Da glória ao ostracismo

Foto: Reprodução - O Alavés fez história ao chegar na decisão da Copa da Uefa

Foto: Reprodução – O Alavés fez história ao chegar na decisão da Copa da Uefa

Quando relacionamos times espanhóis com finais de copas europeias, logo nos lembramos de Real Madrid e Barcelona, além do Atlético de Madrid, que ganhou a Liga Europa em duas oportunidades nos últimos anos. O que muitos esquecem é que, certa vez, o pequenino Deportivo Alavés, da província de Álava, chegou a uma final internacional com uma campanha heroica.

Fundado em 1921, o citado clube espanhol nunca havia obtido grandes feitos até a chegada do técnico José Manuel Esnal, o Mané, em 1997. Com ele no comando, o Alavés começou a saga que teve início na segunda divisão e parou com um vice-campeonato continental.

O acesso

O Alavés teve campanha praticamente impecável na segunda divisão espanhola na temporada 1997/98, na qual foi campeão. Em 42 partidas, foram conquistados 82 pontos, sendo o time que mais venceu (24 vezes) e o que menos sofreu gols (25).

Mas o que marcou não foi o acesso, mas sim o início do que seria caracterizado como “copeirismo” do time de Mané. O Alavés foi semifinalista da Copa do Rei, e também contando com uma boa dose de heroísmo.

O drama começou já nas fases iniciais. Contra o desconhecido Aurrerá de Vitoria, o Alavés precisou reverter o 1-0 sofrido na ida para seguir na competição. Venceu por 2-0 na volta e prosseguiu para enfrentar o Real Oviedo, no qual despachou com uma magra vitória por 1-0 na ida e 0-0 na volta.

Na etapa seguinte, mais dificuldades. Diante do Compostela, clube de primeira divisão na época, o Alavés venceu por 1-0 em casa e segurou o 2-2 na volta para se qualificar.

Na fase de oitavas-de-final, o adversário era o poderoso Real Madrid, futuro campeão europeu. No jogo de ida, no Estádio de Mendizorroza, em Álave, com gol de Manuel Serrano, o Alavés bateu o adversário da capital pelo marcador mínimo. Na volta, sufoco em Madrid. Riesco fez 1-0 para os visitantes, mas Roberto Carlos e Šuker viraram o jogo. O tento do atacante croata saiu aos 10 minutos da etapa final e o Alavés se segurou por 35 minutos para conseguir a classificação.

Na fase seguinte, o Alavés passou sem grandes dificuldades pelo Deportivo La Coruña, também time da elite, aplicando 3-1 em casa no jogo de ida e segurando o placar zerado na volta.

Na semifinal veio a queda diante do Mallorca. Com duas derrotas (2-1 na ida e 1-0 na volta), o Alavés deu adeus ao sonho de conquistar a Copa do Rei (que seria vencida pelo Barcelona naquele ano).

Caminho na elite

Em seu ano de retorno à elite do futebol espanhol após mais de 40 anos, o Alavés conseguiu a permanência na primeira divisão apenas na última partida. Antes do início da 38ª rodada, o Glorioso somava 37 pontos, ocupava a 17ª colocação e não possuía chances de queda, mas poderia ficar no playoff contra o descenso. Os adversários diretos eram Villarreal, com 35 pontos, e Extremadura, com 38. Curiosamente, os dois concorrentes se enfrentariam na rodada derradeira.

A fórmula do Alavés era simples: vencer a Real Sociedad e torcer pelo tropeço do Extremadura. Uma derrota o deixaria no playoff, já que os 17º e 18º colocados disputariam esta fase.

Tudo começou tranquilo para o Glorioso e acabou com emoção. Ao término do primeiro tempo dos dois jogos, o Alavés vencia por 2-0 e o Extremadura perdia pelo marcador mínimo. Antes dos 20 minutos da etapa complementar, a Real Sociedad conseguiu descontar com Javier de Pedro e trouxe emoção para a partida.

