Le Podcast du Foot #90 | É hora de Le Classique!

É chegada a hora de mais um confronto entre Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain, duelo que ficou conhecido como Le Classique. A partida válida pela 11ª rodada do Campeonato Francês está programada para o próximo domingo (28), a partir das 17h, no Vélodrome.

Apesar de ser uma das maiores rivalidades da França, Le Classique vive momento sui generis: o PSG não perde uma partida para seu maior rival há quase oito anos. São 17 partidas em que o time de Paris não sabe o que é perder para o Marseille.

A edição #90 de Le Podcast du Foot chega para analisar esse momento. Por que o PSG é tão dominante? O quanto isso reflete para a rivalidade? E que recorte pode ser feito olhando para o nível do campeonato? Isso tudo foi respondido por Eduardo Madeira, Filipe Papini e Vinícius Ramos.

Dê play abaixo e confira a edição #90 de Le Podcast du Foot:

O programa está disponível também no iTunes:

O adeus de um subestimado

Cheyrou fez mais de 300 jogos pelo Marseille | Foto: OM.net

Fim da linha para Benoît Cheyrou. Aos 36 anos, o meio-campista com passagens por Lille, Auxerre e Olympique de Marseille pendurou as chuteiras por cima, como campeão da Major League Soccer, o campeonato norte-americano, com o Toronto FC.

Clássico meio-campista, daqueles que os saudosistas se acostumaram a ver e admirar, podemos dizer que Cheyrou deixa a carreira com fama de subestimado. Inteligente, dotado de ótima técnica e potente finalização e, acima de tudo, vitorioso, dificilmente ele estará nas grandes lembranças futebolísticas, principalmente por não ter se estabelecido em nível internacional.

Parte disso se deve as poucas lembranças na seleção francesa. Apesar da consistente carreira em clubes, nos Bleus foi poucas vezes lembrado. Cheyrou defendeu o time nas categorias sub-18 (conquistou a Eurocopa em 2000, no mesmo time de Philippe Mexès e Djibril Cissé) e sub-20, mas despediu-se das quatro linhas sem uma partida sequer pela equipe principal.

Explicações são difíceis de encontrar. A partir de 2007, ano em que chegou ao Marseille, Cheyrou atingiu grande nível técnico, se notabilizando como um meio-campista defensivo capaz de quebrar linhas através de passes longos e aproximação na grande área para criar jogadas. Entre 2008 e 2010, esteve no time do ano na UNFP (em tradução, a União dos Jogadores Nacionais de Futebol) e se tornou um dos grandes jogadores do país. Isso foi insuficiente para convencer os técnicos dos Bleus a convoca-los.

O contestadíssimo Raymond Domenech foi o único a convoca-lo em 2010, mas sem colocá-lo em campo, preferindo em seu período como treinador nomes como, por exemplo, Alou Diarra, Lass Diarra, no já envelhecido Claude Makélélé e Mathieu Flamini. Passaram ainda pelo comando técnico Laurent Blanc e Didier Deschamps – o atual treinador – e nada de Cheyrou ser lembrado.

Pode ser que ele nunca pudesse ser um fator desequilibrante na França da última década, alguém capaz de trazer um título de peso que não vem desde a Euro 2000, mas fica uma lacuna em sua carreira.

Cheyrou, que atuou profissionalmente desde 1999, conseguiu ter trajetória mais vitoriosa até que a do irmão, Bruno Cheyrou (que, curiosamente, fez três jogos pela seleção francesa) e foi símbolo de um Marseille que saiu de uma seca de quase duas décadas sem títulos (apesar de uma saída conturbada em 2014). Inclusive, em votação popular, ficou num “time reserva” da história do clube quando completou 110 anos e chegou a ser eleito o melhor jogador da temporada do time em 2008/09 – quando perdeu a Ligue 1 para o Bordeaux.

Há quem desgoste da banalização da palavra “craque”, que prefira usar só em casos especiais. Penso que quem preza pelo respeito a profissão de jogador de futebol e consegue apresentar um “algo a mais”, capaz de nos prender por 90 minutos e acompanhar a um recital com a bola nos pés merece ser chamado assim. Por vezes subestimado e esquecido, mas craque e vitorioso. Assim Benoît Cheyrou pendura as chuteiras.

