Foi dada a largada para a fase de grupos da Uefa Champions League e para os três representantes da França, somente um misto de emoções pode resumir o pontapé inicial no principal torneio continental da Europa.
O Paris Saint-Germain, por exemplo, foi da frustração a euforia e terminou decepcionado com a derrota por 3 a 2 diante do Liverpool, atual vice-campeão. Mais do que o revés, a forma como o time jogou deixou um recado bem claro de que a diretoria tem muito o que fazer para não repetir os fiascos recentes.
Já o Monaco, com elenco enfraquecido e temporada incerta, alimentou o sonho de uma vitória sobre o poderoso Atlético de Madrid, mas terminou triste e conformado com uma derrota de virada por 2 a 1.
Quem se sobressaiu foi o Lyon, que surpreendeu a Europa ao bater o campeão inglês, Manchester City em solo britânico. O triunfo por 2 a 1, coroado por grande atuação de Nabil Fekir – autor de um gol e uma assistência – deixa o time de Bruno Génésio na liderança do grupo que ainda tem Shakhtar Donetsk e Hoffenheim – que empataram em 2 a 2.
O misto de emoções nas estreias dos times franceses pautou a edição #88 de Le Podcast du Foot. Eduardo Madeira e Renato Gomesanalisaram os confrontos e contaram com as participações de Vinícius Ramos, do Ici c’est Paris, e Pedro Henrique Natario, do AS Monaco Brasil, que comentaram sobre seus respectivos times.
Sakho está fora dos planos de Jürgen Klopp, no Liverpool | Foto: Getty Images
Mamadou Sakho é o típico zagueiro francês: alto, de ombros largos, forte fisicamente e parece ter duas vezes o tamanho que realmente tem. Na França, em qualquer esquina é possível encontrar defensores assim e todo time deve ter um ou dois no elenco.
Entretanto, diferente de muitos outros, Sakho nasceu para o futebol em algo semelhante a um berço de ouro. Formado no Paris Saint-Germain, na época em que o clube não era milionário, o zagueiro era tido como a grande esperança do futuro de uma equipe que era grande só no papel. Ainda longe dos xeiques e das cifras hipnotizantes, os parisienses sonhavam alto e tinham no zagueiro uma grande referência para crescer.
Lapidado desde os 12 anos de idade em Camp des Loges, o defensor cresceu rápido, inclusive sendo titular do PSG campeão nacional sub-18… quando tinha apenas 15 anos. Dois anos depois, já estava entre os profissionais do clube. Em pouco tempo, Sakho foi de promessa a capitão do time e foi um dos que ganhou respeito da torcida parisiense por conseguir transitar da “era pobre” pro momento milionário da equipe.
Ótimo no jogo físico e de boa qualidade técnica para um defensor do biótipo que tem, ele sempre se saiu bem em Paris. Salvo um ou outro equívoco, coisa natural para um jovem, Sakho fez valer todo o cuidado e dedicação que recebeu na base do clube.
Deixou o PSG em 2013 com o título de campeão francês, o ápice que teve pelo clube. Além disso, acumulou conquistas individuais, como Jogador Jovem do ano da União Nacional dos Futebolistas Profissionais (UNFP em francês) em 2011, mesma temporada em que entrou na seleção do campeonato.
Formado em Paris, Sakho foi capitão do PSG durante algumas temporadas | Foto: Divulgação/PSG
Hoje, com 26 anos (fará 27 em fevereiro) e na quarta temporada na Inglaterra, Sakho se vê em cenário totalmente oposto. Longe de Paris, o zagueiro vive um inferno que parece não ter fim em Liverpool, culminando com uma temporada 2016/2017 desastrosa, onde somente entrou em campo pelo time sub-23 dos Reds.
O que agrava a situação do francês é que o problema principal passa longe de estar somente dentro das quatro linhas. Dentro de campo, aliás, acumula boas atuações – apesar de deixar a impressão de que poderia render mais. Ao longo da passagem pelo futebol inglês, entretanto, Sakho possui uma série de episódios controversos, que foram minando-o dentro do próprio clube.
