Com novo esquema, Lyon encontra jogo variável, mas elenco preocupa

Gomis marcou o segundo gol do Lyon na vitória sobre o Guingamp

Gomis marcou o segundo gol do Lyon na vitória sobre o Guingamp

Após cinco partidas, o Olympique Lyonnais voltou a vencer no Campeonato Francês com o triunfo por 2-0 sobre o Guingamp, em partida válida pela 12ª rodada. Assim como na derrota contra o Monaco, na jornada anterior, Remi Garde escalou seu time no 4-3-1-2, com um losango no meio-campo, e, com equipe praticamente completa, viu seus comandados apresentarem jogo mais variável.

Essa variação aconteceu porque o tripé de meias casou direitinho. Maxime Gonalons era o homem central, ficando mais fixo e chefiando a defesa; Steed Malbranque possuía o toque mais clássico, além de ser veloz nos avanços. Se por vezes lhe faltava perna, ocasionada pela idade, sobrava qualidade no passe; já Gueida Fofana mesclava força física, velocidade e bom chute.

Em outras palavras: três jogadores e três características diferentes que foram deveras úteis para o Lyon durante a partida. O OL controlou a faixa central por possuir atletas capazes de preencher o meio tanto ofensivamente, quanto defensivamente.

Além disso, contar com uma trinca de meias versáteis possibilitou maior liberdade a Clément Grenier, que vinha de partidas muito ruins e foi ao menos mais ativo diante do Guingamp, apesar de estar, reconhecidamente, bem abaixo do que pode render.

No ataque, ficou nítido o bom entendimento tático de Bafetimbi Gomis e Alexandre Lacazette. O Predador deixa muito a área, é sua característica apesar de não ser muito técnico. Com isso, sempre deixa um vácuo em seu habitat-natural. Lacazette, observando isso, preencheu esse espaço, como visto no primeiro gol, no qual era o homem mais avançado.

Por vezes, também, os dois homens de frente abriram pelos flancos, o que possibilitava o avanço de Grenier pelo centro, como o famoso “falso nove”. Essa variação aconteceu mais diante do Monaco, já que, contra o Guingamp, o camisa 7 se deslocou mais para a direita.

Além disso, um fator tradicional dos esquemas em losango foi preponderante para o triunfo lionês: as laterais. Como esse sistema tático tende a focar a faixa central, abre-se um clarão nos flancos, logo, torna-se necessária a presença ofensiva dos laterais e, contra o Guingamp, isso foi bem explorado pelo Lyon.

No lado esquerdo, principalmente, Henri Bedimo mostrou a que veio. Após atuações pouco convincentes desde que veio do Montpellier, o atleta teve ótima participação diante dos rubro-negros e foi peça fundamental no ataque.

Mouhamadou Dabo, por visíveis deficiências técnicas, subiu pouco e preocupou-se mais com a marcação. Com isto, Grenier e Lacazette puderam flutuar mais pelo flanco direito.

Bastou um ótimo primeiro tempo (e duas falhas tolas do adversário) para o Lyon fazer o resultado de 2-0, que seguiu até o final da partida. O OL pressionou muito durante os primeiros 25 minutos, criou muitas chances e, apesar do bom comportamento defensivo adversário, mostrou uma atitude não vista nas rodadas anteriores.

Sistema

Só que o elenco é a maior preocupação de Remi Garde. O esquema em losango deu certo por contar com atletas específicos para cada posição, sem haver jogadores de características semelhantes entre os titulares. Foi necessária uma lesão para que tudo fosse desarticulado.

Gonalons sofreu entrada criminosa de Moustapha Diallo, que foi expulso, e deixou o campo lesionado, dando lugar a Jordan Ferri. Com isso, Fofana, que estava preocupado com providenciais avanços, atuou mais fixo na defesa, com Ferri, de características semelhantes à de Malbranque, atuando mais avançado.

No 11 contra 10, o Lyon não aparentava estar jogando um a mais, pois cedeu território ao Guingamp e não incomodou tanto a meta de Ndy Assembe.