Carreira:

Lille (1999-2004) | 116 jogos e 3 gols

*Campeonato Francês – 2ª divisão | 1999/2000

Auxerre (2004-2007) | 131 jogos e 8 gols

*Copa da França | 2004/2005

Marseille (2007-2014) | 306 jogos e 28 gols

*Campeonato Francês | 2009/2010

*Copa da Liga | 2009/2010 e 2010/2011

*Supercopa da França | 2010 e 2011

Toronto [Canadá] (2015-2017) | 68 jogos e 5 gols

*Campeonato Canadense | 2016 e 2017

*Major League Soccer | 2017

Só restou a rivalidade entre as torcidas

OM e PSG fazem o maior clássico da França | Foto: Yannick Parienti/OM

Olympique de Marseille e Paris Saint-Germain possuem vários atrativos para formar uma rivalidade destrutiva na Europa. Os dois clubes são de cidades antagônicas, com diferenças culturais e sociológicas, além de possuírem torcidas fanáticas que não se bicam, fazendo com que tenham um forte potencial comercial, que foi devidamente explorado durante as décadas de 1990 e 2000. Assim surgiu Le Classique, tido como o maior clássico da França.

Dentro das quatro linhas também há grande rivalidade. Enquanto o PSG se orgulhava do Parque dos Príncipes e do rápido crescimento, o Marseille batia no peito e, com muito orgulho, gritava que era o único francês a vencer uma Liga dos Campeões.

Todos esses fatores, porém, estão indo por água abaixo pela disparidade técnica entre as duas equipes nos últimos anos. Ambos se mostram incapazes de competir em níveis iguais. O cenário atual mostra um Paris milionário desde a chegada da Qatar Sports Investiments defronte um OM, que passou por dificuldades financeiras e somente agora, com o norte-americano Frank McCourt no comando, tenta se reerguer. O reflexo disso é uma doutrinação parisiense que perdura seis anos.

A última vez que os torcedores do Marseille voltaram para casa com uma vitória foi no dia 27 de novembro de 2011, quando derrotaram o já milionário PSG por 3×0. Era a primeira temporada do time da capital francesa com investimento do Qatar e a equipe ainda passou alguns maus bocados no primeiro semestre com o técnico Antoine Kombouaré, que viria a ser demitido na virada do ano. Um dos pontos altos desse preocupante rendimento foi exatamente esta derrota no Vélodrome.

Desde aquele dia, foram 14 jogos, com impressionantes 12 vitórias do PSG e dois empates. Neste período, o Paris fez 32 gols (média de 2.28 por jogo) e sofreu somente 11. Graças a esse novo cenário, o time da capital francesa passou a ser o dominador do clássico. Em 91 jogos ao longo da história, acumulou 38 vitórias contra 32 do OM e 21 empates.

No último jogo, aliás, o PSG sequer tomou conhecimento do maior rival e meteu 5×1, em pleno Vélodrome. Foi a maior goleada do clássico, igualando o mesmo placar aplicado pelo próprio PSG em janeiro de 1978.

Em fevereiro deste ano, o PSG meteu cinco na casa do rival | Foto: C. Gavelle/PSG

Se dividirmos Le Classique em antes e depois do PSG milionário, notaremos bem o desequilíbrio em que ficou este grande jogo. Antes da versão qatarina do Paris, foram 76 jogos, com 26 vitórias parisienses, 19 empates e 31 triunfos do OM, que também tinha o melhor ataque, com 105 gols contra 92. Na nova versão parisiense são 15 jogos, com 12 vitórias do time da capital, dois empates e somente uma vitória marselhesa.

É essa discrepância que me preocupa. O Marseille tinha a vantagem antes, mas era equilibrado. O OM nunca teve esses 14 jogos de invencibilidade – o máximo que atingiu foram nove jogos entre 1990 e 1994, com seis vitórias e três empates – tampouco acumulou dez vitórias seguidas como fez o PSG entre 2012 e 2016. É fora do comum e preocupante para o futuro do clássico. Hoje, somente a rivalidade entre as cidades de Marseille e Paris e das duas torcidas mantém o confronto vivo.