Aos 19 anos, Aouar é uma das peças de desequilíbrio do Lyon | Foto: S. Guiochon/Le Progres
É difícil citar quem seria o principal jogador formado nas consagradas academias do Lyon, mas o certo é que entre tantos nomes citados, o de Karim Benzema estaria nas cabeças, seja pela qualidade e pelo que entregou dentro de campo, seja pela bem-sucedida carreira já fora do clube. E é exatamente sob as bênçãos do franco-argelino que surge a nova joia bruta do clube: Houssem Aouar.
Assim como Karim, o meio-campista de 19 anos tem raízes na Argélia, mas, por ter nascido em Lyon (curiosamente, nasceu em meio a Copa do Mundo no país, em 1998), adotou a França como casa. Igualmente ao madridista, Aouar também foi lapidado no OL assim que chegou ao clube aos 11 anos de idade.
Desde então, queimou etapas, explodiu no sub-17 ainda abaixo da idade limite (aos 16 anos, fez 27 gols e deu 15 assistências em uma única temporada na categoria) e defendeu a equipe sub-19 sem nem ter 17 anos. O caminho natural era crescer cedo entre os profissionais, e é isso que estamos vendo de Aouar desde 2016/17.
“Eu gosto dele. Ele é técnico, tem boa visão e se bem trabalhado, pode ir longe”, disse Benzema no mês de março a RMC. E sob a bênção de Karim, começou a trajetória do meia.
Assim como em outros tantos casos da história recente do Lyon, Aouar ganhou espaço mediante a lacuna deixada por outros atletas mais tarimbados que não corresponderam. No caso dele, foi do holandês Memphis Depay, contratado por pomposos 25 milhões de euros, mas que viveu períodos de inconstância nos primeiros seis meses de França. Como Maxwell Cornet e Rachid Ghezzal não ofereciam a competitividade desejada, Aouar passou a garimpar espaço.
Já havia sido assim com Alexandre Lacazette tomando lugar de Jimmy Briand, com Maxime Gonalons ocupando brechas de Jean II Makoun e, mais recentemente, com Mouctar Diakhaby desbancando Nicolas N’Koulou. Depay, que chegou ao OL com status de estrela, se viu obrigado a jogar mais após ver a presença de um atrevido garoto de 19 anos.
Versatilidade como ponto forte
Aouar e seu fino trato com a bola | Foto: Instagram Oficial/Aouar
Aouar é o que muitos chamam de “falso lento”: parece caminhar em campo, estar desligado da partida, quando, na verdade, está atento 100% do tempo, possuindo uma agilidade e rapidez de pensamento impressionantes. A capacidade de leitura de jogo e movimentos também chamam a atenção no garoto de precoces 19 anos.
Observando esses predicados, o técnico Bruno Genesio já encontrou algumas fórmulas para encaixar Aouar no time titular, mesmo tendo um poderoso setor ofensivo com o já citado Depay, Mariano Diaz e Bertrand Traoré. Mediante a versatilidade do garoto, que tem o drible para abrir espaços pelo lado, mas possui o passe que quebra linhas, já o aproveitou na primeira faixa do meio-campo, ao lado de Tousart, em um 4-2-3-1.
Apesar de atuar também pelos lados (assim que começou a incomodar Depay), foi na função encontrada por Genesio que conseguiu ser mais influente para o time. Pode não ser um meio-campista rompedor, como era Corentin Tolisso, transferido do Lyon para o Bayern nesta temporada, mas é combativo, enxerga e preenche bem os espaços e possui passe de extrema qualidade, capaz de romper linhas adversárias. Curiosamente, sempre teve como referências o próprio Tolisso e Juninho Pernambucano, que jogavam exatamente naquela função.
Fora essas virtudes no passe, Aouar é um driblador nato. Somando esta qualidade ao raciocínio rápido e leitura de movimentos de adversários, ele se mostra capaz de fazer os mais ríspidos marcadores parecerem baratas tontas quando baterem de frente com ele.
Hoje, Aouar está no time ideal do Campeonato Francês do site WhoScored, especializado em estatísticas, com média de 7.6. Já o Squawka aponta que ele tem média de 85% passes certos, sendo que 57,5% são passes para frente. Fatalmente, será eleito a revelação da temporada na França e, com alguma sorte, poderá pintar na lista dos favoritos de Didier Deschamps para a Copa da Rússia – por que não?