Aos 36 minutos, David Albelda marcou para o Submarino Amarelo, abrindo 2-0 e, aparentemente definindo a parada. Porém, em menos de cinco minutos, Iván Gabrich marcou dois gols, empatou a partida para o Extremadura, deixando o Alavés com atenção nos dois jogos.

Por fim, os placares permaneceram intactos e, com uma boa dose de sorte, o Glorioso permaneceu na elite espanhola.

Grandes resultados

Na temporada seguinte, tudo mudou. Já com nomes de destaque como Javier Moreno, Hermes Desio e o veterano Julio Salinas, o Alavés fez campanha impecável, ocupando a 6ª colocação ao término do Campeonato Espanhol, obtendo 61 pontos. O desempenho lhe rendeu uma vaga na Copa da Uefa do ano seguinte.

Na temporada do 6º lugar, resultados importantes ficaram marcados para o time, entre estes, 2-0 sobre o Valencia no Mestalla, 2-1 de virada sobre o Barcelona, 2-0 no Atlético de Madrid e 1-0 no Real Madrid.

Saga europeia

Para começar a rotina de mochileiro pelo Velho Continente, o Alavés precisou dar uma modificada no elenco. Entre os reforços estavam o uruguaio Iván Alonso, vindo do River Plate do Uruguai, Jordi Cruyff, contratado junto ao Manchester United, Juan Epitié, atacante de Guiné Equatorial que veio da base do Real Madrid, Mario Rosas, cria do Barcelona, e Ivan Tomić, que veio da Roma.

Em contrapartida, Mané perdeu duas peças importantes para a temporada: o atacante Meho Kodro, autor de cinco gols na temporada anterior, foi para o Maccabi Tel-Aviv (onde encerrou a carreira), e o volante Ángel Morales, que retornou de empréstimo ao Espanyol.

Autor de sete gols na campanha do Campeonato Espanhol, o atacante Javi Moreno foi mantido no clube, diferente do artilheiro do time, Julio Salinas, que balançou as redes oito vezes. O atacante, que disputou as Copa de 1986, 1990 e 1994, tinha 38 anos e pendurou as chuteiras em 2000.

Foto: Reprodução - O veterano Julio Salinas ajudou o Alavés a chegar na Copa da Uefa

Foto: Reprodução – O veterano Julio Salinas ajudou o Alavés a chegar na Copa da Uefa

Mortal fora de casa

Reza a lenda do bom time copero, que para se sair bem em competições mata-mata, seu time precisa saber jogar fora de casa, principalmente pelo temido gol como visitante. O Alavés cumpriu com maestria este quesito.

Nas primeiras fases, o Glorioso sofreu em jogos em casa e precisou sair da Espanha para conseguir avançar. Logo na estreia, empatou sem gols com o Gaziantepspor no estádio de Mendizorroza, mas buscou a vaga na Turquia com uma surpreendente vitória por 4-3, quando esteve duas vezes atrás no marcador.

Já nesta fase, os reforços começaram a aparecer. Na partida fora de casa, Iván Alonso e, principalmente, Tomić foram os responsáveis pela imponente vitória do Alavés.

Nas duas fases seguintes, o Glorioso enfrentou adversários noruegueses e, em ambos os casos, fez o resultado no país nórdico. Contra o Lillestrøm, vitória por 3-1 na ida e a manutenção do empate em 2-2 na Espanha. Diante do Rosenborg veio o maior susto, afinal, o empate em 1-1 no Mendizorroza causava dores de cabeça. Mas o 3-1 na volta foi construído com imensa tranquilidade e qualificou o Alavés para as oitavas-de-final da Copa da Uefa, um feito inimaginável para um clube que estava na segunda divisão dois anos antes.

