Ajustes de partida

Reus parece estar há anos no Dortmund

Prestes a iniciar nova rodada do Campeonato Alemão, o atual bicampeão nacional, Borussia Dortmund, já vive momentos decisivos na temporada. O time, que acumula uma vitória e um empate, inicia, na próxima semana, sua caminhada na UEFA Champions League. Se no ano passado, o começo ruim de jornada proporcionou uma precoce queda, antes mesmo do mata-mata, nesta temporada as atenções deverão estar redobradas por ter caído no temido “grupo da morte” do torneio.

O princípio de temporada não é preocupante, também não é totalmente tranqüilo. Mesmo com quatro pontos somados, a defesa borussiana tem tido sérios apagões defensivos, coisa que começou a se tornar rotina ainda no ano anterior. Menos mal que o ataque tem compensado, pelo menos na intensidade de seu jogo.

No setor ofensivo, o que preocupa é o início apático de Robert Lewandowski. Na estréia, diante do Werder Bremen, o polonês pouco tocou na bola e ficou distante, física e psicologicamente, dos demais atletas. Na segunda partida, essa contra o Nürnberg, o atacante participou mais do jogo, mas teve participação discreta. Sem a sombra de Lucas Barrios, Lewandowski não pode cometer o erro de se acomodar e tem de se firmar como um dos principais atacantes do país.

Em contrapartida, não parece existir grande preocupação com Marco Reus. O principal reforço do Dortmund para esta temporada chegou como titular e já tem um gol na temporada. Parece que joga junto há tempos com esse elenco, vide as boas atuações nas partidas iniciais da temporada.

A chegada de Reus também tira, pelo menos, momentaneamente, um peso que atrapalhou o time em 2011/2012. Sem Nuri Şahin, vendido ao Real Madrid, o Dortmund suou sangue para se adaptar sem o turco e pagou o preço de uma primeira metade de temporada decepcionante, caindo na fase de grupos da Liga dos Campeões. Agora, a ausência é Shinji Kagawa, reforço do Manchester United.

Na visão do blogueiro, Götze e Reus têm banca pra substituir Kagawa

Além do mais, na minha humilde opinião, Şahin, em 2010/2011, era mais importante para o time de Jürgen Klopp do que Kagawa era na temporada passada. O turco armava os lances desde a saída de bola, mostrava um repertório variado de jogadas, como dribles curtos, passes rasantes e sua especialidade, lançamentos, enquanto o japonês, mesmo sendo decisivo e abusando da técnica, habilidade e atrevimento com a bola nos pés que tem como dom, é um atleta, digamos, “comum” de se encontrar. Não estou dizendo que Kagawa é um jogador qualquer, ele joga muito, mas o Dortmund trouxe Reus, que tem características parecidas, com o acréscimo de poder ocupar mais setores do campo. Até mesmo Götze pode ser enquadrado nesse quesito. Şahin era o tipo de jogador que diferenciava a qualidade de um time e outro, e como não canso de dizer, no futebol moderno, o volante é o jogador mais importante do elenco, pois é justamente ele quem tem de cumprir mais funções em campo, como marcar, cobrir os laterais, organizar a saída de bola e chegar ao ataque.

A partida deste sábado, diante do Bayer Leverkusen, é o momento crucial para Klopp ajeitar o time, de preferência, colocando uma bateria nova em Hummels, Subotić e em Lewandowski. O grupo na Champions League é complicado, são quatro campeões nacionais, mas não é impossível que passe de fase.

Fazendo uma pequena projeção, podemos imaginar o seguinte para os alemães se classificarem:

– O Dortmund vencer suas duas partidas contra o Ajax;

– Os confrontos entre Real Madrid e Manchester City terem o mesmo vencedor;

– O Dortmund vencer pelo menos um dos jogos contra o perdedor do confronto entre espanhóis e ingleses;

Essa combinação não é garantia de triunfo, até porque, pelas contas, o BVB somaria nove pontos. O ideal seria chegar a uma quarta vitória, aí sim a classificação seria mais certa.

Mas antes de levar essas contas a fundo, antes mesmo até de estrear, Jürgen Klopp deve se preocupar em dar os últimos ajustes no time e chegar à Champions League mais inteiro do que na temporada anterior. Não é uma reforma geral, mas é o que deverá separar o ano de nova queda internacional precoce e perda da hegemonia nacional.

Talvez eu esteja sendo um pouco dramático, mas a verdade é que as atenções do Dortmund têm de estar redobradas, pois está em um grupo na Liga que conta com outros três campeões nacionais e, em âmbito nacional, encontra um Bayern cada vez mais forte.

Às avessas

Agüero proporcionou uma das cenas mais marcantes de 2012

Desde que foi comprado pelo sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, a rotina do Manchester City é ir à forra e gastar pra valer. Segundo o site “Transfermarkt”, o clube inglês gastou 94 milhões de euros em 2011/12, 182 milhões em 2010/11, 147 milhões em 2009/10 e 157 milhões de euros em 2008/09, totalizando quase 600 milhões em quatro anos.