Sorte a nossa de ver mais um talento puro que o Lyon apresenta para o mundo. Sob as bênçãos de Karim, será mais um que nos fará admirar ainda mais o bom futebol que une em um único jogador as maiores virtudes argelinas e francesas.
Em troca de ano é normal que, em vários setores da sociedade, todas as ações realizadas durante os últimos 12 meses sejam revistas e avaliadas. No blog, como não tive a mesma disponibilidade de tempo como em outras épocas, não daria pra fazer um apanhado com os melhores posts, mas ainda assim dá para fazer um balanço de 2014.
Como o Europa Football tem um foco maior no futebol francês, até mesmo pelo Le Podcast du Foot, decidi levantar os nomes que foram destaque na terra dos vinhos no último ano. Seria uma lista de cinco nomes, mas enquanto vasculhava mais e conversava com alguns colegas, fui encontrando outros personagens e fechei o ranking com os dez “caras” do futebol francês em 2014.
Sem mais enrolações, vamos a eles:
10 – Didier Deschamps
Foto: AFP
A participação mais digna da França em uma Copa do Mundo neste século foi em 2014, mesmo tendo sido eliminada nas quartas-de-final. Em 2002, caiu na primeira fase, especialmente abalada pela lesão de Zinedine Zidane as vésperas da estreia; em 2006 até ficou com o vice-campeonato, mas as eternas polêmicas do técnico Raymond Domenech chamavam a atenção (lembrando que Ludovic Giuly, em alta no Barcelona, não foi convocado. Segundo o atleta, não foi chamado porque teve um caso com a esposa de Domenech), além da expulsão de Zizou na final por dar uma cabeçada em Marco Materazzi, da Itália; em 2010, o maior vexame de todos na África do Sul, com boicote do elenco e tudo mais. No Mundial do Brasil isso foi diferente e tudo passou pela disciplina do técnico Didier Deschamps.
Com uma equipe bem armada e com atletas mais comprometidos, a França de DD terminou 2014 com apenas uma derrota (o 1×0 diante da Alemanha, que tirou os Bleus do Mundial). Foram 15 partidas, dez vitórias, quatro empates e uma derrota – 75,5% de aproveitamento.
Deschamps teve um ano pra lá de proveitoso após passar maus bocados no Marseille nos últimos anos. Ter feito à França sair da Copa do Mundo com dignidade após muito tempo já foi uma grande credencial para entrar em nossa lista.
9 – Lucas
Foto: C. Gavelle – PSG Officiel
O atacante Lucas, do Paris Saint-Germain, talvez não guarde 2014 como um de seus grandes anos, especialmente porque ficou fora do grupo que defendeu a seleção brasileira na Copa do Mundo, mas na França ele não tem do que reclamar. Após 2013 penoso, onde teve imensas dificuldades em se adaptar ao 4-4-2 britânico de Carlo Ancelotti, o menino dos 40 milhões de euros se acertou em 2014 e é um dos principais nomes do milionário PSG de Laurent Blanc.
Lucas encerrou o ano tendo participado de 54 jogos, sendo 36 como titular, anotando oito gols e nove assistências. Nesta temporada, o camisa 7 parisiense participou de 26 jogos e esteve no 11 inicial em 21 oportunidades.
Este ano ainda, o brasileiro terminou em terceiro no ranking de assistências da última temporada da Ligue 1 com dez passes para gol. O bom desempenho em Paris o levou de volta para a seleção brasileira com o técnico Dunga e o deixou como o nono lugar em nosso ranking.
8 – Alexandre Lacazette
Foto: S. Guiochon – Le Progrès
Clément Grenier? Yohan Gourcuff? Não, quem responde como principal nome do Olympique Lyonnais em 2014 é Alexandre Lacazette. Apenas no primeiro turno da Ligue 1 na atual temporada, o atacante de 23 anos foi responsável por 55% dos gols do time – 17 gols e cinco assistências.
Lacazette encerrou o ano com 23 gols em 38 jogos. Foram 3108 minutos em campo, o que lhe deu uma média de um gol a cada 135 minutos, ou seja, um tento a cada um jogo e meio. O atacante do Lyon terminou a primeira metade da temporada como artilheiro da Ligue 1 e terceiro colocado no ranking de assistências.
Na edição anterior do Francesão, ele já havia sido o goleador do OL com 15 gols, sendo o sétimo na tábua geral. Os espantosos números o colocam, justamente, em nosso ranking.
