Começo esta postagem com uma pergunta: quem é o centroavante francês do momento? Seria Karim Benzema, autor de 24 gols na temporada pelo Real Madrid? Ou então Olivier Giroud, que foi às redes 20 vezes pelo Arsenal? Que tal, então, Alexandre Lacazette, do Lyon, ou André-Pierre Gignac, do Marseille, que são os franceses que mais marcaram gols na Ligue 1 (ambos com 14)?
A resposta correta é: nenhum deles.
O atacante do momento de origens francesas tem nome exótico e não joga em nenhum grande centro europeu. Falo de Aatif Chahechouhe, franco-marroquino de 27 anos e que defende o Sivasspor, 5º colocado do Campeonato Turco. O time dele é a grande surpresa da competição, já que historicamente é inexpressivo no país e ocupou o indigesto 12º lugar na última temporada.
Atualmente, a equipe da cidade de Sivas possui alguns nomes conhecidos, como Cicinho (ex-Real Madrid e Roma), Pedro Oldoni (AQUELE), John Utaka (ex-Montpellier) e o técnico Roberto Carlos (pentacampeão com o Brasil), mas o grande jogador ainda é o francês, autor de 15 gols e responsável por 11 assistências na temporada. Tais números lhe dão o status de artilheiro máximo do campeonato nacional.
Parece coisa pouca, mas não é. Começando pela concorrência. Chahechouhe simplesmente têm como adversários artilheiros como Didier Drogba, Burak Yilmaz (ambos do Galatasaray), Emmanuel Emenike, Moussa Sow (Fenerbahçe) e Theofanis Gekas (Konyaspor). Por fim, não é nenhum destes citados que está mais próximo do francês, mas, sim, o romeno Bogdan Stancu, com 13 gols.
Outro ponto importante e que devemos valorizar no desempenho de Chahechouhe é o registro baixo de gols que tinha antes desta temporada. Em 2012/13, por exemplo, o francês fez apenas seis gols no Campeonato Turco (oito na temporada toda).
Continuando na temporada anterior, é justamente ali que começamos a valorizar o trabalho surpreendente de Roberto Carlos. Sem o pentacampeão no comando, Chahechouhe costumava jogar aberto pelos lados, atuando distante da área. O técnico brasileiro chegou e mudou essa história. O francês atua mais próximo do gol, sendo centroavante ou o jogador central da linha de três do 4-2-3-1.
Entretanto, em entrevista a imprensa marroquina, o atleta não creditou a mudança no comando como algo preponderante para o crescimento na temporada. “Não acho que há diferença. Apenas estou mais confiante este ano do que na temporada passada”, apontou.
Apesar de contemporizar, é inegável ressaltar que a troca de técnicos foi responsável por muito do que estamos vendo hoje: Chahechouhe com mais gols que Drogba e mais assistências que Wesley Sneijder.
O mais impressionante desta história toda é que Chahechouhe é um ilustre desconhecido no futebol francês. Nascido em Fontenay-aux-Roses (aliás, ele veste a camisa 92 porque é o número da casa dele na cidade), sudoeste de Paris, o atacante de origens marroquinas passou despercebido por cinco clubes franceses.
O franco-marroquino chegou a ter uma meteórica passagem pelo Sedan, na segunda divisão do país, mas fez o nome nas ligas amadoras, antes de parar no Nancy em 2009. No clube da Lorena, raramente jogou. Não realizou nem uma dezena partidas pelo clube, fazendo com que fosse despachado para a Bulgária.
Defendendo o Chernomorets Burgas por meia temporada, Chahechouhe fez 10 gols em 15 jogos (chegou a marcar seguidamente em cinco jogos) e foi de suma importância na campanha que deixou o time na 4ª colocação do Campeonato Búlgaro. Na época, a vaga na Liga Europa só não veio em função de um inesperado empate diante do Lokomotiv Sofia, na penúltima rodada. O tropeço fez com que o Levski Sofia o ultrapassasse e levasse a vaga.
Foi desse sucesso na Bulgária que conseguiu partir para a Turquia e ser o principal destaque do time de Roberto Carlos e um dos nomes mais lembrados no campeonato local, sendo mais importante até que os de Drogba, Sneijder e seus Blue Caps (o Galatasaray não tem mais chances de título e, no momento, não iria para a Liga dos Campeões).
Enquanto isso, Benzema saiu de uma série de sete jogos sem marcar com o gol da vitória sobre o Bayern na última quarta-feira (23) e Olivier Giroud não consegue emplacar no Arsenal com média de um gol a cada quase três jogos. Motivo de preocupação para a dupla que deverá estar na Copa do Mundo? Nem tanto. Chahechouhe já demonstrou interesse em vestir a camisa da seleção marroquina e este desejo deve ser atendido mais cedo ou mais tarde.
Nada mais justo para um francês que foi se encontrar na carreira longe de casa.