No fogo cruzado de Israel

Entre as centenas de milhares de rivalidades ocultas que existem mundo afora, reside em Israel uma das mais explosivas e controversas. Bnei Sakhnin e Beitar Jerusalem não são exatamente rivais, tampouco são comparáveis em tamanho dentro do país, mas são clubes fundamentalmente opostos em suas concepções.

O Bnei Sakhnin, da cidade árabe-israelense de Sakhnin, na Baixa Galileia, é um clube mais novo e menos vitorioso. Fundado em 1991 após a fusão do Maccabi Sakhnin e o Hapoel Sakhnin, o Bnei nunca venceu o Campeonato Israelense, mas, em 2004, se tornou o primeiro time de uma cidade árabe a ganhar a Copa de Israel e representar o país na então Copa da Uefa.

O Beitar, porém, tem história contrária. Fundado em 1936, a equipe de Jerusalem acumula seis títulos nacionais, além de ter disputado torneios europeus com alguma frequência a partir dos anos 90. Entretanto, é fora de campo que as diferenças com o Bnei Sakhnin, e especialmente com os árabes, são explicitadas.

O clube foi fundado lado a lado com a direita israelense e “La Familia”, principal grupo Ultra do clube, é reconhecidamente racista, anti-árabes e defende a “pureza” do Beitar.

O episódio simbólico dessa face perversa envolveu Gabriel Kadiev e Zaur Sadaev, dois jogadores chechenos. Para não me estender nisso, deixo dois materiais que resumem bem: o primeiro é uma reportagem “O gol que revelou a faceta racista do futebol”, feita pela BBC; e a outra é um vídeo do “Casual Football”, contando mais da história do clube.

E no meio disso tudo, há um brasileiro – sempre um brasileiro. Falo especificamente de George Minatto, o Georginho. Natural de Araranguá, no Sul de Santa Catarina, foi revelado pelo Criciúma no fim da década passada, antes de começar a trilhar pelo planeta e parar em Israel em 2015.

Passou duas temporadas no Bnei Sakhnin, onde fez história. Titular e astro do time, o meia atacante colocou a equipe duas vezes na fase final do Campeonato Israelense – apesar de não ter conseguido a vaga na Liga Europa. O destaque foi tanto que parou exatamente no… Beitar Jerusalem.

Em entrevista exclusiva ao Europa Football, Georginho revelou que houve certa revolta da torcida do Bnei e que chegaram a chamar-lhe de “traidor”. Apesar da rivalidade constatada pelo brasileiro, ainda assim, disse ter sido muito bem recebido pela torcida do Beitar.

Georginho defendeu o Bnei Sakhnin por duas temporadas | Foto: Divulgação

E em meio a essa notória rivalidade, vem o objetivo de recolocar o clube de Jerusalem no topo de Israel, o que não acontece há dez temporadas. “A torcida está faminta pelo título”, resumiu.

Se isso acontecer, uma outra meta de Georginho poderá ser concretizada: a naturalização para defender a seleção israelense.

No bate-papo que tive com o atleta do Beitar Jerusalem, falamos bastante da chance de vestir a camisa de Israel, a rivalidade Bnei e Beitar, a temporada israelense e também da vida no país. Confira mais:

Europa Football: Seu caminho em Israel é, no mínimo, curioso. O Bnei Sakhnin é o único clube que representa a comunidade árabe, enquanto o Beitar Jerusalem tem torcida historicamente conhecida por não aceitar árabes, ter atitudes racistas e se considerar um “clube puro”. Você, um brasileiro, como se encontrou no meio dessa confusão?

Georginho: Realmente, existe essa rivalidade pela religião entre os times, mas desde que cheguei ao Beitar, sempre fui muito bem recebido pelo clube, pela torcida e nunca tive nenhum problema pelo fato de ter passado pelo Sakhnin.

O principal rival do Bnei Sakhin é exatamente o Beitar Jerusalem. Como foi essa troca? E as torcidas, como lidaram com isso?

A torcida do Sakhnin ficou revoltada, me chamaram até de traidor. Mas a do Beitar me recebeu de braços abertos.

Deixando a rivalidade de lado, fale mais do Bnei Sakhnin. Como foi jogar lá, já que é um clube que não é dos mais tradicionais do país?

