O vácuo de uma geração

No Olympiastadion, a Suécia arrancou o 4×4 após estar perdendo por 4×0

Chega a ser um crime comparar a nova geração de meias e atacantes da Alemanha com os recentes defensores formados no mesmo país. O setor ofensivo revelou nomes de muito talento como Marco Reus, Mario Götze, Thomas Müller e Julian Draxler, enquanto na defesa, o único nome mais chamativo é o de Mats Hummels.

Esse vácuo na formação de atletas no país começa a ter reflexos preocupantes na seleção principal da Alemanha. No inesperado empate em 4×4 com a Suécia – após abrir uma vantagem de quatro gols -, a zaga alemã bateu cabeça em diversos momentos da partida e colaborou demais para a queda da gigante vantagem. Para completar, Holger Badstuber, um dos zagueiros da nova safra, foi crucificado por suas sucessivas falhas – mais especificamente, seus cochilos nos quatro gols suecos – e fazendo com que o índice de desconfiança com seu futebol ficasse cada vez maior.

Badstuber não é mau jogador. O atleta do Bayern é um bom chutador e consegue compensar sua lentidão com bom posicionamento. O problema é que falta inteligência, percepção de jogo e força psicológica. Parece não existir um trabalho individual com ele, pois se abala com facilidade e é muitas vezes pego no mano a mano com atacantes adversários, algo muito ruim se tratando de um defensor lento. Para completar a sina, Badstuber sofre com uma pequena “crise de identidade”, já que tem sido lateral-esquerdo no clube bávaro e zagueiro na seleção de Jögi Löw.

Badstuber foi colocado como vilão no tropeço

A situação fica ainda pior quando notamos que Benedikt Höwedes e Jérôme Boateng sofrem da mesma crise de Badstuber e custam a se firmar no time alemão, além disso, Per Mertesacker já vem em curva descendente na carreira. Hummels, que seria titular no confronto contra a Suécia, não foi convocado por estar contundido.

Só Hummels faria milagre? Claro que não. Ele esteve na Eurocopa e contribuiu negativamente, direta ou indiretamente, em alguns gols. No Borussia Dortmund, o zagueiro conta com um entrosamento de muitos anos com Piszczek, Subotić e Schmelzer, coisa que não acontece na seleção. Seu parceiro ideal seria Höwedes, do rival Schalke, mas por ser escalado como lateral-direito em seu time, Löw não arrisca e não muda sua posição em sua seleção. Aparentemente é uma decisão sensata, mas fica impossível defendê-lo quando Badstuber é escalado em uma posição diferente da que joga em seu clube. Isso se chama incoerência.

Se jogarmos a responsabilidade para o ataque, seríamos injustos. Com uma defesa fraca, basta seguir a lógica: “a melhor defesa é o ataque”. Mas vai cobrar o quê nesse jogo contra a Suécia? Que fizessem mais gols? 4×0 é um ótimo resultado e mesmo pedindo para que façam 5, 6, 7 (…) gols, fica complicado cobrar, bate um relaxamento natural, além do mais, contra uma equipe de alguma tradição como a Suécia, não dá para simplesmente ir pra frente e marcar mais, existe respeito.

Se a culpa então é do “salto alto”, que joguem esse demérito a todos: atacantes, meias, defensores e comissão técnica. São profissionais, recebem altos salários e são duramente pressionados. Vacilar daquela maneira é inaceitável, assim como não dá para culpar um ou outro pelo descaso com o jogo. Todos os jogadores têm a noção da responsabilidade que tem em campo, assim como existem pessoas responsáveis o bastante para olhar fixo dentro dos olhos dos inconsequentes e cobrar um pouco mais de atitude na partida.