E com isso fica a lição para Garde não se acomodar com o resultado, como costuma fazer. Não é porque o Lyon fez ótimo primeiro tempo no 4-3-1-2 que ele deve usar esse esquema todo jogo, já que, como fora supracitado, pro “3” do sistema, o técnico contava com três jogadores de estilos e aplicações em campo diferentes, o que lhe fornecia uma variação de jogo muito interessante.

Garde tem histórico de se acomodar após bons resultados imediatos e isto, para um técnico que trabalha com elenco curto e sem grandes valores individuais, nunca é bom. Lisandro López foi um dos que foi fritado pelo comodismo de Garde com um sistema tático. Por isso, é necessário que haja um entendimento do treinador que é necessário mexer no esquema quando as lesões lhe atrapalham. Falta material humano de qualidade, mas não falta elenco com atletas de variados valores individuais.

Na atual situação do Lyon, o importante é não se acomodar após bom resultado e atuação que apresente um horizonte agradável. A escassez do elenco não proporciona um conforto para Garde, tanto na questão dos jogos, quanto em sua situação de emprego.

Lopes está verde

Anthony Lopes deixou o gol do Lyon ainda na etapa inicial

Anthony Lopes deixou o gol do Lyon ainda na etapa inicial

Além de Gonalons, o Lyon perdeu o goleiro Anthony Lopes lesionado. Por volta dos 25 minutos da etapa inicial, o arqueiro lionês dividiu bola com o ataque do Guingamp e levou a pior, se contundindo e dando lugar a Mathieu Gorgelin.

Apesar de lamentarmos a lesão do atleta, fica uma lição para o português. A dividida se deu em um lance em que a saída da meta era absurdamente desnecessária, coisa rotineira para ele.

Hugo Lloris, quando ainda vestia a camisa do Lyon, também possuía o hábito de sair do gol em momentos errados, porém, eram em lances pontuais, como bolas na marca do pênalti e repletas de companheiros, onde sua permanência na meta lhe dava mais chances de defender. Com o tempo evoluiu e hoje, no Tottenham, pouco se ouve de falhas do francês.

Mas Lopes tem uma mania diferente: sai em todas as bolas, não importando quem está pela frente e a necessidade desse abandono de meta. Seus erros tem sido constantes e algumas vezes custam resultados, como quando saiu de forma aloprada no primeiro gol do Monaco na derrota por 2-1.

O português tem só 23 anos e só nesta temporada tem jogado constantemente. Está verde, não é maduro o suficiente para aguentar a barra da situação ruim do Lyon. Remy Vercoutre, que está retornando de lesão, deve ter sua volta adiantada caso essa contusão de Lopes seja séria. E isso, por linhas tortas, é uma notícia boa, pois Vercoutre não só tem mais cancha (além dos 33 anos, tem mais de dez anos no clube) como é um goleiro pronto. Admito que não acreditava no potencial do veterano quando Lloris foi embora, mas ele correspondeu no último ano e pode ser peça chave para a recuperação do Lyon nesta temporada.

*Crédito das imagens: Le Progress

Resgatem Gomis!

Griezmann fez essa pintura que derrubou o Lyon no Gerland

Griezmann fez essa pintura que derrubou o Lyon no Gerland

O Olympique Lyonnais não passa por bons bocados na fase prévia da Liga dos Campeões. A equipe francesa foi derrotada em casa pelos espanhóis da Real Sociedad por 2-0 e necessitam de um milagre para evitar a inesperada eliminação. Além do resultado negativo, o zagueiro sérvio Milan Biševac foi expulso e não atuará no duelo de volta.

A derrota só mostrou o quão ilusórios foram os dois jogos iniciais da temporada no Campeonato Francês. Jogando bem e apresentando um futebol ofensivo, o Lyon não tomou conhecimento de Nice e Sochaux, vencendo e marcando sete gols nos dois jogos.

Claro que toda e qualquer atuação deve ser valorizada, independente da força técnica do adversário, mas a fragilidade da defesa do OL já poderia ser avaliada anteriormente pelo técnico Rémi Garde.

Na goleada por 4-0 sobre o Nice, na rodada de estreia do campeonato, o Lyon cedeu 11 finalizações ao time de Claude Puel, além disso, terminou a partida com posse de bola equilibrada (51%49).