Primeiro gigante

Foto: Reprodução - Os espanhóis fizeram história ao eliminar a Inter em Milão

Foto: Reprodução – Os espanhóis fizeram história ao eliminar a Inter em Milão

Nas oitavas-de-final, o Alavés viu o primeiro gigante pela frente: a Internazionale. Invicto e mais tradicional internacionalmente, o time italiano era franco favorito. Sem sentir a pressão de jogar a primeira partida na Espanha e de sair atrás no marcador, a Inter virou para 3-1 sem suar.

Mas, na raça, o Glorioso buscou o empate diante do gigante italiano. Óscar Téllez cobrando falta e Iván Alonso de cabeça deram o placar igualitário à partida. Não era essa a vez que o Alavés conseguiria sua primeira vitória internacional jogando em casa, mas o resultado não era tão ruim quanto se desenhou durante a partida.

Cirúrgico, o Alavés precisou de duas estocadas no final do jogo para eliminar a Inter no Giuseppe Meazza. Na primeira, aos 33 minutos da etapa complementar, Jordi Cruyff acertou um potente chute de canhota e abriu o placar. Cinco minutos depois, Tomić usou do mesmo artifício de Cruyff para marcar o tento que sacramentou a histórica classificação na Itália.

 

Consolidação em casa

Apesar de estarem invictos jogando em casa, o fato de não terem vencido no Mendizorroza incomodava parte da torcida que ainda não vira de perto o time triunfar. Nas quartas-de-final, esse sonho tinha grandes chances de ser realizado de uma forma ou de outra, afinal de contas, o adversário seria o também espanhol Rayo Vallecano.

Aliás, essa fase foi dominada por times da Península Ibérica. Além da partida espanhola citada no parágrafo acima, Barcelona e Celta de Vigo se confrontaram, sem falar do Porto, que enfrentou o Liverpool.

Mas voltando a falar do Alavés, o time de Mané finalmente agradou a torcida e conseguiu uma grande vitória sobre o Rayo já no jogo de ida, 3-0. A partida de volta se tornou mera formalidade e o Glorioso se deu ao luxo de perder a primeira na competição: 2-1.

Em estado de graça, o Alavés permaneceu com o mesmo pique e atropelou o Kaiserslautern na semifinal. Com 5-1 na Espanha e 4-1 na Alemanha, os espanhóis passaram por cima e confirmaram a inimaginável vaga na final da Copa da Uefa.

O triunfo sobre o Kaiserslautern não foi um triunfo qualquer, já que o time alemão era um dos que estava no bolo de candidatos ao título em seu país. Na semana da partida de ida, o Campeonato Alemão tinha completadas 27 rodadas e a diferença do líder Bayern pro Kaiserslautern, 6º colocado, era de apenas três pontos.

A situação que o Alavés vivia na Espanha era muito diferente. Era o 8º colocado com 40 pontos, estava 19 atrás do Real Madrid, então líder do torneio, e sonhava apenas com a vaga na Copa da Uefa.

O adversário

Foto: Reprodução - O Liverpool de Owen poderia erguer o segundo troféu em uma semana

Foto: Reprodução – O Liverpool de Owen poderia erguer o segundo troféu em uma semana

Na decisão, o pequenino Deportivo Alavés teria pela frente um time de enorme história e de respeito inigualável: o Liverpool. Naquela época, os Reds eram detentores de 18 títulos do Campeonato Inglês, seis da Copa da Inglaterra, seis da Copa da Liga Inglesa, além de quatro da Liga dos Campeões e dois da Copa da Uefa.

O novo título europeu não seria apenas uma nova conquista para o time de Gérard Houllier, mas também a chance de erguer o segundo troféu em menos de uma semana. No dia 12 de maio de 2001, o Liverpool venceu o Arsenal no Millenium Stadium por 2-1 e foi campeão da Copa da Inglaterra. Aquele jogo foi marcante porque os Reds perdiam até os 38 minutos da etapa final, quando Michael Owen apareceu e virou a partida com dois gols em cinco minutos.

Além disso, em fevereiro daquele ano, o Liverpool havia derrotado o Birmingham City pela final da Copa da Liga Inglesa, também no Millenium Stadium. Ou seja, na final do dia 15 de maio, em Dortmund, o time da terra dos Beatles poderia erguer o terceiro troféu da temporada.

