Monaco e times italianos é um confronto, de certa forma, recorrente. Desde a temporada 1961/62, quando os monegascos debutaram fora da França, foram 13 confrontos com clubes da Velha Bota, com três vitórias, três empates e sete derrotas, sempre em fases eliminatórias. Na lista histórica, os times da Itália estão atrás apenas de ingleses, alemães e espanhóis em partidas contra o representante do Principado.
Na atual temporada, a Juventus vai cruzar o caminho francês na semifinal da Champions League. Se levarmos em conta o retrospecto nos jogos anteriores, é bom o Monaco se preocupar, já que avançou de fase somente uma vez quando teve equipes de lá pela frente.
Para projetar o confronto da próxima quarta-feira, recordo hoje no blog cinco confrontos marcantes entre monegascos e italianos. Só para ressaltar, o levantamento será em ordem cronológica:
Roma – 1991/92
O baixinho Rui Barros (dir.) decidiu o confronto diante da Roma | Foto: Divulgação/Monaco
O primeiro confronto da lista aconteceu na temporada 1991/92, pelas quartas-de-final da extinta Taça dos Vencedores de Copas Europeias. O Monaco tinha, na época, um time forte comandado por Arsène Wenger e que ainda tinha no elenco nomes como Ettori, Emmanuel Petit e George Weah. A Roma, de Aldair e Rudi Völler, seria o primeiro grande adversário naquela edição, já que passara facilmente pelo galês Swansea (10 a 1 no placar agregado) e pelo sueco Norrköping (3 a 1 no agregado, com duas vitórias).
Na ida, no Olímpico de Roma, uma partida sem grandes emoções, onde o Monaco criou as melhores chances. George Weah e Rui Barros chegaram a acertar a trave em mais de uma ocasião, fazendo com que os monegascos deixassem a Velha Bota com a sensação de que poderiam ter obtido um resultado melhor.
Na volta, o estádio Louis II estava tomado de torcedores. Estiveram presentes 20 mil pessoas, um recorde histórico para o clube. Em campo, uma partida mais aberta, onde o Monaco levou a melhor pelo placar mínimo, gol de Rui Barros, avançando para a semifinal. Foi a única vez que o Monaco eliminou um clube italiano. Em seguida, os monegascos despacharam o Feyenoord, mas perderam a final para o Werder Bremen.
Milan – 1993/94
Duas temporadas depois, o Monaco voltava a encontrar um time italiano em seu caminho. Desta vez, o Milan, e agora na nova Liga dos Campeões da Europa. Naquela época, o torneio tinha formato diferente do atual e os monegascos precisaram passar por duas fases de mata-mata até chegarem a fase de grupos. Eram duas chaves, onde os dois primeiros colocados avançavam e faziam as semifinais.
O Monaco, ainda com Wenger no comando e com outros remanescentes no elenco, como o goleiro Ettori, Emmanuel Petit, Claude Puel e Lillian Thuram, mas com novas referências, como Viktor Ikpeba, Youri Djorkaeff e Jurgen Klinsmann, passou de fase no grupo A atrás do Barcelona e na frente de Spartak Moscou e Galatasaray.
Na semifinal em jogo único, simplesmente o Milan de Fábio Capello, e que contava com um esquadrão formado por Mauro Tasotti, Demetrio Albertini, Franco Baresi, Roberto Donadoni, Zvonimir Boban, Dejan Savicevic e outros tantos. Não deu outra! Jogando no San Siro, vitória milanista por 3 a 0, com gols de Desailly, Albertini e Massaro. Vale lembrar que o Milan se sagraria campeão futuramente, com uma impiedosa goleada por 4 a 0 sobre o Barcelona de Romário, Guardiola, Koeman e Stoichkov.
Inter de Milão – 1996/97
Em 1997, o jovem Henry não conseguiu ajudar o Monaco contra a Inter | Foto: Divulgação/Monaco
Chegamos a temporada 1996/97 e o Monaco, já bastante alterado em relação a anos anteriores (mas ainda com Petit, desta vez como capitão) novamente bateu de frente com uma equipe de Milão. Naquela ocasião foi a Internazionale, de Roy Hodgson, pela semifinal da Copa da Uefa. Curiosamente, o time do Principado foi o segundo francês da campanha nerazzurri, que passara também o Guingamp na primeira fase.
Na ida, em Milão, a Inter parecia que encaminharia a classificação com facilidade. Com três gols em um intervalo de 22 minutos, abriu 3 a 0 no time de Fabien Barthez, Sonny Anderson e Thierry Henry. Maurizio Ganz fez dois e Ivan Zamorano anotou o outro. Na etapa final, o Monaco perdeu Gilles Grimandi expulso, mas ainda conseguiu descontar Ikpeba, que saiu do banco para recolocar os franceses na parada para o jogo de volta.
