Quem será o Zizou da vez?

Zizou cresceu na hora certa

Dia 13 de junho de 2004. A Europa estava atenta para a estréia de duas seleções consideradas favoritas a vencer a UEFA Euro daquele ano: a França de Zinedine Zidane contra a Inglaterra de David Beckham. O Estádio da Luz em Lisboa ficaria pequeno para tantos craques e tantas emoções.

Era apenas o segundo dia de jogos e os anteriores apresentaram poucas emoções. Portugal, mandante, tropeçou diante da Grécia – tropeço que se repetiria no jogo final do torneio -, enquanto a Espanha vencera a Rússia pelo placar mínimo. Pelo mesmo grupo de franceses e ingleses, Suíça e Croácia empataram sem gols e a vitória em Lisboa destinaria a ponta do grupo logo na primeira rodada.

Assim como nas guerras, Inglaterra e França tinham um enorme histórico de jogos. No início, os ingleses dominavam completamente o confronto. Entre 1923 e 1931, foram seis jogos e seis vitórias inglesas, todas elas marcando pelo menos três gols. No sétimo jogo, em 1931, Les Bleus descontaram e venceram por 5×2, mas voltaram a ficar em uma série inativa de vitórias. Seu triunfo seguinte seria em 1946, vitória por 2×1.

Os primeiros duelos oficiais entre franceses e ingleses foram apenas nos anos 60. Em 1962 e 1963, a dupla se enfrentou na fase de qualificação para a Eurocopa. Na ida, em Sheffield, 1×1, na volta, em Paris, vitória francesa por 5×2. Em 1966 aconteceu o primeiro jogo em uma Copa do Mundo. As quase 100 mil pessoas que foram ao Estádio Wembley viram o English Team bater a França por 2×0, com dois gols de Roger Hunt.

O último duelo de Copa do Mundo entre as duas seleções foi em 1982. A seleção francesa, que encantara o planeta bola naquele ano, foi totalmente envolvida pela Inglaterra e deixou o San Mamés em Bilbao derrotada por 3×1. Não custa reforçar que o selecionado inglês, de Peter Shilton, derrotou, simplesmente, a França de Platini, Rocheteau, Giresse e Trésor.

Em 1992, aconteceu o primeiro duelo em uma Eurocopa. Porém, nada de gols. E olha que opções para as redes balançarem não faltaram. O English Team tinha Gary Lineker e Alan Shearer no ataque, enquanto os Bleus tinham Eric Cantona e Jean-Pierre Papin.

O confronto válido pelo Torneio da França de 1997 ficou marcado como a última vitória inglesa sobre a França. Depois daquele triunfo no Stade de La Mosson, 1×0 gol de Shearer, foram mais cinco jogos, com quatro vitórias francesas e um empate.

Mas voltando ao confronto de 2004, a Inglaterra parecia que finalmente tiraria a barriga da miséria. Vencia por 1×0, gol de Frank Lampard. O ídolo inglês, Beckham, teve participação decisiva no tento, pois foi ele quem cobrou a falta com precisão, na cabeça do meia do Chelsea.

Na etapa final, o English Team teve o jogo em mãos. Aos 28 minutos, o jovenzinho Wayne Rooney, na época com apenas 19 anos, recebeu em velocidade e só foi parado por Silvestre, que cometeu pênalti. David Beckham teve em seus pés a chance de dar a vitória para a Inglaterra, mas sua cobrança parou nas mãos de Barthez. O goleiro se redimiu de 1997, quando errou no gol de Shearer, no supracitado duelo do Torneio da França.

Falhar não era uma opção aceitável quando se tinha do outro lado Zinedine Zidane. Zizou, em dois toques de mestre, decidiu a peleja. Primeiro, aos 45 minutos, em cobrança de falta magistral, jogando ao lado direito do goleiro David James, que, parado, nada pôde fazer. No lance seguinte, Steven Gerrard recuou para seu arqueiro, mas não viu a presença de Henry, que venceu a disputa em velocidade, mas foi derrubado na grande área. Zidane cobrou o pênalti no mesmo lugar onde havia colocado a bola na cobrança de falta e virou a peleja para a França.