Na Copa da Uefa, o Liverpool teve campanha praticamente impecável. Foram 12 jogos, com sete vitórias, quatro empates e somente uma derrota. Além disso, 14 gols foram marcados e sua defesa foi vazada apenas cinco vezes.

A decisão

Foto: Reprodução - Um gol contra decidiu a final de 2001

Foto: Reprodução – Um gol contra decidiu a final de 2001

O Liverpool entrou no gramado do Westfalenstadion, em Dortmund, no 4-4-2 habitual, contando com o retorno do escocês Gary McAllister, que havia ficado de fora da decisão da Copa da Inglaterra. Já o Alavés entrou no cauteloso 5-4-1, apenas com Javi Moreno no ataque. O uruguaio Iván Alonso, um dos grandes nomes da campanha, começou no banco.

Talvez nervoso com a situação atípica em que se encontrava, o Glorioso sentiu o peso da decisão. Com 15 minutos já olhava o placar com dois gols de vantagem para o adversário inglês. Markus Babbel e Steven Gerrard marcaram para o Liverpool em erros do time espanhol.

Mané se viu obrigado a mexer rapidamente. Aos 22 minutos, chamou Alonso e sacou um de seus defensores: o norueguês Dan Eggen. A mexida surtiu efeito imediato e três minutos após entrar, o uruguaio descontou, aproveitando cruzamento de Cosmin Contra, que também fez ótimas aparições na temporada.

Porém, outro erro de passe no meio-campo resultou em um pênalti a favor do Liverpool antes do término do primeiro tempo. Os aproveitadores do erro foram Dietmar Hamann e Michael Owen. O alemão lançou o inglês, que driblou o goleiro Herrera e foi derrubado na sequência. McAllister converteu a cobrança e levou o 3-1 para os vestiários.

Além da entrada do brasileiro Magno no intervalo, a conversa de Mané com os jogadores surtiu grande efeito nos jogadores do Alavés, que buscaram o resultado rapidamente. Javi Moreno, que havia ficado de fora do jogo de volta das quartas-de-final e das duas partidas da semifinal, fez dois gols em três minutos e deixou tudo igual. O primeiro tento foi de cabeça, aproveitando nova jogada de Contra. Já o segundo gol foi cobrando falta por baixo da barreira.

Os dois gols lhe deixaram com seis na competição, empatado no topo do ranking de artilheiros com outros três jogadores: Drulić (Estrela Vermelha), Kuzba (Lausanne) e Nikolaidis (AEK Atenas).

Porém, não era apenas Mané que poderia fazer mexidas úteis. Houllier também agiu e tirou Robbie Fowler do banco de reservas aos 20 minutos. Menos de dez minutos depois, o atacante recebeu de McAllister, limpou a marcação e finalizou no cantinho esquerdo de Herrera, recolocando o Liverpool em vantagem.

Valente, o Alavés foi buscar o empate aos 44 minutos com uma cabeçada de Jordi Cruyff. O filho de Johan pode não ter chegado nem perto do que o pai fez, mas foi de fundamental importância para a campanha espanhola naquele ano. Ele foi o autor de quatro gols, incluindo o que abriu o placar na histórica vitória sobre a Inter nas oitavas-de-final.

O gol em Dortmund forçou a prorrogação, na época, com o temido Gol de Ouro.

No tempo extra, o Alavés foi sentindo o cansaço aos poucos. Sem poder de recuperação com 11, os espanhóis se viram em prejuízo ainda maior quando o brasileiro Magno entrou de forma violenta em Babbel, recebeu o segundo amarelo e foi expulso.

Sem pernas e com 10, o Alavés cedeu à pressão do Liverpool. Faltando cinco minutos para acabar o jogo, Smicer, que entrara no começo do segundo tempo, ia passando fácil por Antonio Karmona. Sem opção, o capitão espanhol puxou o adversário e cometeu falta no bico da grande área. Por já ter amarelo, também foi expulso.

