Guardiola amansou o Bayern

Apesar dos bons resultados, o Bayern não está jogando bem (Foto: AFP)

Apesar dos bons resultados, o Bayern não está jogando bem
(Foto: AFP)

Quando o Bayern de Munique anunciou que Josep Guardiola seria seu técnico nesta temporada, logo surgiu um ponto de interrogação em minha cabeça: Pep será capaz de domar esse time de estilo totalmente diferente do Barcelona de seus tempos? Na época, não me atrevi a responder e, hoje, não só digo que domou o Bayern como destaco que ele amansou o time bávaro.

Sim, sei que é apenas começo de temporada e que os resultados de Guardiola não estão nem perto de serem ruins, mas o futebol apresentado deixa a torcida com uma pulga atrás da orelha.

O Bayern de Jupp Heynckes e também de Louis van Gaal (que tem méritos na montagem do time campeão de tudo na temporada passada e ninguém lembra) não só tinha a tradicional posse de bola esmagadora, como trucidava seus adversários. Os bávaros não tinham pudor algum em enfiar seis, sete ou oito gols em seus rivais, era um time pra lá de envolvente.

O trabalho de van Gaal foi assim e Heynckes apenas aprimorou, dando um jeito na defesa, que era o grande ponto fraco da época do holandês, dando mais troca de posições ao ataque e mostrando que era possível vencer dosando um pouco do ritmo, apesar das várias goleadas em seu período como técnico.

Em contrapartida, o trabalho de Guardiola vem tendo uma única semelhança com o de seu antecessor: as vitórias. O futebol apresentado, que era o mais aguardado por todos, não tem feito o exigente torcedor bávaro abrir um enorme sorriso de orelha a orelha.

O toque de bola vertical e objetivo, que sufocava os adversários, foi substituído por passes maçantes e preguiçosos, a maioria de lado, e as constantes trocas de posições dos homens de frente estão sendo modificadas por invenções (‘pardalices’?) de Guardiola na escalação.

A começar pelo posicionamento de Thomas Müller. A joia bávara sempre foi homem de chegada ao ataque, seja pelo lado do campo ou atuando atrás do centroavante. Pep já o escalou como um dos jogadores que formava um tripé no meio-campo, absurdamente distante da área. Por Müller não ter um físico que lhe proporcione força para combater e armar com mesma eficiência, Guardiola mostra-se equivocado com esta alteração.

Lahm virou volante com Guardiola (Foto: Bundesliga)

Lahm virou volante com Guardiola
(Foto: Bundesliga)

Mas, sem dúvida alguma, a decisão mais questionável, é a escalação de Phillip Lahm como volante. Posso estar falando uma besteira do tamanho do planeta, mas Lahm nunca será um cabeça-de-área e não digo isso pelas apresentações iniciais do capitão bávaro, mas sim de suas características. Ele é um dos poucos (senão único) laterais-direito completos, atacando e defendendo com maestria, mas nunca foi um exímio passador. Enquanto lateral, suas participações com passes eram quando vinha de trás, com espaço e sendo elemento surpresa. No meio-campo raras vezes terá esse espaço e ainda precisa ser ágil na hora de receber e soltar a bola.

Ao deslocar Lahm pro meio e ainda escalar o mediano Rafinha na lateral-direita, Guardiola simplesmente abre mão de ter um lateral completo para ter um jogador que mostra enormes dificuldades em trabalhar fora de posição.

E isso não é cisma minha. Os números mostram como o Bayern já começa a entrar em outro ritmo.

A vitória por 3-1 sobre o Borussia Mönchengladbach, na estreia, foi a melhor atuação bávara nas estatísticas, com 26 finalizações e 92% de acerto nos passes, apesar da posse de bola de apenas 60%. Contra o Nürnberg, na terceira rodada, bons dados também: 26 chutes, 90% de acerto nos passes e 81% de posse de bola.

Desde então, os números destoam. Contra Eintracht Frankfurt (2ª rodada), Freiburg (4ª) e Hannover (5ª), os bávaros não chegaram à marca de 20 finalizações, além de terem posse de bola inferior a 75%.

