O inferno de Mamadou Sakho

Sakho está fora dos planos de Jürgen Klopp, no Liverpool | Foto: Getty Images

Sakho está fora dos planos de Jürgen Klopp, no Liverpool | Foto: Getty Images

Mamadou Sakho é o típico zagueiro francês: alto, de ombros largos, forte fisicamente e parece ter duas vezes o tamanho que realmente tem. Na França, em qualquer esquina é possível encontrar defensores assim e todo time deve ter um ou dois no elenco.

Entretanto, diferente de muitos outros, Sakho nasceu para o futebol em algo semelhante a um berço de ouro. Formado no Paris Saint-Germain, na época em que o clube não era milionário, o zagueiro era tido como a grande esperança do futuro de uma equipe que era grande só no papel. Ainda longe dos xeiques e das cifras hipnotizantes, os parisienses sonhavam alto e tinham no zagueiro uma grande referência para crescer.

Lapidado desde os 12 anos de idade em Camp des Loges, o defensor cresceu rápido, inclusive sendo titular do PSG campeão nacional sub-18… quando tinha apenas 15 anos. Dois anos depois, já estava entre os profissionais do clube. Em pouco tempo, Sakho foi de promessa a capitão do time e foi um dos que ganhou respeito da torcida parisiense por conseguir transitar da “era pobre” pro momento milionário da equipe.

Ótimo no jogo físico e de boa qualidade técnica para um defensor do biótipo que tem, ele sempre se saiu bem em Paris. Salvo um ou outro equívoco, coisa natural para um jovem, Sakho fez valer todo o cuidado e dedicação que recebeu na base do clube.

Deixou o PSG em 2013 com o título de campeão francês, o ápice que teve pelo clube. Além disso, acumulou conquistas individuais, como Jogador Jovem do ano da União Nacional dos Futebolistas Profissionais (UNFP em francês) em 2011, mesma temporada em que entrou na seleção do campeonato.

Formado em Paris, Sakho foi capitão do PSG durante algumas temporadas | Foto: Divulgação/PSG

Formado em Paris, Sakho foi capitão do PSG durante algumas temporadas | Foto: Divulgação/PSG

Hoje, com 26 anos (fará 27 em fevereiro) e na quarta temporada na Inglaterra, Sakho se vê em cenário totalmente oposto. Longe de Paris, o zagueiro vive um inferno que parece não ter fim em Liverpool, culminando com uma temporada 2016/2017 desastrosa, onde somente entrou em campo pelo time sub-23 dos Reds.

O que agrava a situação do francês é que o problema principal passa longe de estar somente dentro das quatro linhas. Dentro de campo, aliás, acumula boas atuações – apesar de deixar a impressão de que poderia render mais. Ao longo da passagem pelo futebol inglês, entretanto, Sakho possui uma série de episódios controversos, que foram minando-o dentro do próprio clube.

Em 2014, por exemplo, ao saber que ficaria de fora do clássico contra o Everton, simplesmente abandonou o estádio. O episódio foi contornado após um pedido de desculpas. Dois anos depois, teve a suspeita de doping no mês de abril, que fez com que a Uefa o investigasse. O Liverpool optou por afasta-lo durante a investigação. Ele chegou a ser suspenso, mas foi absolvido em julho. Neste meio tempo, perdeu tempo, espaço e ficou fora da Eurocopa, que seria disputada na própria França.

O estopim, entretanto, foi durante a pré-temporada. O atraso no voo para os Estados Unidos, onde o Liverpool se preparava para a temporada, e também para sessões de tratamento médico e refeição desagradaram ao técnico alemão Jürgen Klopp, que o mandou embora da terra do Tio Sam e o afastou para o time sub-23, situação que se mantém até este momento.