Na cobrança de falta, o pior aconteceu. McAllister cobrou fechado e o zagueiro Delfí Geli, com o intuito de afastar a bola, se antecipou ao goleiro e jogou contra a própria meta. A desolação foi total. Depois de ficar atrás no marcador em duas oportunidades e buscar o empate em ambas às vezes, o Alavés sucumbia no final da prorrogação. Foi o encerramento de um sonho.

Foto: Reprodução - A derrota foi dolorosa para o Alavés

Foto: Reprodução – A derrota foi dolorosa para o Alavés

Futuro sombrio

Depois de ir longe na Copa da Uefa, o Alavés sofreu perdas importantes. O Milan veio buscar Cosmin Contra e Javi Moreno, enquanto Ivan Tomić retornou a Roma. Apesar das perdas significativas, o time de Mané seguiu forte e terminou na 7ª colocação na temporada seguinte, retornando a Copa da Uefa na temporada 2002/03.

Porém, de 2003 em diante, o Alavés sofreu uma vertiginosa queda. Já na Copa da Uefa não foi longe, parando logo na segunda fase diante do Besiktas. No Campeonato Espanhol a campanha foi horrível e, na penúltima colocação, foi rebaixado para a segunda divisão. Além disso, Mané havia deixado o cargo de técnico após derrota para o Valencia na 31ª rodada. Na ocasião, o Alavés já ocupava a penúltima colocação e aquele foi o nono tropeço consecutivo, sendo que, desses nove jogos, o Glorioso não havia marcado gols em seis partidas.

Na temporada seguinte, com Pepe Mel no comando, o Alavés ficou em 4º na segunda divisão e não subiu e ainda parou na semifinal da Copa do Rei. Na temporada 2004/05, com Chuchi Cos como técnico, o acesso finalmente veio, mas a festa durou pouco e o Glorioso ficou apenas uma temporada na elite (2005/06).

Desde então não voltou mais. E nem tem passado perto disso. Depois de duas temporadas em que se salvou na bacia das almas, a queda para a terceira divisão veio em 2009. O Alavés voltou para a segunda divisão apenas nesta temporada, mas novamente briga contra o descenso. Após algumas rodadas na lanterna, o time ganhou fôlego e ocupa a 19ª colocação com 33 pontos. Tal posicionamento ainda lhe rebaixa, mas a distância pro primeiro time fora da zona de descenso (Hércules) é de apenas um ponto.

Uma pena que em pouco mais de dez anos, um time que surpreendeu toda Europa esteja sofrendo de tal maneira. É apenas sombra do que era em 2001.

Enquanto novos dias de sol não chegam para o Alavés, recorde como foi a decisão de 2001:

Tradição alemã de 54 anos

Desde o final da temporada 1957/58, uma coisa é tradição na Alemanha: o Schalke não será mais campeão alemão. O ano em que a Seleção Brasileira conquistava sua primeira Copa do Mundo também ficou marcado como o último ano em que os Azuis Reais conquistavam o Campeonato Alemão.

De lá pra cá, muitas decepções! A lembrança mais dolorosa de todas foi na temporada 2006/07, quando o Schalke, líder da Bundesliga, foi até Dortmund enfrentar seu maior rival, em jogo válido pela penúltima rodada da competição. Se os Azuis Reais vencessem o derby e a dupla Stuttgart e Werder Bremen, rivais na luta pelo título, perdessem, seriam campeões em cima dos maiores desafetos no futebol. Só que os vários torcedores do Schalke que promoveram uma invasão no Westafalenstadion viram seu time perder por 2×0 e posteriormente, perder o título, ganho na última rodada pelo Stuttgart.

