Le Podcast du Foot #92 | É a vez delas

O grande centro do futebol feminino na Europa é a França. Trata-se do país do poderosíssimo Olympique Lyonnais, doze vezes campeão nacional e que só deixou de participar de duas finais da Liga dos Campeões entre 2010 e 2018 – sendo campeão cinco vezes.

É a nação também do PSG, que investe bastante em suas garotas, e de uma seleção nacional bastante forte. Aliás, 2019 tem Copa do Mundo, e a disputa será na França.

Fazendo uma correção histórica nos mais de cinco anos de Le Podcast du Foot, a edição #92 fala única e exclusivamente sobre futebol feminino. O âncora Eduardo Madeira recebeu a jornalista Cíntia Barlem, do Dona do Campinho e do Sportv, e abriu o jogo com ela: Lyon, PSG, principais jogadoras, Women’s Champions League, Copa do Mundo e muito mais.

Escute o programa abaixo:

Lesão de Sidibé coloca Debuchy no jogo

Debuchy vive a expectativa de voltar à seleção | Foto: Equipe de France / FEP

No quebra-cabeça para a montagem do time que irá à Rússia, a peça com a face de Mathieu Debuchy entra em cena. Fora da seleção francesa desde 2015, ele retornou à França para defender o Saint-Étienne na metade desta temporada e, com a lesão de Djibril Sidibé, ganha espaço para entrar na lista final de Didier Deschamps, mesmo fora de todo o período de preparação para a Copa do Mundo.

Bom frisar já de início que a ausência de Sidibé ainda não é certa. Mas o fato de a lesão ter sido no joelho – o que já causa uma preocupação normal – e o Monaco ter emitido nota apenas confirmando o problema físico, mas não o tempo de parada, já levantam as especulações quanto a um corte para a Copa do Mundo.

A dor de cabeça para Deschamps se dá pela falta de opções. Christophe Jallet, que durante muito tempo foi o reserva da posição, realizou cirurgia no joelho esquerdo no fim do ano passado e também teve problemas no tendão. Não joga desde fevereiro e perdeu espaço em função disso.

Quem passou a preencher a lacuna foi Benjamin Pavard, do Stuttgart. O problema, porém, é a característica do defensor de 22 anos. Segundo o WhoScored, em 30 jogos na Bundesliga, ele atuou como zagueiro em 22, sendo lateral-direito em apenas três oportunidades.

Valeria a pena mudar o jeito de jogar do time em função disso? Penso que não. Sidibé era peça importante da França, sempre com boas subidas e mostrando qualidades como cruzamentos e jogadas de ultrapassagem. Pavard dificilmente forneceria isso.

O mais próximo de manter esse panorama é mesmo com Debuchy. Apesar de não ter a força física do lateral monegasco, ele tem a característica ofensiva que torna o jogo de ataque francês mais forte. Já são quatro gols em dez jogos na Ligue 1, o suficiente para lhe colocar no gosto do torcedor dos Verts e no radar da Copa.

O defensor do ASSE, que enfim se livrou das lesões que o atrapalharam na Inglaterra, também não sentiria o peso de vestir a camisa da seleção. Foram quatro anos como titular, quase 30 jogos, inclusive com Eurocopa e Copa do Mundo no currículo. Não precisa ser testado, diferente de Pavard, que começou a ganhar minutos em novembro do ano passado.

Debuchy está no jogo e cresceu na hora certa. O retorno para o futebol francês fez bem ao Saint-Étienne e principalmente para ele, que encontrou um lugar onde se sente bem dentro e fora de campo e lhe colocou em condições reais de disputar a segunda Copa da carreira.

Mais minutos para Thauvin

Thauvin atuou poucos minutos em dois jogos pela seleção | Foto: Le Figaro

Poucos jogadores amadureceram tanto na França quanto Florian Thauvin. Garoto de inegável talento, mas de gênio quase indomável, ele já acumula 16 gols e dez assistências pelo Marseille na Ligue 1. Prestes a completar três temporadas pelo clube, o meia-atacante de 26 anos é o líder em gols e assistências do time.