Pode parecer heresia questionar números assim, mas vale ressaltar que, na temporada passada, o Bayern tinha 15 pontos de 15 disputados, além de 17 gols marcados e dois sofridos em cinco rodadas. Hoje são 13 pontos e os mesmos dois tentos sofridos, mas apenas nove marcados, o que registra um pouco da sonolência bávara.

Em defesa de Guardiola, deve-se comentar que ele não chegou à Baviera para dar sequência ao trabalho de Heynckes, mas sim para criar uma nova cena no clube, com novas ideias e um novo estilo de jogo. Mas é importante ressaltar que revolucionar é diferente de inventar e o que o técnico espanhol tem feito em alguns jogos desta temporada não é nada revolucionário.

É início de trabalho, é verdade, mas não existe nenhuma lei que nos proíba de criticá-lo. É apontando os erros no princípio que a história se conserta mais para frente e se antes eu não sabia se Pep poderia domar o Bayern, hoje me pergunto se aquele time brilhante de meses atrás pode reaparecer.

Os onze gols que a Alemanha precisava

A final da Liga dos Campeões será alemã (Franck Fife - AFP/Getty Images)

A final da Liga dos Campeões será alemã
(Franck Fife – AFP/Getty Images)

Bayern de Munique x Borussia Dortmund é a final de Liga dos Campeões da Europa que o futebol alemão tanto aguardava. De um jeito ou de outro o campeão será germânico e isso por si só será um alívio para todos que trabalham com o futebol no país. Desde o título europeu e mundial do Bayern em 2001, os clubes alemães e também a seleção têm acumulado decepções em momentos decisivos.

Desde 2001, Borussia Dortmund e Werder Bremen foram vice-campeões da Copa da Uefa, o Bayern ficou com o segundo lugar da Liga dos Campeões em duas oportunidades e a seleção alemã teve de se contentar com um vice-campeonato e o terceiro lugar da Copa do Mundo em duas oportunidades, além de um vice-campeonato europeu e uma inesperada eliminação na semifinal da edição de 2012.

Vale salientar que, tirando o vice-campeonato do Borussia Dortmund na Copa da Uefa e da Alemanha na Copa do Mundo, ambos em 2002, todos os outros tropeços foram depois de 2006, quando novas gerações de jogadores passaram a vestir as camisas dos grandes clubes do país, além, é claro, da seleção.

Bastian Schweinsteiger, Manuel Neuer e Phillip Lahm são apenas alguns dos que já vem desde a geração de 2006 – apesar do goleiro não ter disputado a Copa daquele ano – outros como Mário Götze, Marco Reus, Mesut Özil e Toni Kroos surgiram mais recentemente, mas todos eles sofrem até hoje com o estigma de serem ótimos jogadores, formarem times condizentes com suas qualidades individuais, mas que pecam na hora da decisão.

Os onze gols que Bayern e Dortmund marcaram contra a poderosa dupla Barcelona e Real Madrid se tornou o momento chave da afirmação da força do futebol no país. Futebol envolvente, toques rápidos e nenhum medo do rival. Essas foram as características que colocaram a Alemanha, pelo menos nesta temporada, no topo do futebol europeu.

No fundo, a decisão que será realizada no Wembley será um grande teste para o futuro da seleção alemã. No dia 25 de maio, Joachim Löw poderá observar nos dois times quem são os “caras”, quem não treme e pode ser decisivo para tirar a Alemanha da fila que será de 18 anos sem título em 2014.

Thomas Müller marcou nos dois jogos diante do Barcelona (Quique Garcia - AFP/Getty Images)

Thomas Müller marcou nos dois jogos diante do Barcelona
(Quique Garcia – AFP/Getty Images)

No momento, o grande nome é Thomas Müller. Apesar de Reus e Götze pintarem como futuras estrelas da seleção, o meia-atacante bávaro voltou a jogar bem após acumular atuações fracas depois da Copa do Mundo de 2010. Müller é peça fundamental do time de Jupp Heynckes e o período em que colocou Arjen Robben no banco foi primordial para seu amadurecimento.

