Um sopro de alívio

Jones deu o alívio necessário ao turbulento Schalke(Getty Images)

Jones deu o alívio necessário ao turbulento Schalke
(Getty Images)

Alguma coisa me dizia que o Schalke 04 poderia aprontar para cima do Galatasaray na Turquia, no jogo de ida da fase de oitavas-de-final da Liga dos Campeões. Certamente, não era o atual momento dos dois times que me apontava isto. Um vem despencando em seu campeonato nacional e não inspira nenhuma confiança para o futuro, enquanto o outro lidera o principal torneio de seu país e trouxe dois atletas de renome para tentar assustar na competição. Era óbvio que os turcos eram favoritos e poderiam até passar por cima dos alemães já na ida.

Repito: algo me dizia que isso não iria acontecer!

Seja o que isso tenha significado, eu estava, em partes, certo. A partida acabou 1×1, de certa forma, injusto para o time alemão, que poderia ter conseguido algo melhor. A atuação do Schalke contra o Galatasaray foi surpreendente, não só pelo resultado, mas pela imposição e percepção dos detalhes defensivos do adversário.

O lado esquerdo turco, formado por Riera e Nounkeu, está tendo pesadelos até agora com Jefferson Farfán, afinal, o peruano, que voltou a atuar em sua posição habitual – ponta direita – armou um carnaval no setor e foi um dos principais jogadores do time. Draxler, embora um pouco perdido na função de armador, conseguiu colaborar com alguns contra-ataques na etapa complementar, assim como Michel Bastos. O brasileiro, porém, se perdeu um pouco na individualidade e apostou em muitos chutes descabidos de longa distância.

Vale ressaltar que o Schalke não se segurou na “muleta” da deficiência adversária. O Galatasaray ganhou pouquíssimas bolas pelo alto, nem por isso os alemães passaram a cruzar bolas na área insistentemente para ver no que dava. O time de Keller buscou novas alternativas de jogo, apesar da fraqueza aérea dos turcos.

Defensivamente, fiquei com alguns receios. Marco Höger, que vinha atuando como volante, voltou a lateral-direita – função que exercia quando chegou ao Schalke – e me pareceu muito afoito em alguns lances. A dupla central, formada por Höwedes e Matip, embora tenha falhado pouco, demonstrou alguma ansiedade nos cortes, sem brincar muito. Não que isso seja ruim, mas diversos lances poderiam ser mais trabalhados já de trás.

A decepção, novamente, foi Klaas-Jan Huntelaar. O holandês, que faz temporada muito abaixo do esperado, retornou de lesão no olho nesta partida e, digamos, não pareceu muito bem da vista ao não alcançar uma bola quase embaixo da trave na primeira etapa. A ineficácia de Ciprian Marica e a imaturidade de Teemu Pukki obrigam Keller a apostar apenas no holandês para o duelo de volta.

ORGULHO AMERICANO

Das vaias aos aplausos(schalke04.de)

Das vaias aos aplausos
(schalke04.de)

Autor do gol de empate no duelo, o norte-americano Jermaine Jones foi um dos pontos positivos do time alemão. O contestado volante colaborou com suas arrancadas para o ataque – uma das poucas, talvez única característica que me agrada no jogador – e na distribuição de jogo. O gol acabou sendo, por linhas tortas, uma resposta ao torcedor, alvo de críticas do norte-americano recentemente. Jones não gostou de ver a torcida, após a derrota contra o Greuther Fürth, fazer grande festa pelo retorno de Gerald Asamoah à Veltins Arena e vaiar o Schalke.

O pecado foi ter recebido um cartão amarelo que o tirou do jogo de volta. Só para fazer justiça a Jones, devo dizer que o cartão foi absurdo. Motivo da punição foi um pedido de cartão para um adversário que cometeu uma falta justamente em Jones. Não foi um pedido ríspido, nem acintoso, o que tornou a punição exagerada pelo lado do árbitro escocês William Collum.

Para a volta, Jens Keller terá de inventar na escalação, coisa que adora fazer. Possivelmente, o técnico azul real deslocará o capitão Höwedes para a lateral, recolocando Marco Höger para a cabeça de área e promovendo o retorno de Kyriakos Papadopoulos, que está parado desde novembro, mas que deve voltar a treinar na próxima semana. O grego formaria dupla de zaga com Joël Matip.