De falta, Zidane decidiu em 2004

As falhas nos acréscimos do árbitro, somado ao pênalti desperdiçado por Beckham, culminaram na derrota inglesa.

Em toda a história, franceses e ingleses se enfrentaram trinta vezes e o English Team leva ampla vantagem: 16 a 9 em vitórias, além de cinco empates. Porém, a França equilibrou esses números com o pequeno tabu supracitado, que dura desde 1997.

E na segunda-feira? Quem será o Zizou? A camisa 10 francesa é de Karim Benzema. Ele será capaz de decidir em dois lances como Zidane em 2004? Aguardemos!

FICHA TÉCNICA:

Estádio da Luz – Lisboa

França: Barthez; Thuram, Gallas, Silvestre (Sagnol) e Lizarazu; Pirès (Wiltord), Vieira, Makélélé (Dacourt) e Zidane; Henry e Trezeguet — Técnico: Jacques Santini

Inglaterra: James: Neville, King, Campbell e Cole; Beckham, Lampard, Gerrard e Scholes (Hargreaves); Rooney (Heskey) e Owen (Vassell) — Técnico: Sven-Göran Eriksson

Arbitragem: Markus Merk, Christian Schräer e Jan-Hendrik Salver (Alemanha)

Gols: Zidane, 90+1′ e 90+3′ (FRA); Lampard, 38′
Cartões amarelos: Silvestre e Pirès (FRA); James, Lampard e Scholes (ING)

EURO 2012: O grupo da vida

Para fechar esse balanço pré-Euro, chegamos ao Grupo D, o “Grupo da Vida”. Encontram-se nesta chave uma seleção se acertando, outra perdida entre diversas crises internas, outra com um dos maiores centroavantes da atualidade, além da seleção que recebe o torneio em sua casa e contará com o apoio da torcida.

Renovada, a França precisava justamente de um grupo como esse, onde saísse como favorita para conseguir confiança para o restante da competição; A Inglaterra, com muitos problemas internos e, mais recentemente, de contusão, dificilmente teria chances de se classificar em outro grupo; Ainda tem a Suécia, que conta simplesmente com Zlatan Ibrahimovic; Para fechar, uma das anfitriãs do torneio, a Ucrânia.

Confira abaixo a análise e as expectativas para cada uma das seleções nesta UEFA Euro.

UCRÂNIA: Que a torcida os ajude

Shevchenko encerrará sua carreira após a Eurocopa

Diferentemente da outra anfitriã, Polônia, a Ucrânia chega a Eurocopa com bem menos expectativas. Com sete jogadores acima dos 30 anos, o selecionado ucraniano participará pela primeira vez na história da competição européia com um time velho. O técnico Oleh Blokhin também possui em seu elenco oito atletas que, em 2006, estiveram com ele na Alemanha disputando a Copa do Mundo.

Falando no comandante ucraniano, este foi um dos problemas da seleção na preparação para a Euro. Myron Markevych iniciou no comando técnico, mas dividindo as atenções com seu time, o Metalist. Após problemas do clube com a federação ucraniana, ele teve de escolher entre um ou outro. O time que treinava desde 2005 foi a escolha. Em seguida, Yuriy Kalitvintsev assumiu interinamente, mas ficou por muito tempo, oito jogos, só atrasando o retorno de Blokhin, que já havia treinado a Ucrânia de 2003 a 2007. A indefinição só atrasou a formação do grupo e, também, uma sequência de trabalho não foi proporcionada e a seleção viveu tempos de incerteza.