A irresponsabilidade na pré-temporada esfriou a relação entre Klopp e Sakho | Foto: Getty Images

A irresponsabilidade na pré-temporada esfriou a relação entre Klopp e Sakho | Foto: Getty Images

Longe da seleção francesa desde março de 2016, Sakho não jogou pelo time principal nesta temporada. A última aparição pelos Reds foi em 20 de abril de 2016, na goleada por 4×0 sobre o Everton, onde foi bastante elogiado pela marcação em cima do belga Romelu Lukaku. Cabe acrescentar que o declínio do francês teve início em um de seus principais momentos no clube, se não o melhor. O zagueiro era titular de Klopp, vinha de boas atuações e com gols decisivos, como na classificação para a semifinal da Europa League, na vitória por 4×3 sobre o Borussia Dortmund.

Porém, o episódio do doping – depois comprovado que era inocente – o deslocou totalmente do cenário do clube. Perdeu espaço e prestígio e não mostrou responsabilidade para recuperar dentro da pré-temporada.

Somado a tudo isso, o histórico de lesões é preocupante e contribuiu para que não conseguisse ter uma grande sequência. Desde que chegou ao Liverpool foram sete problemas, conforme o site Transfermarkt:

– Temporada 13/14: estiramento na coxa – 59 dias;

– Temporada 14/15: estiramento na coxa – 77 dias;

– Temporada 14/15: lesão no quadril – 14 dias;

– Temporada 14/15: estiramento na coxa – 46 dias;

– Temporada 15/16: ruptura dos ligamentos do joelho – 38 dias;

– Temporada 15/16: lesão no joelho – 7 dias;

– Temporada 16/17: problemas no tendão de Aquiles – 42 dias;

Somente por lesão, Sakho perdeu 52 partidas do Liverpool, quase a mesma quantidade de jogos que teve na Premier League: 56. Números estarrecedores que aumentam a sensação de inferno que vive em Liverpool.

O francês agora tem jogado pelo time sub-23 do Liverpool | Foto: Getty Images

O francês agora tem jogado pelo time sub-23 do Liverpool | Foto: Getty Images

O fato é que os Reds querem se livrar de Sakho de qualquer maneira. O problema é que o zagueiro renovou contrato em 2015 e agora tem vínculo até junho de 2020, o que faz com que o Liverpool queira ao menos £20 milhões para deixa-lo sair. Sevilla, Galatasaray e Swansea City surgiram como interessados. Até o fechamento da janela, muita coisa vai rolar.

Sem confiança, sem moral dentro do clube e sem condição física ideal, Sakho, em uma idade onde poderia estar atingindo o auge de uma carreira que iniciou de forma meteórica, hoje se vê no ocaso dela, buscando um clube para jogar e, enfim, voltar a velha forma.

Faltou sorte

Reus no banco: erro ou azar de Klopp?(Getty Images)

Reus no banco: erro ou azar de Klopp?
(Getty Images)

Nas duas derrotas para o Schalke 04 na atual temporada do Campeonato Alemão, o técnico do Borussia Dortmund, Jürgen Klopp, tomou decisões controversas. No primeiro turno, o atual bicampeão nacional veio a campo com três zagueiros e perdeu em casa por 2×1. Mais recentemente, no duelo realizado neste sábado (09), Klopp decidiu deixar Marco Reus, principal contratação do time na temporada, no banco de reservas e viu sua equipe ser novamente derrotada pelo mesmo placar do turno inicial.

A diferença entre as duas decisões de Klopp está na intenção do técnico, por isso, considero que ele errou no primeiro turno, mas levou azar no segundo.

No duelo realizado no Signal Iduna Park, a ideia do 3-5-2 foi totalmente descabida. Jürgen Klopp tentou utilizar um esquema que não havia usado antes, a não ser em jogos que partiu para o desespero e que a organização não valia muita coisa. Em um confronto importante e na época em que o campeonato poderia ficar aberto, ousar dessa maneira foi um erro brutal, afinal, utilizar três zagueiros era uma opção sem fundamento.