Effenberg participou do lendário "4 minuten im mai"

Ah, não podemos esquecer da temporada 2000/01, quando a torcida do Schalke invadiu o gramado do Parkstadion ao término da vitória sobre o Unterhaching na última rodada da Bundesliga, isso sem a partida do Bayern se encerrar. Eles perdiam pro Hamburgo por 1×0. Resultado: no último minuto, Patrik Andersson fez o gol de empate e que dava o título ao time bávaro, selando assim, um dos maiores micos da história do futebol alemão. Aliás, pro Schalke, mico, pro Bayern, “4 Minuten im Mai”, uma história épica!

Na atual temporada, a história parecia que iria mudar. O Schalke trocou de técnico ainda no início da temporada. Ralf Rangnick decidiu sair, e Huub Stevens retornou – ele era o técnico em 2001 – ao cargo nos Azuis Reais. Tudo parecia ir muito bem! Stevens colocava praticamente o mesmo time de seu antecessor, porém, com uma grande virtude: ele sabia fazer as alterações corretas!

O Schalke vinha fazendo uma temporada impecável! Lutava pelo título alemão e estava muito bem na UEFA Europa League. Só que o “encanto” parece ter acabado.

Após contundente vitória sobre o Wolfsburg, os Azuis Reais bateram de frente com o problemático Bayern de Munich, porém, em um jogo que foram dominados durante 90 minutos, veio a derrota por 2×0. Normal? Nem tanto se lembrarmos que dias antes deste duelo, o Schalke penou para eliminar o Viktoria Plsen da UEL. Em que pese a garra tcheca, o time alemão teve o jogo em mãos, mas com uma soberba do tamanho de seu jejum de títulos da Bundesliga, cedeu o empate. Se não fosse o cansaço e os jogadores a menos – o Plsen teve um atleta expulso e um contundido quando já havia trocado três – do time adversário, dificilmente faria o resultado favorável no tempo extra.

A prova fatal de que não se tratavam de meros “jogos complicados”, veio neste fim de semana. O Schalke foi derrotado na Floresta Negra pelo Freiburg, então lanterna do Alemão, por 2×1. Os jornais alemães já classificam esse mau momento azul real como “crise”. Eu não chegaria a tanto, mas também não pegaria leve.

Stevens está perdido no comando do Schalke (Reuters)

Pra mim, este Schalke parou de “enganar”. Huub Stevens tem tomado decisões duvidosas durante sua passagem. Para alguns, essas eternas mexidas no time titular são normais, pra mim, demonstram a dúvida que ele tem em quem escalar. A começar pela zaga. Stevens não sabe quem é seu lateral-direito. Uchida ganha algumas oportunidades, mas quase sempre é queimado no intervalo. O capitão Höwedes, sabe-se lá porque, ganha várias oportunidades na posição, tendo jogado mal em 90% das vezes. Marco Höger, jogador que mais se deu bem na lateral, só joga lá quando Stevens precisa, porque só o coloca no meio campo.

Na defesa, faltam opções confiáveis. O mesmo Höwedes não joga na zaga, quando poderia ser muito útil por lá. Metzelder, que daria um toque de experiência ao time, vive contundido. Joel Matip é muito instável e Papadopoulos é mediano – é decisivo nas subidas ao ataque, mas gosta de abrir a caixa de ferramentas na defesa.

No meio-campo, Stevens usa o instável Matip na cabeça-de-área, porém, não tem idéia de quem ocupar nas demais posições. Holtby e Jurado podem jogar ao lado do camaronês, mas ambos são muito irregulares. Höger também joga lá, mas como foi dito acima, ele se dá melhor na lateral. Na faixa direita, joga Farfán. Mesmo eu achando que ele não joga tudo que se fala, o peruano é importante pro time azul real e cumpre bem sua função na faixa direita. Mas na esquerda? Quem joga? Draxler? Obasi?

No ataque é inquestionável, jogam Raúl – esse mais recuado, quase como um armador – e Huntelaar, mas para substituí-los, Stevens parece confiar mais no mediano – estou sendo bonzinho – Ciprian Marica do que no jovem Teemus Pukki, que nas oportunidades que recebeu, foi muito bem.