Por isso, Blokhin aposta em figuras carimbadas, como Andriy Shevchenko, Artem Milevskiy, Andriy Voronin e Anatoliy Tymoshchuk, e ainda mantém como base do time os poderosos times locais, Dynamo e Shakhtar. Nove atletas do time de Kiev e seis da equipe de Donetsk foram chamados para a disputa do torneio.

Obviamente, o grande nome do time é Shevchenko, que dará um gás final na carreira nesta Eurocopa. O ex-atacante de Milan e Chelsea tenta vencer as lesões e assumir o protagonismo nessa Ucrânia que carece de atletas mais talentosos. Sheva é a grande referência do time, ao lado do experiente Milevskiy, que não viveu a melhor de suas temporadas pelo Dynamo.

Aos 22 anos, Yarmolenko e Konoplyanka surgem como boas esperanças para rejuvenescer o futebol do país, porém, ambos não parecem ser capazes de ter o brilhantismo que Shevchenko teve em seus tempos de Milan. A dupla atua no meio campo e deverá, não só municiar, como correr pela dupla do Dynamo.

A defesa não inspira nenhuma confiança. Blokhin teve problemas em definir o goleiro titular, graças às lesões de Dykan e Shovkovskiy e a suspensão por doping de Rybka. Pyatov do Shakhtar Donetsk deve ser o escolhido para assumir a titularidade, embora viva uma briga sadia com o atleta mais jovem do elenco, Maksym Koval, de 19 anos.

O ponto de confiança na defesa é Tymoshchuk, do Bayern. O volante, além de polivalente, é um dos líderes do time. Tymo é firme na marcação e não costuma comprometer nos passes.

Os ucranianos sabem que as chances de classificação são mínimas, mas o time e a torcida local querem dar um final de carreira digno ao maior jogador da história do país, Shevchenko. É óbvio que ele não repetirá as atuações de seus tempos de Milan, mas vai gastar suas últimas energias na Eurocopa.

CONVOCADOS:

Goleiros: Andrei Pyatov (Shakhtar Donetsk), Alexander Goryainov (Metalist Kharkiv), Maxim Koval (Dynamo Kiev)

Defensores: Taras Mykhalik, Yevgeny Khacheridi (ambos do Dynamo Kiev), Yaroslav Rakytsky, Alexander Kucher, Vyacheslav Shevchuk (do Shakhtar Donetsk), Yevgeny Selin (Vorskla Poltava), Bogdan Butko (Mariupol)

Meio-Campistas: Anatoly Tymoshchuk (Bayern-ALE), Oleg Gusev, Denis Garmash, Alexander Aliev, Andrei Yarmolenko (todos do Dynamo Kiev), Ruslan Rotan, Yevgeny Konoplyanka (ambos no Dnepropetrovsk), Sergei Nazarenko (Tavria Simferopol)

Atacantes: Andrei Shevchenko, Artem Milevsky (do Dynamo Kiev), Andrei Voronin (Dynamo Moscou-RUS), Yevgeny Seleznov, Marko Devic (ambos no Shakhtar Donetsk)

INGLATERRA: Um retorno sem estilo

A ausência de Rooney deve prejudicar a Inglaterra

Após nem se classificar para a Eurocopa de 2008, a Inglaterra volta a disputar o torneio europeu. Porém, o que deveria ser um retorno em grande estilo, não deve passar de mais um vexame para a enorme coleção que o English Team possui.

Assim como na Copa de 2010, o selecionado inglês tem seus problemas internos. No Mundial, o problema envolvia John Terry, Wayne Bridge e o já muito comentado -sabe-se lá porque “muito comentado” – “chifre”. Agora, o capitão do Chelsea está novamente envolvido no caso, só que desta vez é de racismo com Anton Ferdinand. Por causa disso, Rio Ferdinand, irmão de Anton, ficou de fora da lista inglesa.

