EURO 2012: O grupo do enrosco

Nem grupo da morte, nem grupo das ‘babas’. A chave C da UEFA Euro 2012 tem um favorito claro, porém, não deixa de apresentar a esta equipe adversários conhecidos como “carne de pescoço”.

Atual campeã do torneio, a Espanha pode ser a primeira na história a conquistar a Eurocopa, a Copa do Mundo e de novo o torneio europeu em seguida, por isso é reconhecidamente a favorita do grupo. A Itália despontava como segunda candidata a vaga, porém, um novo escândalo envolvendo o futebol do país atormenta o momento psicológico da seleção. Já a Croácia surge com um time muito técnico e capaz de surpreender, enquanto a Irlanda, mesmo longe de torneios importantes desde 2002, tem jogadores experientes, além de um técnico estrategista.

Confira abaixo a análise dos quatro selecionados.

ESPANHA: Em busca de um feito inédito

Decisivo em 2008, Torres pode receber mais uma chance com Del Bosque

Acostumada a gerar grandes expectativas antes dos torneios, mas não correspondê-las, a Espanha retorna a Eurocopa com fama de favorita e, também, com pinta de que pode novamente conquistar o continente. O time treinado por Vicente Del Bosque pode se tornar a primeira seleção na história a conquistar a UEFA Euro, a Copa do Mundo e novamente o torneio europeu em sequência. Em 2008, quando ainda era comandada por Luís Aragonés, a Fúria ergueu o caneco no seu continente, dois anos depois, já com Del Bosque de técnico, veio o primeiro título mundial.

Mas para a disputa do torneio que inicia na sexta-feira, a Espanha não poderá contar com seu artilheiro, David Villa. O atacante do Barcelona se contundiu em dezembro, na disputa do Mundial de Clubes, e não se recuperou a tempo para a competição. Com isso, a tendência é que Fernando Torres seja seu substituto. O atacante do Chelsea, novamente, não fez boa temporada, porém, foi decisivo no duelo diante do Barcelona na UEFA Champions League, onde fez o gol que eliminou o time catalão.

Caso Torres não engrene, Del Bosque deverá apostar em Fernando Llorente do Athletic Bilbao. O atacante de 1,95 de altura balançou as redes em 29 oportunidades nesta temporada, dezoito vezes há mais que o concorrente do Chelsea.

A ausência de Villa não mudará o estilo de jogo espanhol de muito toque de bola, controle de jogo e movimentação. Os grandes “caras” deste estilo são Xavi, Iniesta – que deverá jogar mais aberto – e Xabi Alonso.

Dentre esses três atletas, surge David Silva. Bem na Euro 2008 e discreto na última Copa – devido a uma lesão -, o meia fez ótima temporada pelo Manchester City e foi um dos grandes responsáveis pelo título inglês, onde foi líder no quesito assistências. Mesmo com uma queda de rendimento na segunda metade da temporada, Silva tem tudo para encontrar sua melhor forma diante dos técnicos companheiros de time.

Na defesa, uma ausência deve ser muito sentida no espírito do time: Carles Puyol. O defensor do Barcelona sofreu uma lesão no joelho no fim da temporada e por isso ficará de fora do torneio. Com isso, Sérgio Ramos deve ser deslocado para o miolo de defesa e formar dupla com Piqué.

A novidade do time está na lateral-esquerda. Após anos e anos atuando com o “patinho feio” Joan Capdevila, o técnico Vicente Del Bosque viu em Jordi Alba, de apenas 23 anos, a solução para seus problemas na posição. Com sete assistências na temporada, Alba tem pouca experiência pela seleção espanhola, mas nos cinco jogos que fez, convenceu a todos de que deveria ser o titular da posição.

Essa é a Espanha, que chega ao torneio como favorita e com a mescla Barcelona-Real Madrid, que tem tudo para dar certo nesta Eurocopa.

CONVOCADOS:

Goleiros: Iker Casillas (Real Madrid), José Manuel Reina (Liverpool-ING) e Victor Valdés (Barcelona)

Defensores: Álvaro Arbeloa, Sergio Ramos e Raúl Albiol (Real Madrid), Jordi Alba (Valencia), Juanfran Torres (Atlético de Madrid) e Gerard Piqué (Barcelona)

Meio-Campistas: Javí Martinez (Athletic Bilbao), Xabi Alonso (Real Madrid), Santiago Cazorla (Málaga), Xavi, Fabregas, Busquets e Iniesta (Barcelona), Juan Mata (Chelsea-ING), Jesus Navas (Sevilla) e David Silva (Manchester City-ING)

Atacantes: Álvaro Negredo (Sevilla), Fernando Llorente (Athletic Bilbao), Pedro (Barcelona) e Fernando Torres (Chelsea-ING)