7 – Franck Ribéry
Foto: Splash News/AKM-GSI
Franck Ribéry é o único jogador que entra nessa lista mais no aspecto negativo do que positivo. Indispensável para a seleção francesa que viria ao Brasil para a disputa da Copa do Mundo, o meia-atacante do Bayern de Munique teve um problema nas costas no fim da última temporada e não participou dos amistosos de preparação, sendo cortado posteriormente.
Até aí tudo bem, não é mesmo? Problemas assim acontecem em todas as Copas do Mundo. Mas aí vieram as controversas férias de Ribéry em Ibiza, na Espanha. Enquanto a França disputava o Mundial, o atleta do Bayern dava saltos ornamentais na praia espanhola. Aparentemente, as dores nas costas foram milagrosamente curadas pelos efeitos da Marijuana. Ressalte-se também que, segundo Le Figaro, o atleta foi convidado pela Federação Francesa de Futebol para dar apoio à delegação no Brasil antes do jogo contra a Alemanha, mas teria recusado o convite.
Já era sabido, também, que aquela seria a sua última Copa do Mundo, mas o que poucos esperavam era o anúncio de sua aposentadoria da seleção aos 31 anos, tendo uma Eurocopa na própria França em 2016.
Enfim, a passagem de Ribéry pela seleção francesa acabou de forma controversa. Foram duas Eurocopas, dois mundiais, 81 jogos e 16 gols, o mais importante deles talvez tenha sido o que reproduzo abaixo, contra a Espanha, nas oitavas-de-final da Copa do Mundo de 2006.
6 – Zlatan Ibrahimović
Foto: C. Gavelle – PSG Officiel
Aos 33 anos, o sueco Zlatan Ibrahimović se sente cada vez mais em casa em Paris e até pensa em encerrar a carreira por lá. Antes disso, o atacante tentará quebrar mais alguns recordes, além dos vários que já quebrou – alguns quebrados este ano.
Com dez gols, Ibra se tornou o maior artilheiro do PSG em uma única edição da Liga dos Campeões. O recorde pode ser ainda maior se fizer dois gols no mata-mata do próximo ano. Isso significaria que ultrapassaria George Weah e se transformaria no maior goleador parisiense em torneios europeus.
O sueco também se tornou o segundo maior goleador da história do Paris em uma única temporada: 30 gols, perdendo apenas para Carlos Bianchi, que fez 37 gols na temporada 1977/1978. Além disso, Ibra foi o principal artilheiro do Campeonato Francês pela segunda temporada seguida, feito que não acontecia desde a 2005/2006 e 2006/2007 com Pedro Miguel Pauleta, também no PSG.
Além disso, Ibrahimović vai subindo cada vez mais no ranking de maiores goleadores do clube. Já são 88 gols, o quinto na tabela geral. Neste último ano, deixou para trás atletas como Safet Susić, Raí e Carlos Bianchi. Enfim, esses recordes que citei foram apenas alguns dos fatores credenciais para o sueco entrar nessa seleta lista.
5 – Lionel Mathis
Foto: Jean-François Monier – AFP
O meio-campista Lionel Mathis pode não ser muito conhecido pelo grande público, mas em 2014 conseguiu um grande feito na carreira: foi tetracampeão da Copa da França e sempre jogando por equipes intermediárias ou pequenas. Em 2003 e 2005, foi campeão com o Auxerre e em 2009 ergueu o caneco com o Guingamp, clube o qual voltou a ser vencedor do torneio em 2014.
Feito absolutamente espetacular que o coloca a um título dos maiores vencedores. Os que mais venceram foram Marceau Somerlinck com o Lille (é o atleta que detém o recorde de partidas pelo clube), Dominque Barthenay com Saint-Étienne (três vezes) e PSG (duas) e Alain Roche com o PSG (três) e com o Bordeaux (duas).
Notou que os recordistas foram campeões com clubes grandes? Pois então, Mathis não segue essa linhagem. E ainda obteve um feito maior, sendo campeão em 2009, com o Guingamp, que estava na metade da tabela da segunda divisão, e agora em 2014, com o time na elite. Um símbolo dessa fase de ascensão do time bretão, único representante francês no mata-mata da UEFA Europa League.
4 – Dmitry Rybolovlev
Foto: HNGN
Principal acionista do AS Monaco, o bilionário russo Dmitry Rybolovlev viu – e segue vendo – o sonho de transformar o clube monegasco em uma potência europeia ruir. Os altos investimentos foram deixados de lado e Falcao García e James Rodríguez, principais nomes do projeto, deixaram o clube.