Como todos também sabem, a troca de técnico no início de ano foi por causa do intercedimento da FA na capitania da seleção. Capello, técnico vencedor e experiente, não gostou disso e pediu seu boné e Roy Hodgson foi chamado para substituí-lo, enquanto muitos davam como certa a vinda de Harry Redknaap. O ex-técnico do Liverpool agora tem problemas físicos para ajeitar seu time. Frank Lampard, Gareth Barry e Gary Cahill já foram cortados por estarem lesionados.

O problema mais grave é de Wayne Rooney. Após chutar um jogador montenegrino nas eliminatórias para a Euro, o atacante do Manchester United foi suspenso por dois jogos e só poderá estrear na terceira rodada do torneio, quando, talvez seja tarde demais. Por causa dessa ausência, Hodgson vem tentando encontrar um centro-avante “tapa buraco” para esses dois jogos. Andy Carroll do Liverpool e Danny Welbeck do Manchester United foram os mais testados e a tendência é que o jovem Red Devil seja o titular.

Algumas dessas saídas forçadas deram uma rejuvenescida no elenco inglês. Além de Welbeck, os outros jovens convocados por Hodgson foram Jack Butland, Martin Kelly, Phil Jones, Jordan Henderson e Oxlade Chamberlain, todos eles abaixo dos 23 anos.

Sem Lampard e Barry, a Inglaterra terá de se virar com Parker – lesionado durante a parte final da temporada – e Gerrard – novamente abaixo do que pode render. Ambos são talentosos, mas tanto Lampard, quanto Barry fizeram boas temporadas por seus clubes e formariam uma dupla firme na faixa central do ortodoxo 4-4-2 inglês.

Com a saída da dupla central e a suspensão de Rooney, o peso cairá sobre Ashley Young. Após boa temporada pelo Manchester United, o camisa 11 inglês deverá atuar aberto pela esquerda e ser o diferencial do time, já que pela outra ponta deverá jogar o velocista Walcott. Young só precisa perder a fama de “cai-cai” que ganhou no final da temporada inglesa. Em uma Eurocopa, manter esse estilo lhe dará uma fama eterna e reconhecida mundialmente.

Diferentemente de outras competições, a Inglaterra não chega como favorita e parece saber disso. Hodgson tem preparado seu time para jogar no contra-ataque, ao melhor estilo Chelsea. Os Blues conquistaram a Europa assim, será que a história se repetirá com o English Team?

CONVOCADOS:

Goleiros: Joe Hart (Manchester City), Robert Green (West Ham), Jack Butland (Birmingham City)

Defensores: Leighton Baines (Everton), Martin Kelly (Liverpool), Ashley Cole (Chelsea), Glen Johnson (Liverpool), Phil Jones (Manchester United), Joleon Lescott (Manchester City), John Terry (Chelsea), Phil Jagielka (Everton)

Meio-Campistas: Stewart Downing (Liverpool), Steven Gerrard (Liverpool), Jordan Henderson (Liverpool), James Milner (Manchester City), Alex Oxlade-Chamberlain (Arsenal), Scott Parker (Tottenham), Theo Walcott (Arsenal), Ashley Young (Manchester United)

Atacantes: Andy Carroll (Liverpool), Jermain Defoe (Tottenham), Wayne Rooney (Manchester United), Danny Welbeck (Manchester United)

SUÉCIA: Bastará a experiência?

Ibra: bem ou mal?

Sem nenhum jogador abaixo dos 23 anos, a Suécia chega para a sua quarta Eurocopa consecutiva buscando resultados melhores. Nas edições anteriores, a melhor campanha do selecionado nórdico foi em 2004, quando caiu apenas nas quartas-de-final.

Naquela edição da UEFA Euro, Zlatan Ibrahimovic surgiu para o mundo. Em um belo gol de calcanhar, contra a poderosa Itália, Ibra mostrou do que era capaz. Hoje em dia, a Suécia de Erik Hamren vive um dilema envolvendo o jogador. Na partida diante da Holanda, ainda nas eliminatórias para o torneio, o selecionado sueco não tinha Ibrahimovic à disposição, ainda assim, venceu por 3×2. Talvez tenha sido a melhor atuação da Suécia de Hamren.