Uma coisa é certa nessas mexidas: Höger voltará para cabeça de área. A dúvida é se Keller abrirá mão da eficiência de Höwedes no centro para coloca-lo na lateral. Com Atsuto Uchida lesionado por tempo indeterminado, a tendência é que o técnico faça essa mexida por obrigação.

O importante para o Schalke é não se vislumbrar com o empate na Turquia. O time foi bem, ok. Conquistaram um importantíssimo resultado, ok, mas empolgação em uma hora dessas não é nada bom, principalmente com Sneijder e Drogba do lado oposto. O confronto está aberto, mas os alemães mostraram não estar mortos, como muitos, inclusive eu – apesar do fio de esperança –, imaginavam. Se a postura imponente for mantida, o Schalke tem tudo para superar as desconfianças de voltar as quartas-de-final da UEFA Champions League.

Agonia azul

Mal na Bundesliga, Schalke não se reencontra na temporada(Foto: Getty Images)

Mal na Bundesliga, Schalke 04 não se reencontra na atual temporada
(Foto: Getty Images)

O Schalke 04 encerrou 2012 com uma série de seis jogos sem vitórias e com uma inesperada eliminação na Copa da Alemanha para o Mainz. Essa série de eventos – exceto a queda na DFB Pokal – acabou custando o emprego do técnico Huub Stevens, que foi mandado embora após a derrota por 3×1 para o Freiburg, na última rodada do primeiro turno do Campeonato Alemão. Jens Keller foi chamado do time sub-17 e ficará no comando técnico até o fim da atual temporada.

Com Keller no comando, o Schalke está invicto em 2013, uma vitória e um empate, porém, nesses dois jogos, os Azuis Reais não animaram nem um pouquinho o seu exigente torcedor. Até mesmo no empolgante 5×4 contra o Hannover, o que se viu foi um resultado sendo construído em cima de uma defesa frágil e de uma noite de gala de Holtby. Em seguida, veio o empate diante Augsburg, então vice-lanterna da Bundesliga. Durante boa parte do jogo, o Schalke foi dominado pelo pequeno time bávaro, que criou as melhores chances de gol.

Nessa semana, vieram as piores notícias, começando com Lewis Holtby, principal jogador do time na temporada. Ele já estava vendido ao Tottenham Hotspur, mas iria para Londres apenas no meio do ano, porém, precisando reforçar o time urgentemente, os ingleses conseguiram convencer o Schalke a ceder o atleta agora.

Para completar, o Galatasaray, adversário dos alemães nas oitavas-de-final da UEFA Champions League, acertou com uma dupla de peso para o restante da temporada: Wesley Sneijder e Didier Drogba, ambos campeões europeus recentemente por Internazionale e Chelsea, respectivamente.

O Schalke, que iniciou a temporada bem, chega a esse importante estágio da temporada com um técnico inexperiente, mal armado, com investimentos impensados, com Holtby indo embora e com Huntelaar bem abaixo do esperado. Como se não fosse o bastante, os rivais Bayern e Borussia Dortmund são aclamados continente afora, enquanto o Galatasaray se apronta para as batalhas da Liga dos Campeões. Cenário nada animador.

Fica até difícil encontrar um culpado para esta situação do Schalke 04. O primeiro nome que vem à mente é o de Horst Heldt, manager do clube. É ele quem deveria trazer as peças necessárias para suprir as carências do time. Mas olhando por outro ângulo, não seriam os treinadores – Stevens e agora Keller – responsáveis por não apontar os locais certos de reposição? Enfim, todos têm um pouco de culpa, principalmente na questão de contratações.

O elenco do Schalke é tão desigual que as centenas de boas opções de meias contrastam com o escasso número de defensores. Mesmo sem Holtby, os Azuis Reais contam com Raffael, Afellay e Draxler para a mesma função. Tirando o brasileiro, o restante pode atuar pelos lados do campo, assim como Farfán, Obasi, Barnetta e o recém-contratado Michel Bastos.