Na França, o máximo que o Monaco conseguiu foi o 1 a 0, novamente com gol de Ikpeba. Importante ressaltar que essa partida de volta teve arbitragem polêmica do holandês Mario van der Ende. Ele anulou dois gols franceses e o tento que validou teve um claro toque de mão de Enzo Scifo. Por fim, a Inter passou, mas esbarrou no Schalke na grande decisão, que ergueu o troféu nos pênaltis, e o Monaco teve de se contentar com o título francês, servindo de gancho para o próximo jogo da lista.
Juventus – 1997/98
Como campeões nacionais, os monegascos caíram já na fase de grupos da Liga dos Campeões do ano seguinte e conseguiram consistente campanha até a semifinal. Passaram em primeiro na chave que ainda tinha os alemães do Bayer Leverkusen, os portugueses do Sporting e os belgas do Lierse, e conseguiram eliminar o poderoso Manchester United nas quartas-de-final.
Na semifinal, o Monaco levou o azar de bater de frente com a Juventus e com um inspirado Alessandro Del Piero. Com dois gols de pênalti, um de falta e uma assistência, ele ajudou a Velha Senhora a construir um impiedoso 4 a 1, que praticamente eliminou os monegascos.
No Principado, o Monaco promoveu um bombardeio para tentar diminuir a vantagem, mas esbarrou em uma ótima noite de Peruzzi e novamente em Del Piero, que mais uma vez marcou. Os monegascos até venceram por 3 a 2, mas saíram de campo sem a vaga na final.
Juventus – 2014/15
O último confronto foi mais recente, nas quartas-de-final da temporada 2014/15. Na ocasião, o Monaco vinha de surpreendente classificação diante do Arsenal, enquanto a Juventus atropelou o Borussia Dortmund. Havia um favorito claro no confronto, mas não foi isso que se viu na prática. Um único gol, anotado num pênalti até hoje contestado – eu, particularmente, não achei falta e fiquei na dúvida se foi dentro da área – na partida de ida, em Turim, tratou de encerrar o sonho monegasco novamente com um 1 a 0, seguido de um empate sem gols na volta.
Bônus: Completam a lista de confrontos do Monaco contra italianos as eliminações para a Internazionale, nas oitavas-de-final da Copa dos Clubes Campeões Europeus, em 1963/64 (derrotas por 1 a 0 e 3 a 1); e na semifinal da Taça dos Clubes Campeões de Copas Europeias, para a Sampdoria, na temporada 1989/90 (empate por 2 a 2 na ida e derrota por 2 a 0 na volta).
Foto: Reprodução – O Alavés fez história ao chegar na decisão da Copa da Uefa
Quando relacionamos times espanhóis com finais de copas europeias, logo nos lembramos de Real Madrid e Barcelona, além do Atlético de Madrid, que ganhou a Liga Europa em duas oportunidades nos últimos anos. O que muitos esquecem é que, certa vez, o pequenino Deportivo Alavés, da província de Álava, chegou a uma final internacional com uma campanha heroica.
Fundado em 1921, o citado clube espanhol nunca havia obtido grandes feitos até a chegada do técnico José Manuel Esnal, o Mané, em 1997. Com ele no comando, o Alavés começou a saga que teve início na segunda divisão e parou com um vice-campeonato continental.
O acesso
O Alavés teve campanha praticamente impecável na segunda divisão espanhola na temporada 1997/98, na qual foi campeão. Em 42 partidas, foram conquistados 82 pontos, sendo o time que mais venceu (24 vezes) e o que menos sofreu gols (25).
Mas o que marcou não foi o acesso, mas sim o início do que seria caracterizado como “copeirismo” do time de Mané. O Alavés foi semifinalista da Copa do Rei, e também contando com uma boa dose de heroísmo.
O drama começou já nas fases iniciais. Contra o desconhecido Aurrerá de Vitoria, o Alavés precisou reverter o 1-0 sofrido na ida para seguir na competição. Venceu por 2-0 na volta e prosseguiu para enfrentar o Real Oviedo, no qual despachou com uma magra vitória por 1-0 na ida e 0-0 na volta.
Na etapa seguinte, mais dificuldades. Diante do Compostela, clube de primeira divisão na época, o Alavés venceu por 1-0 em casa e segurou o 2-2 na volta para se qualificar.