ITÁLIA: 2006 E 1982 como exemplos

Grande destaque da Juve, Pirlo tentará carregar a Itália na Euro

Em 1982, Paolo Rossi chegava à Espanha para a disputa da Copa do Mundo graças a uma ação judicial que reduziu sua suspensão de três para dois anos. Naquela época, o escândalo Totonero fez com que diversos jogadores fossem presos e Rossi era um deles. No Mundial, o atacante, na época da Juventus, arrebentou e a Azzurra foi tri-campeã do mundo. Vinte e quatro anos depois, outro escândalo futebolístico atacava a Velha Bota, desta vez o Calciopoli. Este caso envolveu os clubes, gerou diversas punições e até rebaixou a Juventus, mas na Copa do Mundo, o Calcio deu a volta por cima e a Itália conquistou o tetra-campeonato mundial.

Em 2012, novo escândalo de apostas e agora com interferência direta na seleção do país. Domenico Criscito é um dos acusados de envolvimento no caso. Atualmente no Zenit da Rússia, o lateral-esquerdo foi excluído da lista de convocados para a Eurocopa.

Diante desses escândalos, a Itália tentará, novamente, se reerguer e levantar o caneco. Para isso, o técnico Cesare Prandelli aposta na mixagem de novos atletas com os mais experientes. No elenco atual, Gianluigi Buffon, Daniele De Rossi e Andrea Pirlo se unem a Fabio Borini, Mario Balotelli e Sebastian Giovinco nesta nova caminhada.

O setor mais produtivo do time é o meio-campo, onde está reunida muita técnica e disposição. Lá estará Andrea Pirlo, grande nome do time. O camisa 21 fez temporada brilhante pela Juventus e será o responsável por dar o toque de classe na faixa central do gramado. Como a Azzurra deve jogar sem um meia-armador, numa espécie de 4-3-3, Pirlo será o grande responsável por trabalhar a bola tanto na defesa, quanto no ataque.

Falando no setor ofensivo, é lá que Prandelli tem suas dúvidas. Mario Balotelli deverá ser titular, mas todos sabem que ele é uma bomba prestes a estourar e ficará sempre aquela interrogação quanto ao limite de sua paciência. Antônio Cassano também deverá ter sua vaguinha no time, mas o AVC que teve no final do ano o deixou durante um bom tempo inativo e acaba gerando dúvidas quanto sua forma física.

Giuseppe Rossi deveria ser o outro titular, mas o atacante do Villarreal ficou fora da lista final por estar com uma grave lesão. Com isso, sobraria uma vaga que seria disputada entre Giovinco e Di Natale. Riccardo Montolivo corre por fora, mas caso entre, será para jogar mais recuado, como um meio-campista.

Independente da formação escolhida, Cesare Prandelli opta por um ataque leve, de movimentação e sem um centro-avante fixo. Basta ver que nomes como Luca Toni e Vincenzo Iaquinta não tiveram vez com o ex-comandante da Fiorentina.

Enquanto isso, a defesa é muito consistente. Mesmo com o problema de Criscito e a lateral-esquerda, a força e rigidez do setor não fogem com a dupla Chielini e Bonucci. Na lateral-direita, Maggio, que atua como um ala no Napoli, mas parece estar se adaptando bem a função mais defensiva na Azzurra. Balzaretti, a surpresa Ogbonna e até Chielini surgem como possíveis substitutos de Criscito.

A Itália chega à Euro desacreditada. Prandelli já chegou a dizer que “para o bem do futebol no país, não seria problema nenhum não disputarem a competição”, mas eles devem jogar e tentar, na base da tradição, peso da camisa e novas ideias, chegar a um novo título europeu.

CONVOCADOS:

Goleiros: Gianluigi Buffon (Juventus), Morgan De Sanctis (Napoli) e Salvatore Sirigu (Paris Saint-Germain-FRA)

Defensores: Ignazio Abate (Milan), Federico Balzaretti (Palermo), Andrea Barzagli, Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini (Juventus), Christian Maggio (Napoli) e Angelo Obinze Ogbonna (Torino)

Meio-Campistas: Daniele De Rossi (Roma), Alessandro Diamanti (Bologna), Emanuele Giaccherini, Claudio Marchisio e Andrea Pirlo (Juventus), Riccardo Montolivo (Fiorentina), Thiago Motta (Paris Saint-Germain-FRA) e Antonio Nocerino (Milan)

Atacantes: Mario Balotelli (Manchester City-ING), Fabio Borini (Roma), Antonio Cassano (Milan), Antonio Di Natale (Udinese) e Sebastian Giovinco (Parma)

CROÁCIA: Despontando como zebras

Após a ausência em 2008, Eduardo se sente aliviado por poder disputar em 2012

A Croácia foi uma das seleções que, de certa forma, herdou a técnica e habilidade da Iugoslávia. Até por isso, podemos considerar o time da marcante camisa xadrez como uma das postulantes a “zebra” na Eurocopa 2012.