A solução, então, poderia vir das seleções de base da Alemanha, porém, a situação do time sub-21, por exemplo, é idêntica ao do time principal. Os alemães lideraram o grupo da eliminatória europeia com folga, tiveram um ataque avassalador, mas passaram por algumas panes defensivas. Nos dez jogos feitos pela fase de grupos do torneio sub-21, o time de Rainer Adrion sofreu oito gols. Parece ser um número inexpressivo, mas vale dizer que esses tentos foram sofridos em dois jogos: no empate em 4×4 com a Bielorrússia e na vitória por 5×4 diante da Grécia. Para completar, nas duas partidas eliminatórias contra a Suíça, os alemães sofreram gols, ainda assim, conseguiram a vaga na fase final do torneio.

Voltando ao time principal, vamos nos lembrar que na Eurocopa, a Alemanha não sofreu gol apenas na estreia. Desde a vitória pelo placar mínimo sobre Portugal, os alemães só não viram suas redes sendo balançadas em uma ocasião, que foi contra as Ilhas Faroe. Holanda, Dinamarca, Grécia, Itália, Argentina, Áustria, Irlanda e mais recentemente, Suécia, marcaram contra a seleção germânica desde o triunfo sobre os portugueses.

Fica difícil imaginar que Löw encontre um novo zagueiro até a Copa, sendo que faltam menos de dois anos para o torneio. As peças que ele tem agora deverão ser as mesmas que ele trará para o Brasil, a não ser que surja uma nova revelação, mas algo de outro mundo, alguém que entre no time para não sair mais, senão não valerá à pena.

E aí nós voltamos ao time sub-21. Enquanto o setor ofensivo contou durante o torneio com nomes como Lewis Holtby, Julian Draxler, Moritz Leitner, Ilkay Gündoğan e Karim Bellarabi, todos eles com papéis de destaque em importantes clubes alemães, a defesa teve jogadores que ainda nem chegaram a atuar pelos profissionais e os que tiveram o prazer de entrar em campo pelo time principal, são de equipes menores.

É lógico que a Alemanha não irá revelar outro Franz Beckenbauer, mas esse vácuo entre novos atacantes e defensores serve só para atrasar o desenvolvimento da seleção. O setor ofensivo evolui a passos largos e se torna exemplo para a Europa toda, enquanto a defesa parece que acabou de sair da era cavernosa.

*Crédito das imagens: Getty Images

EURO 2012: O grupo da vida

Para fechar esse balanço pré-Euro, chegamos ao Grupo D, o “Grupo da Vida”. Encontram-se nesta chave uma seleção se acertando, outra perdida entre diversas crises internas, outra com um dos maiores centroavantes da atualidade, além da seleção que recebe o torneio em sua casa e contará com o apoio da torcida.

Renovada, a França precisava justamente de um grupo como esse, onde saísse como favorita para conseguir confiança para o restante da competição; A Inglaterra, com muitos problemas internos e, mais recentemente, de contusão, dificilmente teria chances de se classificar em outro grupo; Ainda tem a Suécia, que conta simplesmente com Zlatan Ibrahimovic; Para fechar, uma das anfitriãs do torneio, a Ucrânia.

Confira abaixo a análise e as expectativas para cada uma das seleções nesta UEFA Euro.

UCRÂNIA: Que a torcida os ajude

Shevchenko encerrará sua carreira após a Eurocopa

Diferentemente da outra anfitriã, Polônia, a Ucrânia chega a Eurocopa com bem menos expectativas. Com sete jogadores acima dos 30 anos, o selecionado ucraniano participará pela primeira vez na história da competição européia com um time velho. O técnico Oleh Blokhin também possui em seu elenco oito atletas que, em 2006, estiveram com ele na Alemanha disputando a Copa do Mundo.

Falando no comandante ucraniano, este foi um dos problemas da seleção na preparação para a Euro. Myron Markevych iniciou no comando técnico, mas dividindo as atenções com seu time, o Metalist. Após problemas do clube com a federação ucraniana, ele teve de escolher entre um ou outro. O time que treinava desde 2005 foi a escolha. Em seguida, Yuriy Kalitvintsev assumiu interinamente, mas ficou por muito tempo, oito jogos, só atrasando o retorno de Blokhin, que já havia treinado a Ucrânia de 2003 a 2007. A indefinição só atrasou a formação do grupo e, também, uma sequência de trabalho não foi proporcionada e a seleção viveu tempos de incerteza.