Na fase de oitavas-de-final, o adversário era o poderoso Real Madrid, futuro campeão europeu. No jogo de ida, no Estádio de Mendizorroza, em Álave, com gol de Manuel Serrano, o Alavés bateu o adversário da capital pelo marcador mínimo. Na volta, sufoco em Madrid. Riesco fez 1-0 para os visitantes, mas Roberto Carlos e Šuker viraram o jogo. O tento do atacante croata saiu aos 10 minutos da etapa final e o Alavés se segurou por 35 minutos para conseguir a classificação.
Na fase seguinte, o Alavés passou sem grandes dificuldades pelo Deportivo La Coruña, também time da elite, aplicando 3-1 em casa no jogo de ida e segurando o placar zerado na volta.
Na semifinal veio a queda diante do Mallorca. Com duas derrotas (2-1 na ida e 1-0 na volta), o Alavés deu adeus ao sonho de conquistar a Copa do Rei (que seria vencida pelo Barcelona naquele ano).
Caminho na elite
Em seu ano de retorno à elite do futebol espanhol após mais de 40 anos, o Alavés conseguiu a permanência na primeira divisão apenas na última partida. Antes do início da 38ª rodada, o Glorioso somava 37 pontos, ocupava a 17ª colocação e não possuía chances de queda, mas poderia ficar no playoff contra o descenso. Os adversários diretos eram Villarreal, com 35 pontos, e Extremadura, com 38. Curiosamente, os dois concorrentes se enfrentariam na rodada derradeira.
A fórmula do Alavés era simples: vencer a Real Sociedad e torcer pelo tropeço do Extremadura. Uma derrota o deixaria no playoff, já que os 17º e 18º colocados disputariam esta fase.
Tudo começou tranquilo para o Glorioso e acabou com emoção. Ao término do primeiro tempo dos dois jogos, o Alavés vencia por 2-0 e o Extremadura perdia pelo marcador mínimo. Antes dos 20 minutos da etapa complementar, a Real Sociedad conseguiu descontar com Javier de Pedro e trouxe emoção para a partida.
Aos 36 minutos, David Albelda marcou para o Submarino Amarelo, abrindo 2-0 e, aparentemente definindo a parada. Porém, em menos de cinco minutos, Iván Gabrich marcou dois gols, empatou a partida para o Extremadura, deixando o Alavés com atenção nos dois jogos.
Por fim, os placares permaneceram intactos e, com uma boa dose de sorte, o Glorioso permaneceu na elite espanhola.
Grandes resultados
Na temporada seguinte, tudo mudou. Já com nomes de destaque como Javier Moreno, Hermes Desio e o veterano Julio Salinas, o Alavés fez campanha impecável, ocupando a 6ª colocação ao término do Campeonato Espanhol, obtendo 61 pontos. O desempenho lhe rendeu uma vaga na Copa da Uefa do ano seguinte.
Na temporada do 6º lugar, resultados importantes ficaram marcados para o time, entre estes, 2-0 sobre o Valencia no Mestalla, 2-1 de virada sobre o Barcelona, 2-0 no Atlético de Madrid e 1-0 no Real Madrid.
Saga europeia
Para começar a rotina de mochileiro pelo Velho Continente, o Alavés precisou dar uma modificada no elenco. Entre os reforços estavam o uruguaio Iván Alonso, vindo do River Plate do Uruguai, Jordi Cruyff, contratado junto ao Manchester United, Juan Epitié, atacante de Guiné Equatorial que veio da base do Real Madrid, Mario Rosas, cria do Barcelona, e Ivan Tomić, que veio da Roma.
Em contrapartida, Mané perdeu duas peças importantes para a temporada: o atacante Meho Kodro, autor de cinco gols na temporada anterior, foi para o Maccabi Tel-Aviv (onde encerrou a carreira), e o volante Ángel Morales, que retornou de empréstimo ao Espanyol.
Autor de sete gols na campanha do Campeonato Espanhol, o atacante Javi Moreno foi mantido no clube, diferente do artilheiro do time, Julio Salinas, que balançou as redes oito vezes. O atacante, que disputou as Copa de 1986, 1990 e 1994, tinha 38 anos e pendurou as chuteiras em 2000.
Foto: Reprodução – O veterano Julio Salinas ajudou o Alavés a chegar na Copa da Uefa
Mortal fora de casa
Reza a lenda do bom time copero, que para se sair bem em competições mata-mata, seu time precisa saber jogar fora de casa, principalmente pelo temido gol como visitante. O Alavés cumpriu com maestria este quesito.