A seleção armada por Slaven Bilic é jovem e muito talentosa. O grande nome desta geração é Luka Modric, do Tottenham. O meia tem muita capacidade técnica, além de qualidade para jogar na marcação e na armação do time. É o ponto de equilíbrio da equipe e tem tudo para brilhar na UEFA Euro.

Modric ainda conta com boas peças de apoio. Pela direita, o agressivo Srna deverá aparecer diversas vezes na linha de fundo. No outro lado, Ivan Rakitic deverá usar a parte mais interna do campo, além de arriscar chutes de longa distância. A única dúvida está em quem será o companheiro na faixa central do meia do Tottenham. Uns apostam em Vukojevic do Dynamo de Kiev, outros preferem acreditar que Dujmovic do Zaragoza será o titular.

No ataque, o brasileiro naturalizado croata, Eduardo da Silva deverá escrever a história que deveria ter sido escrita há quatro anos atrás. Na edição de 2008, o atacante, que era uma aposta de Bilic, não disputou o torneio por ter sofrido uma fratura no tornozelo, que o tirou de toda temporada. Agora, atuando na Ucrânia, Eduardo se sente inteiro fisicamente e pronto para ser o homem-gol da Croácia.

Seu parceiro de ataque deverá ser Mario Mandzukic, que entre brigas e abraços com o técnico Félix Magath no Wolfsburg, teve uma temporada regular. O reserva da dupla seria Ivica Olic, porém, o jogador, que recentemente deixou o Bayern, se contundiu e foi cortado. Será a grande chance para Nikica Jelavic do Everton e Nikola Kalinic do Dnipro. Ambos precisarão mostrar serviço para conquistar a confiança de Bilic.

Um problema está na defesa. Corluka e Pranjic atuaram pouco por seus clubes – o primeiro terminou a temporada no Leverkusen -, enquanto Gordon Schildenfeld necessita de mais experiência em jogos grandes. O veterano Josip Simunic deve formar dupla de zaga com Schildenfeld, mas se ele já não empolgava no auge, imagina agora aos 34 anos?

A Croácia deposita suas fichas neste jovem time que tem tudo para fazer uma boa campanha. Com os escândalos abalando o futebol italiano, o selecionado croata surge como uma candidata real a uma vaga para o mata-mata. Basta provarem que são capazes de brilhar como Suker, Prosinecki e Cia.

CONVOCADOS

Goleiros: Stipe Pletikosa (Rostov-RUS), Danijel Subasic (Monaco-FRA) e Ivan Kelava (Dinamo Zagreb)

Defensores: Jurica Buljat (Maccabi Haifa-ISR), Domagoj Vida (Dinamo Zagreb), Vedran Corluka (Bayer Leverkusen-ALE), Josip Simunic (Dinamo Zagreb), Gordon Schildenfeld (Eintracht Frankfurt-ALE), Ivan Strinic (Dnipro Dnepropetrovsk-UCR) e Danijel Pranjic (Bayern-ALE)

Meio-Campistas: Darijo Srna (Shakhtar Donetsk-UCR), Tomislav Dujmovic (Zaragoza-ESP), Ognjen Vukojevic (Dynamo Kiev-UCR), Ivan Rakitic (Sevilla-ESP), Luka Modric (Tottenham-ING), Ivan Perisic (Borussia Dortmund-ALE), Niko Kranjcar (Tottenham-ING), Milan Badelj (Dinamo Zagreb) e Ivo Ilicevic (Hamburgo-ALE)

Atacantes: Nikola Kalinic (Dnipro Dnipropetrovsk-UCR), Nikica Jelavic (Everton-ING), Mario Mandzukic (Wolfsburg-ALE) e Eduardo da Silva (Shakhtar Donetsk-UCR)

IRLANDA: Retranca empolgante

Robbie Keane tentará corresponder as expectativas da eufórica torcida irlandesa

A Copa do Mundo de 2002 foi o último torneio que a Irlanda disputou. De lá pra cá, o time bateu na trave algumas vezes antes de entrar em outra competição. A batida mais dolorosa foi em 2009, quando o time britânico caiu na repescagem para o Mundial diante da França, no fatídico jogo em que Henry deu uma “leve” ajeitada na bola com a mão e tocou para Gallas marcar.

Qualificada para a Euro 2012, a Irlanda conta com o experiente técnico Giovanni Trapattoni, que conseguiu fazer uma mistura chata para os adversários: juntou a força defensiva italiana com antiga truculência britânica. Hoje, a Irlanda possui uma defesa firme e um ataque que baseia seu jogo nas bolas aéreas.