No triunfo por 3-1 sobre o Sochaux, os números foram ainda mais preocupantes. A equipe da Peugeot teve apenas 36% da posse de bola, mas conseguiu finalizar 12 vezes contra o gol de Anthony Lopes.

Contra a Real Sociedad o problema se repetiu e o Lyon recebeu 11 chutes do time adversário, sendo oito na direção da meta e dois gols sofridos que praticamente lhe tiram da competição.

Esses chutes na direção da meta trazem novamente à tona a polêmica envolvendo Bafétimbi Gomis. Se somarmos todas as finalizações do Lyon nos três jogos supracitados, batemos de frente com o seguinte dado: 40 finalizações, mas apenas 17 foram na direção do gol. Em outras palavras, o OL finaliza em média 13 vezes por jogo, mas apenas cinco desses chutes vão na meta.

Contra Nice e Sochaux, ninguém notou a ausência de Gomis, afinal, Lacazette e Benzia, que eram os responsáveis pela movimentação na grande área, estavam compensando com gols, mas, por oportunismo ou não, todos se lembraram do Predador após o tropeço de quarta-feira.

Como citei, essa lembrança pode ser puro oportunismo, mas pelo menos a mim, há sim uma razão. Observe abaixo o mapa dos passes e finalizações disponibilizado pela Uefa.

Circulado em vermelho: finalizações do Lyon; Circulado em amarelo: finalizações da Real Sociedad;

Circulado em vermelho: finalizações do Lyon;
Circulado em amarelo: finalizações da Real Sociedad;

Note que o Lyon finalizou de dentro da grande área poucas vezes e nenhuma vez foi com homens de frente: Gueida Fofana e Maxime Gonalons foram os responsáveis pelos chutes. Agora, observe atentamente de onde saíram às finalizações da Real Sociedad e note que boa parte delas foi de dentro da área ou, na melhor das hipóteses, da entrada da área.

Esse distanciamento do Lyon da grande área é mera coincidência? Talvez Jean-Michel Aulas, presidente do clube, acredite nisso, mas eu não. O Lyon rodou, rodou e rodou, forçou muitas jogadas laterais, principalmente com o afobado Miguel Lopes, que abusou dos erros de passes e lançamentos pela direita, mas fez cócegas na Real Sociedad em questão de finalizações.

Faltou presença na grande área, alguém que segurasse os zagueiros para quem viesse de trás e não alguém como Lacazette, que sempre procurava driblar, mas a cada defensor que vencia, vinha outro que não tinha, por exemplo, um Gomis a marcar, e o desarmava com facilidade.

Gomis e Briand hoje brilham... no time B do Lyon

Gomis e Briand hoje brilham… no time B do Lyon

Enquanto isso, o Predador segue jogando no time B do Lyon. Sim, jogando, não é só treinando. Junto dele está o meia-atacante Jimmy Briand, que há pouco tempo era convocado para a seleção francesa. Briand não seria de grande utilidade ao elenco principal hoje, mas privar-se de Bafé Gomis é privar o time de um rendimento melhor.

Com a saída de Lisandro López, o Lyon não tem centroavante algum. Cabe analisar que tanto Gomis, quanto o clube tem objetivos que aparentemente são diferentes, mas que podem ter final paralelo. O atleta quer ir a Copa do Mundo e uma troca de clube ou até mesmo de país pode ser prejudicial para seu espaço na seleção, já Aulas quer que Garde se vire nos trinta treinando garotos e não podendo contratar. Para chegar a Copa, Gomis precisa jogar e marcar gols, para Garde “se virar nos trinta”, precisa de alguém que balance as redes, um objetivo casa com o outro. O Predador precisa ser resgatado urgentemente. Se o Lyon sonha (porque hoje é apenas um sonho) em se classificar para a fase de grupos da Liga dos Campeões, isso precisa ser feito ontem, porque um time não vence sem marcar gols.

A culpa é do Lyon

Gomis finalmente encontrou um novo clube

Gomis finalmente encontrou um novo clube

Após semanas de pura especulação, o centroavante Bafétimbi Gomis parece ter definido seu destino: o Newcastle. Jean-Michel Aulas, presidente do Lyon, confirmou o acerto por oito milhões de euros, mais dois de bônus e acrescentou que algumas taxas e formas de pagamento faltam para a concretização da negociação.