Por isso, Blokhin aposta em figuras carimbadas, como Andriy Shevchenko, Artem Milevskiy, Andriy Voronin e Anatoliy Tymoshchuk, e ainda mantém como base do time os poderosos times locais, Dynamo e Shakhtar. Nove atletas do time de Kiev e seis da equipe de Donetsk foram chamados para a disputa do torneio.

Obviamente, o grande nome do time é Shevchenko, que dará um gás final na carreira nesta Eurocopa. O ex-atacante de Milan e Chelsea tenta vencer as lesões e assumir o protagonismo nessa Ucrânia que carece de atletas mais talentosos. Sheva é a grande referência do time, ao lado do experiente Milevskiy, que não viveu a melhor de suas temporadas pelo Dynamo.

Aos 22 anos, Yarmolenko e Konoplyanka surgem como boas esperanças para rejuvenescer o futebol do país, porém, ambos não parecem ser capazes de ter o brilhantismo que Shevchenko teve em seus tempos de Milan. A dupla atua no meio campo e deverá, não só municiar, como correr pela dupla do Dynamo.

A defesa não inspira nenhuma confiança. Blokhin teve problemas em definir o goleiro titular, graças às lesões de Dykan e Shovkovskiy e a suspensão por doping de Rybka. Pyatov do Shakhtar Donetsk deve ser o escolhido para assumir a titularidade, embora viva uma briga sadia com o atleta mais jovem do elenco, Maksym Koval, de 19 anos.

O ponto de confiança na defesa é Tymoshchuk, do Bayern. O volante, além de polivalente, é um dos líderes do time. Tymo é firme na marcação e não costuma comprometer nos passes.

Os ucranianos sabem que as chances de classificação são mínimas, mas o time e a torcida local querem dar um final de carreira digno ao maior jogador da história do país, Shevchenko. É óbvio que ele não repetirá as atuações de seus tempos de Milan, mas vai gastar suas últimas energias na Eurocopa.

CONVOCADOS:

Goleiros: Andrei Pyatov (Shakhtar Donetsk), Alexander Goryainov (Metalist Kharkiv), Maxim Koval (Dynamo Kiev)

Defensores: Taras Mykhalik, Yevgeny Khacheridi (ambos do Dynamo Kiev), Yaroslav Rakytsky, Alexander Kucher, Vyacheslav Shevchuk (do Shakhtar Donetsk), Yevgeny Selin (Vorskla Poltava), Bogdan Butko (Mariupol)

Meio-Campistas: Anatoly Tymoshchuk (Bayern-ALE), Oleg Gusev, Denis Garmash, Alexander Aliev, Andrei Yarmolenko (todos do Dynamo Kiev), Ruslan Rotan, Yevgeny Konoplyanka (ambos no Dnepropetrovsk), Sergei Nazarenko (Tavria Simferopol)

Atacantes: Andrei Shevchenko, Artem Milevsky (do Dynamo Kiev), Andrei Voronin (Dynamo Moscou-RUS), Yevgeny Seleznov, Marko Devic (ambos no Shakhtar Donetsk)

INGLATERRA: Um retorno sem estilo

A ausência de Rooney deve prejudicar a Inglaterra

Após nem se classificar para a Eurocopa de 2008, a Inglaterra volta a disputar o torneio europeu. Porém, o que deveria ser um retorno em grande estilo, não deve passar de mais um vexame para a enorme coleção que o English Team possui.

Assim como na Copa de 2010, o selecionado inglês tem seus problemas internos. No Mundial, o problema envolvia John Terry, Wayne Bridge e o já muito comentado -sabe-se lá porque “muito comentado” – “chifre”. Agora, o capitão do Chelsea está novamente envolvido no caso, só que desta vez é de racismo com Anton Ferdinand. Por causa disso, Rio Ferdinand, irmão de Anton, ficou de fora da lista inglesa.