Nesse tapinha de pé direito, Ribéry fez um dos gols do Bayern (Reuters)

Vamos falar a verdade: Huub Stevens não faz essas mexidas achando que a rodagem no elenco faz bem, ele simplesmente não tem idéia de quem jogar! São essas dúvidas que vão minando o Schalke da luta pelo título. Os Azuis Reais só venceram o Gladbach dos três times que estão acima, mesmo assim, no 2º turno tomou uma porrada dos Potros. O Schalke perdeu as duas partidas pro Bayern e saiu derrotado do Signal Iduna Park no duelo contra o Dortmund.

Ao que pese o reajuste do Freiburg com Christian Streich – o time tem mais conjunto sem Cissé -, a partida do sábado parece ter selado o destino do Schalke na Bundesliga. 11 pontos atrás do líder Dortmund, com problemas pra vencer jogos grandes e com um técnico que não tem idéia do que está fazendo, os Azuis Reais passam a se preocupar com a manutenção da vaga na Champions League!

TÓPICOS DA RODADA

>O Borussia Dortmund bateu o Mainz por 2×1 e disparou na liderança, com 7 pontos de vantagem pro Bayern. Foi a oitava vitória seguida do BVB, feito inédito na história do clube na Bundesliga;

>O Bayern perdeu mais uma, 2×0 diante do Leverkusen. Robin Dutt, outrora chamado por mim de medroso, foi muito corajoso neste duelo, ao deslocar Castro para a lateral-direita e jogar com dois centro-avantes na etapa final;

>Müller, que já havia discutido com Holger Badstuber nos vestiários, após o duelo contra o Basel na Champions League, bateu boca com Jêrome Boateng no meio da primeira etapa no jogo de ontem;

>Essa foi mais uma prova de que é hipocrisia jogar a culpa do mau momento bávaro na ausência de Schweinsteiger. O Bayern jogou novembro e dezembro sem ele e foi muito bem. Não custa reforçar que Schweini voltou jogando mal. Foram poucos jogos, é verdade, mas estava em péssima forma técnica. Esse time do Bayern é rachado! Já era desde os tempos de van Gaal e agora com esta má fase, só ficou mais escancarado ainda;

>O Hamburgo pegou uma síndrome contrária a do rival regional, Werder Bremen. Os Verdes são leões em casa e gatinhos mansos fora. O HSV é o inverso e reforçou isto nesta rodada. Derrota por 4×0 diante do Stuttgart e já são cinco jogos sem vencer em casa. O Hamburgo sofreu 14 gols em 5 jogos jogando na Nordbank-Arena;

>Em compensação, o HSV não perde fora desde setembro;

>Segundo jogo seguido sem Herrmann, segundo tropeço. Incrível como o Gladbach sente falta dele! Os Potros ficam sem velocidade alguma. A derrota foi diante do Nüremberg;

>Pobre é Lucien Favre, que além de ter pouquíssimas opções no banco, ainda vê Reus, Arango e Hanke atuando de forma ridícula;

>O Kaiserslautern ficou no 0x0 com o Wolfsburg e chegou ao 14º jogo sem vitórias! O time ocupa a lanterna e Marco Kurz começa a ter seu emprego ameaçado;

King Otto voltou!

Em 1993, o Bremen ganhou sua terceira Bundesliga. Rehhagel era o técnico

A primeira passagem de Otto Rehhagel pelo Werder Bremen foi em 1976, mas por lá permaneceu pouco tempo, só uma temporada. Em 1981, ele retornava para a sua velha casa, mas desta vez, para ficar. Rehhagel ficou catorze anos em Bremen, tendo conquistado dois títulos da Bundesliga e mais dois da DFB Pokal, além de uma Cup Winners’ Cup. Tais conquistas lhe deixaram popular entre os torcedores, que passaram a lhe chamar de “King Otto”.

