Landreau – Debuchy, Chedjou, Rami e Emerson – Mavuba, Cabaye e Obraniak – Hazard, Sow e Gervinho
A formação citada acima foi a utilizada por Rudi Garcia no dia 21 de maio de 2011. Com esses onze atletas, mais Frau, Gueye e Túlio, o Lille empatou com o Paris Saint-Germain na capital e conquistou o Campeonato Francês, título que não vinha há mais de 55 anos.
Mais do que o caneco levado para casa, os Dogues se livraram do estigma de time que praticava um futebol bonito e vistoso, mas que sempre saia de campo derrotado. Além da técnica apresentada dentro das quatro linhas por Hazard, Cabaye, Gervinho e companhia, os números também fizeram com que aquele título se tornasse incontestável. O Lille foi a equipe que mais venceu naquela temporada (21), a que menos perdeu (4), a que mais fez gols (68) e a que menos viu suas redes serem balançadas (36).
Dois anos e alguns quebrados se passaram e daquele time só restam as marcantes lembranças. O Lille começou a temporada 2013/14 com apenas seis remanescentes daquela conquista: Franck Béria, Rio Mavuba, Florent Balmont, David Rozehnal, Idrissa Gueye e Túlio de Melo. Desse sexteto, apenas Mavuba pode ser considerado um jogador de vital importância naquela equipe, afinal, era o capitão, mas dos demais, apenas atletas que flutuavam entre o time titular e reserva.
Até mesmo Rudi Garcia, que havia assumido o comando técnico em 2008, se transferiu para a Roma ao término da última temporada. René Girard, treinador campeão nacional em 2012 com o Montpellier tornou-se o substituto.
Como se essas mudanças não fossem o bastante, hoje o Lille joga no moderníssimo estádio Pierre Mauroy (após muita confusão com os tão falados naming rights) e não mais no simpático Lille Métropole.
Diante de tantas mudanças e com a perda do jogador que tinha tudo para ser o grande astro da equipe nos próximos anos (Dimitri Payet, transferido para o Marseille), o Lille passa a apostar todas as suas fichas na garotada que sabe garimpar tão bem.
Para o ataque a grande esperança é Divock Origi, jogador de 18 anos. Sua chance é fazer o que nem Nolan Roux e Túlio de Melo foram capazes de fazer: substituir Moussa Sow a altura. Desde que o senegalês foi contratado pelo Fenerbahçe, o Lille sofre com atacantes irregulares e de poucos gols. Em dois anos no clube, Sow balançou as redes 32 vezes, enquanto isso, Roux e Túlio marcaram juntos 24 gols nesse período sem o senegalês.
O queniano Origi sempre teve o futebol na veia, já que seu pai, Mike Origi, foi atacante por mais de dez anos na Bélgica e sua família mora lá há muito tempo, até por isso Divock defende as seleções de base do país belga. Porém, a federação queniana já se mexe para tentar convencê-lo a defender a nação que Mike defendeu.
Com apenas 12 jogos no Campeonato Francês, Origi já tem dois gols com a camisa do Lille, sendo o primeiro em fevereiro, contra o Troyes. Na ocasião, o garoto entrou em campo aos 23 minutos da etapa final e balançou as redes menos de dez minutos depois. Com Garcia, nunca teve muito mais do que 20 minutos em campo, mas com Girard foi titular nos dois jogos e fez o gol da vitória do Lille na estreia da temporada.
A outra aposta vem da Costa Rica: John Jairo Ruiz de 19 anos, também atacante. O garoto revelado pelo Deportivo Saprissa chegou a receber uma proposta formal do Barcelona em 2011, mas tornou-se um Dogue no ano seguinte. Ainda “verde”, Ruiz passou uma temporada no Royal Mouscron, clube da segunda divisão belga.
O costarriquenho foi grande destaque da equipe que quase subiu a elite do país, anotando 15 gols em 26 partidas, sendo o artilheiro do Mouscron na temporada, antes de voltar ao Lille.
Em entrevistas a imprensa da Costa Rica, Ruiz comentou que conversou com Girard e o técnico lhe pediu calma para desenvolver seu futebol e que costuma dar oportunidades aos jovens, servindo de alento para o segundo costarriquenho na história do futebol francês (Joel Campbell no Lorient foi o precursor).
Talento, Origi e Ruiz têm de sobra. Além da juventude, o que dá uma margem gigantesca para evolução, ambos ainda contam com a sustentação de alguns pilares como Mavuba e Balmont, jogadores experientes e de forte relação com a exigente torcida lillois. Mavuba, aliás, é o jogador que mais conversa com Ruiz, segundo destaca o próprio costarriquenho.
O que falta mesmo ao Lille é que essa pressão não recaia somente sobre a dupla. É preciso que Marvin Martin volte ao planeta Terra e demonstre o futebol que o levou à seleção francesa jogando pelo inexpressivo Sochaux, assim como Salomon Kalou precisa definir sua situação no clube para se tornar mais uma alternativa para Girard.
UM CASO A PARTE
Você deve estar se perguntando o motivo de não ter citado Florian Thauvin, principal reforço do Lille para esta temporada (contratado ainda no início deste ano). Considero o atleta um caso a parte. Toda novela envolvendo sua possível transferência para o Marseille ou até mesmo para o futebol inglês me deixa com a nítida impressão de que não ficará muito tempo nos Dogues.
Não digo isso por causa das especulações, mas sim por um caso muito parecido que envolveu um jogador que viria a vestir a camisa do Lille: Dimitri Payet. Na temporada 2010/11, o meia-atacante estava voando pelo Saint-Étienne e despertando interesse de várias equipes, entre elas o, na época “pobre”, PSG.
Poucos dias antes do fechamento da janela de transferências, Payet começou a forçar a barra para conseguir uma negociação, chegando a deixar de treinar e até de jogar. O Saint-Étienne bateu o pé e não vendeu o atleta no meio da temporada. Seis meses depois, Payet foi transferido para o Lille com um valor parecido ao proposto pelo PSG, com alguns detalhes mínimos persuadindo o Saint-Étienne.
Foi apenas um reforço da tese “quando o jogador bate o pé, não tem dirigente que dê jeito” e com Thauvin a situação parece ser a mesma. Ele pode até vestir a camisa do Lille e mostrar seu talento em alguns jogos, mas não o coloco como personagem central de um novo cenário pro clube. Deveria ser, é verdade, mas toda novela envolvendo sua saída faz com que não coloque minhas fichas nisso.
Imagens: Losc.fr