Máquina de fazer dinheiro

Poucos clubes na Europa sabem fazer dinheiro como o Monaco. Não, não estou insinuando nada em relação a Dmitry Rybolovlev, milionário dono russo do clube, e a possíveis negócios escusos que vira e mexe esses endinheirados se envolvem. Faço apenas referência ao fato de conseguir colocar na prática o discurso velho e batido de formar ou captar, valorizar e vender atletas.

O exemplo mais atual é o do atacante Guido Carrillo. O argentino, de 26 anos, nunca foi peça de destaque no time monegasco e sequer acumula temporadas como titular, mas foi negociado com o Southampton por impressionantes 22 milhões. Sabem por quanto foi contratado na temporada 2015/16? Menos da metade, € 9 milhões.

Mesmo sem ser titular, Carrillo rendeu € 22 milhões aos monegascos | Foto: Divulgação/AS Monaco

E o Hermano não é o único dessa lista. Abaixo, separei algumas transferências recentes do Monaco, com os valores investidos e o quanto que recebeu pela venda futura:

Jogador Comprado Venda
James Rodríguez 45 milhões | FC Porto 75 milhões | Real Madrid
Geoffrey Kondogbia 20 milhões | Sevilla 36 milhões | Internazionale
Bernardo Silva 15,7 milhões | Benfica 50 milhões | Man. City
Benjamin Mendy 13 milhões | Marseille 57,5 milhões | Man. City
Aymen Abdennour 13 milhões | Toulouse 22 milhões | Valencia
Anthony Martial 5 milhões | Lyon 60 milhões | Man. Utd
Timoué Bakayoko 8 milhões | Rennes 40 milhões | Chelsea

São números muito impressionantes de atletas contratados por valores baixos e vendidos por cifras significativas. Alguns, inclusive, negociados por quantias até cinco vezes maiores do que investidas no começo, como Bakayoko e Martial.

O atacante do Manchester United, aliás, é o exemplo mais claro dessa nova filosofia. Apesar da carreira nas seleções de base, nunca foi aproveitado com frequência no time principal do Lyon. Chegou ao Monaco por singelos 5 milhões, foi posto a jogar por Leonardo Jardim e logo foi vendido por impressionantes € 60 milhões aos Red Devils.

E ainda dá para colocar na roda os casos de Laywin Kurzawa e Yannick Ferreira Carrasco. O primeiro é da base do clube e rendeu € 10 milhões com a venda para o Paris Saint-Germain, enquanto o segundo foi captado ainda jovem, no time sub-19 do Genk, e foi negociado com o Atlético de Madrid por € 17,2 milhões.

Ah, claro, tem ainda Kyllian Mbappé, que vai se tornar a segunda maior contratação da história ao término da temporada.

Rybolovev (dir.) e Vasilyev (esq.) encontraram a fórmula ideal de conduzir o Monaco | Foto: Divulgação/Monaco

Tudo isso faz parte da filosofia da equipe encabeçada pelo presidente Rybolovlev. Quando ele assumiu o comando do clube, espantou a Europa com contratações milionárias, como Falcao García e James Rodríguez (que ainda explodiria na Copa do Mundo de 2014 e renderia mais dinheiro ao ASM). Tendo ao lado o diretor geral Vadim Vasilyev, porém, mudou o ponto de vista e passou a focar mais nas academias do clube.

Hoje, os monegascos se especializaram em captar jogadores jovens, desenvolve-los, explorar ao máximo os seus potenciais e revende-los para outros centros. Tudo isso sob o olhar clínico de Bertrand Reuzeau, diretor da academia do clube desde 2016, um dos mais respeitados treinadores de base na França.

>> Para quem quiser entender mais do processo de reconstrução do Monaco, a filosofia do clube esteve em destaque na edição #68 de Le Podcast du Foot:

Isso explica bastante porque entra e sai temporada e o Monaco sempre passa por pequenas reformulações. Há quem entenda que é pensar pequeno, colocar a ganância acima do anseio futebolístico, mas eu já considero o contrário. Desta maneira, o clube não fica refém de Rybolovlev, que só gerencia e não precisa intervir mais energicamente com contratações malucas. O ASM consegue ter saúde financeira e reinvestir nas academias para ter retorno em campo.