Em 2014, por exemplo, ao saber que ficaria de fora do clássico contra o Everton, simplesmente abandonou o estádio. O episódio foi contornado após um pedido de desculpas. Dois anos depois, teve a suspeita de doping no mês de abril, que fez com que a Uefa o investigasse. O Liverpool optou por afasta-lo durante a investigação. Ele chegou a ser suspenso, mas foi absolvido em julho. Neste meio tempo, perdeu tempo, espaço e ficou fora da Eurocopa, que seria disputada na própria França.
O estopim, entretanto, foi durante a pré-temporada. O atraso no voo para os Estados Unidos, onde o Liverpool se preparava para a temporada, e também para sessões de tratamento médico e refeição desagradaram ao técnico alemão Jürgen Klopp, que o mandou embora da terra do Tio Sam e o afastou para o time sub-23, situação que se mantém até este momento.
A irresponsabilidade na pré-temporada esfriou a relação entre Klopp e Sakho | Foto: Getty Images
Longe da seleção francesa desde março de 2016, Sakho não jogou pelo time principal nesta temporada. A última aparição pelos Reds foi em 20 de abril de 2016, na goleada por 4×0 sobre o Everton, onde foi bastante elogiado pela marcação em cima do belga Romelu Lukaku. Cabe acrescentar que o declínio do francês teve início em um de seus principais momentos no clube, se não o melhor. O zagueiro era titular de Klopp, vinha de boas atuações e com gols decisivos, como na classificação para a semifinal da Europa League, na vitória por 4×3 sobre o Borussia Dortmund.
Porém, o episódio do doping – depois comprovado que era inocente – o deslocou totalmente do cenário do clube. Perdeu espaço e prestígio e não mostrou responsabilidade para recuperar dentro da pré-temporada.
Somado a tudo isso, o histórico de lesões é preocupante e contribuiu para que não conseguisse ter uma grande sequência. Desde que chegou ao Liverpool foram sete problemas, conforme o site Transfermarkt:
– Temporada 13/14: estiramento na coxa – 59 dias;
– Temporada 14/15: estiramento na coxa – 77 dias;
– Temporada 14/15: lesão no quadril – 14 dias;
– Temporada 14/15: estiramento na coxa – 46 dias;
– Temporada 15/16: ruptura dos ligamentos do joelho – 38 dias;
– Temporada 15/16: lesão no joelho – 7 dias;
– Temporada 16/17: problemas no tendão de Aquiles – 42 dias;
Somente por lesão, Sakho perdeu 52 partidas do Liverpool, quase a mesma quantidade de jogos que teve na Premier League: 56. Números estarrecedores que aumentam a sensação de inferno que vive em Liverpool.
O francês agora tem jogado pelo time sub-23 do Liverpool | Foto: Getty Images
O fato é que os Reds querem se livrar de Sakho de qualquer maneira. O problema é que o zagueiro renovou contrato em 2015 e agora tem vínculo até junho de 2020, o que faz com que o Liverpool queira ao menos £20 milhões para deixa-lo sair. Sevilla, Galatasaray e Swansea City surgiram como interessados. Até o fechamento da janela, muita coisa vai rolar.
Sem confiança, sem moral dentro do clube e sem condição física ideal, Sakho, em uma idade onde poderia estar atingindo o auge de uma carreira que iniciou de forma meteórica, hoje se vê no ocaso dela, buscando um clube para jogar e, enfim, voltar a velha forma.
Foto: Reprodução – O Alavés fez história ao chegar na decisão da Copa da Uefa
Quando relacionamos times espanhóis com finais de copas europeias, logo nos lembramos de Real Madrid e Barcelona, além do Atlético de Madrid, que ganhou a Liga Europa em duas oportunidades nos últimos anos. O que muitos esquecem é que, certa vez, o pequenino Deportivo Alavés, da província de Álava, chegou a uma final internacional com uma campanha heroica.
Fundado em 1921, o citado clube espanhol nunca havia obtido grandes feitos até a chegada do técnico José Manuel Esnal, o Mané, em 1997. Com ele no comando, o Alavés começou a saga que teve início na segunda divisão e parou com um vice-campeonato continental.
O acesso
O Alavés teve campanha praticamente impecável na segunda divisão espanhola na temporada 1997/98, na qual foi campeão. Em 42 partidas, foram conquistados 82 pontos, sendo o time que mais venceu (24 vezes) e o que menos sofreu gols (25).
