Experiência acima de tudo

O Barcelona jogará a final no Wembley para não criar a estigma de time que joga bonito e perde no fim, já o Manchester United jogará a peleja sem grandes pressões do gênero que deverá sentir o Barça. É um time rodado e muito experiente. É assim que vão os Red Devils. É o segundo post do aquecimento pra final de amanhã.
 

Juntos, Giggs e Van der Sar somam 77 anos

Pra vocês, amigos internautas: qual a diferença entre velhice e experiência?

Para este blogueiro, “velhice” se refere a algo gasto demais, algo antigo e obsoleto, ou seja, que teve sua função, já a cumpriu e hoje pode ser chamado de “inútil” em seu meio, enquanto “experiência” se refere a algo que se adquire com muita prática, com muita rodagem e com tempo de aprendizagem. Quando quero me referir ao Manchester United, quero também me referir a experiência.

Se você olhar Van der Sar, que tem 40 anos e Giggs, de 37, pode me chamar de louco por considerar os dois peças fundamentais do time inglês. Você pode imaginar: “Como dois caras que tendo suas idades somadas, tem 77 anos podem ser peças fundamentais de um time finalista do maior torneio de clubes do mundo?”. Talvez não haja um explicação lógica, e sim o simples e rude “eles são peças importantes e ponto”.

Van der Sar catou este pênalti e o United se sagrou campeão europeu de 2008

Mas o fato é que Van der Sar, que chega a sua 5ª final de Champions League – venceu uma pelo Ajax e uma pelo Manchester e perdeu uma de cada lado – parece ser como o vinho: vai melhorando com o passar dos anos. O holandês fará amanhã seu último jogo como profissional, deixando pros fãs de futebol aquele gostinho de quero mais, só que há certas horas que um homem precisa deixar o emprego de lado e tomar as rédeas da família. É o que Van der Sar fará. Sua mulher, Anne-Marie van Kesteren, teve derrame cerebral em 2009 e o arqueiro holandês chegou a perder alguns jogos daquela temporada para cuidar da mulher. Embora ele possa deixar muitos fãs com saudades de suas defesas, o melhor para Edwin é cuidar de sua mulher e filhos.

Pode-se dizer que Ryan Giggs surpreendeu nesta temporada. O galês jogou durante sua vida inteira como um winger – um ponta, como queira – e com a renovação do elenco, Giggs perdeu um pouco do espaço para jovens, como Nani e Valencia. Mas com as inúmeras lesões de Fletcher e a instabilidade de Paul Scholes, fez com que Giggs conseguisse espaço como segundo volante. O meia galês se deu muito bem nesta nova função e se tornou um meio campista completo.

Giggs chegou a jogar com Solskjaer, Yorke e Stam

Se Van der Sar se encaminha para a quinta final de Champions em sua carreira, mas atuando por dois clubes diferentes, a final que será disputada no Wembley será a quarta de Ryan Giggs, todas pelo Manchester e no momento, ele “vence” por 2×1.

Engana-se quem pensa que a experiência que há no time do Manchester United se resuma a Giggs e Van der Sar. No quarteto defensivo, por exemplo, Ferdinand, Vidic e Evrá participarão da terceira final de Champions League pelo Manchester United, sem falar que o lateral-esquerdo francês já jogou uma final de Champions pelo Mônaco. Carrick, Nani e Rooney engrossam a lista de atletas que jogarão sua terceira final de Champions League pelo United – mas leva-se em conta que Nani ficou no banco e não participou da final de 2009.

No banco de reservas do Manchester United ainda haverá a “bola de segurança” chamada Paul Scholes, que pode ser acionado para solucionar alguma instabilidade no meio campo.

Ferguson pode erguer a orelhuda pela terceira vez.

Mas em termos de experiência, nada no United se compara a Alexander Chapman Ferguson, ou simplesmente Fergie. Ele está no clube desde a temporada 86/87 e de lá para cá foram 12 títulos do Campeonato Inglês, cinco copas da Inglaterra, quatro copas da liga, dois mundiais e dois troféus da Champions League.

Experiência pouca é bobagem. Aliás, experiência talvez seja pouco para explicar Alex Ferguson. Ele simplesmente é um técnico de quase 70 anos, que está no ramo de treinadores desde os anos 70 – ele iniciou no escocês St. Mirren, em 74/75 – e não parou no tempo, está evoluindo junto com o futebol e me arrisco a dizer que ele é um dos extra-séries que não evolui junto com o esporte e sim que faz o esporte evoluir.

