Le Podcast du Foot #70 | Em busca de um lugar ao sol

Natural de Maceió (AL), Otávio foi aparecer para o mundo do futebol no Sul do Brasil. Foi vestindo a camisa do Atlético Paranaense que o volante cresceu na carreira e chamou a atenção do Bordeaux, que o contratou no início da temporada 2017/18.

Sem saber falar francês, tem se virado como pode, seja no curso de idiomas, seja com os funcionários do clube, com os brasileiros do elenco ou até mesmo com o tcheco Jaroslav Plasil, figura icônica do Bordeaux e que aprendeu falar português ao se casar com uma brasileira.

Na língua da bola, tem se entendido bem. Desde que chegou aos Girondins, vem sendo titular com alguma frequência e tem buscado evoluir o quanto pode. A ideia é seguir a linhagem de brasileiros bem-sucedidos do clube, casos de Fernando Menegazzo, Henrique, Wendel, Jussiê, Mariano e, atualmente, Malcom.

O volante de 23 anos foi personagem central da edição #70 de Le Podcast du Foot. Otávio conversou com Eduardo Madeira e Renato Gomes sobre a chegada ao Bordeaux e a primeira metade de temporada na França.

Dê play abaixo e escute o programa:

 

Treze anos para o prato de vingança esfriar

29 de maio de 1999. Este era um dia que ficaria marcado na história do futebol francês. Era a decisão de mais um campeonato nacional. Na última rodada, o Bordeaux, com 69 pontos e o Olympique de Marseille, com 68 eram os candidatos ao título daquela temporada. Mas havia um “pequeno” problema.

Para se sagrar campeão, o OM dependia de um tropeço dos Girondins diante do seu grande rival Paris Saint-Germain, que estava no meio da tabela e não brigava por nada na rodada derradeira da competição. Obviamente, em um confronto que envolvesse o líder e o nono colocado de um campeonato, era normal que o time mais bem qualificado vencesse, mas como diriam aqueles: “o futebol é uma caixinha de surpresas” e não seria nada de outro mundo se o time da capital vencesse. Mas a rivalidade veio à tona.

O Marseille fez sua parte no Stade de La Beaujoire-Louis Fonteneau e venceu o Nantes pelo placar mínimo, gol de Robert Pirès, na época com 26 anos. Bastava uma forcinha do rival de Paris para o clube que anos antes havia sido rebaixado por causa do escândalo VA-OM se reerguesse e novamente conquistasse a Ligue 1.

Nesse tapinha de canhota, Feindouno fez o gol do título do Bordeaux em 99

Todo esse sonho foi pro espaço quando no Parc des Princes, aos 44 minutos do segundo tempo, Pascal Feindouno, de apenas 18 anos – hoje, com 31, se aventura no Sion da Suíça – recebeu um belo passe de Laslandes e mandou pras redes, na saída de Lama. Foi seu terceiro jogo naquela edição da Ligue 1 e seu primeiro gol.

Para os Girondins, vitória e título épicos; pros parisienses, um motivo de riso da cara dos rivais; pros marseillais, ira com o possível descaso do time da capital. Ninguém nunca vai saber da verdadeira história. Uns acusam, outros defendem, mas fica tudo no disse me disse, nas provas simbólicas e nas atitudes suspeitas.

Anos mais tarde, o defensor do PSG naquele jogo, Francis Llacer chegou a declarar “que não deu tudo de si naquele jogo e que outros jogadores também não estavam 100% focados na partida”. Se há um fundo de verdade nessa declaração eu não sei. Llacer pode ter dito a verdade, como pode ter sido uma provocação aos torcedores do Marseille, já que a entrevista foi a uma rádio de uma região próxima.

Mas o fato é que se ficarmos revirando o passado, não iremos a lugar algum. O Bordeaux ergueu a taça, o Olympique seguiu na fila e o PSG segue nela até hoje, mas como diriam os mais antigos, “a vingança é um prato que se come frio”. O OM esperou treze anos para este prato esfriar!

O Marseille não tem grandes aspirações no Campeonato Francês. O time de Didier Deschamps acabou de perder o clássico contra o Paris e estacionou na 9ª colocação – olha o nono colocado podendo decidir a Ligue 1 de novo – com 40 pontos, longe de Lille – 56 pontos – e Lyon – 53 -, times que ocupam as últimas vagas para Champions League e Europa League, respectivamente. Para piorar a situação, o Marseille, que recentemente foi eliminado da Liga dos Campeões pelo Bayern e da Copa da França pelo Quevilly da terceira divisão, não vence na Ligue 1 desde janeiro e está em uma crise interminável.

Em contrapartida, o PSG joga mal, não convence, rasga dinheiro em jogadores de nível técnico duvidoso, mas ainda assim é um time “cascudo” e ganha seus jogos no sufoco, se mantendo vivo na briga pelo título com o Montpellier.

O problema parisiense é que o MHSC – que está empatado em pontos na liderança – tem um jogo a menos e essa peleja é justamente contra o desanimado, amargurado e em crise, Olympique de Marseille. Este jogo é na quarta-feira e só Deus sabe o que pode acontecer no Vélodrome.

Em grande forma, o Montpellier bateu o Sochaux no fim de semana (mhscfoot.com)

Para mim, normalmente, o Montpellier venceria. O time de René Girard vive grande momento, com Younes Belhanda, John Utaka e Olivier Giroud em ótima forma, enquanto o Marseille está em uma temporada para ser esquecida – a vaga nas quartas-de-final da Champions League não representa nada para um clube que se acostumou a chegar entre os quatro melhores no início dos anos 90 – e agora vive seu pior momento.

O natural é o MHSC vencer. Principalmente se tirarmos o “fator PSG” de campo. O Marseille precisa partir para cima e conquistar a vitória que alivia um pouco a pressão que há sobre jogadores e Deschamps, com isso, daria campo pro veloz time do Montpellier encaixar seu jogo. É tudo que Girard quer vide as recentes dificuldades com times que jogam fechados.

Mas como citei nos parágrafos anteriores, é “normal” e “natural” que Giroud, Belhanda e companhia vençam a peleja, só que para os torcedores do PSG e do OM não será nada normal. Os marseillais querem mais é que seu time entregue a partida, enquanto os parisienses torcem a contragosto pelo rival, tendo a certeza de que eles não farão força para vencer a partida.

É uma chance e tanto pro Marseille reescrever uma história antiga do futebol francês, manchando seu nome como o PSG supostamente fez em 1999.

Mas é um caso complicado de escrever e palpitar. Estamos falando de ações internas de um time de futebol. Se eu não sou capaz de saber o que uma pessoa que está a dois metros de mim está pensando, imagina saber de um grupo de jogadores, que está em outro continente pensa? É complicado! Você e eu poderemos ver a mesma coisa e interpretar de forma diferente. O Olympique de Marseille pode entregar a partida ou ajudar o Paris Saint-Germain, mas o fato é que ninguém vai entender o que se passará na cabeça dos atletas e nem o porquê daquelas ações. Será mais uma história com final em branco no extenso livro futebolístico!