O momento ruim do holandês proporcionou a Müller a vaga no time titular em sua melhor função: a ponta direita e por ali voltou a mostrar o bom futebol que lhe rendeu vários elogios durante a última Copa.

O amadurecimento se mostrou nítido após a lesão de Toni Kroos, ainda nas quartas-de-final da Liga dos Campeões. Robben entrou no time, o que forçou um deslocamento de Müller para a faixa central na linha de três meias do Bayern e ele, diferente de temporadas anteriores, apresentou um bom futebol e marcou três dos sete gols de seu time na massacrante série sobre o Barcelona nas semifinais.

Falta esse amadurecimento pegar em outros atletas do time. Thomas Müller é ótimo jogador, mas não chega a ser um grande craque. Como citado anteriormente, Mário Götze e Marco Reus se aproximam mais dessa alcunha e essa final de 2013 marca o ponto de ebulição para, no mínimo, o início do amadurecimento desses atletas. Enquanto isso, para Schweinsteiger, Lahm, Weidenfeller e outros será a caminhada final rumo à consagração máxima que suas carreiras necessitam.

Mas, acima de todo amadurecimento e quebra do jejum de títulos, a final da Liga dos Campeões de 2013 será o momento em que a supremacia alemã será sentida. Desde 2010 fala-se nisso. Desde 2010 fala-se da nova geração. Desde 2010 fala-se do novo estilo de jogo do país. E, principalmente, desde 2001 fala-se do tão almejado título internacional.

Os centroavantes do Bayern

Quem dera que Mario Gomez fosse reserva no Bayern, pura e simplesmente, pelos gols em profusão de Mario Mandžukić. Se Super Mario receber mais minutos, não duvido que bata o recorde do atual titular. Porém, o croata, como cheguei a dizer meses atrás, tem muito mais mobilidade e tira a previsibilidade que o time tem com Mario Gomez.

Normalmente, Mandžukić invertia seu posicionamento com Thomas Müller, mas notei nos jogos recentes que esse “troca-troca” é constante em todos os setores do ataque. Exceto Ribéry, que fica mais preso na esquerda – embora também apareça algumas vezes pelo centro – todos os homens de frente participam dessa rotação ofensiva. Em um mesmo jogo, os bávaros ficam com, pelo menos, três centroavantes diferentes, além das trocas na armação de jogadas.

Capturei algumas imagens do primeiro tempo de Wolfsburg x Bayern, duelo vencido pelos bávaros por 2×0, para demonstrar essa movimentação:

Com dois minutos, Mandzukic deixa a área para as entradas de Kroos e Müller

Com dois minutos, Mandzukic deixa a área para as entradas de Kroos e Müller

Nesse lance, o desenho em campo já coloca Mandzukic avançado

Nesse lance, o desenho em campo já coloca Mandzukic avançado

Menos de um minuto depois, Müller já está no ataque

Menos de um minuto depois, Müller já está no ataque

Observe esta jogada: note como Kroos, Müller e Mandžukić começam em uma posição e rapidamente conseguem mudar a formatação ofensiva.

A jogada começa com Kroos pelo centro e Müller na direita

A jogada começa com Kroos pelo centro e Müller na direita

Logo, Mandzukic avança e Kroos entende o recado

Logo, Mandzukic recua e Kroos entende o recado

No final da jogada, Kroos já era o centroavante

No final da jogada, Kroos já era o centroavante com Müller centralizado

Note também que, na saída de bola, o Bayern geralmente forma um triângulo, com o homem da bola centralizado e outros dois pelos lados para auxiliar. Normalmente, Bastian Schweinsteiger fica mais recuado para organizar essa saída.

Schweini começou o lance de trás

Schweini começou o lance de trás

É por essas e outras que Mario Gomez e até mesmo Robben não retornam ao time titular. São jogadores mais fixos e previsíveis e que só atrapalham a movimentação armada por Jupp Heynckes.