A principal responsável por isso foi a ex-esposa do bilionário, Elena Rybolovlev. Em maio, depois de mais de seis anos de batalhas nos tribunais, o mandatário do Monaco foi condenado a pagar 4,5 bilhões de dólares de divórcio à Elena, um dos divórcios mais caros da história.
Com tamanho prejuízo, Rybolovlev deixou os investimentos no clube em stand by e vê o time distante dos líderes da tabela do Campeonato Francês.
3 – Corinne Diacre
Foto: O. Stéphan – Stade Brestois
Aos 40 anos, a ex-jogadora Corinne Diacre topou um desafio e tanto: treinar um time de futebol masculino e decidiu comandar o Clermont na primeira metade de temporada da segunda divisão francesa. Corinne, que defendeu a seleção francesa de futebol feminino por mais de uma década, se tornou a primeira mulher a obter a licença para trabalhar como técnica nas duas primeiras divisões do país.
Um dos principais objetivos de Corinne é manter o clube na Ligue 2, missão que vem cumprindo até o momento. O Clermont encerrou 2014 na 14ª colocação com 20 pontos, três acima da zona de rebaixamento.
Quanto às copas nacionais, entretanto, o time vermelho e azul já deu adeus às duas. Na Copa da Liga, a equipe até eliminou Istres e Chateauroux, mas parou no Caen, da primeira divisão, nas oitavas-de-final. Na Copa da França, eliminação na oitava fase para o Epinal.
Mas pelo simples fato de ter aceitado o desafio de encarar o futebol masculino e ainda estar cumprindo o objetivo de manter o Clermont na segunda divisão, Corinne merece estar em nossa lista.
O Olympique de Marseille gastou bastante na temporada 2013/2014. Ao todo, o OM investiu 42 milhões de euros. Entretanto, o investimento não trouxe resultado e a equipe não conseguiu classificação para nenhum torneio europeu e ainda deixou a Liga dos Campeões na fase de grupos sem nem fazer cócegas nos adversários.
Para mudar o cenário sem precisar mexer muito no bolso, o presidente Vincent Labrune trouxe o técnico Marcelo Bielsa. O argentino pegou o mesmo elenco, mas com o desfalque primordial de Mathieu Valbuena, vendido ao Dínamo de Moscou, e fez uma ótima primeira metade de temporada, terminando 2014 na liderança do Campeonato Francês com 41 pontos, tendo vencido 13 jogos de 19.
Com um futebol ofensivo e vistoso e com personalidade forte (já bateu de frente com o presidente Labrune por não cumprir exigências prometidas e por trazer Dória, jogador que não havia pedido), Bielsa já se tornou ídolo da cidade de Marseille e faz por merecer um lugar no ranking, mesmo estando há apenas seis meses na França.
1 – Karim Benzema
Foto: FFF
O atacante Karim Benzema chegou a ficar mais de um ano sem marcar pela seleção francesa entre 2012 e 2013. Foram 16 partidas sem balançar as redes pelos Bleus. Entretanto, 2014 foi o ano de afirmação do atleta do Real Madrid.
Em 13 partidas pela seleção este ano, Benzema fez sete gols, chegando a 25 em sua carreira internacional e ingressando no top-10 artilheiros da história da seleção, ocupando a 9ª posição no ranking. Aliás, aos 27 anos, a tendência é que suba mais na lista e até mesmo ultrapasse Zinedine Zidane, quarto no ranking, que têm 31 gols. Entre os jogadores em atividade, o jogador do Real Madrid é o que tem mais gols.
Benzema também obteve destaque na Copa do Mundo. Com o corte de Franck Ribéry, foi preciso que o camisa 10 francês assumisse a responsabilidade, e o fez com maestria, sendo responsável por três gols e duas assistências. O atacante foi o único jogador de linha da seleção a participar dos 90 minutos dos cinco jogos que fez no Mundial. O outro atleta foi o goleiro Hugo Lloris.
Além desses ótimos números pela seleção, Benzema também acumula bom retrospecto pelo Real Madrid. O francês participou de 51 partidas em 2014 e fez 27 gols, se afirmando como um dos principais nomes da equipe e também ganhando o status – atribuído humildemente pelo blogueiro que vos fala – de jogador francês do ano.
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O que achou? Faltou alguém? Algum nome poderia estar melhor ou pior ranqueado? Ou teve gente que nem merecia ter entrado na lista? Comente abaixo! Vamos debater!