Em 13 de fevereiro de 1995, Rehhagel anunciou que deixaria o comando do Bremen no término da temporada, pois queria “novos desafios”. Este desafio foi no todo poderoso Bayern, mas com problemas de relacionamento com alguns “figurões” do time, não durou mais de uma temporada. O então técnico bávaro pregava que “a estrela do time era o grupo” e nomes consagrados, como Jean-Pierre Papin e Mehmet Scholl não gostaram muito disso e reclamaram em público da insatisfação com os métodos de treinamento de Rehhagel.

Em 1996, King Otto renascia. No comando técnico do Kaiserslautern, ele levou os vermelhos a seu quarto – e último – título alemão, isso em 1998. E o apelido de “Rei” se tornava algo mais fixo no currículo do treinador.

Otto Rehhagel ainda conseguiria em 2004, o enorme feito de levar a Grécia ao título europeu. Após o término da campanha grega na Copa do Mundo de 2010 – onde a seleção conseguiria marcar seus primeiros gols em mundiais, além da primeira vitória em sua história na competição -, o treinador, na época com 72 anos, decidiu deixar a seleção.

Após um pequeno tempo de inatividade, King Otto ressurge e assumirá o Hertha Berlin na segunda metade da temporada alemã.

Rehhagel já está treinando o Hertha (Foto: herthabsc.de)

Rehhagel é o nome certo para o clube da capital. Na verdade, é o nome certo para a diretoria do clube, que acha que atualmente, o Hertha ocupa um status que não possui, de time que luta por títulos. Em outras palavras, eles acham que o time está no mesmo patamar de Bayern e Dortmund. No quesito técnico, as decisões do diretor esportivo, Michael Preetz mostram bem isso.

O Hertha tinha um treinador jovem e muito promissor, Markus Babbel, que aceitou o desafio de tirar o clube da segundona e assim o fez. O time começou bem a temporada – nas vésperas do duelo diante do Bayern, se falava até em vencê-los, coisa que não aconteceu -, mas após uma série de maus resultados, a pressão aumentou e o clima entre Babel e Preetz esquentou. A corda arrebentou no lado mais fraco e o treinador caiu.

Em seguida, veio Michael Skibbe. Tava na cara que era uma bola fora da diretoria. Skibbe foi rebaixado com o Eintracht Frankfurt e não durou mais que cinco jogos. Foram cinco derrotas em seus míseros cinco jogos e ele foi mandado embora.

A diretoria do Hertha se sente por cima da carne seca, acham que um time que tem Ebert, Kobiashvilli e Mijatovic pode ir longe. Então, trouxeram um treinador que julgam ser da altura atual do clube.

Soberba berlinense à parte, não deixa de ser um bom nome. Rehhagel tem tudo pra botar ordem nos conturbados ares de Berlin. Experiente – 73 anos – e com títulos na bagagem, King Otto pode salvar o Hertha de um vexatório novo rebaixamento. Tem um time razoável em mãos – mesmo com os três citados anteriormente – e com respaldo da diretoria, tem tudo para colocar o Hertha numa posição mais honrosa.

Citei no parágrafo anterior o “respaldo da diretoria” berlinense, acredito que ele virá pelo que Otto Rehhagel representa no futebol alemão. Tem nome forte e história no país. Vai ser complicado passar por cima de sua autoridade. Skibbe e Babbel, dois técnicos que ainda não tem a “cancha” de um King Otto e não sobreviveram aos duelos internos.

King Otto é lenda viva da Bundesliga (Foto: herthabsc.com)

Só para exemplificar essa experiência de Rehhagel: ele será o segundo técnico mais velho da Bundesliga, com 73 anos e seis meses. O mais velho foi Fred Schulz, que com 74 anos de idade, treinou o Werder Bremen em 1978. Porém, Otto é o mais “calejado”, tendo participado de 820 partidas como treinador, nenhum outro técnico tem números iguais ou superiores.

King Otto chega pra ser muito mais do que um treinador do Hertha Berlin, ele chega pra botar ordem na casa… Doze anos depois de sua saída da Bundesliga!