Enquanto isso, mais atrás, na cabeça de área, Jens Keller tem o ótimo Neustädter a disposição, mas não conta com um bom parceiro. Marco Höger – que me agradava mais na lateral, mas foi efetivado no meio – é muito instável, Jermaine Jones é pra lá de limitado e Christoph Moritz sofreu sua quinta lesão em um intervalo inferior a um ano.

Achou ruim? Olhem a defesa. Christian Füchs é o único lateral-esquerdo disponível, Kolasinac até joga na posição, mas é improvisado. Os efeitos são vistos nas atuações recentes do austríaco, que se arrasta em campo. Na outra lateral, Atsuto Uchida só provou ser um lateral mediano, de fraca marcação, péssimo posicionamento, mas com alguma qualidade no ataque, e só. O problema maior vem no miolo da zaga. Tirando o capitão Höwedes – que vive apagando incêndios na lateral direita – não há nenhum outro zagueiro confiável. Contrastantes na idade – 21 e 32 anos, respectivamente –, Matip e Metzelder tem o futebol tão parecido… Beirando a mediocridade. Papadopoulos, que não é nenhum monstro, mas que é mais zagueiro que a dupla citada, está lesionado e só deve voltar em março.

Heldt: Grande culpado?(Foto: Getty Images)

Heldt: Grande culpado?
(Foto: Getty Images)

Aí voltamos ao momento em que devemos caçar os culpados. Heldt estava pensando em quê quando trouxe Michel Bastos e Raffael? Não são jogadores ruins, muito pelo contrário, mas foram contratações impensadas. O manager conseguiu desequilibrar ainda mais um elenco que já não era um exemplo de boa distribuição.

É preocupante! No pouco que vi do time com Keller, não creio que vá mudar muita coisa, o Schalke é um bando e é mal administrado. Não há cabimento trazer tantos homens de frente com uma defesa tão frágil e sem opções. Já estou até imaginando o duelo contra o Galatasaray. Neustadter vai ficar sobrecarregado com Sneijder no seu pé, assim como Höwedes, que, provavelmente, vai ter de jogar por dois para segurar Drogba.

Imagino até mais mexidas malucas de Jens Keller, que já teve de improvisar Barnetta na lateral-direita e Kolasinac na lateral-esquerda, só falta fazer com que Michel Bastos relembre seus tempos no Brasil atuando na defesa…

A janela de transferências irá se fechar e se nenhum meteoro cair em Gelsenkirchen representando uma ajuda divina ao Schalke, a situação será crítica, não só para esta edição da UEFA Champions League, mas também para a classificação para o próximo ano, que fica cada vez mais distante na disputa da Bundesliga.

Chance de ouro

O Lyon terminou a temporada 2010/11 aos frangalhos.

Claude Puel era criticado; jogadores do próprio elenco criticavam o técnico; haviam até casos de atletas que saiam no braço com torcedores, graças a má campanha da equipe; contratações como a de Yoann Gourcuff se tornaram verdadeiros fracassos; e a vaga para os playoffs da Uefa Champions League foi conquistada muito mais pelos vários vacilos do Paris Saint-Germain do que por seus próprios méritos.

Era normal então que os torcedores do Lyon não tivessem grandes ambições para a temporada seguinte.

Rémi Garde feliz da vida com o bom início do Lyon

A grande alegria dos torcedores foi a saída de Claude Puel. Porém, no lugar do controverso treinador, chegou o inexperiente Rémi Garde. “Patrimônio” do Lyon – Garde é cria do clube e jogou no OL de 1987 até 1993 -, Garde teria no OL seu primeiro desafio profissional como técnico. Anteriormente, ele havia sido assistente técnico de Paul Le Guen e Gérard Houllier quando estes passaram pelo Lyon. De lá pra cá, virou dirigente e mais tarde treinador dos times de base do OL.

Somada a essa inexperiência, poucos reforços chegaram para Garde, que teve que se virar basicamente com o que Puel também tinha.

Era esperado um início turbulento no Campeonato Francês, sem esquecer da Champions League. O Lyon havia caído num complicado grupo, onde bateria de frente com equipes como Real Madrid e Ajax.

