goleiro Fährmann. Após ser fintado pelo atacante adversário, o arqueiro azul real não teve outra escolha a não ser cometer o pênalti. Fährmann acabou sendo expulso e Tiffert converteu o penal. Mas enganou-se quem pensou que jogar o resto da partida com um homem à menos e com 1×0 contra era o pior dos prejuízos pro Schalke. Na dividida com Kouemaha, Fährmann acabou contundindo o joelho e só deverá voltar aos gramados em 2012.

Um golpe forte no Schalke, que teve durante um bom tempo Manuel Neuer defendendo sua meta e raramente perdendo uma oportunidade de estar em campo. Fährmann ainda não se iguala a Manu técnicamente, mas pelo menos não vinha deixando os torcedores azuis reais com saudades do ex-arqueiro. Suas atuações seguras garantiam isso.

Coube a Huub Stevens e sua diretoria agirem. Estava meio na cara que não seria feita uma aposta em um dos goleiros do elenco. Mathias Schöber é experiente e tudo mais, mas só teve sequencia de jogos em seus tempos de Hansa Rostock, e isso foi de 2001 até 2007. De 2007 até agora, Schöber fez apenas 4 jogos pelo Schalke. Será que valia à pena apostar num goleiro veterano sem ritmo algum? Creio eu que não.

Unnerstall estreou na Bundesliga na derrota pro Kaiserslautern (DPA)

E Lars Unnerstall? Parece ser uma aposta válida, porém, arriscada. Válida porque é um goleiro jovem e caso venha mostrar serviço, pode até vir a ser o futuro titular. Arriscada porque só tem 21 anos e antes de substituir Fahrmann no jogo contra o Kaiserslautern, nunca havia jogado uma partida oficial pelo Schalke, a não ser pelo time B.

Mas seguindo à risca do que todos os clubes fazem, o Schalke foi atrás de um outro goleiro e decidiu fazer uma aposta um tanto quanto arriscada: Timo Hildebrand.

Aos 32 anos, o ex-goleiro do Stuttgart está a quase um ano sem jogar desde que deixou o Sporting Lisboa e pode-se dizer que chega nas mesmas condições de Schöber: goleiro experiente mas a um bom tempo sem jogar.

A grande diferença de um para o outro é que técnicamente, Hildebrand é muito bom, não à toa ele têm o recorde de maior tempo sem sofrer gols na Bundesliga, 884 minutos, superando Oliver Kahn (nesta temporada, Neuer quase bateu seu recorde, tendo ficado 770 minutos).

Em seus tempos de Stuttgart, Hildebrand era considerado um dos melhores goleiros do mundo e disputava pau-à-pau com Oliver Kahn e Jens Lehmann a titularidade no gol da seleção alemã.

Hildebrand tinha uma carreira pronta pra decolar: recordes, títulos nacionais (foi capitão do Stuttgart campeão alemão de 06/07), passagens por seleções de base da Alemanha e disputa igualitária pela titularidade da seleção principal com feras do naipe de Kahn e Lehmann. Mas a sua carreira só ficou pronta pra decolar mesmo, pois houve falha na decolagem. Desde que deixou o Stuttgart, Hildebrand nunca mais foi o mesmo.

No Valencia, em 2007, não tinha a confiança dos treinadores e até quando ia bem, voltava ao banco de reservas. Em 2009, no Hoffenheim, reencontrou Ralf Rangnick, técnico que o lançou como profissional, mas as sucessivas lesões fizeram com que deixasse os azuis e brancos. No ano seguinte, Hildebrand se aventurou em Portugal, mas acabou fazendo apenas duas partidas oficiais pelo Sporting e ainda arranjou problemas com a torcida do time lisboeta. Não renovou seu contrato e foi embora.

Hildebrand e sua conhecida cabeleira loira nos treinos do Schalke (Getty Images)

O problema pro Schalke acaba se tornando mais sério, já que a última partida de Timo Hildebrand foi no dia 4 de novembro de 2010, quase um ano! Ao que tudo indica, o goleiro titular diante do Karlsruhe pela Copa da Alemanha será Unnerstall e se isso acontecer também no próximo fim de semana na Bundesliga, Hildebrand chegará a inacreditável marca de um ano sem jogar. E não foi culpa das lesões, foi do seu próprio declínio.

É por isso que classifico a aposta do Schalke como “aposta de risco”. Será que vale a pena apostar num goleiro decadente e que está quase um ano sem jogar? Eu não faria isso…

E pra colocar uma “dúvida cruel” na cabeça de Huub Stevens, o substituto imediato de Farhmann, Lars Unnerstall entrou bem e fez partidas convincentes. Aparentemente não sentiu o peso da camisa, dos jogos e nem da temida inexperiência. Tá certo, nos jogos que esteve em campo, Unnerstall não foi tão exigido. Apenas no jogo contra Kaiserslautern, onde os perigosos contra-ataques armados por Kouemaha, Schechter e Tiffert sempre incomodavam. Mas contra o AEK Larnaca e contra o Bayer Leverkusen, Unnerstall pouco trabalhou.