Embora este seja um estilo de jogo feio de se ver, há tempos o povo irlandês não ficava tão empolgado com o futebol. O simples fato de disputar a Eurocopa, mesmo que seja para fazer figuração, já deixa a torcida eufórica, como poucas vezes foi visto.

Os fanáticos mais antigos lembrarão-se da única participação irlandesa na história da Eurocopa, que foi em 1988, e naquela edição, a seleção britânica protagonizou uma das maiores zebras da história do torneio. A vitória por 1×0 sobre a favorita Inglaterra foi comemorada como um título, não só por ter sido a primeira na história da competição, mas por ter sido sobre uma arrogante rival da Grã-Bretanha.

Para conseguir surpreender novamente, Trapattoni leva para Ucrânia e Polônia um time experiente, com quatro remanescentes da campanha de 2002: Robbie Keane, Damien Duff, Richard Dunne e Shay Given. O quarteto forma o grande pilar construído por Trap. Sem eles, nada disso seria possível e um surpreendente avanço para as quartas-de-final também será impossível se os quatro não estiverem em boa ligação.

Entre os veteranos, surge Darron Gibson, de apenas 24 anos. A revelação do Manchester United se notabilizou pelos chutes de longa distância. Nesta temporada, ele ficou sem espaço nos Red Devils e se viu obrigado a mudar de ares e foi jogar no Everton. Esse espaço recebido em Liverpool foi primordial para que pudesse conquistar seu lugar na Eurocopa.

Trapatonni também conta com boas opções de ataque. Além do experiente e ídolo irlandês Keane, o italiano terá à disposição Jonathan Walters do Stoke City e Shane Long do West Brom. Eles marcaram 11 e 8 gols, respectivamente, nesta temporada. A dupla atua na Inglaterra, como boa parte do elenco irlandês. Apenas Darren O’Dea, que joga na Escócia, McGeady, na Rússia e Robbie Keane, nos EUA, atuam fora da Inglaterra.

Essa é a Irlanda, que mesmo longe das competições internacionais há mais de dez anos, apresenta uma equipe calejada e chata. Não deve ir longe, mas tem tudo para ser uma pedra no sapato da tradicional Itália e das técnicas Croácia e Espanha.

CONVOCADOS:

Goleiros: Shay Given (Aston Villa-ING), Keiren Westwood (Sunderland-ING) e David Forde (Millwall-ING).

Defensores: John O’Shea (Sunderland-ING), Richard Dunne (Aston Villa-ING), Sean St Ledger (Leicester City-ING), Stephen Ward (Wolverhampton-ING), Kevin Foley (Wolverhampton-ING), Stephen Kelly (Fulham-ING) e Darren O’Dea (Celtic-ESC)

Meio-Campistas: Keith Andrews (West Bromwich-ING), Glenn Whelan (Stoke Cit-ING), Darron Gibson (Everton-ING), Damien Duff (Fulham-ING), Aiden McGeady (Spartak Moscou-RUS), Stephen Hunt (Wolverhampton-ING), Paul Green (Derby County-ING) e James McClean (Sunderland-ING)

Atacantes: Robbie Keane (Los Angeles Galaxy-EUA), Kevin Doyle (Wolverhampton-ING), Simon Cox (West Bromwich-ING), Jonathan Walters (Stoke City-ING) e Shane Long (West Bromwich-ING)

A única glória de uma grande geração

Como de praxe, nas sextas-feiras tento trazer mais um “Conto da Euro”. A personagem da semana é a seleção holandesa. Acostumada a chamar a atenção por seu futebol vistoso, a Holanda nunca se firmou como uma seleção de ponta. Mas em 1988, Rinus Michels, van Basten e Gullit encerraram com esta sina. Este é mais um “Conto da Euro”.

—————————————————

Campeã em 1988, a Holanda tinha tudo pra conquistar mais títulos (Foto: Bongarts)

Durante toda a história do futebol, a Holanda se notabilizou por formar grandes jogadores. A grande maioria destes atletas demonstrava alta técnica e elegância com a bola nos pés. Porém, a Laranja nunca conseguiu se tornar uma seleção vencedora.

Nos anos 70, tendo como base o Ajax e o “futebol total”, a Holanda conseguiu dois resultados pra lá de expressivos em Copas do Mundo. Em 1974, o time de Rinus Michels mostrou todo seu potencial logo em sua estréia, ao bater o Uruguai por 2×0, tendo enorme facilidade para obter o resultado. Mais tarde, na então existente segunda fase de grupos, os holandeses mostraram ao mundo que não estavam de brincadeira e conseguiram a vaga para a final da Copa ao passar por um grupo que tinha Alemanha Oriental, Brasil e Argentina. Na grande final, o time holandês “travou” e após abrir o placar com menos de dois minutos – a Alemanha literalmente não havia tocado na bola -, o time cedeu a pressão alemã e logo tomou a virada.