Foi uma experiência muito diferente porque a cultura é árabe. É um time que eu tenho muito respeito. Eles abriram as portas para mim em Israel.

A chegada ao Beitar foi nesta temporada | Foto: Divulgação/Beitar Jerusalem

Nesta temporada, chegasse ao Beitar Jerusalem, que diferentemente do Bnei Sakhnin, é um time mais tradicional. O que sentisse de diferença?

Beitar é um time muito maior. Comparando com o Brasil, é o Corinthians daqui. Tem muito mais cobrança pela parte do clube e da torcida.

A torcida do Beitar não tem uma ficha das mais positivas. Mas gostaria de saber a tua visão, do que já presenciasse e como é a participação deles no dia-a-dia do clube.

É uma torcida que cobra muito, querem sempre que o time ganhe de goleada, eles participam do dia-a-dia do clube, vão nos treinos. A parte boa é que quando o time está indo bem, eles são nosso 12º jogador e tem uma força muito grande para impulsionar o time a conseguir os objetivos.

O Beitar Jerusalem não ganha o campeonato nacional há dez temporadas. No momento, está em 3º, com 33 pontos, três atrás do líder, o Hapoel Beer Sheva. Como é essa cobrança dentro do clube?

É a maior cobrança! A torcida está faminta pelo título. Esse ano, o time está forte e estamos brigando ponto a ponto pela primeira colocação.

O Beitar não foi longe na Liga Europa, caiu na segunda fase para o Botev Plovdiv, da Bulgária. O que faltou para o time?

O time estava se conhecendo ainda e jogo de mata-mata não pode vacilar. Infelizmente, perdemos a chance da ir adiante na Liga Europa.

No seu time, estão dois atletas bem experientes: Yossi Benayoun, ex-Chelsea e Liverpool, e Itay Shechter, que jogou na Bundesliga e Premier League. Como é jogar com esses caras?

O Benayoun é o esportista mais conhecido de Israel e Shechter é nosso capitão. Os dois tem uma influência muito grande dentro do time. É um grande privilégio dividir vestiário com esses dois jogadores.

Com seu sucesso aí, fica inevitável perguntar: pensa em se naturalizar para defender a seleção de Israel?

Sim. Pelo fato da concorrência na seleção brasileira ser muito maior, quase impossível, essa ideia já passou pela minha cabeça. Mas é uma ideia que estou estudando e é um sonho, sim, conseguir o passaporte e defender a seleção israelense.

Perguntando mais sobre a cultura local, o que sentisse de diferença em Israel?

A língua é o maior obstáculo, pois nem todos falam inglês, e o hebraico, que é a língua oficial, é muito difícil. A mistura das religiões também é muito diferente do Brasil.

De que forma esses conflitos que o país vive envolvido afetam no teu dia-a-dia? Há um clima de insegurança em Israel?

Não. A imagem que é passada para o Brasil é totalmente diferente. Aqui é um país muito seguro, a inteligência e o exército de Israel são dos melhores do mundo e eu e minha família nos sentimos mais seguros aqui do que no Brasil.

Lupa na Europa – Ep.5

País de Avi Ran, Mordechai Spiegler, Yochanan Vollach, Yossi Benayoun, Ben Haim, Dudu Aouate e Ben Sahar, país que tem 27.800 km de área, 470 km de comprimento e 135 km de largura máxima, com população calculada de 7.587 milhões de habitantes, de línguas oficiais sendo o hebraico e o árabe e país que teve sua seleção nacional já jogando pela confederação da Ásia, mas desde 91 joga na Uefa, Israel é lar de cerca de 9 jogadores brasileiros. Vamos destacar alguns deles.

GUSTAVO BOCCOLI

Nome: Gustavo Boccoli
Nascimento: 16/02/1978, em São Paulo (SP)
Posição: Meio-campista
Clubes no Brasil: Paraná
Clubes na Europa: Brescia (ITA), Hapoel Ramat Gan, Maccabi Ahi Nazareth e Maccabi Haifa (clube atual)

Gustavo Boccoli - Maccabi Haifa

Gustavo Boccoli está no Maccabi Haifa desde de 2004 e tem uma história vitoriosa nos Verdes. Ele foi tri-campeão israelense (04/05, 05/06, 08/09) e nessa temporada, é titular da equipe. Dos 15 jogos da equipe na temporada, Gustavo participou de 12, mesmo ainda não tendo feito nenhum gol. O Maccabi lidera o Campeonato Israelense, com 34 pontos. Abaixo, confira um vídeo feito com lances de Gustavo no Maccabi Haifa. O detalhe no vídeo é que no início e no fim do vídeo, aparece a torcida cantando seu nome.