Nas primeiras fases, o Glorioso sofreu em jogos em casa e precisou sair da Espanha para conseguir avançar. Logo na estreia, empatou sem gols com o Gaziantepspor no estádio de Mendizorroza, mas buscou a vaga na Turquia com uma surpreendente vitória por 4-3, quando esteve duas vezes atrás no marcador.
Já nesta fase, os reforços começaram a aparecer. Na partida fora de casa, Iván Alonso e, principalmente, Tomić foram os responsáveis pela imponente vitória do Alavés.
Nas duas fases seguintes, o Glorioso enfrentou adversários noruegueses e, em ambos os casos, fez o resultado no país nórdico. Contra o Lillestrøm, vitória por 3-1 na ida e a manutenção do empate em 2-2 na Espanha. Diante do Rosenborg veio o maior susto, afinal, o empate em 1-1 no Mendizorroza causava dores de cabeça. Mas o 3-1 na volta foi construído com imensa tranquilidade e qualificou o Alavés para as oitavas-de-final da Copa da Uefa, um feito inimaginável para um clube que estava na segunda divisão dois anos antes.
Primeiro gigante
Foto: Reprodução – Os espanhóis fizeram história ao eliminar a Inter em Milão
Nas oitavas-de-final, o Alavés viu o primeiro gigante pela frente: a Internazionale. Invicto e mais tradicional internacionalmente, o time italiano era franco favorito. Sem sentir a pressão de jogar a primeira partida na Espanha e de sair atrás no marcador, a Inter virou para 3-1 sem suar.
Mas, na raça, o Glorioso buscou o empate diante do gigante italiano. Óscar Téllez cobrando falta e Iván Alonso de cabeça deram o placar igualitário à partida. Não era essa a vez que o Alavés conseguiria sua primeira vitória internacional jogando em casa, mas o resultado não era tão ruim quanto se desenhou durante a partida.
Cirúrgico, o Alavés precisou de duas estocadas no final do jogo para eliminar a Inter no Giuseppe Meazza. Na primeira, aos 33 minutos da etapa complementar, Jordi Cruyff acertou um potente chute de canhota e abriu o placar. Cinco minutos depois, Tomić usou do mesmo artifício de Cruyff para marcar o tento que sacramentou a histórica classificação na Itália.
Consolidação em casa
Apesar de estarem invictos jogando em casa, o fato de não terem vencido no Mendizorroza incomodava parte da torcida que ainda não vira de perto o time triunfar. Nas quartas-de-final, esse sonho tinha grandes chances de ser realizado de uma forma ou de outra, afinal de contas, o adversário seria o também espanhol Rayo Vallecano.
Aliás, essa fase foi dominada por times da Península Ibérica. Além da partida espanhola citada no parágrafo acima, Barcelona e Celta de Vigo se confrontaram, sem falar do Porto, que enfrentou o Liverpool.
Mas voltando a falar do Alavés, o time de Mané finalmente agradou a torcida e conseguiu uma grande vitória sobre o Rayo já no jogo de ida, 3-0. A partida de volta se tornou mera formalidade e o Glorioso se deu ao luxo de perder a primeira na competição: 2-1.
Em estado de graça, o Alavés permaneceu com o mesmo pique e atropelou o Kaiserslautern na semifinal. Com 5-1 na Espanha e 4-1 na Alemanha, os espanhóis passaram por cima e confirmaram a inimaginável vaga na final da Copa da Uefa.
O triunfo sobre o Kaiserslautern não foi um triunfo qualquer, já que o time alemão era um dos que estava no bolo de candidatos ao título em seu país. Na semana da partida de ida, o Campeonato Alemão tinha completadas 27 rodadas e a diferença do líder Bayern pro Kaiserslautern, 6º colocado, era de apenas três pontos.
A situação que o Alavés vivia na Espanha era muito diferente. Era o 8º colocado com 40 pontos, estava 19 atrás do Real Madrid, então líder do torneio, e sonhava apenas com a vaga na Copa da Uefa.
O adversário
Foto: Reprodução – O Liverpool de Owen poderia erguer o segundo troféu em uma semana
Na decisão, o pequenino Deportivo Alavés teria pela frente um time de enorme história e de respeito inigualável: o Liverpool. Naquela época, os Reds eram detentores de 18 títulos do Campeonato Inglês, seis da Copa da Inglaterra, seis da Copa da Liga Inglesa, além de quatro da Liga dos Campeões e dois da Copa da Uefa.
O novo título europeu não seria apenas uma nova conquista para o time de Gérard Houllier, mas também a chance de erguer o segundo troféu em menos de uma semana. No dia 12 de maio de 2001, o Liverpool venceu o Arsenal no Millenium Stadium por 2-1 e foi campeão da Copa da Inglaterra. Aquele jogo foi marcante porque os Reds perdiam até os 38 minutos da etapa final, quando Michael Owen apareceu e virou a partida com dois gols em cinco minutos.