Tamanho desempenho o colocou no radar de Didier Deschamps na seleção francesa já há um ano – a primeira convocação foi exatamente em março de 2017. A diferença de hoje para março passado é que sua presença na lista de convocados não pode ser tão contestada.

O que lhe falta para um reconhecimento maior, porém, é a experimentação internacional. O Marseille até tem feito boa campanha na Liga Europa, chegando às quartas-de-final depois de uma fase de grupos confusa, mas ainda é muito pouco para sabermos qual o real potencial de Thauvin visando a seleção francesa, ainda mais nas proximidades da Copa do Mundo na Rússia.

Aí entra a participação de Deschamps. É preciso dar minutos a ele para que não seja o que Remy Cabella foi há quatro anos.

Outro jogador de inegável talento, ele foi uma das surpresas da França no Mundial de 2014, sendo chamado para o lugar do lesionado Franck Ribéry. Pouco experimentado em nível superior por estar no Montpellier, não entrou em campo na Copa do Mundo e ficou um ponto de interrogação sobre qual poderia ser sua real utilidade no torneio.

Claro, Thauvin é um caso um pouco diferente. Cabella, hoje no Saint-Étienne, teve pouca vivência também nas seleções de base, situação oposta à do jogador do OM, que passou por quatro categorias diferentes, sendo, inclusive, um dos protagonistas do título mundial sub-20 em 2013, na mesma seleção que tinha Alphonse Areola, Samuel Umtiti, Paul Pogba e Lucas Digne, todos convocados na última chamada de DD.

Porém, até o momento, Thauvin soma míseros 16 minutos pela seleção francesa principal em dois amistosos. É difícil saber o que se passa na cabeça de Deschamps neste momento olhando para a lista final. Ele apostaria em um jogador de notório talento, mas pouco experimentado em nível internacional, ou o deixaria de fora pensando em alguém mais tarimbado? Não é segredo a ninguém que o setor ofensivo é o melhor abastecido, opções não faltariam caso escolhesse a segunda alternativa.

Por isso que cobro mais minutos ao meia-atacante. Eu mesmo tenho essa dúvida de vê-lo com mais rodagem em nível competitivo internacional, imagina o treinador? Nesta época de fechamento de time para a Copa, Deschamps precisa saber o que os 23 escolhidos podem entregar dentro de campo, e ele precisa ser experimentado.

Encaixe na equipe

Thauvin pode atuar pelos dois lados | Foto: L’Equipe

Tendo em vista que Deschamps parece pouco propenso a abrir mão do 4-4-2, Thauvin poderia ser explorado aberto pelo flanco direito da segunda linha. No Marseille, atua em função semelhante no 4-2-3-1 de Rudi Garcia. A principal variante é que no clube tem ao lado um Dimitri Payet extremamente móvel e inteligente, que facilita a troca de posições e o jogo de passes rápidos.

Ainda assim, Thauvin pode contribuir em muitos aspectos. O drible e o chute de longa distância, características marcantes de seu futebol, são cenários que podem ser favoráveis a ele dentro de um time que tende a depender muito mais do individual do que do coletivo.

Óbvio que a concorrência é forte. No primeiro dos dois amistosos franceses (Colômbia, nesta sexta), Deschamps vai utilizar Kyllian Mbappé na função, por exemplo. Não gosto do parisiense nesta posição, prefiro observa-lo em uma colocação mais próxima do gol, mas parece ter sido a fórmula que DD encontrou para encaixa-lo com Thomas Lemar, Antoine Griezmann e a peça de confiança Olivier Giroud.

E por que Thauvin não pode se encontrar nesse cenário? Joga nos dois lados do campo, provou ter muito potencial e joga uma bola redondinha. Por que não? Só saberemos se jogar. Mais minutos pra ele, DD!