Sem sentido

Lewandowski no Manchester: tem sentido?(Foto: Getty Images)

Lewandowski no Manchester: tem sentido?
(Foto: Getty Images)

Nunca foi de meu feitio comentar as especulações que tanto aparecem na mídia. A maioria é rasa em informações e feita apenas para vender mais jornais e ganhar mais cliques em portais na internet. Mas uma das mais comentadas atualmente me soa tão absurda, porém, possível que seja concretizada, que me senti obrigado a abrir o blog pra comentar. O rumor em questão envolve o atacante do Borussia Dortmund, Robert Lewandowski, que estaria migrando para o Manchester United.

Mas o que o polonês deseja fazer em Manchester? Pegar chuva? Pergunto isso porque jogar não me parece ser um dos principais objetivos com uma eventual mudança. Ainda assim, muitos veículos de imprensa falam com tanta clareza que essa transferência pode ser efetuada, que me soa absurdamente estúpido – dos dois lados – que isso aconteça.

Um primeiro ponto de estupidez seria pela grana gasta pelo Manchester United em um curto espaço de tempo para jogadores de funções semelhantes. Robin van Persie foi comprado por 30 milhões de euros no começo da temporada e segundo a imprensa inglesa, a contratação de Lewandowski superaria a marca dos 20 milhões. Gastar mais de 50 milhões em menos de seis meses para dois atacantes não é uma das ideias mais sensatas que se pode ter.

Essa contratação teria sentido maior se o Manchester United tivesse a pretensão de formar uma dupla de ataque com van Persie e Lewandowski, não me parece ser esse o caso. Alex Ferguson ainda tem a disposição Wayne Rooney, que, convenhamos, não é um atacante que possa ser desprezado. Além disso, o mexicano e pouco badalado Chicharito Hernández vem fazendo seus gols e tem se tornado uma espécie de talismã do técnico escocês.

E com a Premier League virando uma espécie de passatempo para o Manchester – principalmente se passarem “ilesos” dessa incontável série de jogos entre o fim de 2012 e início de 2013 –, a UEFA Champions League vai se tornar o sonho principal do time e Lewandowski não poderia disputar a competição por já ter jogado pelo Dortmund.

Jornais ingleses afirmam categoricamente que Lewandowski jogará no time de Ferguson

Jornais ingleses afirmam categoricamente que Lewandowski jogará no time de Ferguson

Veículos de imprensa da Inglaterra defendem a ideia de que o polonês sairá da Alemanha por ainda não ter renovado seu contrato. Detalhe: seu vínculo com o clube do Vale do Ruhr vai até o meio de 2014, ou seja, o fato de ter rejeitado uma renovação no passado, não significa que não possa mudar de ideia nos próximos 18 meses.

Honestamente, ninguém sairá ganhando com essa troca. Olhando pela ótica do Lewandowski, ele sairá de um clube onde é titular absoluto e que fará muita falta – ainda me explicarão o que Julian Schieber faz em Dortmund – para disputar posição com dois dos melhores atacantes do mundo e com um jovem confiante e que vem sendo lapidado por Ferguson. Enquanto o Manchester United gastará demais em um setor bem abastecido de jogadores e nem poderá utilizar o polonês na Liga dos Campeões. É claro que tanto Rooney quanto van Persie podem atuar em outras posições, mas não vão render o máximo e nem fazer os gols que tanto esperam que façam. Além do mais, Chicharito deverá perder espaço e ganhar novo status em outra equipe, possivelmente, em um rival do United.

Nada faz sentido nessa especulação. O dinheiro não seria gasto conscientemente pelo Manchester, Lewandowski não teria a mesma estabilidade que tem em Dortmund e o clube alemão ficaria órfão de seu principal artilheiro. Pode ter coelho nesse mato – alguém conseguirá tirar Rooney da Inglaterra? – mas enquanto não surgir algo mais concreto, não darei tanta ênfase a essa especulação. Se todas as afirmações categóricas da imprensa inglesa forem confirmadas, poderemos soar as cornetas, pois essa transferência só tem lógica pra quem quer vender jornal, mas no campo, nada.

Às avessas

Agüero proporcionou uma das cenas mais marcantes de 2012

Desde que foi comprado pelo sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan, a rotina do Manchester City é ir à forra e gastar pra valer. Segundo o site “Transfermarkt”, o clube inglês gastou 94 milhões de euros em 2011/12, 182 milhões em 2010/11, 147 milhões em 2009/10 e 157 milhões de euros em 2008/09, totalizando quase 600 milhões em quatro anos.

Se na última temporada o dinheiro investido já havia sido mais “modesto”, comparado com valores de temporadas passadas, você nem imagina o quanto que o City gastou para a edição 2012/13 da Barclays Premier League. Os campeões ingleses gastaram apenas 15 milhões de euros e em apenas um jogador, Jack Rodwell.

