A Copa que desmistifica a Ligue 1

Foto: Reprodução

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O legal do futebol é que ele está em todo lugar, infiltrado entre as elites e fortemente entrelaçado com os mais necessitados. É por isso, também, que esse esporte é perfeitamente imperfeito. Não importa se o goleiro do meu time é o Zé da rua de cima ou a muralha cobiçada por 20 entre 20 times milionários: eu estarei lá torcendo para que ele ganhe o jogo.

Vai ver é por isso que gosto do Campeonato Francês. Têm 0x0? Tem. Têm jogos chatos? Tem. Têm jogadores ruins? Tem. Mas como disse: o futebol é legal por isso, não precisa ser perfeito para ser bom. Entupo o blog com postagens da Ligue 1 porque gosto do campeonato e porque me animo a escrever sobre. Hoje tenho o maior orgulho de dizer que o Le Podcast du Foot, uma ideia diferente para trabalhar apenas com blocos isolados da internet, é um dos responsáveis pelo bom número de acessos que tenho.

Mais orgulho ainda me dá ver quando “cabeças” do jornalismo esportivo consultam a mim ou a colegas de podcast para sanar dúvidas do campeonato. É um reconhecimento por um trabalho que não me dá retorno algum financeiramente, mas que traz a tão procurada credibilidade.

Talvez por causa desse retorno profissional e do público também (beijo proceis que tão lendo) que eu tenha deixado de lado aquela bronca com quem desmerece o meu querido Francesão. Como diria o filósofo do boteco da praça, “gosto é que nem bunda: cada um tem a sua”, e segue o jogo.

Entretanto, algumas críticas pontuais ainda me incomodam. Uma delas é a de que o Campeonato Francês tem apenas dois times: Paris Saint-Germain e Monaco. Para o bem de todos que não querem cair nessas ladainhas, a Copa do Mundo está nos provando o contrário.

Faltando uma semana para o término da competição (FICA COPA!), vimos uma série de jogadores que atuam em terras francesas se destacando aqui no Brasil. E não falo de figurinhas tarimbadas, como James Rodríguez, Thiago Silva, Matuidi, Ibrahimovi… Não, pera! Bom, mas a linha é essa: a Copa desmistificou a Ligue 1 e mostrou que o país não é só PSG e Monaco.

Na própria Colômbia, onde muitos (desavisados) conheceram James nas últimas semanas, havia o ótimo David Ospina, do Nice. Só não o coloco como um dos melhores goleiros da competição porque há tempos não via uma Copa com arqueiros atuando em tão bom nível como essa, mas seu desempenho foi ótimo, não há dúvida alguma. A mesma seleção tinha uma dupla de volantes formada por caras conhecidas do futebol francês: Abel Aguilar, do Toulouse, e Sánchez Moreno, que ficou quase sete anos no Valenciennes antes de se transferir para o Elche, da Espanha.

Falei de um goleiro no parágrafo anterior, lembro-me de outros dois que deixaram sua marca no Brasil: Guillermo Ochoa, do México e do Ajaccio (está deixando o clube, alô pessoal!), e Vincent Enyeama, da Nigéria e considerado melhor arqueiro da Ligue 1 com a camisa do Lille na última temporada.

É verdade que Enyeama falhou feio no gol de Paul Pogba, no jogo que eliminou a seleção nigeriana da Copa, mas ele ficou muito mais marcado pelas boas intervenções do que pelos raros erros.

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O que falar, então, de Serge Aurier e André Ayew? Ambos não passaram da primeira fase com Costa do Marfim e Gana, respectivamente, porém a participação da dupla chamou a atenção de muita gente. O que os dois fizeram não foi nada mais do que é feito semanalmente em cada rodada do Campeonato Francês (Aurier pelo Toulouse e Ayew pelo Marseille).

Aurier, aliás, deve desembarcar na Inglaterra nas próximas semanas. O nome do lateral-direito esteve ligado ao Arsenal, mas coloco meus dois pés atrás com isso graças a iminente chegada de Mathieu Debuchy ao clube londrino. Entretanto, a transferência de Divock Origi para o Liverpool é mais provável. O belga do Lille, de apenas 19 anos, foi mais um a chamar a atenção na primeira fase da Copa do Mundo, sendo importante na vitória sobre a Argélia e marcando o gol da vitória sobre a Rússia. O LOSC, que já soltou mundo afora atletas como Eden Hazard, Mathieu Debuchy e Yohan Cabaye, prepara seu canhão para soltar mais uma bola para o Planeta Bola.

Isso que nem falei dos “Ligue 1 Boys” da seleção francesa (como Mathieu Valbuena) e dos que tiveram poucos minutos (ou nenhum) na Copa (como Majeed Waris e Remy Cabella).

Para o Brasil, não sei dizer qual será o legado que essa Copa do Mundo vai deixar. Aeroportos, estradas, estádios, infraestrutura… Honestamente, não tenho nem ideia. Morando em Santa Catarina, Estado que não recebeu nem mesmo uma seleção para treinar, me mantive distante disso tudo. Apenas sei que um dos legados intelectuais (desculpem-me, não achei termo melhor) é esse: o Campeonato Francês NÃO tem só dois times.