Mas o que marcou não foi o acesso, mas sim o início do que seria caracterizado como “copeirismo” do time de Mané. O Alavés foi semifinalista da Copa do Rei, e também contando com uma boa dose de heroísmo.
O drama começou já nas fases iniciais. Contra o desconhecido Aurrerá de Vitoria, o Alavés precisou reverter o 1-0 sofrido na ida para seguir na competição. Venceu por 2-0 na volta e prosseguiu para enfrentar o Real Oviedo, no qual despachou com uma magra vitória por 1-0 na ida e 0-0 na volta.
Na etapa seguinte, mais dificuldades. Diante do Compostela, clube de primeira divisão na época, o Alavés venceu por 1-0 em casa e segurou o 2-2 na volta para se qualificar.
Na fase de oitavas-de-final, o adversário era o poderoso Real Madrid, futuro campeão europeu. No jogo de ida, no Estádio de Mendizorroza, em Álave, com gol de Manuel Serrano, o Alavés bateu o adversário da capital pelo marcador mínimo. Na volta, sufoco em Madrid. Riesco fez 1-0 para os visitantes, mas Roberto Carlos e Šuker viraram o jogo. O tento do atacante croata saiu aos 10 minutos da etapa final e o Alavés se segurou por 35 minutos para conseguir a classificação.
Na fase seguinte, o Alavés passou sem grandes dificuldades pelo Deportivo La Coruña, também time da elite, aplicando 3-1 em casa no jogo de ida e segurando o placar zerado na volta.
Na semifinal veio a queda diante do Mallorca. Com duas derrotas (2-1 na ida e 1-0 na volta), o Alavés deu adeus ao sonho de conquistar a Copa do Rei (que seria vencida pelo Barcelona naquele ano).
Caminho na elite
Em seu ano de retorno à elite do futebol espanhol após mais de 40 anos, o Alavés conseguiu a permanência na primeira divisão apenas na última partida. Antes do início da 38ª rodada, o Glorioso somava 37 pontos, ocupava a 17ª colocação e não possuía chances de queda, mas poderia ficar no playoff contra o descenso. Os adversários diretos eram Villarreal, com 35 pontos, e Extremadura, com 38. Curiosamente, os dois concorrentes se enfrentariam na rodada derradeira.
A fórmula do Alavés era simples: vencer a Real Sociedad e torcer pelo tropeço do Extremadura. Uma derrota o deixaria no playoff, já que os 17º e 18º colocados disputariam esta fase.
Tudo começou tranquilo para o Glorioso e acabou com emoção. Ao término do primeiro tempo dos dois jogos, o Alavés vencia por 2-0 e o Extremadura perdia pelo marcador mínimo. Antes dos 20 minutos da etapa complementar, a Real Sociedad conseguiu descontar com Javier de Pedro e trouxe emoção para a partida.
Aos 36 minutos, David Albelda marcou para o Submarino Amarelo, abrindo 2-0 e, aparentemente definindo a parada. Porém, em menos de cinco minutos, Iván Gabrich marcou dois gols, empatou a partida para o Extremadura, deixando o Alavés com atenção nos dois jogos.
Por fim, os placares permaneceram intactos e, com uma boa dose de sorte, o Glorioso permaneceu na elite espanhola.
Grandes resultados
Na temporada seguinte, tudo mudou. Já com nomes de destaque como Javier Moreno, Hermes Desio e o veterano Julio Salinas, o Alavés fez campanha impecável, ocupando a 6ª colocação ao término do Campeonato Espanhol, obtendo 61 pontos. O desempenho lhe rendeu uma vaga na Copa da Uefa do ano seguinte.
Na temporada do 6º lugar, resultados importantes ficaram marcados para o time, entre estes, 2-0 sobre o Valencia no Mestalla, 2-1 de virada sobre o Barcelona, 2-0 no Atlético de Madrid e 1-0 no Real Madrid.
Saga europeia
Para começar a rotina de mochileiro pelo Velho Continente, o Alavés precisou dar uma modificada no elenco. Entre os reforços estavam o uruguaio Iván Alonso, vindo do River Plate do Uruguai, Jordi Cruyff, contratado junto ao Manchester United, Juan Epitié, atacante de Guiné Equatorial que veio da base do Real Madrid, Mario Rosas, cria do Barcelona, e Ivan Tomić, que veio da Roma.