E podem aguardar que vem mais por aí. Jorge (comprado por € 8,5 milhões), Djibril Sidibé (€ 15 milhões), Fabinho (€ 6 milhões), Keita Baldé (€ 30 milhões) e, principalmente, Thomas Lemar (€ 4 milhões) serão os próximos a engordar as contas bancárias do Monaco, que certamente é o time a ser olhado, sempre prospectando o futuro.

*Todos os valores tiveram como fonte o site Transfermarkt;

Os descartáveis

Lucas e Matuidi estão na lista de descartáveis parisienses | Foto: Getty

O Paris Saint-Germain virou o time mais visado da Europa nas últimas semanas. Dos apreciadores do bom futebol, há uma espera em ver como Neymar, contratado por generosos € 222 milhões, irá se encaixar na equipe e como se adaptará ao Campeonato Francês. Os adversários em nível doméstico também têm essa curiosidade, já que terão de encara-los a cada fim de semana.

Mas, certamente, quem está com os olhinhos atentos a tudo que cerca o PSG são os adversários de outras ligas, equipes com dinheiro para gastar e que procuram os alvos certos para negociar. A chegada de Neymar, além de provocar natural alteração no elenco para ajuste financeiro, deve mexer nos brios de alguns jogadores, que além de perder holofotes, devem ficar com espaço reduzido no elenco.

O exemplo mais claro disso é de Lucas Moura. Contratado em 2013 por € 40 milhões e com vínculo até 2019, o ex-são-paulino nunca foi peça unânime dentro do clube. Chegou na época do italiano Carlo Ancelotti, que atuava num clássico 4-4-2, onde não se encontrou. Não possuía capacidades para compor a segunda linha de quatro, tampouco conseguia render mais adiantado, junto de Ibrahimović.

Com Laurent Blanc, que trocou o 4-4-2 pelo 4-3-3, e também com Unai Emery, rendeu mais, cresceu nas estatísticas, mas nunca explodiu. Na última temporada, por exemplo, atuou 53 vezes, marcou 19 gols e deu 11 assistências, mas não completou 90 minutos nem em 15 jogos.

Na segunda metade da temporada, perdeu mais espaço ainda com o crescimento de Ángel Dí Maria e a chegada de Julian Draxler. Virou reserva e, na estreia contra o Amiens, sequer ficou no banco.

Avaliado pelo Transfermarkt em € 38 milhões, Lucas já virou peça descartável para o PSG. Uma saída é o melhor caminho para que os parisienses assumam o fracasso do negócio e que o próprio brasileiro tente render mais a menos de um ano da Copa do Mundo da Rússia.

Rumo a Itália?

Juventus é uma das interessadas em Matuidi | Foto: P.Lahalle/L’Equipe

Outro jogador que pode mudar de ares já visando o Mundial é Blaise Matuidi. Com contrato até junho de 2018, o PSG não demonstra intenção em renovar com o meio-campista de 30 anos, muito pela filosofia de jogo de Emery.

Matuidi não é dos jogadores mais técnicos e virtuosos e ganha espaço na aptidão física e condução de bola. O espanhol prepara seus times para reter a bola, atuar com triangulações, tendo combatividade. Talvez isso explique Adrien Rabiot ganhar mais espaço.

Já Blaise, que começou a temporada na reserva, deve estar pensando no melhor caminho para ganhar minutos visando 2018. Especulações colocam a Juventus como uma das interessadas no volante. O único impasse, porém, seria o desejo do time italiano de contar com um atleta mais jovem que o francês.

Avaliado em € 30 milhões, o empecilho da idade pesa, deve abaixar o valor e fazer com que essa novela se arraste até o fechamento da janela.

Os meninos-problemas

Aurier parece não fazer parte dos planos de Unai Emery | Foto: F.Faugere/L’Equipe

Se Matuidi e Lucas estão com a cabeça em outros times por pura falta de espaço ou de encaixe nas ideias de Emery, Serge Aurier e Hatem Ben Arfa vivem situações totalmente opostas e o PSG procura algum clube corajoso a segurar essas bombas.