DOUGLAS

Nome: Douglas da Silva
Nascimento: 07/03/1984, em Florianópolis
Posição: Zagueiro
Clubes no Brasil: Avaí e Atlético Paranaense
Clubes no exterior: Hapoel Kfar Saba e Hapoel Tel-Aviv (clube atual)

Douglas - Hapoel Tel-Aviv

Douglas está desde 2008 no Hapoel Tel-Aviv e é titular da equipe. Já participou de 12 jogos na temporada. Ele é uma espécie de zagueiro artilheiro e já tem 3 gols na Ligat Al, além de ter marcado contra o Benfica na Champions League. Douglas já passou um susto em Israel. Em 31 de julho de 2009, ele e seu companheiro, Shechter foram detidos no aeroporto de Gotemburgo-Landvetter, na Suécia (onde o Hapoel voltava de um jogo da Copa da Uefa), ambos acusados de estupro. A polícia analisou o DNA do atleta e as fitas de segurança do hotel aonde esse incidente havia ocorrido e Douglas acabou inocentado. O Hapoel está na 2ª colocação com 32 pontos. Na última rodada, seu time venceu o Hapoel Ramat Gan e Douglas fez o segundo dos quatro gols de seu time, veja abaixo.

NIVALDO

Nome: Nivaldo Batista Santana
Nascimento: 23/06/1980
Posição: Zagueiro
Clubes no Brasil: Fluminense (BA), Náutico, Rio Branco, Coritiba, Fortaleza, Paulista
Clubes no exterior: Colo Colo (Chile), Belenenses (POR), Saint Etienne (FRA), Umm Salal (Qatar), Valladolid (ESP), Maccabi Tel-Aviv (clube atual)

Nivaldo - Maccabi Tel-Aviv

Nivaldo já é um pouco mais conhecido. Jogou no Valladolid e até foi titular. Porém, no Maccabi Tel-Aviv, ele não tem sido titular, jogou somente sete vezes na temporada e ainda não tem nenhum gol. Os auriazulinos estão na 3ª colocação, com 26 pontos. Abaixo, veja um vídeo com lances de Nivaldo pelos clubes que ele já defendeu.

WILLIAM

Nome: William Ribeiro Soares
Nascimento: 07/82/1985, em Araporã (MG)
Posição: Meia
Clubes no Brasil: São José e Tanabi
Clubes no exterior: Acadêmica, Fátima, Braga, Gil Vicente (POR), Hakoah Ramat Gan, Hapoel Ramat Gan e Hapoel Beer Sheva (time atual)

William - Hapoel Beer Sheva

William só jogou em times inexpressivos aqui no Brasil, mas já tem certa quilometragem no futebol europeu. No Maccabi Beer Sheva (7º colocado nacional) ele tem jogado constantemente. Dos 15 jogos, ele participou de 14, sendo todas iniciando como titular. Ele ainda não marcou na temporada, e infelizmente, não encontrei um vídeo do atleta, mas é claro, o internauta que encontrar, pode me mandar o link que colocarei no post e ainda darei o crédito.

FABRÍCIO

Nome: Fabrício Silva Cabral
Nascimento: 16/09/1981, no Rio de Janeiro (RJ)
Posição: Meia
Clubes no Brasil: São Paulo, Fluminense, Cachoeiro, Olaria, Americano, Portuguesa, Barueri, Corinthians (AL) e Mesquita
Clubes no exterior: Seongnam (Coréia do Sul), Terek Grozny (RUS) e Maccabi Netanya

Fabrício - Maccabi Netanya

Agora vamos pro 10º colocado do Campeonato Israelense, o Maccabi Netanya, que tem dois brasileiros em seu elenco: David Gomes e Fabrício. É sobre o segundo que falarei. Porém, desde sua chegada, Fabrício tem recebido poucas oportunidades. Na temporada passada fez 12 jogos e nessa temporada ainda nem entrou em campo, mas vale destacar este andarilho da bola que já jogou em meio mundo.