Em contrapartida, Mané perdeu duas peças importantes para a temporada: o atacante Meho Kodro, autor de cinco gols na temporada anterior, foi para o Maccabi Tel-Aviv (onde encerrou a carreira), e o volante Ángel Morales, que retornou de empréstimo ao Espanyol.
Autor de sete gols na campanha do Campeonato Espanhol, o atacante Javi Moreno foi mantido no clube, diferente do artilheiro do time, Julio Salinas, que balançou as redes oito vezes. O atacante, que disputou as Copa de 1986, 1990 e 1994, tinha 38 anos e pendurou as chuteiras em 2000.
Foto: Reprodução – O veterano Julio Salinas ajudou o Alavés a chegar na Copa da Uefa
Mortal fora de casa
Reza a lenda do bom time copero, que para se sair bem em competições mata-mata, seu time precisa saber jogar fora de casa, principalmente pelo temido gol como visitante. O Alavés cumpriu com maestria este quesito.
Nas primeiras fases, o Glorioso sofreu em jogos em casa e precisou sair da Espanha para conseguir avançar. Logo na estreia, empatou sem gols com o Gaziantepspor no estádio de Mendizorroza, mas buscou a vaga na Turquia com uma surpreendente vitória por 4-3, quando esteve duas vezes atrás no marcador.
Já nesta fase, os reforços começaram a aparecer. Na partida fora de casa, Iván Alonso e, principalmente, Tomić foram os responsáveis pela imponente vitória do Alavés.
Nas duas fases seguintes, o Glorioso enfrentou adversários noruegueses e, em ambos os casos, fez o resultado no país nórdico. Contra o Lillestrøm, vitória por 3-1 na ida e a manutenção do empate em 2-2 na Espanha. Diante do Rosenborg veio o maior susto, afinal, o empate em 1-1 no Mendizorroza causava dores de cabeça. Mas o 3-1 na volta foi construído com imensa tranquilidade e qualificou o Alavés para as oitavas-de-final da Copa da Uefa, um feito inimaginável para um clube que estava na segunda divisão dois anos antes.
Primeiro gigante
Foto: Reprodução – Os espanhóis fizeram história ao eliminar a Inter em Milão
Nas oitavas-de-final, o Alavés viu o primeiro gigante pela frente: a Internazionale. Invicto e mais tradicional internacionalmente, o time italiano era franco favorito. Sem sentir a pressão de jogar a primeira partida na Espanha e de sair atrás no marcador, a Inter virou para 3-1 sem suar.
Mas, na raça, o Glorioso buscou o empate diante do gigante italiano. Óscar Téllez cobrando falta e Iván Alonso de cabeça deram o placar igualitário à partida. Não era essa a vez que o Alavés conseguiria sua primeira vitória internacional jogando em casa, mas o resultado não era tão ruim quanto se desenhou durante a partida.
Cirúrgico, o Alavés precisou de duas estocadas no final do jogo para eliminar a Inter no Giuseppe Meazza. Na primeira, aos 33 minutos da etapa complementar, Jordi Cruyff acertou um potente chute de canhota e abriu o placar. Cinco minutos depois, Tomić usou do mesmo artifício de Cruyff para marcar o tento que sacramentou a histórica classificação na Itália.
Consolidação em casa
Apesar de estarem invictos jogando em casa, o fato de não terem vencido no Mendizorroza incomodava parte da torcida que ainda não vira de perto o time triunfar. Nas quartas-de-final, esse sonho tinha grandes chances de ser realizado de uma forma ou de outra, afinal de contas, o adversário seria o também espanhol Rayo Vallecano.
Aliás, essa fase foi dominada por times da Península Ibérica. Além da partida espanhola citada no parágrafo acima, Barcelona e Celta de Vigo se confrontaram, sem falar do Porto, que enfrentou o Liverpool.
Mas voltando a falar do Alavés, o time de Mané finalmente agradou a torcida e conseguiu uma grande vitória sobre o Rayo já no jogo de ida, 3-0. A partida de volta se tornou mera formalidade e o Glorioso se deu ao luxo de perder a primeira na competição: 2-1.