Como todos também sabem, a troca de técnico no início de ano foi por causa do intercedimento da FA na capitania da seleção. Capello, técnico vencedor e experiente, não gostou disso e pediu seu boné e Roy Hodgson foi chamado para substituí-lo, enquanto muitos davam como certa a vinda de Harry Redknaap. O ex-técnico do Liverpool agora tem problemas físicos para ajeitar seu time. Frank Lampard, Gareth Barry e Gary Cahill já foram cortados por estarem lesionados.

O problema mais grave é de Wayne Rooney. Após chutar um jogador montenegrino nas eliminatórias para a Euro, o atacante do Manchester United foi suspenso por dois jogos e só poderá estrear na terceira rodada do torneio, quando, talvez seja tarde demais. Por causa dessa ausência, Hodgson vem tentando encontrar um centro-avante “tapa buraco” para esses dois jogos. Andy Carroll do Liverpool e Danny Welbeck do Manchester United foram os mais testados e a tendência é que o jovem Red Devil seja o titular.

Algumas dessas saídas forçadas deram uma rejuvenescida no elenco inglês. Além de Welbeck, os outros jovens convocados por Hodgson foram Jack Butland, Martin Kelly, Phil Jones, Jordan Henderson e Oxlade Chamberlain, todos eles abaixo dos 23 anos.

Sem Lampard e Barry, a Inglaterra terá de se virar com Parker – lesionado durante a parte final da temporada – e Gerrard – novamente abaixo do que pode render. Ambos são talentosos, mas tanto Lampard, quanto Barry fizeram boas temporadas por seus clubes e formariam uma dupla firme na faixa central do ortodoxo 4-4-2 inglês.

Com a saída da dupla central e a suspensão de Rooney, o peso cairá sobre Ashley Young. Após boa temporada pelo Manchester United, o camisa 11 inglês deverá atuar aberto pela esquerda e ser o diferencial do time, já que pela outra ponta deverá jogar o velocista Walcott. Young só precisa perder a fama de “cai-cai” que ganhou no final da temporada inglesa. Em uma Eurocopa, manter esse estilo lhe dará uma fama eterna e reconhecida mundialmente.

Diferentemente de outras competições, a Inglaterra não chega como favorita e parece saber disso. Hodgson tem preparado seu time para jogar no contra-ataque, ao melhor estilo Chelsea. Os Blues conquistaram a Europa assim, será que a história se repetirá com o English Team?

CONVOCADOS:

Goleiros: Joe Hart (Manchester City), Robert Green (West Ham), Jack Butland (Birmingham City)

Defensores: Leighton Baines (Everton), Martin Kelly (Liverpool), Ashley Cole (Chelsea), Glen Johnson (Liverpool), Phil Jones (Manchester United), Joleon Lescott (Manchester City), John Terry (Chelsea), Phil Jagielka (Everton)

Meio-Campistas: Stewart Downing (Liverpool), Steven Gerrard (Liverpool), Jordan Henderson (Liverpool), James Milner (Manchester City), Alex Oxlade-Chamberlain (Arsenal), Scott Parker (Tottenham), Theo Walcott (Arsenal), Ashley Young (Manchester United)

Atacantes: Andy Carroll (Liverpool), Jermain Defoe (Tottenham), Wayne Rooney (Manchester United), Danny Welbeck (Manchester United)

SUÉCIA: Bastará a experiência?

Ibra: bem ou mal?

Sem nenhum jogador abaixo dos 23 anos, a Suécia chega para a sua quarta Eurocopa consecutiva buscando resultados melhores. Nas edições anteriores, a melhor campanha do selecionado nórdico foi em 2004, quando caiu apenas nas quartas-de-final.

Naquela edição da UEFA Euro, Zlatan Ibrahimovic surgiu para o mundo. Em um belo gol de calcanhar, contra a poderosa Itália, Ibra mostrou do que era capaz. Hoje em dia, a Suécia de Erik Hamren vive um dilema envolvendo o jogador. Na partida diante da Holanda, ainda nas eliminatórias para o torneio, o selecionado sueco não tinha Ibrahimovic à disposição, ainda assim, venceu por 3×2. Talvez tenha sido a melhor atuação da Suécia de Hamren.