Tanto o marfinense quanto o francês aprontaram o que podiam e o que não podiam e, mediante a atuação do clube no mercado, estão totalmente descartados. Ambos começaram a temporada sonhando em retomar espaço, mas viram as pretensões caírem por terra depois das chegadas de Daniel Alves para a posição de Aurier e Neymar para a função de Ben Arfa.

A questão financeira não é o principal impasse. O marfinense está avaliado em € 15 milhões, já o francês é cotado em € 14 milhões. Além disso, os dois tiveram nomes ventilados em algumas equipes, como Manchester United, Inter (Aurier) e Fenerbahçe (Ben Arfa). A grande questão é: o valor monetário não é problema, mas, e o valor agregado? Quem quer pegar a bomba de dois jogadores-problemas, de extracampo pesadíssimo e que reflete em campo? O PSG só espera algum clube responder “eu quero” para uma dessas perguntas.

Pílulas

– Além desses casos que detalhei acima, há outros em que o descarte é mais escancarado. Grzegorz Krychowiak e Jesé Rodríguez, por exemplo, dificilmente jogarão nesta temporada, muito em conta pelo rendimento decepcionante no último ano e pelas contratações que foram feitas;

– E ainda há quem esteja de stand by. No gol, por exemplo, Kevin Trapp começou o ano no banco de Alphonse Areola e, com a forte especulação de Jan Oblak, do Atlético de Madrid, pode ser que procure novos ares;

– Retornando a linha de frente, a nova especulação do momento envolve a contratação de Kylian Mbappé. Se o prodígio do Monaco vier, alguém deve ir embora de Paris. Há quem aposte que o goleador Edinson Cavani procuraria novos ares, outros acreditam que Julian Draxler poderia partir. Enfim, se confirmada a vinda do monegasco, as especulações das peças descartáveis tendem apenas aumentar;

Depay e Sanson: os grandes negócios da janela francesa

O período de abertura da janela de transferências de inverno vai seguindo para as semanas finais, mas, na França, pelo menos nesta semana, não foi para Paris que se direcionaram os grandes negócios no Campeonato Francês. A dupla de Olympiques – Lyonnais e Marseille – acertou as contratações de Memphis Depay e Morgan Sanson, respectivamente, e movimentaram os últimos dias na Ligue 1.

Das duas, a negociação que mais chamou a atenção foi a de Depay, de 22 anos, que está no Manchester United. A transferência ainda não é oficial, mas está quase lá. O Lyon, inclusive, publicou foto do holandês chegando na França para finalizar os últimos termos do contrato. Especula-se entre os órgãos de imprensa franceses e ingleses que o OL pagará € 16,5 milhões, mais € 8 milhões de bônus, caso atinja alguns objetivos.

Depay já está na França para acertar os últimos detalhes da transferência | Foto: Divulgação/Lyon

Depay já está na França para acertar os últimos detalhes da transferência | Foto: Divulgação/Lyon

Valorizado após a Copa do Mundo de 2014, Depay não correspondeu às expectativas em duas temporadas e meia em Manchester e em 56 jogos pelo clube, anotou apenas sete gols e deu sete assistências.

Nesta temporada, com José Mourinho no comando, os números são piores e o holandês atuou em apenas 134 minutos, distribuídos em míseros oito jogos. São estatísticas que contrastam bastante com os 50 gols e 29 assistências nos tempos de PSV Eindhoven, na Holanda.

Na França, Depay tem tudo para dar certo na ponta esquerda do Lyon. Talento tem de sobra e pode acrescentar com um jogo mais agressivo pelas laterais. Uma das ideias, evidentemente, é fazer com que o OL, time que tem a maior média de chutes por jogo da Ligue 1 e é o terceiro melhor ataque da temporada, consiga explorar ainda mais este recurso.

Entretanto, dois fatores preocupam. O primeiro deles é o ritmo de jogo. Como citei acima, Depay foi pouco aproveitado por Mourinho e, em função disso, está inativo desde o dia 24 de novembro do último ano, quando atuou por apenas oito minutos contra o Feyenoord, pela Liga Europa. Importante ressaltar que o máximo de minutos que o holandês teve em uma partida nesta temporada foi 55, contra o Northampton Town, pela Copa da Liga.