Além disso, em fevereiro daquele ano, o Liverpool havia derrotado o Birmingham City pela final da Copa da Liga Inglesa, também no Millenium Stadium. Ou seja, na final do dia 15 de maio, em Dortmund, o time da terra dos Beatles poderia erguer o terceiro troféu da temporada.
Na Copa da Uefa, o Liverpool teve campanha praticamente impecável. Foram 12 jogos, com sete vitórias, quatro empates e somente uma derrota. Além disso, 14 gols foram marcados e sua defesa foi vazada apenas cinco vezes.
A decisão
Foto: Reprodução – Um gol contra decidiu a final de 2001
O Liverpool entrou no gramado do Westfalenstadion, em Dortmund, no 4-4-2 habitual, contando com o retorno do escocês Gary McAllister, que havia ficado de fora da decisão da Copa da Inglaterra. Já o Alavés entrou no cauteloso 5-4-1, apenas com Javi Moreno no ataque. O uruguaio Iván Alonso, um dos grandes nomes da campanha, começou no banco.
Talvez nervoso com a situação atípica em que se encontrava, o Glorioso sentiu o peso da decisão. Com 15 minutos já olhava o placar com dois gols de vantagem para o adversário inglês. Markus Babbel e Steven Gerrard marcaram para o Liverpool em erros do time espanhol.
Mané se viu obrigado a mexer rapidamente. Aos 22 minutos, chamou Alonso e sacou um de seus defensores: o norueguês Dan Eggen. A mexida surtiu efeito imediato e três minutos após entrar, o uruguaio descontou, aproveitando cruzamento de Cosmin Contra, que também fez ótimas aparições na temporada.
Porém, outro erro de passe no meio-campo resultou em um pênalti a favor do Liverpool antes do término do primeiro tempo. Os aproveitadores do erro foram Dietmar Hamann e Michael Owen. O alemão lançou o inglês, que driblou o goleiro Herrera e foi derrubado na sequência. McAllister converteu a cobrança e levou o 3-1 para os vestiários.
Além da entrada do brasileiro Magno no intervalo, a conversa de Mané com os jogadores surtiu grande efeito nos jogadores do Alavés, que buscaram o resultado rapidamente. Javi Moreno, que havia ficado de fora do jogo de volta das quartas-de-final e das duas partidas da semifinal, fez dois gols em três minutos e deixou tudo igual. O primeiro tento foi de cabeça, aproveitando nova jogada de Contra. Já o segundo gol foi cobrando falta por baixo da barreira.
Os dois gols lhe deixaram com seis na competição, empatado no topo do ranking de artilheiros com outros três jogadores: Drulić (Estrela Vermelha), Kuzba (Lausanne) e Nikolaidis (AEK Atenas).
Porém, não era apenas Mané que poderia fazer mexidas úteis. Houllier também agiu e tirou Robbie Fowler do banco de reservas aos 20 minutos. Menos de dez minutos depois, o atacante recebeu de McAllister, limpou a marcação e finalizou no cantinho esquerdo de Herrera, recolocando o Liverpool em vantagem.
Valente, o Alavés foi buscar o empate aos 44 minutos com uma cabeçada de Jordi Cruyff. O filho de Johan pode não ter chegado nem perto do que o pai fez, mas foi de fundamental importância para a campanha espanhola naquele ano. Ele foi o autor de quatro gols, incluindo o que abriu o placar na histórica vitória sobre a Inter nas oitavas-de-final.
O gol em Dortmund forçou a prorrogação, na época, com o temido Gol de Ouro.
No tempo extra, o Alavés foi sentindo o cansaço aos poucos. Sem poder de recuperação com 11, os espanhóis se viram em prejuízo ainda maior quando o brasileiro Magno entrou de forma violenta em Babbel, recebeu o segundo amarelo e foi expulso.
Sem pernas e com 10, o Alavés cedeu à pressão do Liverpool. Faltando cinco minutos para acabar o jogo, Smicer, que entrara no começo do segundo tempo, ia passando fácil por Antonio Karmona. Sem opção, o capitão espanhol puxou o adversário e cometeu falta no bico da grande área. Por já ter amarelo, também foi expulso.