A Copa do Mundo nem começou e a França já sofreu a primeira derrota. Franck Ribéry foi vencido pelas dores nas costas e teve de ser cortado da competição. Desde que os 30 atletas convocados (23 para a lista final e sete na de espera) chegaram ao centro de Clairefontaine para iniciar a preparação para o mundial, o atleta do Bayern não havia participado de nenhum coletivo e causava imensas dúvidas na comissão técnica até a última sexta-feira (06), quando foi decretada a retirada do camisa 7.
Este corte tem muita relação com a situação de Zinedine Zidane em 2002. Durante amistoso diante da Coreia do Sul, no dia 26 de maio, em Suwon, Zizou sentiu um músculo da coxa e deixou a partida antes dos 40 minutos da etapa inicial. Quatro dias depois, a França iniciou a trágica campanha na Copa na derrota por 1-0 para Senegal. Zidane só pode entrar em campo na rodada final diante da Dinamarca, quando só uma vitória poderia lhes classificar. A derrota por 2-0 para os nórdicos sacramentou a pior campanha francesa em Copas até então (superada em 2010).
Iniciar o Mundial tendo o principal astro baleado não é bom, principalmente para o lado psicológico dos atletas que estão em campo, principalmente pelas pressões externas. Torcida e imprensa começariam a questionar quando o atleta poderia entrar em campo. Alguns jogadores mais paranoicos poderiam pensar que tamanha angústia em ver a estrela do time poderia representar desconfiança aos substitutos.
Se o tempo de recuperação de Ribéry era incerto ou até mesmo poderia lhe colocar à disposição em fases agudas da Copa do Mundo, o melhor mesmo é deixa-lo de fora. Quanto mais cedo o time aprender a viver sem ele, melhor.
Há vida sem ele
Foto: AFP
E também não custa ressaltar que o atleta do Bayern não é vital para a seleção francesa. Não quero desmerece-lo, longe disso. Quem me conhece sabe que sou fã dele, admiro demais o estilo de jogo “abusado” de Ribéry. Apenas quero pontuar que há vida sem ele na seleção.
Não canso de dizer que o coração da equipe do técnico Didier Deschamps é o meio-campo. O setor composto por Yohan Cabaye, Paul Pogba e Blaise Matuidi tem enorme qualidade e o trio se completa justamente por terem valores técnicos diferentes. Cabaye tem o excelente passe e, atuando recuado, é efetivo nos desarmes; Matuidi acrescenta com as passadas largas, marcação firme e ocupação de espaços; já Pogba é a joia do time, com uma classe com a bola no pé sem igual. Se o trio for desmanchado, aí sim é motivo para maiores preocupações.
A ausência de Ribéry tira uma boa porcentagem ativa do cérebro do time. Perde-se alguma parte agressiva, de improvisação e ousadia nos dribles. Mas não é isso que fará o coração parar de bater.
Deschamps tem até o dia 15 (data da estreia diante de Honduras, no estádio Beira-Rio) para recuperar a parte cerebral perdida com a ausência de Ribéry. Minha sugestão não poderia ser outra: GRIEZMANN NELES!
O atleta de 23 anos participa da seleção desde fevereiro deste ano. Pouco tempo, reconheço, mas nada disso está valendo agora. O que conta é bola no pé, e Griezmann tem talento de sobra para assumir a bronca.
O jogador da Real Sociedad não é tão agressivo quanto Ribéry, mas é muito técnico, tem excelente condução de bola e é extremamente inteligente dentro de campo. A inteligência e rapidez de raciocínio foram comprovadas no segundo gol que marcou na goleada por 8-0 diante da Jamaica, onde tocou de calcanhar, estando a poucos centímetros do arqueiro adversário.
Os números também jogam a seu favor. Ao longo da temporada na Espanha, foram 20 gols e cinco assistências em 31 jogos. O próprio Ribéry teve números semelhantes na Alemanha (15 gols e 15 assistências), só que em mais jogos. Em dados gerais, Griezmann participou de 25 dos 62 gols da Real Sociedad na temporada (mais de 40%), enquanto Ribéry foi atuante em 30 de 94 tentos bávaros (31%). Não podemos de nos esquecer de fazer a ressalva que um jogou no campeão alemão e o outro no 7º colocado do Campeonato Espanhol. Mas que os números chamam a atenção, chamam.
Segundo o WhoScored, site especializado em dados estatísticos, Griezmann ainda teve a quarta melhor média de chutes do Campeonato Espanhol, acima de Diego Costa, Rakitić, Neymar e do companheiro de seleção Benzema. Ele também foi eleito pelo mesmo site como Homem do Jogo em quatro partidas. Neste quesito na Sociedad, perdeu apenas para o mexicano Carlos Vela, que teve temporada absurda (21 gols e 14 assistências).
A realidade é que ele só precisa se provar na seleção francesa simplesmente porque pouco jogou, participando apenas de amistosos. Talvez se fosse convocado antes, já não teríamos esta dúvida em cima dele.
Insisto que apostaria nele. Habilidoso, agressivo, agudo e nem forçaria Deschamps a mexer no esquema. Griezmann tem qualidades que podem acrescentar a França sem fazer com que a ausência de Ribéry seja sentida. Como disse acima, o coração e a alma francesa estão no meio-campo. O que vem adiante é complemento do bom time de DD.
Pogba e Benzema
Foto: Getty
Sem Ribéry, é hora de surgirem novas lideranças técnicas no time. Uma delas, sem dúvida alguma, é Karim Benzema. Com os dois gols sobre a Jamaica, ingressou na lista dos dez maiores artilheiros da seleção francesa. Peça de confiança de Deschamps e vindo de ótima temporada no Real Madrid, o mínimo que se espera dele é assumir a bronca no elenco.
Mas também é momento de afirmação para Paul Pogba. É impressionante como a camisa azul da França cai bem nele. É o maestro do meio-campo. É um craque! Aos 21 anos, solto na seleção e consolidado na Juventus, não vejo hora melhor para se fixar de vez como um dos “caras” da equipe de Deschamps.
Vejo Pogba subindo alguns degraus no ranking da responsabilidade com a ausência de Ribéry. O vejo também como capaz de assumir essa carga extra de trabalho e ajudar a carregar o time ao lado de Benzema.
Opções
Na goleada por 8-0 sobre a frágil Jamaica, Deschamps mostrou ter opções para substituir o meia-atacante do Bayern. Começou a partida no mesmo 4-3-3 habitual, mas com Benzema jogando pela esquerda, tendo Olivier Giroud como centroavante. O sistema lembrou os tempos de Benzebut no Lyon, quando o homem de centro no ataque era Fred.
Esta opção se mostrou interessante, vide que Benzema e Valbuena estiveram próximos em boa parte do tempo e se entenderam bem. O atacante do Real Madrid sabe trabalhar fora da área e não se mostrou distante da grande área, o que é bom, pois aumenta o poder de finalização do time.
A contrapartida negativa é a recomposição. Benzema não fez isso e deixou Patrice Evra exposto nas poucas vezes em que os jamaicanos ousaram atacar.
Outra variação que o esquema de Deschamps proporcionou, e que também se mostrou interessante, é a utilização do 4-4-2 em linha. Neste sistema, Moussa Sissoko atuaria aberto pelo flanco direito, com Valbuena deslocado para a esquerda. O acréscimo disto é a movimentação do meia do Marseille, se aproximando mais dos centroavantes e tendo maior ângulo de chute.
Remy é outra opção, mas aí sem mexida de esquema. Seria o mesmo caso de Griezmann. A escolha, portanto, se torna particular de DD (apesar de já ter feito meu jabá em prol de Griezmann).
Este leque de opções só comprovam minha tese: Ribéry não é vital para a seleção francesa. É craque, é importante, blá, blá, blá, mas há vida sem ele. O coração do time é o tripé de meio-campo.
Problema
A França ainda tem um problema que não sei medir o quão grave é devido aos adversários das últimas semanas: a defesa. A dupla de zaga titular jogou pouco durante a temporada. Raphaël Varane atuou só 23 vezes pelo Real Madrid (a contrapartida é que 17 foram em 2014), já Mamadou Sakho participou de apenas 19 jogos pelo Liverpool (seis vezes em 2014).
Mas o problema maior não é o número de jogos, mas sim o que foi visto em campo. O único gol sofrido na preparação para a Copa foi em jogada aérea, na partida diante do Paraguai. Mais do que isso, a defesa francesa mostrou hesitação em levantamentos na grande área diante dos sul-americanos e também diante da Jamaica.
Sempre é bom lembrar que Deschamps tardou a encontrar a dupla de zaga ideal. Laurent Koscielny, que hoje é banco, já foi titular. Eric Abidal, que ficou fora da lista de convocados, também já foi. O próximo da fila é Eliaquim Mangala. Será que DD mantém esta dupla de zaga até o fim da Copa? Veremos.