Sua bagagem, sua representatividade pro elenco do Manchester e sua postura nos jogos, me fazem crer que em jogos como esse, não basta só ter o melhor conjunto ou o craque da atualidade, mas basta ter é um treinador capaz de equilibrar o time e fazê-lo realmente jogar.

Se o Barcelona tem o futebol bonito e envolvente, o Manchester tem a experiência de quem já fez filas e mais filas de títulos na Inglaterra, além da sabedoria de que talvez não seja preciso mudar para bater o aparentemente imbatível adversário catalão, mas que seja melhor jogar pura e simplesmente do seu jeito.

– A Última Bola é Nele

Assim como fiz no post sobre o Barcelona, com o Manchester farei o mesmo esquema de mostrar a minha aposta para decidir amanhã.

Não sei se será este cara que decidirá. Tenho várias impressões pra partida de amanhã. Acho por exemplo, que se Giggs não precisar “se matar” pra marcar, tem tudo para ser decisivo, mas se precisar se esforçar mais marcando, não sei se terá condições físicas para poder decidir. Entendo eu também que Nani, às costas de Dani Alves pode ser uma peça chave para uma eventual vitória inglesa. Chicharito pode decidir também, como tem feito muito nesta segunda metade de temporada. Mas se fosse basquete e o Manchester precisasse de pontos para vencer faltando poucos segundos, a bola iria em Wayne Rooney.

Gol do renascimento de Rooney

O Shrek tem crescido no momento certo. Ele iniciou a temporada de forma ruim, ameaçando deixar o Manchester e demorou para engrenar, mas o dia 12 de fevereiro de 2011 ficou marcado como “o ressurgimento de Rooney”. No duro duelo contra o Manchester City, ele fez um fantástico gol de bicicleta, aos 33 minutos da etapa final, quando a partida estava empatada em 1×1. Aquele foi apenas o 6º gol de Rooney na temporada e de lá para cá, ele fez mais 9 gols, incluindo um hat-trick contra o West Ham, dois gols em dois jogos duros contra o Chelsea e um contra o Arsenal. O Rooney voltou!

Por isso entendo eu que se a coisa estiver feia e a vaca já estiver comprando a passagem pro brejo mais próximo, a bola vai na Wayne Rooney, nem que seja para dar um lançamento, fazer um drible no meio campo, cobrar um lateral e quem sabe, um memorável gol que valesse o título.

– Provável Escalação

Edwin Van der Sar; Fábio da Silva, Nemanja Vidic, Rio Ferdinand e Patrice Evrá; Antônio Valencia, Michael Carrick, Ryan Giggs e Luís Nani; Wayne Rooney; Javier “Chicharito” Hernández. 4-4-1-1.

Nenhuma grande surpresa na escalação do Manchester. Ferguson, que tinha muito o costume de preservar Rafael de jogos grandes, devido a sua inexperiência, não faz isso com o irmão do garoto e Fábio, lateral-esquerdo destro, jogará como titular na lateral-direita, deixando seu irmão, antigo titular, na reserva. Fergie faz bem em explorar este bom momento vivido pelo defensor brasileiro e quem sabe não chame a atenção de Mano Menezes, que estará no Wembley. Só se lembre, Fábio, se por acaso você se machucar, quebre a perna para que Mano acredite que você tenha se machucado. Marcelo não fez isso e está de fora da seleção…

Tão perto do céu…mas longe do paraíso

É Jurado...vai ser difícil voltar a jogar o que tu jogou contra a Inter (Reuters)

Há duas semanas atrás, o Schalke 04 vencia a Internazionale por 2×1, fechava a série em 7×3 e chegava a uma inédita semifinal de Uefa Champions League. Era o auge de uma equipe que vive uma temporada conturbada, com problemas internos, mal futebol e uma péssima colocação na Bundesliga. As semifinais da Liga dos Campeões eram uma dádiva para Ralf Rangnick, que com pouco tempo de trabalho, conseguiu levar o time num lugar pouco antes imaginado.

A torcida se empolgou e nesta quarta-feira, lotou a Veltins Arena para empurrar o Schalke no duelo contra o Manchester United. Mas o que se viu em campo não parecia nada com o time que goleou a Inter e espantou o mundo, mas sim o time que espantou a confiança da torcida, nos tempos de Félix Magath. O time Azul Real esteve o tempo inteiro entregue em campo, sem nenhum esboço de reação e lembrou muito o jogo contra o Borussia Dortmund no segundo turno da Bundesliga. Só o desfecho que foi diferente.