Em estado de graça, o Alavés permaneceu com o mesmo pique e atropelou o Kaiserslautern na semifinal. Com 5-1 na Espanha e 4-1 na Alemanha, os espanhóis passaram por cima e confirmaram a inimaginável vaga na final da Copa da Uefa.
O triunfo sobre o Kaiserslautern não foi um triunfo qualquer, já que o time alemão era um dos que estava no bolo de candidatos ao título em seu país. Na semana da partida de ida, o Campeonato Alemão tinha completadas 27 rodadas e a diferença do líder Bayern pro Kaiserslautern, 6º colocado, era de apenas três pontos.
A situação que o Alavés vivia na Espanha era muito diferente. Era o 8º colocado com 40 pontos, estava 19 atrás do Real Madrid, então líder do torneio, e sonhava apenas com a vaga na Copa da Uefa.
O adversário
Foto: Reprodução – O Liverpool de Owen poderia erguer o segundo troféu em uma semana
Na decisão, o pequenino Deportivo Alavés teria pela frente um time de enorme história e de respeito inigualável: o Liverpool. Naquela época, os Reds eram detentores de 18 títulos do Campeonato Inglês, seis da Copa da Inglaterra, seis da Copa da Liga Inglesa, além de quatro da Liga dos Campeões e dois da Copa da Uefa.
O novo título europeu não seria apenas uma nova conquista para o time de Gérard Houllier, mas também a chance de erguer o segundo troféu em menos de uma semana. No dia 12 de maio de 2001, o Liverpool venceu o Arsenal no Millenium Stadium por 2-1 e foi campeão da Copa da Inglaterra. Aquele jogo foi marcante porque os Reds perdiam até os 38 minutos da etapa final, quando Michael Owen apareceu e virou a partida com dois gols em cinco minutos.
Além disso, em fevereiro daquele ano, o Liverpool havia derrotado o Birmingham City pela final da Copa da Liga Inglesa, também no Millenium Stadium. Ou seja, na final do dia 15 de maio, em Dortmund, o time da terra dos Beatles poderia erguer o terceiro troféu da temporada.
Na Copa da Uefa, o Liverpool teve campanha praticamente impecável. Foram 12 jogos, com sete vitórias, quatro empates e somente uma derrota. Além disso, 14 gols foram marcados e sua defesa foi vazada apenas cinco vezes.
A decisão
Foto: Reprodução – Um gol contra decidiu a final de 2001
O Liverpool entrou no gramado do Westfalenstadion, em Dortmund, no 4-4-2 habitual, contando com o retorno do escocês Gary McAllister, que havia ficado de fora da decisão da Copa da Inglaterra. Já o Alavés entrou no cauteloso 5-4-1, apenas com Javi Moreno no ataque. O uruguaio Iván Alonso, um dos grandes nomes da campanha, começou no banco.
Talvez nervoso com a situação atípica em que se encontrava, o Glorioso sentiu o peso da decisão. Com 15 minutos já olhava o placar com dois gols de vantagem para o adversário inglês. Markus Babbel e Steven Gerrard marcaram para o Liverpool em erros do time espanhol.
Mané se viu obrigado a mexer rapidamente. Aos 22 minutos, chamou Alonso e sacou um de seus defensores: o norueguês Dan Eggen. A mexida surtiu efeito imediato e três minutos após entrar, o uruguaio descontou, aproveitando cruzamento de Cosmin Contra, que também fez ótimas aparições na temporada.
Porém, outro erro de passe no meio-campo resultou em um pênalti a favor do Liverpool antes do término do primeiro tempo. Os aproveitadores do erro foram Dietmar Hamann e Michael Owen. O alemão lançou o inglês, que driblou o goleiro Herrera e foi derrubado na sequência. McAllister converteu a cobrança e levou o 3-1 para os vestiários.
Além da entrada do brasileiro Magno no intervalo, a conversa de Mané com os jogadores surtiu grande efeito nos jogadores do Alavés, que buscaram o resultado rapidamente. Javi Moreno, que havia ficado de fora do jogo de volta das quartas-de-final e das duas partidas da semifinal, fez dois gols em três minutos e deixou tudo igual. O primeiro tento foi de cabeça, aproveitando nova jogada de Contra. Já o segundo gol foi cobrando falta por baixo da barreira.