Mas o início de temporada do Lyon foi totalmente diferente do que os torcedores poderiam imaginar.

Nas primeiras seis rodadas da Ligue 1, Les Gones permaneceram imbatíveis. Apenas na 7ª rodada o Lyon veio a perder – 1×0 diante do Caen. Hoje, os comandados de Rémi Garde tem 17 pontos e dividem com Paris Saint-Germain e Toulouse a liderança da liga após 8 jogos.

Não eram só os resultados que chamavam a atenção, mas também o modo como a equipe jogava e se portava dentro das quatro linhas. Era uma atitude bem diferente da vista nos tempos de Puel.

Já na Champions League, o Lyon terá nesta terça-feira uma chance de ouro de começar a encaminhar a vaga para as oitavas-de-final do torneio.

Ajax e Lyon ficaram no zero (Reuters)

Após interessante 0x0 contra o Ajax em Amsterdã, o OL receberá no Gerland a equipe mais fraca do grupo, o Dínamo de Zagreb. Chance de ouro pro Lyon vencer – e vencer bem para fazer saldo – e ir tranquilo pros dois jogos seguidos diante do Real Madrid.

O Lyon tem se mostrado uma equipe bem equilibrada. Lovren e Koné tem estado firmes na marcação, sempre contando com a segurança de Hugo Lloris na meta. No meio campo, Gonalons tem jogado muito bem e feito a torcida do Lyon esquecer Toulalan, enquanto Källstrom segue sendo o maestro da “meiuca”. Mais à frente, o brasileiro Michel Bastos e o francês Gomis tem mostrado bom entrosamento e sempre são a válvula de escape do time. A velocidade de Bastos somada com a presença de área de Gomis são fatores que contribuem para uma maior combinação entre ambos, e consequentemente, no entrosamento e evolução do time.

Jogando em casa, o Lyon tem a obrigação de bater o Dínamo de Zagreb, pois se não conseguir isso, o 0x0 conquistado na Amsterdã ArenA de nada servirá. Uma boa vitória sobre os croatas deixará o time francês mais leve e tranquilo para enfrentar o Real Madrid por duas vezes seguidas. Essas características são boas, pois tornam o Lyon um franco-atirador nesses duelos, podendo partir para cima sem aquele temor de sofrer gols nos contra-ataques.

Outro motivo para tornar a vitória sobre o Dínamo de Zagreb obrigatória. Pegar o Real Madrid por duas vezes seguidas, tendo como obrigação vencer pelo menos um dos dois jogos é difícil. Os jogadores não ficam só pressionados, como ficam também com medo de partir pra cima e estragar tudo lá atrás.

É a chance do Lyon começar a encaminhar a vaga no enroscado Grupo D!

Curtinhas da rodada:

Jupp Heynckes prepara o Bayern pra pegar o City

– O grande jogo da rodada acontecerá na Alianz Arena, Bayern x Manchester City. Os Citizens entrarão na partida com a obrigação de vencer, já que empataram na 1ª rodada. Tarefa complicada, já que os bávaros sofreram somente um gol na temporada. O Napoli receberá o Villarreal e tem tudo para vencer e começar a complicar a vida do Manchester City no grupo;

– No Grupo B, Inter e Lille jogarão fora de seus domínios, mas ambos tem a obrigação de vencer. Os italianos perderam em casa pro Trabzonspor e agora não podem pensar nem em empatar com o perigoso CSKA na Rússia. Já o Lille deixou a vitória escapar contra os russos e agora tem de perder a ingenuidade e partir pra cima do Trabzonspor;

– Rodada importante para Leverkusen e Valencia no Grupo E. Os alemães pegam o Genk e os espanhóis o Chelsea. Ambos jogam em casa e nenhum dos dois pode pensar em perder pontos antes dos confrontos diretos nas rodadas 3 e 4;

– Jogo dos renascidos no Vélodrome: O Marseille, que finalmente venceu na Ligue 1, contra o Borussia Dortmund, que voltou a vencer na Bundesliga. Os franceses podem até especular com o empate, mas o BVB nem tanto, já que empatou no primeiro jogo;