Positivamente para a carreira do atacante, essa transferência significa uma provável evolução técnica. O Predador jogará em uma liga mais forte, em um clube ambicioso (apesar dos resultados decepcionantes na última temporada) e tradicional na Inglaterra. Além disso, Gomis encontrará um clube com dez jogadores franceses e não deverá demorar a se adequar ao ambiente do plantel.

Se internamente esse entrosamento não deverá tardar a aparecer, dentro de campo pode demorar e lhe causar um grave prejuízo em curto prazo. Há uma nítida mudança de ritmo entre o futebol praticado na França e na Inglaterra. A Ligue 1 é mais cadenciada e técnica, com um jogo mais lento até; já a Premier League preza pelo ritmo de jogo, intensidade, velocidade e participação de todos os atletas.

Não será nenhuma surpresa se Bafé Gomis demorar a se adaptar ao jogo inglês simplesmente por ser um centroavante à moda antiga, de pouca mobilidade e muita presença física na grande área. Se essa demora na adequação a Premier League realmente ocorrer, o jogador poderá ver sua vaga entre os 23 convocados para a Copa do Mundo de 2014 em risco.

O Predador está justamente entre os cotados para a posição mais aberta do time de Didier Deschamps: o ataque. Karim Benzema ainda não decolou na carreira e está há mais de um ano sem marcar pela seleção; Olivier Giroud, apesar de alguns brilharecos, ainda não transmite a confiança necessária para ser o “homem gol” do time.

Gomis já fez três gols com a camisa dos Bleus

Gomis já fez três gols com a camisa dos Bleus

Em seguida vem Gomis, mas junto dele chegam André-Pierre Gignac (com menos chances por sua rixa com Deschamps), Jérémie Aliadière e até mesmo o garoto Yaya Sanogo, da seleção sub-20, todos querendo uma mísera oportunidade.

Se a França chegar à Copa e o nome de Bafé Gomis não aparecer na lista final do técnico dos Bleus, a culpa não será somente sua, mas, em grande parte, será também do Lyon e de Jean-Michel Aulas.

JMA já adotou, há algum tempo, a política do corte de custos e não queria a permanência do atacante no clube pelo alto salário. Aparentemente, só ele não o queria lá, já que até mesmo o técnico do time, Rémi Garde, deu a entender nas entrelinhas de suas entrevistas que a decisão era única e exclusivamente do presidente.

Desde o princípio, Gomis declarou que gostaria de permanecer no Lyon, mas não foi ouvido e nem participou da pré-temporada da equipe. O argentino Lisandro López tem sido o atacante titular nesses jogos iniciais de temporada.

O próprio Predador tem consciência que uma mudança de ares, nessa altura do campeonato e faltando menos de um ano para a Copa do Mundo, a primeira de sua carreira, não é de todo bom. Sua ida para o Newcastle, visando o Mundial que será realizado no Brasil, é mais um ponto de interrogação do que um avanço. No futuro pode ser um progresso, mas agora, não.

Só que o futebol é imprevisível. Gomis pode arrebentar na Inglaterra, liderar o ranking de artilheiros da Premier League, assumir a titularidade da seleção e trazer o bicampeonato do mundo para a França, mas eu fico com a opção pessimista e coloco o Lyon e Aulas como culpados por uma eventual ausência no mundial.

É claro que o clube tem seus interesses e obrigações financeiras, mas nada que um bom papo não resolva. Não estávamos falando de um atleta odiado pela torcida e que corria risco de vida ao dar uma simples caminhada na rua, estávamos falando de um jogador reconhecidamente carismático e um dos principais goleadores do país. Além de todas essas qualidades, Gomis ainda queria ficar, duvido que esteja feliz em mudar de clube, mas era pra ser assim. No Newcastle, ele terá que ser, mais do que nunca, o Predador para conseguir chegar a Copa. Com 27 anos, é difícil imaginar que chegue em melhor forma técnica em 2018.

Imagens: Made In Foot e Zimbio