Já no duelo mais recente, Klopp tinha uma ideia fundamentada para colocar Reus no banco e iniciar a partida com Kevin Grosskreutz entre os titulares: neutralizar o lado direito do Schalke 04. Os Azuis Reais vinham motivados desde o empate com o Galatasaray pela UEFA Champions League, resultado que deu um gás para o time, além disso, jogavam em casa e partiriam para cima. Logicamente, o Schalke usaria seu lado mais forte, que é o direito de Farfán e do ofensivo lateral Uchida. A entrada de Grosskreutz era para brecar essas ações ofensivas e ajudar Schmelzer na marcação. Isso sempre foi normal, o que espantou foi a saída de Reus e não a de Kuba, que era mais rotineiro.

Obviamente, a entrada de Grosskreutz daria um decréscimo ofensivo, técnico e criativo ao Borussia Dortmund, mas acrescentaria na defesa. Convenhamos, para quem tem Gündoğan, Götze, Kuba e Lewandowski no ataque, um reforço na marcação em troca de força ofensiva não seria uma perda tão sentida.

Porém, o que vimos em campo foi uma superioridade do Schalke, jogando por terra a mexida de Klopp. Farfán e Uchida ‘engoliram’ Schmelzer e Grosskreutz, não à toa, a jogada dos dois gols saíram no setor da dupla amarela. Na volta do intervalo, Klopp se viu obrigado a mexer no time e sacou Grosskreutz e Hummels – que fez outra partida ruim, mostrando estar com forma física ruim – colocando Reus e Şahin. O BvB melhorou em campo e foi superior na etapa final, mas não significa nada se levarmos pro campo da especulação de um possível início nesse sistema tático.

A estratégia inicial foi boa? Sim. Era a ideal? Há controvérsias. O fato é que o Schalke jogou melhor e soube explorar as deficiências do Borussia Dortmund, como a exposição dos zagueiros – impressionante como Bender tem jogado mal – e, claro, a já citada atuação ruim de Grosskreutz e Schmelzer.

É possível que Jürgen Klopp chame para si a responsabilidade, tome a culpa pela derrota e coloque a superioridade azul em cima da mexida que fez, mas eu não o crucifico. A entrada de Reus desde o início não significa que o resultado positivo viria, mas a sua ausência era bem fundamentada. O fato é que no primeiro turno, Klopp inventou e errou feio, neste sábado não foi invenção, mas algo premeditado. Levou azar, acontece, não o crucifico como no primeiro turno.

Şahin voltou! Só falta saber pra onde

Şahin está de volta ao Dortmund

Şahin está de volta ao Dortmund

Durante dez anos, Nuri Şahin prestou serviços ao Borussia Dortmund. O turco chegou jovenzinho ao clube, tinha apenas 13 anos, e foi até gandula nos jogos do timecomo mostra a imagem acima. Şahin, durante algum tempo, foi uma das revelações mais cobiçadas da Europa, chegando a ser considerado “o maior talento sub-18” por Arsène Wenger. O Arsenal tentou trazê-lo, mas “o futuro do Dortmund”, como disse o diretor Hans-Joachim Watzke, não poderia carregar essa alcunha para outro lugar.

Watzke tinha razão. Şahin foi o jogador mais jovem a disputar uma partida da Bundesliga e a marcar um gol também, além disso, com o turco como destaque, o Borussia Dortmund conquistou o Campeonato Alemão na temporada 2010/11, batendo o poderoso Bayern de Munique de Louis van Gaal, que ficaria com o vice da Liga dos Campeões no mesmo ano.

Sua saída, logo após a Salva de Prata ser erguida, foi um tanto quanto precipitada. Apesar da grande participação na conquista e apresentação de características que lhe credenciavam a ser um tão falado “jogador moderno” – marca, sai pro jogo, tem técnica, finaliza bem -, Şahin não parecia pronto para encarar um desafio como jogar pelo Real Madrid. Faltava um “algo mais”.