Se na última temporada o dinheiro investido já havia sido mais “modesto”, comparado com valores de temporadas passadas, você nem imagina o quanto que o City gastou para a edição 2012/13 da Barclays Premier League. Os campeões ingleses gastaram apenas 15 milhões de euros e em apenas um jogador, Jack Rodwell.

Caiu a ficha do sheik Mansour e de todos no Manchester City de que “gastar por gastar” não adianta muita coisa. O clube fará barulho, chamará a atenção da mídia e dos torcedores, mas criará uma pressão monstruosa sobre todos que participam deste projeto. Gastando com inteligência e com precisão cirúrgica, tudo pode dar certo.

Afinal de contas, o Manchester City foi campeão inglês, não havia muito para o que mexer. A não ser que Mansour queira, desesperadamente e a qualquer custo, vencer a UEFA Champions League, fazendo com que não meça esforços para chegar a tal objetivo. O título ele quer – quem não quer? -, mas tentando seguir a linha de raciocínio traçada na última temporada.

De que adianta a vinda de Rodwell? Simples! Yaya Touré, peça importantíssima da conquista nacional jogando como meia-armador, teve de jogar várias vezes como volante – sua posição original – para qualificar a saída de bola, que é uma pequena deficiência de Gareth Barry e Nigel De Jong. Rodwell atua nessa faixa central, fazendo o que os ingleses costumam chamar de “box-to-box”, com isso, Touré pode ser efetivado como um meia-ofensivo.

Mesmo com um único reforço, o Manchester City segue muito forte, já que não perdeu ninguém importante e mantém a espinha-dorsal, formada por Joe Hart, Vincent Kompany, Yaya Touré, David Silva e Agüero.

Além disso, o argentino Carlos Tévez tem se redimido de seus atos indisciplinares no passado e tem conquistado a confiança de Roberto Mancini. O treinador italiano já chegou a afirmar que “se tiver vontade de jogar, Tévez é um dos melhores”.

Com esses acréscimos todos, os adversários é que passaram a abrir o bolso para tentar desbancar o City. Até mesmo o vizinho United decidiu mexer-se da cadeira para contratar. Às vésperas do início da Premier League, os Red Devils investiram 30 milhões de euros em Robin van Persie, principal jogador do Arsenal. O holandês se juntará ao também recém chegado Shinji Kagawa, destaque do Borussia Dortmund.

O problema para Alex Ferguson será encaixar essa dupla com Wayne Rooney. No esquema que Fergie costuma utilizar, só caberiam dois deles, no caso, um homem de área e um segundo atacante. Fica a dúvida se o escocês colocará Kagawa como winger ou box-to-box, já que os atacantes deverão ser Rooney e van Persie.

Eden Hazard irá se aventurar em Londres

O time que mais fez apostas interessantes na hora de gastar sua grana foi o Chelsea. Os campeões europeus decidiram reforçar o setor que passava por maior instabilidade: a armação. Caracterizada como uma equipe veloz e de contra-ataque, Roman Abramovich decidiu investir em atletas dotados de maior técnica, como Oscar e Eden Hazard, ambos contratados por mais de 30 milhões de euros.

Mesmo com esses reforços vindo a peso de ouro, a maior esperança dos londrinos está depositada em Fernando “Niño” Torres. O espanhol, contratado por quase 60 milhões de euros em 2011, ainda não decolou em Stamford Bridge e com a saída de Didier Drogba, a diretoria decidiu fazer valer toda a grana investida e dar um voto de confiança a Torres.

Acredito que esse trio deverá brigar pelo título inglês. Foram os que mais investiram nas últimas temporadas e os que possuem elencos mais fortes e competitivos. Chegam forte não só para a Premier League, como para a UEFA Champions League.

A Premier League continuará com seu alto nível. Nos últimos anos, a edição que está para começar é a que tem os favoritos em maior força. O City tem a base campeã, o United se reforçou com o artilheiro da última temporada e o Chelsea trouxe dois brilhantes atletas da nova geração mundial.

É certeza de grandes jogos e emoção até o último minuto!

TOP 7: Dortmund bicampeão!

Após bater o Borussia Mönchengladbach por 2×0 neste sábado, o Borussia Dortmund se sagrou bi-campeão alemão. Foi à oitava vez que o time aurinegro conquistou o maior torneio da Alemanha. Se no último ano eu levantei os sete jogos chave para aquela conquista, desta vez falarei dos sete motivos que resultaram neste novo título.

