Premiado pela regularidade

Ben Yedder enfim foi lembrado por Deschamps | Foto: Reprodução

Em outubro do ano passado, pedia neste mesmo espaço que Wissam Ben Yedder fosse lembrado por Didier Deschamps e ganhasse minutos pela seleção francesa. Na época, justifiquei esse pedido não só pelo rendimento na Espanha, mas também pelo possível encaixe no time e também pela questão disciplinar, que foi um tabu quando mais jovem – sinal de que amadureceu com as pancadas que já sofreu na carreira.

Cinco meses depois do post, precisou o atacante do Sevilla calar o Old Trafford e eliminar o Manchester United da Liga dos Campeões da Europa com dois gols para, enfim, ser lembrado pelo comandante dos Bleus. Na convocação para os amistosos contra Colômbia (dia 23) e Rússia (27), o nome do sevillista foi uma das surpresas apresentadas por DD.

Óbvio que a convocação não se deu apenas pelos tentos decisivos para colocar o time espanhol entre os oito melhores da Europa, mas eles serviram para plantar uma pulguinha atrás da orelha de Deschamps horas antes de comunicar a convocação oficial.

Ben Yedder está longe de ser o mais badalado jogador francês, porém, é um dos mais regulares na década, e é dentro dessa regularidade que é premiado com a convocação. Com os dois gols em Manchester, chegou a 19 em 34 jogos na temporada. Desde 2012/13, ele entrega ao menos 15 tentos por seus clubes.

O mais interessante dessa marca é que sempre foi em escalas diferentes de ambição pelos times que defendeu. Na França, defendeu o Toulouse, clube de aspirações modestas, mas onde conseguiu marcar 71 gols em seis temporadas, tornando-se o maior artilheiro de todos os tempos do TFC.

Agora está no segundo ano na Espanha defendendo o Sevilla, equipe de nível mais elevado, disputa campeonatos internacionais e segue com rendimento alto.

Na troca de Eduardo Berizzo por Vincenzo Montella perdeu um pouco de espaço, é verdade, mas os decisivos gols no Teatro dos Sonhos, que colocaram o Sevilla nas quartas da Liga dos Campeões e lhe tornaram o vice artilheiro da competição com oito gols, deixam a sensação de que voltará a ter mais minutos com o técnico italiano.

Pela seleção, fica a expectativa em ver de que forma será explorado por Deschamps. Olivier Giroud é absoluto na posição e só uma catástrofe o fará perder a posição. Ben Yedder seria um substituto no 4-3-3 ou uma alternativa para formar dupla com o atleta do Chelsea em um eventual 4-4-2? Num mesmo 4-4-2, poderia ser ele a formar dupla com Griezmann, quem sabe?

À primeira vista, parece-me que DD procura mesmo alguém para estar a disposição quando não puder contar com Giroud. O substituto natural Lacazette não explodiu ao ponto de até ameaçar o atual titular. Ben Yedder surge dentro deste contexto. Os dois amistosos serão chances de ouro para cavar uma vaguinha na Rússia.

Laterais e ataque abertos

É natural que faltando tão pouco tempo para a Copa do Mundo, Deschamps tenha sua base de convocados bem delineada e com escassas brechas para eventuais surpresas. Mas há, sim, alguns pontos que ainda causam dúvidas.

A começar pelas laterais. Djibril Sidibé na direita e Lucas Digne na esquerda já estão na Copa, mas as reservas possuem grandes ressalvas. Quem fará sombra ao defensor do Monaco?

Christophe Jallet? O tempo dele parece que passou.

Mathieu Debuchy? Cresceu ao retornar para a França, mas não foi o suficiente para convencer Deschamps.

O testado da vez, portanto, será Pavard, do Stuttgart.

Na esquerda é onde reside a maior questão de DD. Reserva na Catalunha devido a grandíssima fase de Jordi Alba, Digne ainda convive com as dúvidas na seleção, já que virou titular após a vertiginosa queda de Patrice Evra, que passou a se dedicar mais ao perfil no Instagram do que com a vida de atleta.

Somado a isso, Laywin Kurzawa, que despontava como potencial substituto, tem temporada decepcionante em Paris, fora Benjamin Mendy, que se recupera de grave lesão e ainda não se sabe qual será sua condição até a Copa.

Quem surge em meio a esse turbilhão é Lucas Hernandez, a surpresa de Deschamps na lista para enfrentar colombianos e russos. O franco-espanhol tem alternado atuações na lateral e na zaga do Atlético de Madrid e surge como opção para a posição em meio as dúvidas quanto a Digne.

Entre Espanha e França, Hernandez escolheu os Bleus | Foto: FFF

Agora, se na lateral as dúvidas surgem pela falta de opções, no ataque elas aparecem pelo acúmulo de atletas. Na atual convocação, por exemplo, Deschamps deixou fora Dimitri Payet, do Marseille. Contundidos, Nabil Fekir, Kingsley Coman e Alexandre Lacazette também não foram chamados.

Para entrar um dos quatro (ou até os quatro), terá que sair alguém. E aí? Quem perderia espaço? A lista de atacantes vai de jovens talentosos, como Ousmane Dembelé e Florian Thauvin a peças de confiança de DD, como Giroud e Griezmann. Ainda há Martial, Mbappé e o nosso personagem Ben Yedder.

É muita gente boa e com potencial para fazer a diferença dentro das quatro linhas. Deschamps que se vire com essa dor de cabeça.