Quatro anos depois, na Argentina, a Holanda – já sem Cruyff – precisou seguir um caminho parecido ao de 1974. Para chegar à final, o time na época treinado por Ernst Happel passou por uma segunda fase de grupos complicada, desta vez tendo que enfrentar Itália e Alemanha Ocidental. Mesmo sem lembrar seus tempos de “futebol total”, a Holanda conseguiu sua vaga na final. Mas no último jogo daquela copa, a Laranja sucumbira a Mário Kempes e o Monumental de Nuñez lotado e perdera por 3×1 já na prorrogação.

Foi uma geração que ficou marcada tanto positivamente quanto negativamente. A parte positiva foi na de jogar futebol. Parte essa que foi vitoriosa no Ajax, mas que não foi executada com tanta perfeição no selecionado holandês. Outro ponto positivo daquela geração certamente está no enorme cartel de atletas criados, como Johann Cruyff, Rob Rensenbrink, Rud Krool e Johan Neeskens. A parte negativa não é segredo pra ninguém: a ausência de títulos. Este time que foi formado nos anos 70 conseguira dois vice-campeonatos mundiais e uma semifinal de Eurocopa.

Após essa geração se encerrar, ficava a dúvida na cabeça dos torcedores da Laranja: “será possível termos outro time forte e envolvente como o time de Michels?”. A Holanda precisava fugir da fama que a Hungria pegou. Poderosíssima nos anos 50 e 60, os húngaros nunca mais repetiram atuações parecidas com as que metiam medo nos adversários nos anos dourados dessa seleção. Está difícil até para a Hungria formar bons jogadores, já que os húngaros de maior destaque acabam sendo coadjuvantes de times de meio da tabela, como Hajnal no Stuttgart e Gera no West Bromwich.

O início dos anos 80 geraram certo pavor nos holandeses. Então “bi vice-campeã” do mundo, a Holanda ficou de fora das Copas de 82 e 86, enquanto na Eurocopa, a Laranja caiu na primeira fase em 1980 e nem disputou a edição de 1984.

Após muito tentar e fracassar, a Holanda finalmente conseguiu voltar a uma edição de Eurocopa. Isso aconteceu em 1988, na edição realizada na Alemanha Ocidental. Mas desta vez, a intenção não era entrar no torneio simplesmente pra fazer figuração. Rinus Michels, que voltava a treinar a seleção da Holanda após quatro anos, tinha a sua disposição a dupla do Milan, Marco van Basten e Ruud Gullit. Junto dos dois estavam também Frank Rijkaard – que se juntaria a seus compatriotas no Rossonero após a Eurocopa – e Ronald Koeman. Era um time que não devia nada para ninguém e que poderia brigar pelo título mais cobiçado em nível continental pelas seleções européias.

Ainda é necessário destacar que a base do time era formada pelos dois times mais fortes da Holanda naquela época: Ajax e PSV. Dos 20 jogadores convocados por Rinus Michels para a disputa daquela Eurocopa, dez defendiam a dupla citada anteriormente – cinco pra cada lado. Não custa lembrar que menos de 20 dias antes da estréia holandesa na Eurocopa, o PSV Eindhoven batia o Benfica nos pênaltis e se sagrava campeão europeu. Era apenas mais um motivo para não menosprezarmos a Seleção Holandesa.

A seleção de Rinus Michels estava no grupo B da competição, junto de seleções fortes como União Soviética e Inglaterra, além da Irlanda, na época, estreante em Eurocopas.

Logo na estréia, decepção: a Holanda não conseguiu furar a forte marcação da União Soviética, além, é claro, de não passar pela barreira Rinat Dasayev e acabou perdendo o jogo no contra-ataque. Rácz, em um violento tiro cruzado fez o gol da vitória dos soviéticos.

No outro jogo do grupo, a Irlanda fez o jogo de sua vida e bateu a Inglaterra por 1×0. Pros ingleses, aquele jogo era apenas mais um, pois eles não consideravam os irlandeses “no seu nível”, mas o selecionado irlandês não pensava deste modo. Apenas quatro dos vintes convocados atuavam fora da Inglaterra, então eram motivos pessoais que cercavam aquela partida. A vitória por 1×0, gol de Ray Houghton, foi certamente uma das mais marcantes da história da Irlanda. A seleção treinada por Jack Charlton viria a cometer outro “crime” ao arrancar um empate da poderosa União Soviética, 1×1.

Na segunda rodada, o mundo viu do que Marco van Basten era capaz. O camisa 12, na época com 23 anos, anotou os três gols holandeses na vitória por 3×1 sobre a Inglaterra e deixava o seu país a uma vitória da classificação.