Na cobrança de falta, o pior aconteceu. McAllister cobrou fechado e o zagueiro Delfí Geli, com o intuito de afastar a bola, se antecipou ao goleiro e jogou contra a própria meta. A desolação foi total. Depois de ficar atrás no marcador em duas oportunidades e buscar o empate em ambas às vezes, o Alavés sucumbia no final da prorrogação. Foi o encerramento de um sonho.
Foto: Reprodução – A derrota foi dolorosa para o Alavés
Futuro sombrio
Depois de ir longe na Copa da Uefa, o Alavés sofreu perdas importantes. O Milan veio buscar Cosmin Contra e Javi Moreno, enquanto Ivan Tomić retornou a Roma. Apesar das perdas significativas, o time de Mané seguiu forte e terminou na 7ª colocação na temporada seguinte, retornando a Copa da Uefa na temporada 2002/03.
Porém, de 2003 em diante, o Alavés sofreu uma vertiginosa queda. Já na Copa da Uefa não foi longe, parando logo na segunda fase diante do Besiktas. No Campeonato Espanhol a campanha foi horrível e, na penúltima colocação, foi rebaixado para a segunda divisão. Além disso, Mané havia deixado o cargo de técnico após derrota para o Valencia na 31ª rodada. Na ocasião, o Alavés já ocupava a penúltima colocação e aquele foi o nono tropeço consecutivo, sendo que, desses nove jogos, o Glorioso não havia marcado gols em seis partidas.
Na temporada seguinte, com Pepe Mel no comando, o Alavés ficou em 4º na segunda divisão e não subiu e ainda parou na semifinal da Copa do Rei. Na temporada 2004/05, com Chuchi Cos como técnico, o acesso finalmente veio, mas a festa durou pouco e o Glorioso ficou apenas uma temporada na elite (2005/06).
Desde então não voltou mais. E nem tem passado perto disso. Depois de duas temporadas em que se salvou na bacia das almas, a queda para a terceira divisão veio em 2009. O Alavés voltou para a segunda divisão apenas nesta temporada, mas novamente briga contra o descenso. Após algumas rodadas na lanterna, o time ganhou fôlego e ocupa a 19ª colocação com 33 pontos. Tal posicionamento ainda lhe rebaixa, mas a distância pro primeiro time fora da zona de descenso (Hércules) é de apenas um ponto.
Uma pena que em pouco mais de dez anos, um time que surpreendeu toda Europa esteja sofrendo de tal maneira. É apenas sombra do que era em 2001.
Enquanto novos dias de sol não chegam para o Alavés, recorde como foi a decisão de 2001:
Apesar de nunca ter tido a oportunidade de assistir a um jogo do Borussia Dortmund, Frantz era fanático pelo time. Ele tinha as mais variadas camisas, conhecia todo elenco, a altura, o peso, a família, as namoradas e o restante da ficha técnica e pessoal de cada atleta que vestia o manto aurinegro.
Fanatismo? Nem tanto. Frantz gostava de ver o Borussia Dortmund vencer o Bayern e, principalmente, o Schalke. Ainda assim, não alimentava nenhum tipo de sentimento ruim pelos dois times, o que importava era o BvB e nada mais.
Ricken marcou em uma final de UCL em apenas 16 segundos (Getty Images)
O que era sempre uma época pra lá de especial para diversos torcedores, se tornou uma espécie de “passagem depressiva” para Frantz. A UEFA Champions League nunca foi um torneio que enchesse seus olhos. Nada em relação com a qualidade técnica dos times, com a ganância dos torcedores ou a organização da competição, mas sim pela ausência do Borussia Dortmund.
Por ser jovem, Frantz nunca viu, pelo menos com alguma atenção, seu time em uma Liga dos Campeões, muito menos pôde comemorar o antológico gol de Lars Ricken em 1997, que decidiu o torneio a favor do Dortmund, com apenas 16 segundos em campo.
Era um drama pessoal de Frantz, nem por isso ele deixava de festejar os bons resultados de times alemães, afinal, para ele, com os rivais conquistando feitos satisfatórios em torneios internacionais, significaria que eles estavam se fortalecendo e que isso obrigaria, de algum jeito, o Dortmund a se reforçar também. Posteriormente, o Campeonato Alemão também ficaria com muita força. Mas era indiferente para ele, ganhando a Liga dos Campeões ou não, a imagem do campeão mudaria pouco.
2011 foi o ano em que essa visão de Frantz mudou.
A Bundesliga começava a crescer, não só economicamente, mas tecnicamente também. Jovens jogadores começavam a despontar e a visão de “cintura dura” que assolava o futebol do país estava sumindo, principalmente porque essa nova geração não encontrou dificuldades em se adaptar com o mais antigos.