Mas se vale a aposta em Hildebrand, por que não perguntar o mesmo pra Unnerstall, por que não vale a aposta no jovem goleiro?

A comissão técnica do Schalke pode alegar a juventude do arqueiro, mas Leno, ter Stegen e Zieler são tão jovens quanto e são destaques da atual temporada da Bundesliga.

Se a questão for técnica, aí é outra história… O máximo que conheço de Unnerstall está reservado nos últimos três jogos do Schalke e em contra-partida, a comissão técnica o conhece bem melhor.

Mas agora levantando outra hipótese, tirando Hildebrand, Schöber e Unnerstall do contexto: em quem o Schalke deveria apostar como goleiro?

Sippel é respeitado pela torcida do Kaiserslautern (Reuters)

Eu defendo a ideia de que os Azuis Reais poderiam ir atrás de Tobias Sippel, goleiro reserva do Kaiserslautern. Desde que foi lançado no Lautern, Sippel tem mostrado enorme potencial, não à toa sempre está presente nas seleções de base da Alemanha. O seu problema está no condicionamento físico. Sippel sofre constantemente com as lesões. A última contusão lhe fez perder a posição de titular para Kevin Trapp, que devido as grandes atuações no final da última temporada, fez por merecer a titularidade.

Eu já disse que não apostaria em Hildebrand, devido a longa inatividade e o grave declínio na carreira, mas claro que existem os argumentos contrários e favoráveis a sua contratação, como a esperança de que ele possa voltar a agarrar como agarrava no Stuttgart. E Hildebrand pode sim fazer isso. Técnicamente, como já disse, ele é muito bom, mas sigo achando que não vale à pena arriscar desse jeito.

Mas agora a aposta já foi feita. Como disse acima, eu não apostaria em Hildebrand. Se a primeira impressão de Unnerstall for relativa com a realidade, apostaria no novato. Mas apostaria mesmo em Sippel. Achei uma aposta extremamente arriscada que o Schalke fez em Hildebrand, vide a desarrumação e momento de reconstrução que o time vive e creio eu que essa reconstrução não pode ser feita com um goleiro que está praticamente um ano sem jogar.

Hildebrand, Schöber ou Unnerstall? Huub Stevens terá de escolher (Reprodução: Bild.de)

Um clássico e vários problemas

A temporada alemã foi oficialmente aberta no último sábado. Schalke 04 e Borussia Dortmund disputaram na Veltins Arena em Gelsenkirchen o título da Supercopa da Alemanha. O vencedor foi o time dono da casa. Após 0x0 no tempo normal, a estrela do jovem goleiro Fährmann, que já brilhara ativamente durante os 90 minutos de bola rolando, brilhou ainda mais na disputa de penalidades, dando o título ao Schalke.

Assistindo ao jogo, foram vistos por este blogueiro alguns problemas nas duas equipes. Aliás, não podemos dizer que são novos problemas. Essas deficiências nos 11 iniciais de Schalke e Borussia são visíveis desde a temporada anterior.

Começamos com os atuais campeões da Bundesliga e vice da Supercopa, o Borussia Dortmund. Assim como na vitoriosa temporada 2010/11, os aurinegros controlam o jogo com extrema facilidade, mas gostam de perder uma montoeira de gols. Tá certo que ontem Fährmann estava em dia inspirado, mas muitas de suas defesas foram feitas em chutes que foram em cima de seu corpo.

Fährmann foi muito bem... mas os atacantes "ajudaram" (Getty Images)

Também não dá pra dizer que Lucas Barrios fez uma falta monstruosa pro BVB. Quem acompanhou a última temporada alemã, sabe que o paraguaio gostava de perder uns golzinhos também.

O Dortmund precisa mesmo é calibrar as finalizações. Segundo o site da Bundesliga, o BVB finalizou 24 vezes, contra somente 9 do Schalke. É muita coisa! Aliás, é até muito ruim dar mais de vinte chutes e não anotar nenhum gol.

Pra corrigir esse problema, além de muito treinamento pros garotos Götze, Kagawa – que é mais um passador do que um finalizador – e Grosskreutz, o BVB precisa de um reserva melhor para Barrios. Tá certo que Lewandowski é jovem e tem muito a evoluir, mas ele não inspira muita confiança. É aquele típico centro-avante alto, que se atrapalha com a bola, tem certa técnica e adora perder um gol.

Já o grande problema do Schalke está na coletividade. A zaga não se acerta, o meio campo é, digamos, “insonso” e por consequência, o ataque nem participa do jogo.

Na partida de ontem, tivemos muitos lances que a zaga azul real se posicionava mal, e até mesmo no mano-a-mano com o rival, tomava atitudes erradas.