Seria um problema ter Ibra no elenco? Acredito que não, até porque os suecos baseiam seu jogo no astro do time. Quando a missão é defender, Ibrahimovic será o atacante mais isolado, buscando meter pra dentro as poucas bolas que receber. Quando o time buscará mais o ataque, a tendência é que o atacante milanista tenha a companhia de Elmander no ataque.

Mesmo assim, a Suécia não é um time que possui apenas Ibrahimovic como destaque. Ola Toivonen foi autor de 18 gols pelo PSV na última temporada e é uma boa alternativa de ataque. No meio-campo, Hamren terá a sua disposição Kim Källström, Sebastian Larsson e Anders Svensson, todos bons passadores.

Porém, o sinônimo desta seleção sueca não é técnica, como os parágrafos anteriores dão a entender, mas sim “experiência”. Cinco atletas irão para sua terceira Euro, enquanto outros cinco irão para a segunda disputa. Apenas Olof Melberg está desde 2000 jogando o torneio europeu pela Suécia, será sua quarta participação.

Porém, Erik Hamren têm conseguido mesclar razoavelmente bem a juventude com a experiência. Mesmo sem ter atletas abaixo dos 23 anos, sete jogadores que estiveram disputando a Euro Sub-21 de 2009 – que a Suécia caiu nas semifinais para a Inglaterra – foram convocados para a disputa da Eurocopa.

A seleção sueca não vem para o torneio apenas para ficar como figurante. A única ausência foi na Copa de 2010 nos últimos doze anos, a Suécia quer se tornar mais do que um time de constantes aparições, para virar, quem sabe, uma potência. A chance de classificação é real, mas mesmo apresentando um bom conjunto, Ibrahimovic precisará estar inspirado para os suecos conseguirem ir longe

CONVOCADOS:

Goleiros: Andreas Isaksson (PSV Eindhoven-HOL), Johan Wiland, (Copenhagen-DIN), Pär Hansson (Helsingborg)

Defensores: Mikael Lustig (Celtic-ESC), Olof Mellberg (Olympiakos-GRE), Andreas Granqvist (Genoa-ITA), Martin Olsson, (Blackburn-ING),Jonas Olsson (West Bromwich-ING), Behrang Safari (Anderlecht-BEL), Mikael Antonsson (Bologna-ITA)

Meio-Campistas: Rasmus Elm (AZ Alkmaar-HOL), Sebastian Larsson (Sunderland-ING), Kim Kallstrom (Lyon-FRA), Anders Svensson (Elfsborg), Pontus Wernbloom (CSKA Moscow-RUS), Samuel Holmen (Istanbul BB-TUR), Emir Bajrami (Twente-HOL), Christian Wilhelmsson (Al-Hilal-ARA)

Atacantes: Zlatan Ibrahimovic (Milan-ITA), Johan Elmander (Galatasaray-TUR), Tobias Hysen (IFK Gotemburgo), Ola Toivonen (PSV Eindhoven-HOL), Marcus Rosenberg (Werder Bremen-ALE)

FRANÇA: Últimos ajustes

Benzema vestirá a lendária camisa 10 francesa

A Alemanha tem problemas nítidos na zaga; a Holanda ainda precisa encontrar um lateral-esquerdo; enquanto a Espanha jogará sem os líderes Villa e Puyol. Dentre aos selecionados postulantes ao título, podemos dizer que a França é a mais inteira entre todas.

Completamente destruída após a Copa do Mundo de 2010, Laurent Blanc chegou e botou ordem na casa. Arrumou a defesa, trouxe talento para o meio-campo e facilitou tudo para o matador Benzema. Chamar a França de grande favorita é exagero, mas o ex-treinador do Bordeaux tem pouca coisa para arrumar nesta tradicional seleção.