Ah...se não fosse o Neuer (AFP)

No então clássico do Vale do Ruhr, o Schalke ficou um tempo inteiro só se defendendo e sem atacar e na etapa final, ameaçou uma ou outra subida, mas se não fosse Neuer, não saíria do Signal Iduna Park com o 0x0. Hoje a história foi quase a mesma, com a mesma situação de jogo, só que “se não fosse Neuer”, o Schalke teria perdido de muito mais. A impressão que fica é que o 2×0 dos Red Devils ficou barato e o paraíso, que estava a dois passos do time alemão, parece ficar mais distante.

Há quem atribua essa derrota azul real a um defensivismo aplicado por Ralf Rangnick, mas os times de Rangnick não tem costume de jogarem fechados. O “defensivismo” que muitos falam é ocasionado pelo Manchester United. Os Red Devils tiveram a bola durante boa parte do jogo e fizeram Manuel Neuer trabalhar e trabalhar muito mesmo. Atuação do arqueiro alemão entra no TOP 5 de sua carreira. Aliás, essa é outra semelhança com o Derby do Vale do Ruhr citado antes, onde Neuer pegou até pensamento e segurou o 0x0.

Mas cá pra nós, se o Schalke estivesse mesmo retrancado, tu acha que o Manchester conseguiria entrar tantas vezes na área adversária?

O United teve grande atuação. Teve um volume de jogo muito alto e soube aproveitar os pontos fracos do Schalke. Embora tenha demorado para abrir o placar e tenha feito “só” dois gols, merecia ter feito mais, se não fosse em alguns momentos a falta de pontaria de seus atacantes e Manuel Neuer, que em tarde inspirada, pegou tudo.

Neuerrrrrrrr (Reuters)

Já o Schalke teve uma atuação ruim e jogadores que contra a Internazionale tiveram atuações que talvez nunca mais os veremos fazer, voltaram a sua normalidade. Na zaga, o garoto Matip voltou com as inconstâncias e deu muitos espaços lá atrás. Sarpei, que deixou Schmitz no banco desde a chegada de Rangnick, comprometeu demais. Antes ele não estava jogando mal, mas não era uma grande peça. Ele simplesmente não comprometia. No meio campo, Papadopoulos se viu sobrecarregado e se não fosse a cirúrgica substituição de Rangnick – Kluge entrou para auxiliar o grego na marcação -, os Red Devils teriam entrado mais vezes na área alemã. Jurado, que jogou demais nas duas partidas da série contra a Inter, mal viu a cor da bola na tarde de hoje. Edú voltou a ruindade que apresentou durante a temporada inteira. A cada dez bolas que recebia, em uma, duas na melhor das hipóteses, ele conseguia sequenciar as jogadas.

O zagueiro Höwedes fez muita falta. Ele é o grande pilar da defesa e grande líder do time. Sua ausência, além da óbvia mexida tática – Matip entrou em seu lugar e deu no que deu… -, houve a mexida técnica, que teve grande influência gigantesca. Junto com Neuer, eles são a alma do Schalke. A defesa alemã pareceu em alguns momentos do jogo bem desentrosada.

É isso que dá ter jogadores de nível duvidoso no elenco. Eles podem até render bem em certos momentos, mas uma hora falta cancha e acima de tudo, falta bom futebol. Não me pareceu ter faltado experiência ao Schalke. Não custa lembrar que Neuer, Farfán, Raúl e até mesmo o criticado Sarpei, tem experiência bastante para encarar um jogo de um tamanho gigantesco. Faltou mesmo é bola. A zaga alemã parecia mais um queijo suíço, o meio campo estava numa palidez tamanha e por consequência, o ataque pouco participou. Raúl jogou? Não vi.

United mandou no jogo (AFP)

Mas repito, o grande fator da derrota do Schalke não foi a ruindade de seu time e sem a superioridade do Manchester, que dominou durante dos 90 minutos.

O papinho de que “o Schalke fez 5 na Inter no Giuseppe Meazza, pode fazer 3 no Manchester no Old Trafford” não cola comigo. Primeiro porque são times diferentes, então já muda totalmente o contexto da frase. Segundo que a zaga inglesa é melhor que a zaga italiana. São só três gols sofridos na Champions League inteira. Ou seja, o Schalke terá de em um jogo, fazer a mesma quantidade de gols que o United sofreu na competição inteira, ou fazer dois terços dos gols sofridos. Pra resumir: os alemães terão de suar sangue!

Difícil imaginar o Schalke conseguindo a vaga, mas vai saber? Eu sou um “Bundesligafanático” e acabo sendo mais otimista com os clubes da terra do chucrute. Os Azuis Reais podem espelhar o placar do jogo de ida, seria mais fácil do que fazer 3×0. Mas o Schalke precisa simplesmente fazer com que jogadores (medíocres) como Jurado e Edú jogarem o que jogaram contra a Inter.