Seria um problema ter Ibra no elenco? Acredito que não, até porque os suecos baseiam seu jogo no astro do time. Quando a missão é defender, Ibrahimovic será o atacante mais isolado, buscando meter pra dentro as poucas bolas que receber. Quando o time buscará mais o ataque, a tendência é que o atacante milanista tenha a companhia de Elmander no ataque.

Mesmo assim, a Suécia não é um time que possui apenas Ibrahimovic como destaque. Ola Toivonen foi autor de 18 gols pelo PSV na última temporada e é uma boa alternativa de ataque. No meio-campo, Hamren terá a sua disposição Kim Källström, Sebastian Larsson e Anders Svensson, todos bons passadores.

Porém, o sinônimo desta seleção sueca não é técnica, como os parágrafos anteriores dão a entender, mas sim “experiência”. Cinco atletas irão para sua terceira Euro, enquanto outros cinco irão para a segunda disputa. Apenas Olof Melberg está desde 2000 jogando o torneio europeu pela Suécia, será sua quarta participação.

Porém, Erik Hamren têm conseguido mesclar razoavelmente bem a juventude com a experiência. Mesmo sem ter atletas abaixo dos 23 anos, sete jogadores que estiveram disputando a Euro Sub-21 de 2009 – que a Suécia caiu nas semifinais para a Inglaterra – foram convocados para a disputa da Eurocopa.

A seleção sueca não vem para o torneio apenas para ficar como figurante. A única ausência foi na Copa de 2010 nos últimos doze anos, a Suécia quer se tornar mais do que um time de constantes aparições, para virar, quem sabe, uma potência. A chance de classificação é real, mas mesmo apresentando um bom conjunto, Ibrahimovic precisará estar inspirado para os suecos conseguirem ir longe

CONVOCADOS:

Goleiros: Andreas Isaksson (PSV Eindhoven-HOL), Johan Wiland, (Copenhagen-DIN), Pär Hansson (Helsingborg)

Defensores: Mikael Lustig (Celtic-ESC), Olof Mellberg (Olympiakos-GRE), Andreas Granqvist (Genoa-ITA), Martin Olsson, (Blackburn-ING),Jonas Olsson (West Bromwich-ING), Behrang Safari (Anderlecht-BEL), Mikael Antonsson (Bologna-ITA)

Meio-Campistas: Rasmus Elm (AZ Alkmaar-HOL), Sebastian Larsson (Sunderland-ING), Kim Kallstrom (Lyon-FRA), Anders Svensson (Elfsborg), Pontus Wernbloom (CSKA Moscow-RUS), Samuel Holmen (Istanbul BB-TUR), Emir Bajrami (Twente-HOL), Christian Wilhelmsson (Al-Hilal-ARA)

Atacantes: Zlatan Ibrahimovic (Milan-ITA), Johan Elmander (Galatasaray-TUR), Tobias Hysen (IFK Gotemburgo), Ola Toivonen (PSV Eindhoven-HOL), Marcus Rosenberg (Werder Bremen-ALE)

FRANÇA: Últimos ajustes

Benzema vestirá a lendária camisa 10 francesa

A Alemanha tem problemas nítidos na zaga; a Holanda ainda precisa encontrar um lateral-esquerdo; enquanto a Espanha jogará sem os líderes Villa e Puyol. Dentre aos selecionados postulantes ao título, podemos dizer que a França é a mais inteira entre todas.

Completamente destruída após a Copa do Mundo de 2010, Laurent Blanc chegou e botou ordem na casa. Arrumou a defesa, trouxe talento para o meio-campo e facilitou tudo para o matador Benzema. Chamar a França de grande favorita é exagero, mas o ex-treinador do Bordeaux tem pouca coisa para arrumar nesta tradicional seleção.

Na zaga, Rami e Mexès foram várias vezes utilizados por Blanc, mas ainda não passam grande confiança para o torcedor. Enquanto Patrice Evrá, aos 31 anos, parece sentir o peso da idade e vai enxergando o mais jovem Clichy tomar um pouco de seu espaço. Mas ainda assim, é um setor que o técnico parece ter controle absoluto e consciência do que faz.