Na zaga, Rami e Mexès foram várias vezes utilizados por Blanc, mas ainda não passam grande confiança para o torcedor. Enquanto Patrice Evrá, aos 31 anos, parece sentir o peso da idade e vai enxergando o mais jovem Clichy tomar um pouco de seu espaço. Mas ainda assim, é um setor que o técnico parece ter controle absoluto e consciência do que faz.

O problema da cabeça de área é apenas de quantidade. Yohan Cabaye, que fez temporada fantástica pelo Newcastle, deve ser titular ao lado de Yann M’Vila, porém, o segundo teve problemas no tornozelo nos amistosos de preparação e talvez desfalque a França em alguns jogos. O problema está aí: se M’Vila não jogar, joga quem? Alou Diarra teve temporada terrível pelo Marseille, enquanto Matuidi tem pouca experiência internacional.

O oposto acontece na linha de armadores. A dúvida de Blanc não se deve a escassez e sim ao excesso de opções. Franck Ribéry e Samir Nasri parecem ter suas vagas garantidas. Jérémy Ménez e a novidade Hatem Ben Arfa lutam pela titularidade. Florent Malouda corre por fora, porém, ter sido banco durante toda a temporada no Chelsea e ainda ter sofrido uma lesão na reta final de temporada deve pesar na decisão de Blanc. Mathieu Valbuena teve temporada decepcionante, como quase todo o time do Marseille, e deve ser a última opção do técnico.

Yoann Gourcuff poderia ser uma alternativa para suprir essa ausência, porém, o meia do Lyon não conseguiu vencer as lesões. Ele até foi convocado para a pré-lista – isso após conseguir uma boa sequência de jogos no fim da temporada -, mas não convenceu nos amistosos e ficou de fora da lista final.

No ataque, Karim Benzema é titular indiscutível. O atacante do Real Madrid teve, nos números, a melhor temporada de sua carreira, superando 2007-08. Na citada temporada, quando ainda defendia o Lyon, o atacante anotou 31 gols e deu 10 assistências. Na temporada mais recente, Benzema balançou as redes 32 vezes e ainda deu 15 assistências.

Há quem defenda a tese de que o atacante do Real Madrid deva ter um parceiro de ataque, e este seria Olivier Giroud, artilheiro do Campeonato Francês pelo Montpellier. Acredito que Blanc só usará esse esquema quando for realmente preciso marcar gols, no desespero.

A França pode ser colocada entre as favoritas. Não perde desde 2010 e o técnico Blanc tem poucas dúvidas na montagem do time titular. É claro que manter essas dúvidas no percorrer do torneio não será legal, mas comparadas a outras seleções colocadas como favoritas, os problemas são menores.

CONVOCADOS

Goleiros: Cedric Carrasso (Bordeaux), Hugo Lloris (Lyon), Steve Mandanda (Olympique de Marseille)

Defensores: Gael Clichy (Manchester City-ING), Mathieu Debuchy (Lille), Patrice Evra (Manchester United-ING), Laurent Koscielny (Arsenal-ING), Philippe Mexès (Milan-ITA), Adil Rami (Valencia-ESP) e Anthony Reveillere (Lyon)

Meio-Campistas: Yohan Cabaye e Hatem Ben Arfa (Newcastle-ING), Alou Diarra (Olympique de Marseille), Florent Malouda (Chelsea-ING), Marvin Martin (Sochaux), Blaise Matuidi (Paris Saint-Germain), Yann M’Vila (Rennes), Samir Nasri (Manchester City-ING)

Atacantes: Karim Benzema (Real Madrid-ESP), Olivier Giroud (Montpellier), Jeremy Menez (Paris Saint-Germain), Franck Ribéry (Bayern-ALE) e Mathieu Valbuena (Olympique de Marseille)

*Crédito das imagens: Reuters

Euro 96 – O futebol volta para casa

Colorado, analista de TI na RBS/RS e fanático por futebol inglês, Alexandre Perín é mais um a contribuir com o “Futebol Europeu Online” em mais um “Conto da Euro”. Em seu blog, o “Almanaque Esportivo”, Perín mudou um pouco o seu estilo de escrever sobre regulamentos, regras e fatos curiosos que cercam o mundo dos esportes, para destacar um dos eventos futebolísticos que mais marcaram sua vida, a Euro de 96.