Por consequência, Frantz via os avanços dos times alemães na Champions League como a ocasião exata para a afirmação do novo momento vivido pelo futebol do país. Para isso, precisou fazer algo arriscado e impensado: criar relação com os rivais.
Para dar sequência a história, retornamos a 2010, quando o Bayern voltou a uma decisão de Liga dos Campeões após quase dez anos. Frantz queria ver o time bávaro campeão, mesmo que seus amigos borussianos torcessem contra. Era o momento de confirmação e a hora certa de mostrar para que a Alemanha viria nos próximos anos.
Apesar da força dada a dupla Robbery e companhia, não adiantou. José Mourinho copou mais uma e a Inter deixou o Santiago Bernabéu com o caneco em mãos.
No ano seguinte, bávaros e nerazzurris se reencontraram pela UEFA Champions League, desta vez, em partida válida pela fase de oitavas-de-final. Na ida, em Milão, o Bayern viu Thomas Kraft brilhar e salvar o time na vitória por 1×0. Estava ali o substituto de Oliver Kahn (só que não)!
Na volta, o Bayern tinha a faca e o queijo na mão. A Allianz Arena estaria toda a seu favor, o time bávaro era melhor – apesar de estar de frente com o atual campeão europeu, “só” desfalcado de José Mourinho – e tinha a vantagem no marcador. Frantz se preparou para o duelo como se fosse o Dortmund que estivesse em campo. Assistiu ao pré-jogo – coisa que não fazia quando o assunto era “times rivais” – preparou uma pipoquinha saborosa, tirou os refrigerantes da geladeira e se apossou do sofá na hora da partida.
O ritual, tão rotineiro em partidas que envolviam o Borussia Dortmund, futuro campeão nacional naquela temporada, não deu certo. O Bayern lutou, criou chances e até fez um gol, mas a defesa, segundo ele, “parecia uma garota desesperada de solidão em uma festa e dava bola para qualquer um que passava a sua frente”.Os bávaros pararam na Inter… de novo!
Mas sua esperança não havia acabado. O time italiano bateria de frente com o Schalke 04, grande rival do Vale do Ruhr. Só que havia um impasse: torcer pelo Bayern, time que, por tantas e tantas vezes, ferrou o Schalke, era uma coisa, até uma espécie de gratidão ou solidariedade aos bávaros, mas querer que os Azuis Reais ganhassem um jogo desse tamanho e representatividade era outra história.
Seus amigos nem hesitaram: eram Inter desde bambini! Joseph, seu melhor amigo, até comprou uma camisa da Inter, branca, é claro, não havia chance de vestir uma camisa azul, apesar das listras pretas. Mas Frantz seguia em dúvida de qual caminho seguir. Seus demais amigos, motivados pela nobre arte da secação, compraram ingressos, sabe-se lá como, para o jogo de volta no setor reservado aos torcedores italianos. Era uma enorme tentação!
Poucos sabiam que Frantz era um cara um tanto quanto rancoroso. Jovenzinho, caiu aos prantos ao ver Fábio Grosso e Alessandro Del Piero marcarem para a Itália contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2006. O jogo foi em Dortmund, o que lhe deixou mais triste ainda. Ver o show de Bastian Schweinsteiger na disputa do terceiro lugar contra Portugal não serviu nem de consolação para Frantz.
As duas derrotas do Bayern para a Inter fez renascer aquela angústia no peito do rapaz que sentia que seria capaz de tudo para ver os italianos, pelo menos uma vez, com uma tristeza causada pelo futebol alemão, nem que fosse torcer pro Schalke. E essa foi sua decisão, querer a inédita classificação do rival para a semifinal. Seus amigos, logicamente, não entenderam. Alguns deles até evitaram o contato nos dias que antecediam ao duelo, queriam evitar um bate-boca sem motivo – como é toda discussão futebolística, convenhamos.
Chegou o dia!
5 de abril, uma terça-feira ensolarada, propícia para adotar o ritual banhado de pipocas e refrigerantes seguido por Frantz. Seus amigos se reuniram na casa de Joseph para assistir ao jogo e secar o rival. O nosso intrépido personagem foi excluído da reunião e preferiu manter sua tradição em sua própria casa.
Frantz nem havia se ajeitado na poltrona e um gol já havia acontecido. Da forma como ele ocorreu, não dava para esperar muita coisa para o time alemão. O argentino Esteban Cambiasso lançou o compatriota Diego Milito em profundidade. Manuel Neuer, como um legítimo líbero, se antecipou e de cabeça afastou o perigo… só que não! Do meio campo, Stanković acertou um chute antológico, coisa rara mesmo, 1×0 para a Inter.