O problema da cabeça de área é apenas de quantidade. Yohan Cabaye, que fez temporada fantástica pelo Newcastle, deve ser titular ao lado de Yann M’Vila, porém, o segundo teve problemas no tornozelo nos amistosos de preparação e talvez desfalque a França em alguns jogos. O problema está aí: se M’Vila não jogar, joga quem? Alou Diarra teve temporada terrível pelo Marseille, enquanto Matuidi tem pouca experiência internacional.

O oposto acontece na linha de armadores. A dúvida de Blanc não se deve a escassez e sim ao excesso de opções. Franck Ribéry e Samir Nasri parecem ter suas vagas garantidas. Jérémy Ménez e a novidade Hatem Ben Arfa lutam pela titularidade. Florent Malouda corre por fora, porém, ter sido banco durante toda a temporada no Chelsea e ainda ter sofrido uma lesão na reta final de temporada deve pesar na decisão de Blanc. Mathieu Valbuena teve temporada decepcionante, como quase todo o time do Marseille, e deve ser a última opção do técnico.

Yoann Gourcuff poderia ser uma alternativa para suprir essa ausência, porém, o meia do Lyon não conseguiu vencer as lesões. Ele até foi convocado para a pré-lista – isso após conseguir uma boa sequência de jogos no fim da temporada -, mas não convenceu nos amistosos e ficou de fora da lista final.

No ataque, Karim Benzema é titular indiscutível. O atacante do Real Madrid teve, nos números, a melhor temporada de sua carreira, superando 2007-08. Na citada temporada, quando ainda defendia o Lyon, o atacante anotou 31 gols e deu 10 assistências. Na temporada mais recente, Benzema balançou as redes 32 vezes e ainda deu 15 assistências.

Há quem defenda a tese de que o atacante do Real Madrid deva ter um parceiro de ataque, e este seria Olivier Giroud, artilheiro do Campeonato Francês pelo Montpellier. Acredito que Blanc só usará esse esquema quando for realmente preciso marcar gols, no desespero.

A França pode ser colocada entre as favoritas. Não perde desde 2010 e o técnico Blanc tem poucas dúvidas na montagem do time titular. É claro que manter essas dúvidas no percorrer do torneio não será legal, mas comparadas a outras seleções colocadas como favoritas, os problemas são menores.

CONVOCADOS

Goleiros: Cedric Carrasso (Bordeaux), Hugo Lloris (Lyon), Steve Mandanda (Olympique de Marseille)

Defensores: Gael Clichy (Manchester City-ING), Mathieu Debuchy (Lille), Patrice Evra (Manchester United-ING), Laurent Koscielny (Arsenal-ING), Philippe Mexès (Milan-ITA), Adil Rami (Valencia-ESP) e Anthony Reveillere (Lyon)

Meio-Campistas: Yohan Cabaye e Hatem Ben Arfa (Newcastle-ING), Alou Diarra (Olympique de Marseille), Florent Malouda (Chelsea-ING), Marvin Martin (Sochaux), Blaise Matuidi (Paris Saint-Germain), Yann M’Vila (Rennes), Samir Nasri (Manchester City-ING)

Atacantes: Karim Benzema (Real Madrid-ESP), Olivier Giroud (Montpellier), Jeremy Menez (Paris Saint-Germain), Franck Ribéry (Bayern-ALE) e Mathieu Valbuena (Olympique de Marseille)

*Crédito das imagens: Reuters

Quem diz que vizinho não se entende?

Uma hora é o som alto, outra hora é a gritaria, outra hora são os bichos de estimação, na outra é a sujeira… Enfim, sempre há uma reclamação sua do vizinho, ou do vizinho pra você. No futebol é quase a mesma coisa. Geralmente, vizinhos no mundo futebolístico são rivais e se odeiam até a alma. Mas isso não impede que em alguns casos eles se entendam. É o que aconteceu em 1992.