Win Kieft salvou a Holanda contra a Irlanda (Getty Images)

Era confronto direto: Irlanda x Holanda. Os irlandeses de Jack Charlton tinham três pontos e jogavam pelo empate. Já os holandeses de Rinus Michels, com dois, necessitavam dos dois pontos – era o que valia a vitória na época – se quisessem se qualificar para as semifinais.

A partida era muito nervosa. A Irlanda buscava de qualquer modo segurar o resultado que lhe garantiria pela primeira vez na semifinal da Eurocopa. Já a Holanda, necessitando de outro marcador, ia com tudo pra cima, mas esbarrava na retrancada seleção adversária. O gol da vitória custou a sair e veio em um lance de sorte. Após levantamento, Paul McGrath, então jogador do Manchester United, cortou a bola para frente de sua área. A gorduchinha caiu no pé direito de Koeman. O chute dele saiu esquisito, pro chão. Na verdade, o jogador que ganhara dias atrás a Copa dos Campeões com o PSV pareceu ter chutado por chutar. Koeman contou com a sorte, pois a bola foi na cabeça de Wim Kieft, outro campeão europeu. O atacante do PSV cabeceou no contrapé do goleiro Packie Bonner, que fez de tudo para tentar defender, mas a bola fez uma curva estranha e foi parar dentro do gol. A Holanda chegava aos quatro pontos, ultrapassando a Irlanda e conquistando a vaga nas semifinais.

Por fim, foi melhor para todos. A Holanda, time mais forte, conquistava a classificação e a seleção da Irlanda ficava marcada por sua honrosa campanha, que só não foi melhor por causa de um gol sofrido aos 37 minutos do segundo tempo.

Na semifinal, Rinus Michels e seus comandados dariam de frente com um velho algoz: a Alemanha Ocidental. Em 1974, a Laranja Mecânica de Cruyff perdeu a final justamente para esta seleção. Quatro anos mais tarde, essas duas seleções se reencontraram na copa da Argentina e ficaram no 2×2. Em 1980 houve outro encontro entre as duas seleções, na Eurocopa da Itália e novamente deu Alemanha, 3×2, com três gols de Allofs.

Era a hora da verdade – perdão pelo uso do clichê -! A Holanda precisava mostrar se era mesmo a melhor seleção do mundo em 1988 ou se era uma simples freguês da Alemanha Ocidental. Era a verdadeira hora de van Basten, Gullit, Koeman e Rijkaard mostrarem que queriam ficar marcados como vitoriosos na história do futebol.

A semifinal de 1988 lembrou muito a final de 1974. Na Copa do Mundo, o primeiro gol surgiu de um pênalti sofrido por Cruyff, que decidiu dar uma arrancada – após uma série incansável de toques na bola – e só foi parado com falta, no caso, pênalti. Já na Eurocopa, Klinsmann decidiu iniciar uma arrancada somada a uma série de dribles. O atacante do Stuttgart só foi parado por Rijkaard, que cometeu pênalti no alemão. Neeskens converteu a penalidade em 74, Matthäus converteu em 88.

van Basten foi o artilheiro da Euro 88 com 5 gols (Getty Images)

Marco van Basten, que andava meio sumido desde o hat-trick diante da Inglaterra, passou a decidir a partida. Primeiro, o atacante do Milan sofrera o pênalti que resultou no gol de empate de Koeman – assim como em 74, a partida chegava ao 1×1 com dois gols de pênalti.

A partida ia se encaminhando para a prorrogação. Já estávamos no minuto 44 da etapa complementar. Muitos já se preparavam para o tempo extra… outros levavam a sério a frase “o jogo só acaba após o último apito”. Um destes era van Basten, que recebera na grande área e de carrinho mandava pras redes.

Foram precisos dois lances para van Basten encerrar a freguesia de sua seleção perante a Alemanha e colocar a Holanda na final da Eurocopa pela primeira vez na história!

Na final, um adversário bem conhecido: a União Soviética, única equipe que conseguiu derrotar a Holanda naquela edição da Euro.

Na grande final disputada no estádio Olímpico de Munich, a Holanda conseguiu tirar a sua sina de perdedora, de time do “futebol total mas que não vence”. Nem toda força defensiva soviética foi capaz de segurar van Basten e companhia.

No primeiro gol, a União Soviética caiu na própria armadilha. Após levantamento na grande área, a zaga conseguiu afastar a bola, mas todos saíram para fazer a linha de impedimento. Mas van Basten veio de trás e conseguiu fazer o toque para Gullit abrir o placar na decisão.

Com 1×0 contra, os soviéticos seriam obrigados a fazer algo que não estavam muito acostumados: atacar. Em suas quatro partidas anteriores, a União Soviética só havia ficado atrás no marcador uma vez.