“Já vi esse filme e não gostei”, reclamou Frantz.
Só que houve um engano. O que ele não sabia era que muitos diretores de filmes mudam completamente o roteiro da “parte dois” para chamar um pouco de atenção. Foi mais ou menos isso que aconteceu.
O Schalke balançou as redes do Giuseppe Meazza cinco vezes (Getty Images)
Menos de quinze minutos depois, veio à resposta com Matip, aproveitando um rebote de Júlio César. Quem diria que o camaronês deixaria Frantz alegre por marcar um gol? Ele sempre ria das presepadas de Matip, mas nunca imaginou vibrar com seu tento. Vibrou tanto que deu um soco na almofada que carregava consigo, mandando o sempre bem vindo “chupa” para o time italiano.
Frantz parecia prever o gol da Inter somente quando o holandês Sneijder pegou na bola aos 32 minutos. Visualizou fixamente a TV e parecia dizer com os olhos: “ele tá livre, ele tá livre!”. E ele estava mesmo livre, tão sozinho que botou a bola na cabeça de Cambiasso. No instante em que a bola chegava ao argentino, Frantz explodiu. Saltou da poltrona e mandou um sonoro “OLHA O MEIO!” e viu o Schalke voltar para trás do marcador com Milito.
“Torcer para time ruim dá nisso”, dizia Frantz.
Na parte derradeira da etapa inicial, quando viu Baumjohann correndo sozinho, Frantz parecia pronto para receber o passe. Ele avançou pela sala, driblou o tapete e ficou de frente para TV, na posição exata para mandar a bola pra dentro e correr pro abraço. Lógico que não era Frantz no lance, mas sim Edu. Quando o brasileiro teve o controle da bola, nosso amigo já simulava a finalização. Ao ver o rebote de Júlio César, praticamente implorou para que saísse o chute de Edu e saiu pulando como um garoto ao ver o gol de empate. Para completar, deu um soco tão forte na parede que quase quebrou seus dedos.
Não era um dia normal naquela vizinhança. Frantz, o borussiano, vibrando com o Schalke? Não era possível! O pior… Ou melhor, depende do ponto de vista, ainda estava por vir na etapa final.
Com menos de dez minutos, Raul recebeu um belo passe de Farfán – passe que fez Frantz soltar um sonoro “nooooosa” – e fez o terceiro do Schalke. Acreditem, Frantz estava contido pelo que ainda viria.
No lance seguinte, o espanhol Jurado escapou livre pela direita e o nosso personagem já estava de pé, efusivo, gritando: “Ah, meu Deus! Vai acontecer de novo”. Aconteceu e ainda houve uma mãozinha de Ranocchia, que cortou mal e fez contra.
“Parecia uma garota desesperada de solidão em uma festa e dava bola para qualquer um que passava a sua frente” diria um conhecido de Frantz para descrever a defesa interista (risos).
Não era possível imaginar a cara de parede de seus amigos. Aqueles que, por tantas vezes dividiam as alegrias e tristezas borussianas, agora se viam divididos. Um pulava de alegria como uma criança sabendo que ganhará um sorvete, os outros estavam preocupados com a possibilidade de outro time da região conquistar a Europa.
No gol anotado por Edu, o quinto na partida, Frantz saiu correndo por sua casa, rindo como nunca. Quem o conhecia, saberia que essas risadas eram pela desgraça alheia, a desgraça interista, quem não sabia direito quem era, poderia imaginar que ali estava um fanático azul real.
Soado o último apito, Frantz se recompôs rapidamente, mostrou uma expressão mais séria e respeitosa e desligou a televisão. Embora sua aparência não demonstrasse isso, aquela goleada significou a limpeza da alma. As lágrimas e lamentações que marcaram sua vida em 2006, foram transferidas para a Itália, em uma abrangência menor, é claro, mas com efeito tão destruidor e que satisfazia todas as necessidades psicológicas de Frantz.
Constrangidos, ele e seus amigos não conversaram mais sobre o Schalke, somente quando este era adversário do Borussia Dortmund. Até mesmo os ingressos comprados para o confronto de volta – vitória alemã por 2×1 – não foram utilizados.
O Schalke não conseguiu repetir o feito do rival e parou na semifinal, perdendo para o Manchester United, mas não pôde dizer que não marcou história. Não só isso, marcou a vida de muitos torcedores do time espalhados pelo mundo inteiro e até mesmo lavou a alma de um borussiano. Quem diria?
Obs: Hoje, Frantz é um contente torcedor do Borussia Dortmund e nunca mais precisou recorrer da torcida azul real (risos);