Os dois gols lhe deixaram com seis na competição, empatado no topo do ranking de artilheiros com outros três jogadores: Drulić (Estrela Vermelha), Kuzba (Lausanne) e Nikolaidis (AEK Atenas).
Porém, não era apenas Mané que poderia fazer mexidas úteis. Houllier também agiu e tirou Robbie Fowler do banco de reservas aos 20 minutos. Menos de dez minutos depois, o atacante recebeu de McAllister, limpou a marcação e finalizou no cantinho esquerdo de Herrera, recolocando o Liverpool em vantagem.
Valente, o Alavés foi buscar o empate aos 44 minutos com uma cabeçada de Jordi Cruyff. O filho de Johan pode não ter chegado nem perto do que o pai fez, mas foi de fundamental importância para a campanha espanhola naquele ano. Ele foi o autor de quatro gols, incluindo o que abriu o placar na histórica vitória sobre a Inter nas oitavas-de-final.
O gol em Dortmund forçou a prorrogação, na época, com o temido Gol de Ouro.
No tempo extra, o Alavés foi sentindo o cansaço aos poucos. Sem poder de recuperação com 11, os espanhóis se viram em prejuízo ainda maior quando o brasileiro Magno entrou de forma violenta em Babbel, recebeu o segundo amarelo e foi expulso.
Sem pernas e com 10, o Alavés cedeu à pressão do Liverpool. Faltando cinco minutos para acabar o jogo, Smicer, que entrara no começo do segundo tempo, ia passando fácil por Antonio Karmona. Sem opção, o capitão espanhol puxou o adversário e cometeu falta no bico da grande área. Por já ter amarelo, também foi expulso.
Na cobrança de falta, o pior aconteceu. McAllister cobrou fechado e o zagueiro Delfí Geli, com o intuito de afastar a bola, se antecipou ao goleiro e jogou contra a própria meta. A desolação foi total. Depois de ficar atrás no marcador em duas oportunidades e buscar o empate em ambas às vezes, o Alavés sucumbia no final da prorrogação. Foi o encerramento de um sonho.
Foto: Reprodução – A derrota foi dolorosa para o Alavés
Futuro sombrio
Depois de ir longe na Copa da Uefa, o Alavés sofreu perdas importantes. O Milan veio buscar Cosmin Contra e Javi Moreno, enquanto Ivan Tomić retornou a Roma. Apesar das perdas significativas, o time de Mané seguiu forte e terminou na 7ª colocação na temporada seguinte, retornando a Copa da Uefa na temporada 2002/03.
Porém, de 2003 em diante, o Alavés sofreu uma vertiginosa queda. Já na Copa da Uefa não foi longe, parando logo na segunda fase diante do Besiktas. No Campeonato Espanhol a campanha foi horrível e, na penúltima colocação, foi rebaixado para a segunda divisão. Além disso, Mané havia deixado o cargo de técnico após derrota para o Valencia na 31ª rodada. Na ocasião, o Alavés já ocupava a penúltima colocação e aquele foi o nono tropeço consecutivo, sendo que, desses nove jogos, o Glorioso não havia marcado gols em seis partidas.
Na temporada seguinte, com Pepe Mel no comando, o Alavés ficou em 4º na segunda divisão e não subiu e ainda parou na semifinal da Copa do Rei. Na temporada 2004/05, com Chuchi Cos como técnico, o acesso finalmente veio, mas a festa durou pouco e o Glorioso ficou apenas uma temporada na elite (2005/06).
Desde então não voltou mais. E nem tem passado perto disso. Depois de duas temporadas em que se salvou na bacia das almas, a queda para a terceira divisão veio em 2009. O Alavés voltou para a segunda divisão apenas nesta temporada, mas novamente briga contra o descenso. Após algumas rodadas na lanterna, o time ganhou fôlego e ocupa a 19ª colocação com 33 pontos. Tal posicionamento ainda lhe rebaixa, mas a distância pro primeiro time fora da zona de descenso (Hércules) é de apenas um ponto.
Uma pena que em pouco mais de dez anos, um time que surpreendeu toda Europa esteja sofrendo de tal maneira. É apenas sombra do que era em 2001.
Enquanto novos dias de sol não chegam para o Alavés, recorde como foi a decisão de 2001: