Entre acertos óbvios e erros clamorosos

Pensativo, Stevens busca tirar o Schalke da fila

Que Huub Stevens consertou o Schalke “travado” de Ralf Rangnick é “chover no molhado”. Mesmo com algumas instabilidades, o time conseguiu terminar em terceiro lugar na última temporada da Bundesliga, obtendo uma vaga direta para a fase de grupos da UEFA Champions League. Claro que isso é pouco para o torcedor azul real, que enxerga seu time na interminável fila de 54 anos sem títulos do Campeonato Alemão.

Alguns números acabam animando o torcedor do Schalke. Com a vitória sobre o Greuther Fürth no último sábado, o técnico Stevens chegou aos 65% de aproveitamento em sua segunda passagem pelo clube – a primeira foi de 1996 a 2002 -, batendo seu recorde pessoal, estabelecido entre 2004 e 2005 no Köln, mas na segunda divisão. Seu melhor resultado na elite foi com o Hamburg, em 2007/2008, quando teve 57% de aproveitamento e terminou em 4° lugar.

Outro fator que anima a torcida está no fato de Stevens ter apenas um ponto porcentual a menos que Jürgen Klopp, técnico do rival e atual bicampeão nacional, Borussia Dortmund. Claro que esse 65%66 deve ser relativizado, já que Klopp têm quase 150 jogos em Dortmund, enquanto Stevens não chegou nem a 50.

Ainda assim, esses números não podem ser considerados de time campeão. O próprio Borussia teve mais de 70% de aproveitamento nas campanhas do bicampeonato. Além do mais, se o Schalke quer mesmo erguer a Salva de Prata, precisa chegar aos 70 pontos e isso nunca aconteceu nos 50 anos da Bundesliga. Esteve próximo na temporada 2006/2007, quando conquistou 68 pontos, mas ficou com o vice. O Stuttgart, campeão daquele campeonato, somou os exatos 70 pontos.

Mas se nos números, a participação de Stevens é boa, o que dizer na prática? Acredito que o título da matéria resume bem.

Logo quando chegou ao clube, o holandês insistiu com algumas invenções de Rangnick, como Lewis Holtby de volante, além de dar muitos minutos a atletas fracos como Edu, Baumjohann e Jurado.

Nesta temporada, Stevens fez algumas mudanças, como mandar os “encostos”, citados acima, embora, trazer um volante de confiança, Neustädter, fixar Lars Unnerstall como titular na meta e Draxler no meio-campo, além de rodar bastante os jogadores da faixa central, a fim de encontrar o substituto ideal de Raúl.

Como meia, Holtby marcou contra o Greuther Fürth

Dentre as bolas dentro do holandês, está a escalação de Holtby como o meia central na linha de três armadores. O jovem de 22 anos se notabilizou por jogar assim em Bochum e Mainz, clubes que o receberam por empréstimo do próprio Schalke, mas acabou sendo sacrificado na última temporada por jogar na linha de volantes. Acreditando que seu passe poderia qualificar a saída de bola azul real e que aprender a marcar seria um passo mais simples, Ralf Rangnick decidiu escalá-lo assim e não deu nada certo. Holtby ficava completamente disperso, sem ação, não marcava e nem atacava. Rangnick deu lugar a Stevens e a história foi mantida. O longo tempo perdido na cabeça-de-área fez com que Holtby perdesse o espaço conquistado, em seus tempos de Mainz, na Seleção Alemã.

Usando a camisa 10, outrora de Lincoln, o garoto tem voltado a repetir as atuações que lhe deram destaque anos atrás e, hoje, volta a sonhar com uma vaga no time de Jögi Löw.

Mas se esse acerto óbvio na escalação de Holtby está sendo feito, Stevens continua com um erro clamoroso no seu time titular. O capitão Benedikt Höwedes permanece escalado como lateral-direito, sendo que sua melhor posição é a de zagueiro. Falhando jogo após jogo, mas mantendo a moral pelas atuações em seu setor original, Beni permaneceu na seleção, porém, como lateral. Na trágica derrota para a Argentina em amistoso recente, o atleta do Schalke dançou tango pela lateral e só viu a cor da bola na hora de marcar o gol de honra alemão.

Höwedes não prima pelo posicionamento quando atua pela beirada defensiva. Muitas vezes se infiltra como zagueiro e dá uma avenida aos adversários, como foi no primeiro tempo do jogo contra o Greuther Fürth. Se o time bávaro não cansasse, talvez não viesse à vitória por 2×0. É um pecado tremendo o ver na lateral!

Essa escalação de Höwedes na lateral-direita só entra na minha cabeça por um motivo: Stevens quer entrosar Matip e Papadopoulos, acreditando que possam formar uma dupla sólida. O holandês teria coragem de tirá-lo do time para pôr um lateral-direito de verdade? Creio que não. No mais, barrar um jogador, que além de estar na seleção alemã, é capitão do time, não é algo muito “saudável”, podendo provocar a ira da torcida e forçando com que Höwedes saia do clube, pois é pretendido por outras equipes.

É começo de campeonato, as coisas podem e devem se ajeitar mais ainda nos cantos de Gelsenkirchen. Dei minha opinião, concordo com Stevens em um ponto, mas não em outro. Eu posso quebrar a cara ou o holandês ver suas convicções caírem por terra. Mas em um ano tão atípico, por que não imaginar um Schalke campeão alemão em tais condições e sem chegar aos 70 pontos?