Meses atrás, também destaquei a competição, mas abrangendo a disputa de pênaltis. Naquela edição da Eurocopa, a Inglaterra conquistou sua primeira e única vitória em uma série de cobranças da marca fatal. Um contexto histórico que envolvia o English Team foi destacado.

Perín escreveu de um modo diferente. A pedido deste blogueiro que vos escrever, o colorado escreveu sobre o torneio que mais o agradou e o porque tal agrado. Confira abaixo as impressões de Alexandre Perín.

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Surpresa, drama, glória, dominação. Sentimentos diversos ecoam em minha mente ao recordar a Eurocopa de 1996. Confesso que, depois da minha euforia com a conquista da Dinamarca em 92 contra todas as expectativas, a ansiedade estava alta. Seria a chance de ver o renascido futebol inglês. Naquela época, sem globalização da mídia, apenas ouvíamos falar do que ocorria nos gramados britânicos. Foram os ingleses os primeiros a tratarem os torcedores como verdadeiros clientes, promovendo o conforto e reformando seus centenários estádios a um nível ainda não visto neste esporte. Uma mudança que, gradualmente, atingiria todo o planeta…

A expectativa com relação aos times era bastante alta. Cinco times europeus estavam entre os oito melhores do Mundial de 1994: Itália, Bulgária, Alemanha, Romênia e Holanda. A anfitriã Inglaterra, ausente do Mundial anterior, merecia a condição de favorita com uma equipe jovem e qualificada. Já a “Nova Europa”, sem o bloco comunista, se mostrava presente com a República Tcheca – da outrora unida Tchecoslováquia – e a Croácia – saída da guerra civil que dissolveu a Iugoslávia -, times que chamavam a atenção pela técnica apurada.

Embalado pela trilha do Lightning Seeds, “Football is Going Home”, os ingleses faziam um revival do Mundial de 1966, seu grande momento. Na base do time, tínhamos a segurança de David Seaman e Paul Ince ao lado da juventude de Alan Shearer, Jamie Redknapp e Steve McManaman. Depois da dramática semifinal de 1990 em Turim, os ingleses precisavam ganhar confiança sob a tutela de Terry Venables. É verdade que um decepcionante empate em 1×1 contra a Suíça não ajudou a sempre instável autoconfiança local. Principalmente porque o adversário seguinte seria a rival Escócia em um Wembley angustiado…

Gascoigne e sua marcante comemoração diante da Escócia (Getty Images)

O 0x0 do 1º tempo se transformou em uma vantagem mínima, gol de Shearer. Gary McAllister teve a chance do empate escocês, mas Seaman pegou o pênalti. Sessenta segundos depois, Gascoigne marcaria um gol antológico, dando um balãozinho em Colin Hendry e desferindo um petardo sem deixar a bola cair. O 2×0 embalou o time, que atropelou a fortíssima Holanda – cuja base era o campeão europeu Ajax – por 4×1. Aliás, o solitário gol de Patrick Kluivert seria crucial para a classificação holandesa, para desespero da Escócia, de novo eliminada no saldo de gols.