——————————

A Suécia recebeu a nona edição da UEFA Euro

O ano era 1992 e a Escandinávia receberia uma Eurocopa. O país em questão era a Suécia. Mesmo com toda boa organização feita, algo já esperado de uma entidade como a UEFA, o torneio teve alguns percalços antes mesmo de seu início.

A Iugoslávia era uma das seleções que estava qualificada para a Euro 1992. A seleção treinada por Ivica Osim terminou em primeiro no Grupo 4 das eliminatórias, tendo somado 14 pontos, ficando na frente de Dinamarca, Áustria, Irlanda do Norte e Ilhas Faroe. Porém, os iugoslavos, que terminaram a fase qualificatória com o melhor ataque – 24 gols – e com Pancev de artilheiro – 10 gols – não pode participar da fase final. Uma guerra que acontecia no país, somadas a alguns problemas políticos, forçaram a UEFA a banir os iugoslavos da competição.

A Dinamarca, que acabara na segunda colocação no grupo da Seleção Iugoslava, foi convidada para participar do torneio em seu lugar.

O outro “problema” talvez até não mereça receber esta alcunha. A União Soviética, única seleção ao lado de França e Inglaterra a se classificar para a fase final do torneio de forma invicta, foi desmantelada no final de 1991 após o fim da Guerra Fria. O resultado disto foi que a seleção que disputou a Euro de 1992 foi um “apanhado” de jogadores das repúblicas da ex-União Soviética, menos Estônia, Letônia e Lituânia, formando estão a CIS – Commonwealth of Independent States, em português, Comunidade dos Estados Independentes. A base do time era feita por jogadores russos e ucranianos, porém, muito enfraquecida, já que alguns atletas importantes decidiram não se juntar a esta seleção.

No resto, nenhum problema maior!

Julgando apenas os nomes, poderíamos dizer que o grupo A era o mais curioso. Duas seleções nórdicas estariam frente-a-frente: Suécia e Dinamarca, vizinhos no continente, mas naquela oportunidade, adversários no gramado. Do outro lado, duas seleções com história e que saíram da fase de grupos invictas: França e Inglaterra.

E o interesse pelo grupo não ficou apenas no pensamento, já que tivemos emoção até a última rodada. Só para ter noção do nível de dramaticidade do grupo, a primeira vitória saiu no quarto jogo, Suécia 1×0 Dinamarca. Este triunfo foi o impulso necessário para os suecos conquistarem a torcida local e buscar a vitória no jogo seguinte diante a Inglaterra – 2×1, com mais um gol de Brolin, que já havia deixado sua marca na partida contra a França – e consequentemente, a classificação.

Já os Dinamarqueses pareciam desinspirados. Chegavam ao torneio como convidados e dos quatro pontos – a vitória valia dois pontos na época – possíveis para se somar, apenas um veio. A sorte da Dinamarca era que tanto França quanto Inglaterra somaram dois pontos. E como foi dito no parágrafo anterior, o English Team perdeu na última rodada para a Suécia, então bastava aos dinamarqueses uma vitória sobre a França para voltar a uma semifinal desde 1984, quando ganharam o apelido de “Dinamite Dinamarquês”, graças a bela campanha no torneio.

Henrik Andersen e Flemming Povlsen comemoraram a classificação dinamarquesa (Getty Images)

O duelo contra a França estava nervoso. Já passávamos dos 30 minutos da etapa final e dinamarqueses e franceses estavam no 1×1 – Larsen pra Dinamarca e Papin para a França -, mesmo resultado de Suécia e Inglaterra. Os anfitriões da competição estavam se classificando, enquanto franceses e ingleses estavam empatados em todos os critérios. Pior pra Dinamarca, que eliminada, ficaria chupando dedo. Só que um jogador salvou a pátria dinamarquesa: seu nome é Lars Elstrup.

O atacante que defendia o Odense aproveitou cruzamento rasteiro que veio da direita e completou pro gol. Mal sabia Elstrup que este gol decisivo foi uma surpresa inclusive pro técnico Richard Moller-Nielsen, que anos mais tarde declarou que já estava se preparando para consertar a cozinha, quando soube que sua seleção disputaria a Euro de 92.