Ben Yedder: a carta na manga

Destaque no Sevilla, Ben Yedder pede passagem na seleção | Foto: AFP

Wissam Ben Yedder é mais um dos tantos talentos inegáveis que a Ligue 1 mostrou ao mundo nos últimos anos. Habilidoso, atrevido e goleador, o atacante de 27 anos passou seis temporadas escondido no Toulouse, onde sempre foi a referência ofensiva e conseguiu o status de maior goleador da história do clube, com 71 gols em 174 partidas.

Na segunda temporada pelo Sevilla (mais um dos tantos atletas garimpados por Monchi), já possui média interessante de gols: em 50 aparições, balançou as redes 25 vezes – uma vez a cada duas partidas.

O curioso disso tudo, porém, é o fato de nunca ter sido lembrado uma vez sequer pelos técnicos que passaram pela seleção francesa. Difícil crer que haja uma explicação técnica para que um atleta que tenha entregue ao menos 15 gols em quatro temporadas seguidas em um time de segundo escalão (e mantido o pique na Espanha) não seja convocado.

Seu nome, ao menos, já ecoa nos veículos de imprensa da França. Na convocação para as partidas contra Bulgária e Bielorrússia, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo, o técnico Didier Deschamps foi questionado sobre a ausência de Ben Yedder, já que começou a temporada metendo hat-trick na Liga dos Campeões e parecia ser uma escolha lógica. DD resumiu dizendo que há muita concorrência.

Encaixe no time

Ok, ele não tem a badalação de outros homens de frente, como Antoine Griezmann e Kyllian Mbappé, tampouco é peça de confiança, como Olivier Giroud, mas o atacante do Sevilla possui características associativas que dariam acréscimo interessante aos Bleus.

Pedra bruta do futsal (ficou até os 18 anos na modalidade e chegou até a jogar pela seleção francesa), Ben Yedder soube assimilar e adaptar as características das quadras nos campos. Trouxe consigo a habilidade, o drible em espaços curtos e criar jogadas de associação, capazes de abrir espaços.

O sevillista tem estilo que casa tanto com Griezmann, jogador igualmente móvel e inteligente, quanto com Giroud, que poderia se aproveitar dos desmarques de Ben Yedder para engordar suas estatísticas de gols.

Disciplina

Ben Yedder jogou apenas pela seleção de base | Foto: L’Equipe

Se o excelente desempenho e a capacidade de unir características com os demais homens de frente não é razão para convencer Deschamps, só resta crer que ele carregue algum tipo de desconfiança com Ben Yedder em função de um episódio de indisciplina no passado.

Em 2012, pela seleção de base, foi punido junto de outros atletas (Griezmann era um deles) por fugir da concentração para ir a uma festa. Na época do fato, foi suspenso por um ano pelo Comitê Disciplinar da Federação Francesa de Futebol.

O episódio, porém, parece ter ficado para trás e pouco se ouviu de polêmicas envolvendo o atleta. O caso mais chamativo desde então foi envolvendo o técnico Dominique Arribagé. Apesar de a guerra nunca ter sido declarada, era nítido o mal-estar entre treinador e jogador.

O impasse foi solucionado quando Arribagé foi demitido pelos maus resultados e o “paizão” Pascal Dupraz recuperou o bom futebol de Ben Yedder.

Para acrescentar ao currículo de bom moço do sevillista, sempre que questionado sobre a falta de convocações, nunca polemizou. Já chegou até a dizer que atletas de clubes maiores encontram mais facilidades para chegar à seleção (o que não é nenhuma mentira) mas nunca atacou Deschamps ou a federação.

Tampouco tentou se vitimar por ter origens tunisianas. Apesar de a seleção da Tunísia querê-lo no time de qualquer jeito, Ben Yedder já foi claro ao dizer que vai seguir trabalhando até ser lembrado pelos Bleus.

Visando 2018 e a busca por mais opções, que possam fornecer novos horizontes ao time, Deschamps deveria pensar com carinho no atleta do Sevilla, analisar sua evolução e colocá-lo no radar. Será que ele se lembra de 2014? Griezmann surgiu antes da Copa, foi chamado, correspondeu e está no time até hoje.

Ben Yedder pode ser outro caso igual. Não é um foguete de festa junina, que sobe, faz barulho e logo some. Ele é realidade e qualidade e pode ser a carta na manga para brilhar na Copa da Rússia.

Le Podcast du Foot #59 – Os franceses lá fora

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Foto: Reprodução

Le Podcast du Foot chega a sua edição #59 para falar das ambições das equipes da França em âmbito europeu. A fase de grupos da Uefa Champions League começa nas próximas semanas e os times franceses estão se preparando para fazer bonito. Paris Saint-Germain, Monaco e Lyon fazem as últimas contratações e os primeiros ajustes antes do debute em seus respectivos grupos.

O time da capital francesa, equipe mais forte do país, ficou no grupo A, ao lado de Arsenal, Basel e Ludogorets. O Lyon, vice-campeão francês na última temporada, caiu numa chave difícil, a H, ao lado de Juventus, Sevilla e Dínamo Zagreb. Já o time do Principado terá pela frente Bayer Leverkusen, Tottenham e CSKA Moscou, no grupo E.

Nesta edição, se reuniram Eduardo Madeira, Filipe Papini e Renato Gomes para analisar e projetar a participação francesa na Champions League. Além disso, demos uma palhinha do que pode acontecer na Liga Europa.

Clique abaixo e ouça o programa!

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