No Grupo B, franceses e espanhóis atropelaram romenos e búlgaros e se classificaram com facilidade. A França, treinada por Aimée Jacquet, tinha praticamente todo o time que seria campeão mundial em dois anos. Enquanto isto, na chave C ocorreu à primeira zebra. Após uma decisão bizarra de poupar jogadores, o técnico Arrigo Sacchi selou seu destino quando viu a Itália levar 2×1 da República Tcheca. Na rodada posterior, um jogo maluco no qual os tchecos levaram 3×2 de virada e arrancaram o empate nos acréscimos contra a eliminada Rússia. Agonizante, o time italiano empatou em 0x0 com a Alemanha, campeã do grupo, e ficou fora das quartas. Finalizando, a campeã Dinamarca e a fraca Turquia não jogaram nada e foram eliminadas facilmente no grupo D pelas surpresas Croácia e Portugal, no primeiro brilho da geração de Luís Figo e Rui Costa.

Nas quartas, a Inglaterra sofreu com a Espanha, mas venceu nos pênaltis após um 0x0 arrastado. Vale lembrar a emoção de Stuart “Psycho” Pearce após converter sua cobrança, ele que havia errado nas semis de 90 contra os alemães. A França superou a Holanda nos pênaltis, também depois de um 0x0 bem ruim. Em um jogo superior, a Alemanha bateu a Croácia por 2×1, gols de suas estrelas: Klinsmann e Sammer pela Alemanha, Davor Suker pelos croatas. Que, aliás, reclamariam muito da arbitragem, e teriam vingança em dois anos… Finalmente, a República Tcheca bateu Portugal por 1×0 com um gol espetacular de Karel Poborsky e se classificou para as semifinais. Poborsky, aliás, ofuscava a estrela Patrik Berger e era o maestro de sua equipe, na qual brilhava também o atacante Vladmir Smicer.

No primeiro jogo das semifinais, um novo 0x0 muito ruim e decidido nos pênaltis entre França e República Tcheca, um confronto de duas ótimas defesas. Nas penalidades, vitória dos tchecos, que chegavam a uma surpreendente decisão. Eles aguardariam o vencedor daquele que seria um dos mais dramáticos jogos da história da Eurocopa.

‘Andi’ Möller comemorou ao estilo Gascoigne na eliminação inglesa

Ecos de 1966, com Bobby Charlton na arquibancada de um Wembley eletrizante. No campo, com dois timaços de cada lado, os ingleses saíram na frente com mais um gol de Shearer, mas o reserva Stefan Kuntz empatou para os alemães. Na prorrogação, Darren Anderton e Paul Gascoigne erram gols inacreditáveis e o jogo foi para os pênaltis. Depois de 10 cobranças perfeitas, Southgate bateu e Andreas Kopke defendeu. O capitão Andreas Möller, suspenso da final pelo 2º amarelo, converteu e destroçou os corações ingleses. O sonho acabou. Era hora de voltar para casa.

A decisão seria vista como uma espécie de anticlímax. A Alemanha era absolutamente favorita, inclusive, tendo vencido a República Tcheca na estréia da Euro por 2×0. Entretanto, o drama da final de 1992 voltou a ocorrer: nervosos, os alemães não conseguiam mostrar seu melhor futebol e experiência, e acabaram sendo envolvidos. Em uma penalidade discutível de Mathias Sammer, Patrik Berger fez 1×0 aos 25 do 2º tempo. Seria o fim?

Não. A salvação germânica viria de um nome improvável, escolhido do banco de reservas pelo treinador Berti Vogts. O atacante Oliver Bierhoff entrou e logo em seu primeiro toque na bola empatou em 1×1, conferindo de cabeça. “Morte Súbita”, quem fizesse primeiro na prorrogação seria o campeão. Quis o destino que o reserva e nada cotado Bierhoff, em um chute desviado na zaga tcheca e que contou com a falha do goleiro tcheco Petr Kouba, desse o tricampeonato europeu para a Alemanha logo a cinco minutos.

Klinsmann ergueu a Eurocopa diante da rainha Elizabeth (Getty Images)

A Alemanha dominava a Europa novamente!

Seria esta a última conquista internacional dos alemães.

Eles bateram na trave em 2002 no Mundial (Brasil) e 2008 na Eurocopa (Espanha).

Até hoje…