Falta ao Chelsea algo que sobra no Manchester

Terry e Essien ainda não tocaram a 'orelhuda' (Getty Images)

Entendo eu que seja indiscutível que esse time do Manchester United não encanta. “Encantar” digo no sentido de jogar um futebol vistoso, de grandes lances, jogadas de efeito, enfim, vocês sabem bem o que eu quero dizer com “encantar”. Mas algo é inegável: é um time que sabe ganhar e tem esse espírito. O Chelsea parece não saber muito bem o que é isso.

Em alguns momentos da “era Abramovic”, dava para dizer que o Chelsea encantava. Jogava bem, Lampard brilhava, Drogba finaliza 5 e marcava 4, enfim, era um time que poderia ser chamado de “favorito a tudo que disputa”. Não é o caso dessa temporada. Pode-se dizer que 2010/2011 é a pior temporada do Chelsea, desde a chegada do russo. E essa má atuação foi completada com a eliminação na Champions League.

O que se viu hoje no jogo de volta contra o Manchester United foi apenas um esboço de time que quer vencer. O Chelsea fez um bom primeiro tempo, mas em dois ataques sofreu dois gols, um anulado, outro validado, que complicou a vida dos Blues. Na etapa final, os Red Devils passaram a administrar a peleja, mas mesmo assim, acabaram sofrendo o empate com Drogba. Segundos depois, Park fechou o caixão, com 3×1 no agregado.

Passa temporada, entra temporada e os times comandados por Sir Alex Ferguson sempre são competitivos e com algo em comum: eles tem o espírito vencedor. A atuação de hoje foi só um exemplo. O Manchester teve menos posse de bola durante boa parte da etapa inicial, mas quando passou a tomar conta da peleja, fez o gol e administrou a vantagem. Quando viu a vaga ser ameaçada, não deu sopa para o azar e logo matou o jogo.

Chicharito tem sido decisivo, assim como Giggs tem arrebentado (Getty Images)

Não consigo dizer que o time do Manchester é brilhante. A defesa sim é, pois tem muita consistência e dá poucas brechas, mas jogadores de ataque, como Nani e Chicharito, nunca me encheram os olhos, mas eles estão sempre decidindo jogos. Hoje, o mexicano fez um gol e o português sofreu as duas faltas que ocasionaram nos dois cartões amarelos de Ramires.

Se Rooney não está sendo tão fantástico como em outros tempos, Ryan Giggs está sim e mostrando ser como o vinho, melhorando com o passar dos anos. Ele foi o grande jogador da série de duas partidas, comandando o meio campo do United. O meia galês tem mostrado que mesmo mais velho, pode ter sua dose de polivalência. Nos anos 90, ele era um ponteiro – winger na Inglaterra -, atualmente, ele tem jogado como segundo volante.

Mas o Chelsea….. Ah, o Chelsea….

"Saia do jogo e da Champions League", disse Olegário Benquerença

Eles não tem o mesmo espírito vencedor do Manchester United. Ancelotti, outrora vencedor no Milan, insiste com Fernando Torres, fiasco da temporada. Contratado por milhões e milhões, o espanhol ainda não balançou as redes no clube londrino e hoje a história se manteve. Torres cansou de perder gols e quando Didier Drogba entrou em seu lugar, o marfinense teve boa atuação, mantendo seu costume de movimentar-se e lutar por todas as bolas. Drogba fez um gol, coisa que Torres não tem feito.

Frank Lampard, que deveria ser o maestro do meio campo blue, não jogou nada, mantendo sua regularidade na temporada, aliás. O camisa 8 londrino tem jogado mais pelo nome, pois como hoje, tem sido peça nula em campo.

Não basta Abramovic gastar milhões com jogadores e treinadores, se o que falta para o Chelsea finalmente conquistar a Uefa Champions League é algo que o dinheiro não compra, é um sentimento, ou como descrevi no United, um espírito. E isso não é qualquer equipe que tem e só o tempo vai dizer que o Chelsea um dia será um Champion.

Ainda hoje…

O Barcelona só administrou sua vantagem e venceu o Shakhtar Donetsk por 1×0, gol de Messi, fechando a série em 6×1. O time blaugrana se tornou o quarto na história a chegar nas semifinais da Liga dos Campeões por quatro anos seguidos. Real Madrid – 55/56, 56/57, 57/58, 58/59 e 59/60 -, Internazionale – 63/64, 64/65, 65/66 e 66/67 – e Juventus – 95/96, 96/97, 97/98 e 98/99 – foram as outras equipes que conseguiram esse feito.