Na etapa final viria a prova de que seria impossível tirar o título das mãos holandesas. Nos aproximávamos dos dez minutos, quando Arnold Mühren avançou pela esquerda e cruzou para Marco van Basten. O atacante holandês recebeu a bola no lado oposto do campo, próximo a linha de fundo, com ângulo quase inexistente. Mas van Basten tirou um coelho da cartola: acertou um raro chute de pé direito, fazendo com que a bola tomasse várias direções diferentes, matando Dasayev. Uma obra prima, digna de um monstro como van Basten, que mesmo sendo letal com a bola nos pés, tinha uma elegância com a pelota poucas vezes vista neste planeta. E pensar que o atacante Rossonero só participou da Euro por causa de Cruyff, que o convenceu a disputar o torneio, mesmo tendo perdido praticamente toda a temporada devido as lesões.

Ajax e PSV formavam a base deste poderoso selecionado holandês

Depois deste gol, não havia jeito dos soviéticos tirarem o título da Holanda! Foi o primeiro e único título holandês em uma Eurocopa.

Era esperado que após o esperado título, a Laranja Mecânica finalmente engrenasse nos torneios que viriam à seguir. Mas nada feito. Na Copa de 1990, a Holanda novamente parava diante dos alemães e na Eurocopa de 1992, a Dinamarca brecava os holandeses na semifinal. Foi o último torneio de van Basten, Gullit e Rijkaard, além de Rinus Michels com a Seleção Holandesa. Era o fim daquela geração que tinha tudo pra ser vitoriosa, mas que acabou com apenas um título.

Grupo da morte? Discordo

Toda vez que chegamos no dia de um sorteio para os grupos de uma grande competição, sempre fica aquela expectativa de ver um “grupo da morte”. A expectativa é tanta, que a gente às vezes enxerga um grupo forte e logo já vamos chamando de “grupo da morte”. Na maioria das vezes o grupo só tem uns times de destaque e só, não é um grupo da morte. Pelo menos pra mim, foi o que aconteceu nesta sexta-feira, após o sorteio dos grupos da Uefa Euro 2012.

O grupo B do torneio será formado pelo segundo e terceiro colocado da última Copa do Mundo, respectivamente, Holanda e Alemanha. Além de ter seleções de certo renome, como Dinamarca e Portugal, nomes constantes em Eurocopa.

Logo após a confirmação do grupo, vários comentários surgiram como “temos o grupo da morte” ou “este é o grupo que queríamos ver”. Mas honestamente, discordo da afirmação de que o grupo B da Eurocopa é o “grupo da morte”.

Joachim Löw, Morten OIsen, Paulo Bento e Bert Van Marwijk: técnicos do grupo B (Sports File)

Primeiro de tudo: a Alemanha está acima das três seleções. A Nationalelf não tem uma grande solidez defensiva, porém, o ataque compensa. Podolski, Müller, Özil e Klose formam um quarteto letal. Isso que Jögi Löw tem a disposição no banco jogadores como Götze, Reus e Mário Gomez. Nas eliminatórias, a Alemanha fez dez jogos e venceu todos, tendo marcado 34 gols e sofrido 7. A seleção não só é favorita no grupo como é favorita ao título.

A segunda força do grupo é a Holanda. Atuais vice-campeões mundiais, a Laranja pode não apresentar um futebol vistoso como outrora, mas tem um time muito consistente. O grande pecado do time fica na falta de um homem decisivo. Sneijder acaba sendo mais um “coadjuvante decisivo”. Não é o cara que põe a bola na rede, mas é aquele que sempre deixa os companheiros em condições de fazer o gol. Robben vive machucado e desde que voltou nesta temporada, tem produzido pouco. Van Persie, grande nome holandês do momento, não traduz na seleção o que produz no Arsenal, vide a última Copa do Mundo, onde marcou somente um gol.

A terceira força do grupo fica dividida entre Portugal e Dinamarca. Muito se falou após o sorteio do grupo B que “os dinamarqueses eram a primeira seleção eliminada do torneio”, não por ser mais fraca que alemães e holandeses, mas por serem mais fracos até que os portugueses, claramente colocando a seleção de Portugal no mesmo patamar das duas citadas anteriormente. Não custa lembrar que no grupo H das eliminatórias para a Euro, Dinamarca e Portugal caíram na mesma chave e os dinamarqueses terminaram na primeira colocação, mandando o time lusitano para a repescagem. Claro que a Dinamarca já viveu anos melhores, mas colocá-la abaixo de Portugal é no mínimo desatualização.