– Aprendendo a jogar feio

Mesmo jogando mal, o BVB conquistou algumas vitórias (Reuters)

Quem se acostumou a ver o Borussia Dortmund da temporada passada, notou um time de toque de bola envolvente, jogo intenso e muita técnica. Não foi o caso do atual time ter perdido todas essas características, mas em alguns jogos o BVB precisou jogar feio para vencer, como nos duelos contra Hertha Berlin, Bayer Leverkusen e Werder Bremen, onde o futebol apresentando pelos comandados de Klopp foi abaixo do esperado. Na temporada anterior, qualquer jogo em que o Dortmund não conseguisse encaixar seu estilo técnico ia pro buraco.

– Götze

Quando Mário Götze se machucou no final de 2011, tudo parecia acabar para o Borussia Dortmund. Na época da lesão, o time estava jogando muito mal e só o garoto de 19 anos ia se sobressaindo, mas quando ele foi para no estaleiro, justamente o contrário começou a acontecer. O BVB passou a jogar bem sem o camisa 11 e acabou se tornando “independente” dele. Kuba, seu substituto, entrou e arrebentou. Kagawa – tema de um tópico seguinte – também se achou na temporada. Não que a saída de Götze tenha feito bem ao Dortmund, mas a sua ausência pôde mostrar aos demais

– Bons reservas

Um dos problemas da temporada passada do Borussia Dortmund era justamente o banco de reservas. Existiam poucas opções que realmente poderiam decidir jogos vindos da suplência. Isto mudou nos dias atuais. Kevin Grosskreutz e Ivan Perisic se revezavam na meia-esquerda, dependendo da ocasião e proposta de jogo, Jürgen Klopp escolhia um ou outro. Na zaga, Felipe Santana sempre entrou bem e chegou a marcar no clássico diante do Schalke. No 2º turno, Ilkay Gündogan finalmente justificou o investimento e proporcionou uma boa disputa de posição com Sven Bender. Essa variação só ajudou Klopp, que conseguiu ter uma base forte, mas podendo fazer mexidas objetivas!

– Poloneses

Piszczek, Lewandowski e Kuba tiveram boa dose de importância na conquista da Salva de Prata

Na temporada passada, o polonês Lukasz Piszczek já havia sido um dos destaques do Borussia Dortmund na lateral-direita, atuando sempre com regularidade e surgindo bem como uma válvula de escape, mas no bicampeonato ele viu dois conterrâneos lhe darem uma forcinha: Jakub Blaszczykowski e Robert Lewandowski. O primeiro está há muito tempo em Dortmund e sempre foi um reserva atuante, mas com a lesão de Götze, Kuba, como é carinhosamente chamado, ganhou mais oportunidades e foi muito bem. Podemos dizer que ele vive o melhor momento da carreira! Já Lewandowski usou a primeira temporada como adaptação e a segunda para deslanchar. Com Barrios contundido e demorando a voltar à velha forma, Lewangoalski tomou conta da posição e anotou 20 gols na Bundesliga, se tornando o artilheiro da equipe.

– Crescendo nos grandes jogos

Claro que nos torneios de pontos corridos deve-se vencer a maior quantidade de times possíveis, só que às vezes é mais importante derrotar os concorrentes diretos do que os times de meio de tabela. O Borussia Dortmund de Jürgen Klopp passou com êxito nesse quesito. Diante de Bayern, Schalke e Gladbach – 2º, 3º e 4º colocados, respectivamente -, o BVB somou 16 dos 18 pontos possíveis. Apenas um empate com os Potros mudou essa seqüência, que não deixa de ser ótima e mostrando ser um dos grandes fatores para esta conquista.

– Kagawa

Shinji Kagawa perdeu quase todo o 2º turno da temporada passada, mas não fez tanta falta como no início desta edição da Bundesliga, quando curiosamente estava inteiro fisicamente. O japonês iniciou a competição jogando muito mal e amargando até o banco de reservas. Chegou 2012 e com o ano novo veio o “futebol velho” de Kagawa, que passou a ser “O Cara” do Dortmund. A evolução do japonês foi tão grande que não é exagero algum dizer que ele é o melhor jogador da Bundesliga. Nove dos treze gols do japonês foram no 2º turno da competição!

– Jürgen Klopp

Klopp recebeu o tradicional banho de cerveja dos campeões (BVB.de)

Grande mentor deste novo momento do clube, Jürgen Klopp merece boa parte dos méritos possíveis desta nova conquista do Borussia Dortmund. Paizão, o treinador de 44 anos foi quem se livrou de veteranos inúteis, trouxe jovens de valor e soube mesclar com experientes bons de bola, como Roman Weidenfeller e Sebastian Kehl. Não tem como não dar méritos ao e toda sua comissão técnica e diretoria. É difícil imaginar, na Europa inteira, talvez até no planeta todo, um treinador que tenha uma relação tão afetiva com elenco e torcida como Jürgen Klopp.

Parabéns ao Borussia Dortmund e sua imensa torcida pelo bicampeonato alemão!