Com problemas em falar a língua espanhola e com algumas lesões que o tiraram de combate por muitos jogos, o turco fez míseras dez partidas em Madrid. Emprestado ao Liverpool nesta temporada, Şahin também não conseguiu render e apareceu pouco. No geral, foram menos de 25 partidas em um ano e meio fora da Alemanha.

Şahin vestirá a 18 que era de Barrios

Şahin vestirá a 18 que era de Barrios

Şahin decidiu voltar ao lugar que pode chamar de “casa”, o Borussia Dortmund, com um empréstimo do clube espanhol que durará até o fim da próxima temporada. Uma coisa é certa, o turco encontrará um ambiente mais agradável no país do chucrute. O Real Madrid, como todos sabem, é uma sucursal do inferno na Terra, enquanto o Liverpool vive em eterna pressão pela seca de títulos ingleses. Em Dortmund, Şahin encontrará um clube que está em estado de graça com seu torcedor. Não era pra menos, o time é bicampeão nacional e faz campanha espetacular na Liga dos Campeões. Além do mais, o turco é adorado pela torcida e foi muito bem recepcionado por seus fãs.

Mesmo com toda a adoração dos torcedores, fica a dúvida: para onde que Şahin voltou? Para dentro de campo onde será o mesmo protagonista de dois anos atrás ou para trás das placas publicitárias onde era o “gandula” quando garoto? Não há certeza.

Bom futebol Şahin tem, só que o Borussia Dortmund também sabia que Gündoğan teria quando apostou nele na temporada passada. O turco que, diferentemente de Şahin, optou por jogar pela Alemanha, demorou a se adaptar, chegou a ser tornar quarta opção de meio campo, mas hoje, comanda a faixa central borussiana. Gündoğan tem lembrado, em muitos momentos, o próprio Şahin.

Os dois podem jogar juntos na cabeça de área, lembrando que Gündoğan já foi o volante mais fixo com Kehl saindo pro jogo, mas me parece muito inviável. Os dois têm características ofensivas, são meias, praticamente. Valeria expor a zaga de tal maneira?

Jürgen Klopp, pensando nisso, já providencia novas alternativas para encaixar a dupla no time. Em alguns amistosos, o Borussia Dortmund chegou a jogar no 4-3-3 – variando para o 4-1-4-1 que o time se acostumou a usar – com Kehl ou Bender, Şahin e Gundoğan atuando no meio campo. Reus, Götze e Lewandowski formariam a trinca ofensiva.

Esse sistema me parece ser o mais aceitável para o encaixe dos dois, mas uma coisa me deixa encucado: Klopp sacar Kuba do time. O Dortmund pode ter Weidenfeller comandando tudo na defesa, Gundoğan e agora Şahin esbanjando técnica no meio e o trio Reus, Lewandowski e Götze mostrando do que são capazes no ataque, mas Kuba acabava sendo quem movimentava isso tudo, ele é o motor do time. Não custa lembrar que o momento mais turbulento do BvB no primeiro turno da Bundesliga foi quando o polonês esteve machucado. O time não tinha o ritmo e a velocidade que ele impunha.

Mas é nossa obrigação levantar a hipótese de Şahin não repetir as atuações do primeiro título do Dortmund, fazendo com que Kuba não perca seu espaço, mesmo tendo função diferente dentro do time. Hoje, o turco é mais uma incógnita do que uma garantia de bom futebol. Considerei o retorno bom para ambos, afinal, clube e jogador têm uma grande relação de admiração e um histórico de conquistas, mas é uma avaliação prévia.

O retorno de Nuri Şahin é uma “história nova” no Borussia Dortmund, que trás um antigo ídolo, mas fracassado no exterior, até por isso, se torna uma dúvida. Não creio que desbanque Gündoğan, assim como não vejo como esse time jogar sem Kuba. Jürgen Klopp, que baterá de frente com Pep Guardiola na próxima temporada, precisa mostrar, desde já, do que é capaz para encaixar Şahin no time titular, seja como protagonista, seja como gandula.