Holtby participou pouco do jogo

No meio campo, o grande problema está na enorme variação de esquemas, que acaba deixando os jogadores um tanto quanto confusos e pouco participativos. No início, o Schalke estava no 4-2-3-1 (com Matip e Holtby; Baumjohann, Raúl e Draxler), mas houve horas que partia para um 4-1-3-2 (com Matip; Baumjohann, Holtby e Draxler). Aliás, Raúl atuou boa parte do jogo na linha de meio campo, chegando a fazer o Schalke jogar num 4-1-4-1, com o espanhol na mesma linha de Baumjohann, Holtby e Draxler.

Claramente faltava um armador para o Schalke. Pela direita, Baumjohann apanhou bastante e deu sequência a poucas jogadas. Já pela esquerda, Draxler pouco tocou na bola e não ajudou Füchs que apoiava por seu setor. Jurado entrou na etapa final, mas o problema permaneceu. Faltava aparecer mais o garoto Lewis Holtby para armar o jogo, mas aí vem o problema do esquema. O novo camisa 10 azul real estava jogando praticamente de volante, então suas chegadas ao ataque não eram tão constantes e eram mais pra auxiliar do que pra armar.

Aliás, essa é uma mania de botar um meia como segundo volante é característica do técnico Ralf Rangnick. Jurado fez essa função na temporada passada, mas o espanhol pelo menos participava constantemente do jogo ofensivo. Holtby não fez isso e não sei se ele sabe fazer isso. O melhor esquema para contar com o garoto em campo seria um 4-3-1-2 (4-1-2-1-2), pois aí sim ele teria campo pra trafegar e armar o jogo.

Se Barrios não fez tanta falta assim pro Borussia Dortmund, o mesmo não posso dizer de Farfán. É claro que o paraguaio é mais jogador que o peruano, mas o meio campista azul real era o motorzinho do time. Era Farfán quem conduzia o time pro ataque, sendo sempre o homem que imprimia velocidade a equipe. O peruano disputaria a Copa América, mas lesionado ficou de fora.

O alento pras duas equipes é que mesmo nessa listinha de problemas, podemos tirar alguns pontos positivos.

Löwe substituiu muito bem Marcel Schmelzer (Getty Images)

No Borussia Dortmund, começo com os bons substitutos que o time arranjou. O desconhecido Chris Löwe, que jogava no Chemnitzer, da terceira divisão alemã, desde a Liga Total Cup na última semana, substituiu muito bem o lesionado lateral-esquerdo Marcel Schmelzer. Me chama a atenção em Löwe sua vigorosidade, tanto na defesa quanto no ataque. O problema é ele ser reserva de Schmelzer, que na última temporada atuou em todos os jogos do Dortmund.

Artilheiro do último Campeonato Belga, Ivan Perisic aparece como uma boa aposta do Borussia Dortmund. Habilidoso, veloz e de bom chute. Essas foram as impressões que tive do meia-atacante croata.

Ilkay Gundogan, outro contratado, veio com a dura missão de substituir Nuri Sahin e se depender só do jogo de ontem, vai ter êxito nesse desafio. Organizou bem o meio campo borussiano e suas subidas ao ataque não eram em vão, todos os seus avanços resultavam em alguma possibilidade boa de gol.

Agora, Fährmann que se cuide: virão centenas de comparações com Neuer (Dpa)

No Schalke, a “única” coisa boa foi Ralf Fährmann. Substituto de Manuel Neuer, o goleiro de 22 anos começou no Schalke melhor do que Manu no Bayern. Enquanto Fährmann segurou o 0x0 no tempo normal e catou pênaltis decisivos nas disputas de penais, dando o tíulo da Supercopa pro Schalke, Neuer é hostilizado pelos Ultras do Bayern e tem falhado nos amistosos do time bávaro.

Desde o início, achava uma boa opção o jovem Fährmann. Se o Frankfurt foi rebaixado na última temporada, não foi por culpa dele, que assumiu a titularidade na reta final da temporada e conseguiu se destacar.

Só um acréscimo sobre Fährmann: ele adora catar um pênalti contra o Borussia Dortmund. Na última rodada da temporada 2010/11, ele pegou dois pênaltis, um cobrado por Barrios e outro cobrado por Dede. Aliás, sobre o pênalti do brasileiro, ele tinha obrigação moral de deixar a bola entrar, pois era o último jogo de Dede com a camisa do BVB e o Frankfurt já estava praticamente rebaixado (falou o borussiano que vos tecla).

Mas se por acaso Jurgen Klopp e Ralf Rangnick vierem a ler esse post, fica a dica pra eles do que corrigir até o dia 5, quando o Dortmund abre a Bundesliga diante do Hamburgo e o dia 6, quando o Schalke pega o Stuttgart.