Caiu a ficha do sheik Mansour e de todos no Manchester City de que “gastar por gastar” não adianta muita coisa. O clube fará barulho, chamará a atenção da mídia e dos torcedores, mas criará uma pressão monstruosa sobre todos que participam deste projeto. Gastando com inteligência e com precisão cirúrgica, tudo pode dar certo.

Afinal de contas, o Manchester City foi campeão inglês, não havia muito para o que mexer. A não ser que Mansour queira, desesperadamente e a qualquer custo, vencer a UEFA Champions League, fazendo com que não meça esforços para chegar a tal objetivo. O título ele quer – quem não quer? -, mas tentando seguir a linha de raciocínio traçada na última temporada.

De que adianta a vinda de Rodwell? Simples! Yaya Touré, peça importantíssima da conquista nacional jogando como meia-armador, teve de jogar várias vezes como volante – sua posição original – para qualificar a saída de bola, que é uma pequena deficiência de Gareth Barry e Nigel De Jong. Rodwell atua nessa faixa central, fazendo o que os ingleses costumam chamar de “box-to-box”, com isso, Touré pode ser efetivado como um meia-ofensivo.

Mesmo com um único reforço, o Manchester City segue muito forte, já que não perdeu ninguém importante e mantém a espinha-dorsal, formada por Joe Hart, Vincent Kompany, Yaya Touré, David Silva e Agüero.

Além disso, o argentino Carlos Tévez tem se redimido de seus atos indisciplinares no passado e tem conquistado a confiança de Roberto Mancini. O treinador italiano já chegou a afirmar que “se tiver vontade de jogar, Tévez é um dos melhores”.

Com esses acréscimos todos, os adversários é que passaram a abrir o bolso para tentar desbancar o City. Até mesmo o vizinho United decidiu mexer-se da cadeira para contratar. Às vésperas do início da Premier League, os Red Devils investiram 30 milhões de euros em Robin van Persie, principal jogador do Arsenal. O holandês se juntará ao também recém chegado Shinji Kagawa, destaque do Borussia Dortmund.

O problema para Alex Ferguson será encaixar essa dupla com Wayne Rooney. No esquema que Fergie costuma utilizar, só caberiam dois deles, no caso, um homem de área e um segundo atacante. Fica a dúvida se o escocês colocará Kagawa como winger ou box-to-box, já que os atacantes deverão ser Rooney e van Persie.

Eden Hazard irá se aventurar em Londres

O time que mais fez apostas interessantes na hora de gastar sua grana foi o Chelsea. Os campeões europeus decidiram reforçar o setor que passava por maior instabilidade: a armação. Caracterizada como uma equipe veloz e de contra-ataque, Roman Abramovich decidiu investir em atletas dotados de maior técnica, como Oscar e Eden Hazard, ambos contratados por mais de 30 milhões de euros.

Mesmo com esses reforços vindo a peso de ouro, a maior esperança dos londrinos está depositada em Fernando “Niño” Torres. O espanhol, contratado por quase 60 milhões de euros em 2011, ainda não decolou em Stamford Bridge e com a saída de Didier Drogba, a diretoria decidiu fazer valer toda a grana investida e dar um voto de confiança a Torres.

Acredito que esse trio deverá brigar pelo título inglês. Foram os que mais investiram nas últimas temporadas e os que possuem elencos mais fortes e competitivos. Chegam forte não só para a Premier League, como para a UEFA Champions League.

A Premier League continuará com seu alto nível. Nos últimos anos, a edição que está para começar é a que tem os favoritos em maior força. O City tem a base campeã, o United se reforçou com o artilheiro da última temporada e o Chelsea trouxe dois brilhantes atletas da nova geração mundial.

É certeza de grandes jogos e emoção até o último minuto!

Quem será o Zizou da vez?

Zizou cresceu na hora certa

Dia 13 de junho de 2004. A Europa estava atenta para a estréia de duas seleções consideradas favoritas a vencer a UEFA Euro daquele ano: a França de Zinedine Zidane contra a Inglaterra de David Beckham. O Estádio da Luz em Lisboa ficaria pequeno para tantos craques e tantas emoções.

Era apenas o segundo dia de jogos e os anteriores apresentaram poucas emoções. Portugal, mandante, tropeçou diante da Grécia – tropeço que se repetiria no jogo final do torneio -, enquanto a Espanha vencera a Rússia pelo placar mínimo. Pelo mesmo grupo de franceses e ingleses, Suíça e Croácia empataram sem gols e a vitória em Lisboa destinaria a ponta do grupo logo na primeira rodada.

