Le Podcast du Foot #90 | É hora de Le Classique!

É chegada a hora de mais um confronto entre Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain, duelo que ficou conhecido como Le Classique. A partida válida pela 11ª rodada do Campeonato Francês está programada para o próximo domingo (28), a partir das 17h, no Vélodrome.

Apesar de ser uma das maiores rivalidades da França, Le Classique vive momento sui generis: o PSG não perde uma partida para seu maior rival há quase oito anos. São 17 partidas em que o time de Paris não sabe o que é perder para o Marseille.

A edição #90 de Le Podcast du Foot chega para analisar esse momento. Por que o PSG é tão dominante? O quanto isso reflete para a rivalidade? E que recorte pode ser feito olhando para o nível do campeonato? Isso tudo foi respondido por Eduardo Madeira, Filipe Papini e Vinícius Ramos.

Dê play abaixo e confira a edição #90 de Le Podcast du Foot:

O programa está disponível também no iTunes:

Sentimos sua dor

Payet se contundiu na final da Liga Europa | Foto: A.Mounic/L’Equipe

Uma dor, a lesão e as lágrimas que escorriam pela face nada mais eram do que os símbolos de um título que não viria mais. O copioso choro de Dimitri Payet, com 32 minutos de jogo, não era apenas de alguém que se contundia numa final de campeonato e, sem qualquer intenção, deixava o time na mão. Ele externava a dor de alguém que representava boa parte das esperanças do Marseille na decisão da Liga Europa em Lyon.

Payet tem sido a personificação do torcedor do OM em campo. A disposição e a entrega contínua muitas vezes se somavam a um lançamento longo ou a um chute precioso que deixava todos de queixo caído, apenas admirando o que os olhos observavam.

Além da personalidade, Payet e Marseille se confundiam em seus perfis recentes. Ambos vivem a controversa situação de entenderem quais seus reais papeis no contexto francês.

O OM é o maior e mais tradicional clube do país, mas vem sendo maltratado nos últimos anos por gestões estranhas e por um rival trilhardário que compra qualquer jogador badalado que vê pela frente. Precisou vir um norte-americano comprar o clube para tentar colocar tudo em ordem, com ambição e sonhos altos.

Já Payet é um dos mais talentosos jogadores de sua geração. É dono de um chute poderoso e de uma técnica refinada. Mas nada disso o tornou campeão. Já são 31 anos de idade e ele simplesmente não tem um título relevante na carreira.

A conquista da Liga Europa era o ponto em comum entre os dois. O Marseille poderia pegar aquela taça, enfiar entre os braços e correr para Paris gritando: “é assim que se faz!”. Payet seria o fio condutor disso tudo, o grande personagem daquela conquista.

Querendo ou não, mais do que a personificação do torcedor em campo, ele era a liderança técnica do time. O cara das assistências. Dos gols. Das viradas de bola. Era o cara ideal para erguer o troféu, para redimir todos os fracassos do passado e celebrar o início de um futuro brilhante.

Quando Payet saiu de campo, o placar já estava 1 a 0 para o Atlético de Madrid. Sua contusão, porém, foi como se os outros dois gols tivessem saído em seguida, um atrás do outro.

Os lábios apertados e o olhar marejado eram indícios de um choro copioso, que marcaria a decisão no estádio Groupama. Arrepiei com a cena. Senti a dor que Payet sentiu. Mais do que o atleta, estava ali o homem que sabia que representava um grupo importante, que sabia que era peça fundamental para um time.

Dane-se a Copa, a chance de jogar o torneio que todo jogador sonha em jogar, deveria estar pensando. O momento era aquele, pouco importava o que viria depois. A final da Liga Europa era no dia 16 de maio de 2018. Não voltaria mais. Não tinha jogo em Madrid. Aquela taça ficaria com algum time naquela noite.

As lágrimas que escorreram do rosto de Payet se esvaíram no gramado junto com as chances de título do Marseille. A esperança acabou ali, o sonho deixou de existir. A dor do camisa 10 é compartilhada. Eu senti, a torcida sentiu e o time também. O Marseille se contundiu com a contusão de Payet e, assim, viu o sonhado troféu da Liga Europa cair nos braços do Atleti.

Só restou a rivalidade entre as torcidas

OM e PSG fazem o maior clássico da França | Foto: Yannick Parienti/OM

Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain possuem vários atrativos para formar uma rivalidade destrutiva na Europa. Os dois clubes são de cidades antagônicas, com diferenças culturais e sociológicas, além de possuírem torcidas fanáticas que não se bicam, fazendo com que tenham um forte potencial comercial, que foi devidamente explorado durante as décadas de 1990 e 2000. Assim surgiu Le Classique, tido como o maior clássico da França.

Dentro das quatro linhas também há grande rivalidade. Enquanto o PSG se orgulhava do Parque dos Príncipes e do rápido crescimento, o Marseille batia no peito e, com muito orgulho, gritava que era o único francês a vencer uma Liga dos Campeões.

Todos esses fatores, porém, estão indo por água abaixo pela disparidade técnica entre as duas equipes nos últimos anos. Ambos se mostram incapazes de competir em níveis iguais. O cenário atual mostra um Paris milionário desde a chegada da Qatar Sports Investiments defronte um OM, que passou por dificuldades financeiras e somente agora, com o norte-americano Frank McCourt no comando, tenta se reerguer. O reflexo disso é uma doutrinação parisiense que perdura seis anos.

A última vez que os torcedores do Marseille voltaram para casa com uma vitória foi no dia 27 de novembro de 2011, quando derrotaram o já milionário PSG por 3×0. Era a primeira temporada do time da capital francesa com investimento do Qatar e a equipe ainda passou alguns maus bocados no primeiro semestre com o técnico Antoine Kombouaré, que viria a ser demitido na virada do ano. Um dos pontos altos desse preocupante rendimento foi exatamente esta derrota no Vélodrome.

Desde aquele dia, foram 14 jogos, com impressionantes 12 vitórias do PSG e dois empates. Neste período, o Paris fez 32 gols (média de 2.28 por jogo) e sofreu somente 11. Graças a esse novo cenário, o time da capital francesa passou a ser o dominador do clássico. Em 91 jogos ao longo da história, acumulou 38 vitórias contra 32 do OM e 21 empates.

No último jogo, aliás, o PSG sequer tomou conhecimento do maior rival e meteu 5×1, em pleno Vélodrome. Foi a maior goleada do clássico, igualando o mesmo placar aplicado pelo próprio PSG em janeiro de 1978.

Em fevereiro deste ano, o PSG meteu cinco na casa do rival | Foto: C. Gavelle/PSG

Se dividirmos Le Classique em antes e depois do PSG milionário, notaremos bem o desequilíbrio em que ficou este grande jogo. Antes da versão qatarina do Paris, foram 76 jogos, com 26 vitórias parisienses, 19 empates e 31 triunfos do OM, que também tinha o melhor ataque, com 105 gols contra 92. Na nova versão parisiense são 15 jogos, com 12 vitórias do time da capital, dois empates e somente uma vitória marselhesa.

É essa discrepância que me preocupa. O Marseille tinha a vantagem antes, mas era equilibrado. O OM nunca teve esses 14 jogos de invencibilidade – o máximo que atingiu foram nove jogos entre 1990 e 1994, com seis vitórias e três empates – tampouco acumulou dez vitórias seguidas como fez o PSG entre 2012 e 2016. É fora do comum e preocupante para o futuro do clássico. Hoje, somente a rivalidade entre as cidades de Marseille e Paris e das duas torcidas mantém o confronto vivo.