Nem mesmo a lendária camisa 7 fez com que Depay ganhasse minutos nesta temporada pelo United | Foto: Facebook/Memphis Depay

Nem mesmo a lendária camisa 7 fez com que Depay ganhasse minutos nesta temporada pelo United | Foto: Facebook/Memphis Depay

O outro fator seria uma possível decepção pelas cifras envolvidas. Ao pagar a bagatela de mais de € 16 milhões, o Lyon transmite um recado bem claro a Depay: “queremos você jogando e sendo decisivo”.

O próprio OL tem um trauma com altos investimentos que deram errado, vide os casos de Yoann Gourcuff (€ 22 milhões), Kader Keitä (€ 16,8 milhões) e Aly Cissokho (€ 16,2 milhões), contratados a peso de ouro, mas que deixaram o clube pela porta dos fundos. Uma nova decepção em um investimento caro seria um duro golpe na autoestima de um clube que busca, a sua maneira, competir com os milionários PSG e Monaco.

Além disso, vale ressaltar que a Ligue 1 tem sido terreno fértil para clubes de outros ligas deitarem e rolarem, gastando pouco e tendo um retorno muito maior, tanto dentro de campo, quanto financeiramente. Alguns exemplos são Dimitri Payet, contratado pelo West Ham junto ao Marseille por € 15 milhões, e N’Golo Kanté, trazido do Caen pelo Leicester City por € 9 milhões, valores que são relativamente pequenos para clubes ingleses.

Alguns torcedores, desconfiados com a contratação de Depay, se perguntam: não seria melhor garimpar algum talento na França por um valor menor? Só o tempo para responder.

Na Inglaterra, o holandês não repetiu dos bons números que obteve no futebol holandês | Arte: Europa Football

Na Inglaterra, o holandês não repetiu dos bons números que obteve no futebol holandês | Arte: Europa Football

A negociação que já é oficial, entretanto, envolve o meio-campista Morgan Sanson, de 22 anos. Ele foi contratado pelo Marseille, junto ao Montpellier, pelo valor de € 9 milhões, com € 3 milhões de bônus.

O OM adquiriu um meio-campista completo. Sanson pode fazer a função defensiva e ofensiva e deve contribuir de várias maneiras ao time comandado por Rudi Garcia. É um jogador de muita técnica, boa distribuição de jogo e que possui, principalmente, boa decisão de jogadas e sabe o que fazer na hora de articular uma situação de gol.

Sanson vestirá a camisa 8 no OM | Foto: Allan Chaussard/OM

Sanson vestirá a camisa 8 no OM | Foto: Allan Chaussard/OM

Na atual temporada, Sanson era um dos poucos que vinha se salvando na péssima temporada do Montpellier, tendo marcado três gols e distribuído sete assistências. Já não é de hoje que vinha fazendo boas exibições no MHSC e foi premiado agora com essa transferência.

O grande impasse sobre Sanson é sobre a concentração mesmo. O Marseille já trouxe a pouco tempo outras revelações do futebol francês, como Florian Thauvin e Remy Cabella, mas ambos não conseguiram ainda repetir as atuações que os projetaram até a Premier League, por exemplo. Certamente há um temor em Garcia e em toda a direção que um novo garoto problema surja. O histórico de Sanson não aponta isso, mas o ambiente turbulento do OM é propício para pressões extremas, “criando” novos flops. À primeira vista, é um grande negócio do OM.

Sanson era um dos destaques do frágil Montpellier | Arte: Europa Football

Sanson era um dos destaques do frágil Montpellier | Arte: Europa Football

Com o passar das semanas, a tendência é que o mercado fique mesmo mais agitado. Quem ainda almeja algo na temporada, certamente vai mexer os pauzinhos para trazer novos reforços e cumprir com as metas. Alguns ainda vão tentar se estabelecer com o que tem e segurar as suas peças. A única certeza é que o mercado francês já está tendo suas movimentações de impacto.