Assim como nas guerras, Inglaterra e França tinham um enorme histórico de jogos. No início, os ingleses dominavam completamente o confronto. Entre 1923 e 1931, foram seis jogos e seis vitórias inglesas, todas elas marcando pelo menos três gols. No sétimo jogo, em 1931, Les Bleus descontaram e venceram por 5×2, mas voltaram a ficar em uma série inativa de vitórias. Seu triunfo seguinte seria em 1946, vitória por 2×1.

Os primeiros duelos oficiais entre franceses e ingleses foram apenas nos anos 60. Em 1962 e 1963, a dupla se enfrentou na fase de qualificação para a Eurocopa. Na ida, em Sheffield, 1×1, na volta, em Paris, vitória francesa por 5×2. Em 1966 aconteceu o primeiro jogo em uma Copa do Mundo. As quase 100 mil pessoas que foram ao Estádio Wembley viram o English Team bater a França por 2×0, com dois gols de Roger Hunt.

O último duelo de Copa do Mundo entre as duas seleções foi em 1982. A seleção francesa, que encantara o planeta bola naquele ano, foi totalmente envolvida pela Inglaterra e deixou o San Mamés em Bilbao derrotada por 3×1. Não custa reforçar que o selecionado inglês, de Peter Shilton, derrotou, simplesmente, a França de Platini, Rocheteau, Giresse e Trésor.

Em 1992, aconteceu o primeiro duelo em uma Eurocopa. Porém, nada de gols. E olha que opções para as redes balançarem não faltaram. O English Team tinha Gary Lineker e Alan Shearer no ataque, enquanto os Bleus tinham Eric Cantona e Jean-Pierre Papin.

O confronto válido pelo Torneio da França de 1997 ficou marcado como a última vitória inglesa sobre a França. Depois daquele triunfo no Stade de La Mosson, 1×0 gol de Shearer, foram mais cinco jogos, com quatro vitórias francesas e um empate.

Mas voltando ao confronto de 2004, a Inglaterra parecia que finalmente tiraria a barriga da miséria. Vencia por 1×0, gol de Frank Lampard. O ídolo inglês, Beckham, teve participação decisiva no tento, pois foi ele quem cobrou a falta com precisão, na cabeça do meia do Chelsea.

Na etapa final, o English Team teve o jogo em mãos. Aos 28 minutos, o jovenzinho Wayne Rooney, na época com apenas 19 anos, recebeu em velocidade e só foi parado por Silvestre, que cometeu pênalti. David Beckham teve em seus pés a chance de dar a vitória para a Inglaterra, mas sua cobrança parou nas mãos de Barthez. O goleiro se redimiu de 1997, quando errou no gol de Shearer, no supracitado duelo do Torneio da França.

Falhar não era uma opção aceitável quando se tinha do outro lado Zinedine Zidane. Zizou, em dois toques de mestre, decidiu a peleja. Primeiro, aos 45 minutos, em cobrança de falta magistral, jogando ao lado direito do goleiro David James, que, parado, nada pôde fazer. No lance seguinte, Steven Gerrard recuou para seu arqueiro, mas não viu a presença de Henry, que venceu a disputa em velocidade, mas foi derrubado na grande área. Zidane cobrou o pênalti no mesmo lugar onde havia colocado a bola na cobrança de falta e virou a peleja para a França.

De falta, Zidane decidiu em 2004

As falhas nos acréscimos do árbitro, somado ao pênalti desperdiçado por Beckham, culminaram na derrota inglesa.

Em toda a história, franceses e ingleses se enfrentaram trinta vezes e o English Team leva ampla vantagem: 16 a 9 em vitórias, além de cinco empates. Porém, a França equilibrou esses números com o pequeno tabu supracitado, que dura desde 1997.

E na segunda-feira? Quem será o Zizou? A camisa 10 francesa é de Karim Benzema. Ele será capaz de decidir em dois lances como Zidane em 2004? Aguardemos!

FICHA TÉCNICA:

Estádio da Luz – Lisboa

França: Barthez; Thuram, Gallas, Silvestre (Sagnol) e Lizarazu; Pirès (Wiltord), Vieira, Makélélé (Dacourt) e Zidane; Henry e Trezeguet — Técnico: Jacques Santini

Inglaterra: James: Neville, King, Campbell e Cole; Beckham, Lampard, Gerrard e Scholes (Hargreaves); Rooney (Heskey) e Owen (Vassell) — Técnico: Sven-Göran Eriksson

Arbitragem: Markus Merk, Christian Schräer e Jan-Hendrik Salver (Alemanha)

Gols: Zidane, 90+1′ e 90+3′ (FRA); Lampard, 38′
Cartões amarelos: Silvestre e Pirès (FRA); James, Lampard e Scholes (ING)