O início dos anos 2000 – entenda-se “era Scolari” – foram ótimos para a seleção portuguesa, que conseguiu grandes feitos, como um vice-campeonato europeu e um quarto lugar mundial, mas o time envelheceu, Felipão se foi e o time está se reformulando de forma lenta. Paulo Bento já se envolveu em algumas confusões com alguns jogadores mais experientes e tenta remontar Portugal do jeito que dá, mas o futebol apresentado não agrada tanto assim…

Não é “grupo da morte”. Diria eu que é o “grupo da atenção”. Alemanha e Holanda são as melhores seleções do grupo e estão alguns patamares – ou vários patamares – acima de Portugal e Dinamarca. Mas é aquela história: são seleções perigosas. A atenção definirá os jogos. O time mais ligado levará os três pontos.

DEMAIS GRUPOS

O grupo A com certeza é o mais fraco de todos. Ele será composto por Polônia, República Tcheca, Grécia e Rússia.

Franciszek Smuda, Fernando Santos, Dick Advocaat e Michal Bilek são os treinadores do grupo A (Getty Images)

Quem agradece são os russos, que mesmo não tendo mais aquele brilhantismo de 2008, são os favoritos da chave. O time chegou na Euro vencendo o grupo B e possuem jogadores mais rodados e técnicos, pontos que lhes coloca na lista de favoritos do grupo.

Tchecos e poloneses deverão brigar pela segunda vaga. A República Tcheca já teve times muito melhores do que o atual comandado por Michal Bílek, mas pelo menos este atual time tem experiência, algo que pode ser um ponto pra lá de positivo em um grupo desses. Já os poloneses tem o fator casa, já que terão sua torcida à favor. Não adianta dizer que não adianta de nada, pois se houver uma ligação entre elenco e torcida, adiantará sim.

Gregos correm por fora, mas é aquela história, eles já não mostraram brilhantismo algum em 2004, quando conquistaram o torneio, imagina agora que o time está envelhecido e o futebol no país está quebrado…

Do grupo B já falei, agora chegamos ao grupo C, onde quem se deu bem foi a Espanha, que terá Itália, Irlanda e Croácia como adversários. Os espanhóis são francos favoritos e só uma tragédia os tirará da fase de mata-mata.

A segunda força é a reformulada Itália de Cesare Prandelli. Mas não adiantam apenas os resultados satisfatórios, o time dentro de campo ainda não tem uma grande solidez. Por isso, tudo pode acontecer quando se pega uma Irlanda, por exemplo. Os irlandeses são experientes e “cascudos”. Serão adversários complicados.

O duelo entre Itália e Irlanda marcará o reencontro da Azzurra com Giovanni Trapattoni, experiente técnico italiano e que treinou a seleção italiana de 2000 à 2004.

A Croácia corre por fora e não deve ser excluída. Os croatas tem jogadores de boa qualidade, como Srna, Modric e Olic. Se o conjunto – e a condição física – ajudar, o time pode ser uma das zebras do torneio. Não duvido disso!

O grupo D também é cascudo, ele é formado por França, Inglaterra, Suécia e um dos países sede, Ucrânia.

Enquanto a França sente falta de Zizou, ele coloca a Irlanda no Grupo B (Sports File)

Franceses e ingleses são os favoritos, mas a fase de ambos não ajuda. Les Bleus terminaram 2011 invictos, porém, jogando mal. Laurent Blanc tem testado muita gente e não encontrou uma base firme. Sem falar do fato da França ainda sentir falta de um Zidane. Não precisa exatamente de alguém que jogue como Zizou – como se fosse fácil encontrar outro -, mas precisa sim de um protagonista, de alguém que ponha a bola debaixo do braço e chame o jogo. Falta isso pra França. Já no English Team falta um melhor ambiente interno. Na copa passada tivemos o famoso caso de John Terry e Wayne Bridge. Desta vez, temos as várias trocas de capitão e a suspensão de Wayne Rooney. Somado a isso, Fábio Capello ainda não tem um time bem definido. Assim como na França, dá pra sentir que falta um “algo mais”.

A Suécia pode ser encarada como uma Dinamarca: já foi melhor, mas não pode ser desprezada. A diferença de suecos para dinamarqueses está em Ibrahimovic, esse é o homem que pode decidir para a Suécia, embora ele sofra do mesmo mal de Van Persie, o mal de dar uma sumida nas grandes competições.

A Ucrânia reserva todas as suas expectativas em cima da dupla Andriy Shevchenko e Andriy Voronin. A dupla é experiente, mas são as opções que eles tem. São matadores, o problema fica no resto do time. Não adianta ter dois bons jogadores de frente e os outros 9 jogadores não forem de boa qualidade. Para isso, o técnico Oleh Blokhin torce para que os milhares de torcedores que irão aos estádios ucranianos torcer por sua seleção, façam com que esses jogadores “melhorem”.

Confira a tabela da Eurocopa