Minutos depois, Brolin marcaria mais um para a seleção sueca e classificaria as duas seleções nórdicas para as semifinais da Euro 92. Um feito marcante ter duas seleções da mesma região do continente disputando a fase decisiva do maior torneio de seleções da Europa, ainda mais que ambos os selecionados poderiam ser considerados azarões na competição.

Os suecos protagonizaram um jogo histórico, porém, com final triste na semifinal. O adversário da vez era a Seleção da Alemanha, comandada pelo lendário Berti Vogts. Os alemães venceram por 3×2, mas com alta dose de dramaticidade. Com o jogo em 2×1, Riedle marcou o terceiro gol aos 43 minutos da etapa final e um minuto depois, Kennet Andersson descontou. Só que a reação sueca parou por aí.

Na outra semifinal, a Dinamarca bateu de frente com a Holanda e os dois selecionados proporcionaram um confronto que não perdeu em dramaticidade para a outra semifinal. Os dinamarqueses levavam a vitória por 2×1 até os minutos finais, quando Frank Rijkaard empatou o jogo quando restavam menos de cinco minutos para encerrar a partida.

A partida foi para as penalidades e foi a hora da grande estrela dinamarquesa brilhar. Peter Schmeichel já havia evitado a derrota de sua seleção no tempo normal, após fazer inúmeras defesas importantes. Na hora que o goleiro só tem uma alternativa – defender o pênalti – a sua estrela teve o maior brilho. Schmeichel catou uma cobrança de van Basten, herói holandês no título da última Eurocopa, e colocava sua seleção numa inédita final continental. E os dinamarqueses, de convidados eram finalistas da Eurocopa!

Na final, teríamos o voluntarioso time dinamarquês contra o badalado esquadrão alemão. A Alemanha tinha nomes de peso no cenário internacional, como Völler, Effenberg, Klinsmann e Sammer, já a Dinamarca não poderia se gabar de ter seu principal nome no torneio. Michael Laudrup, grande jogador do país na época, decidiu não participar da competição por divergências com o técnico. Um grande tapa na cara do atacante, que deixou de ser a estrela de uma seleção marcante.

Jogando de forma simples, porém, muito eficiente, a Dinamarca conseguiu terminar a etapa inicial com 1×0 de vantagem. O tento foi anotado John Jensen, em um petardo que deixou Bodo Ilgner sem pai nem mãe, vide velocidade e colocação do tiro. Assim como nos jogos anteriores, muito do placar vantajoso se devia a atuação de Schmeichel, que novamente ia salvando sua seleção.

E a história se repetira na etapa final, com o arqueiro evitando o empate alemão. Só que em feroz contra-ataque, Vilfort matou a decisão ao chutar no contrapé de Ilgner.

Em 1992, a Dinamarca conquistou a Europa pela primeira vez (Getty Images)

Após o apito final do árbitro, uma emoção nunca antes sentida pelos dinamarqueses explodiu no estádio Ullevi em Götemburgo. A Dinamarca, outrora badalada – “Dinamite Dinamarquês” e “Dinamáquina” são só alguns exemplos de times anteriores ao campeão em 92 – conquistava um título europeu em cima de um gigante do continente e todos os atletas eram gratos a Schmeichel, o humilde astro daquele time.

As fantásticas campanhas de Dinamarca e Suécia deixaram um enorme legado para o futebol escandinavo. Muitos dos atletas que participaram da Eurocopa em 1992, viriam também a participar de competições futuras tanto de Dinamarca, quanto da Suécia. O problema de ambos foi uma tal seleção que tem apelido de Amarelinha. O Brasil parou os suecos na Copa de 1994 e os dinamarqueses em 1998.

Será que se não fosse a Seleção Brasileira, esses selecionados seriam mais do que “um rostinho bonito”? Impossível saber! Mas o fato é que a Euro 92 ficou marcada na história de Dinamarca e Suécia, já que foi o pontapé inicial para o considerável avanço de ambos países no cenário futebolístico.