Não existem palavras

Atletas bávaros não acreditam no resultado (Getty Images)

O Bayern perdeu a UEFA Champions League em casa e o que eu posso dizer sobre isso? Lamento amigos, quase nada!

Como fã do futebol alemão, admito que torcia pelo time bávaro. Mesmo tendo uma simpatia maior com o rival amarelo de Dortmund, sempre gosto de ver os times germânicos nas posições mais altas nas competições internacionais. Pouco valor tem se é rival ou não, o importante é torcer e ver estes times representando bem o futebol do país.

Diferente de 2010, onde nem cheguei a acompanhar a partida contra a Inter, a peleja disputada no último sábado, diante do Chelsea, me teve como espectador e como ser perplexo após o término da citada disputa. Como pode o futebol ser tão injusto assim? Como pode transformar pessoas confiantes em fracassadas num mero chute desperdiçado? Não parece certo! Talvez por isso sejamos apaixonados pelo esporte, nem sempre o que é legítimo, é justo. O Bayern jogou melhor, mas quem levou a “orelhuda” pra casa foram os Blues. A conquista perde legitimidade? Não!

Por isso que Uli Hoeness, presidente do Bayern, usou a melhor frase após o jogo: “Não existem palavras. É inacreditável!”. Para nós, fãs do fussball, faltam substantivos, verbos, adjetivos, artigos, preposições, xingamentos, emoticons… Falta tudo! É indescritível, mais até do que um eventual título bávaro. Pelas circunstâncias de jogo e ambiente, o vice-campeonato europeu foi uma das maiores decepções da história do clube.

O Bayern jogou melhor, tinha a cidade a seu lado e ouso dizer que aqueles que odeiam o “futebol moderno” também torciam contra o milionário Chelsea. Os bávaros tiveram o jogo nas mãos no tempo normal e também no tempo extra, quando Robben perdeu um pênalti. Na disputa da marca fatal, não deu! E quiseram os “Deuses do Futebol” que o responsável pela perda do pênalti alemão fosse Bastian Schweinsteiger, cria do clube e com extrema identificação com a torcida, além de melhor jogador em campo.

O futebol propicia essas coisas!

Sim, presenciamos a história sendo escrita. Foi o primeiro título europeu do Chelsea, mas também fomos viventes de umas das derrotas mais doloridas da história do Bayern, derrota essa que talvez tenha sido até mais chocante do que a de 1999, contra o Manchester United no Camp Nou. O fato de jogar em casa, de ter desperdiçado um pênalti no tempo extra e ainda cair na disputa de penais com o principal atleta do time perdendo uma cobrança, pode doer mais do que tomar dois gols nos acréscimos em uma final.

O “Maracanazo Azul” representou o ápice do sonho de Roman Abramovic, que desde que comprou os Blues sonhava com este título. Bateu na trave em 2008, mas este ano a bola entrou e, com um time bem mais enfraquecido que outros e ainda com as histórias de má vontade dos atletas com um ex-treinador se repetindo, o caneco chegou.

Não existem motivos para desmerecer o título do clube londrino. O futebol não perdeu, ele sempre ganha, mesmo se apresentando de forma pior, só se defendendo e jogando rudemente, essa é a graça do esporte. O Chelsea parou times como Barcelona e Bayern. Não é pouca coisa. Lembrem-se, outras equipes tentaram retrancas parecidas e até mais fechadas, mas não obtiveram sucesso contra as agremiações citadas. Há algum mérito nisso!

O marfinense Didier Drogba também poderá encerrar sua carreira tendo conquistado o maior troféu de clubes da Europa. “Ah, mas ele fez corpo mole pra derrubar Scolari e Villas-Boas”. Bom, dizem que sim, mas como eu costumo dizer, futebol é um jogo sujo, é desonesto. Muitos gênios do futebol têm histórias podres para contar, mas não perdem a alcunha de craques e revolucionários do esporte. Drogba não é um monstro sagrado, é sim um grande atacante, um dos melhores da nossa geração. Junto com Samuel Eto’o, talvez tenham sido os principais jogadores africanos em campos europeus nos últimos vinte anos. Faltava um grande título pro marfinense e ele conseguiu!

Frank Lampard, John Terry e Petr Cech foram outros jogadores que, por baterem na trave diversas vezes, também merecem esse prêmio pela insistência e de certa forma, por amor ao clube. As atitudes destes jogadores com alguns ex-comandantes podem não transparecer isso, mas esses caras têm uma grande identificação com o Chelsea. Não foi o dinheiro que apenas os seduziu, mas sim a paixão que a torcida tem com clube.

Schweini lamentou seu erro (Getty Images)

Para os jogadores do Bayern, essa sensação de ser campeão europeu vai demorar mais um pouco a chegar ou talvez nem chegue. O time bávaro conseguiu participar de duas finais de UEFA Champions League e perder as duas. A geração de Phillip Lahm, Bastian Schweinsteiger e Franck Ribéry vai ficando marcada como uma das mais talentosas da história do clube, mas que fracassou nas horas decisivas.

A derrota foi tão dura que pode haver um reflexo na Seleção Alemã que estará presente na UEFA Euro 2012. Sete jogadores bávaros que disputaram a final da UEFA Champions League deverão desfilar nos campos ucranianos e poloneses no próximo mês. O Bayern é a base da Nationalelf, mas esta é a hora certa que os jogadores precisam demonstrar a fama “fria” dos alemães, dando a volta por cima após esta dura derrota.

Entre sonhos e abusos

Como de costume, a temporada para os londrinos do Chelsea começou cheia de sonhos e expectativas. O time já não era mais treinado pelo experiente Carlo Ancelotti, e sim pelo jovem André Villas-Boas, campeão da UEFA Europa League na temporada anterior com o Porto. Uma nova conquista da Premier League e o tão aguardado título europeu eram as metas do já calejado elenco blue.

Com nomes de peso como Frank Lampard, Didier Drogba, Ashley Cole e John Terry, e ainda algumas jovens apostas, como Daniel Sturridge, David Luiz e Oriol Romeu, AVB tinha tudo para fazer um grande trabalho na Inglaterra. Tudo começou bem para o português, que viu seu time vencer sete (um nos pênaltis) dos primeiros dez jogos da temporada. O único revés aconteceu na 5ª rodada, na derrota por 3×1 diante do Manchester United.

Porém, os meses finais de 2011 reservaram muitos problemas aos Blues. Foram quatro derrotas, quatro empates e cinco vitórias nos últimos dois meses do ano. O mais preocupante é que alguns destes tropeços foram novamente em jogos grandes. O Chelsea perdeu duas vezes para o Liverpool e uma vez para o Leverkusen. No último dia de 2011, o time londrino foi derrotado em casa para o até então desacreditado Aston Villa por 3×1 e a partir de então, a vida de André Villas-Boas passou a se tornar um inferno.

As críticas para cima do comandante português eram incessantes e pesadas. Somado a tudo isso, novamente falou-se sobre as “patotas” existentes no elenco do Chelsea. Essa conversa já existia desde o tempo que Luis Felipe Scolari treinava o clube inglês, e sem Michael Ballack, as “lideranças” ficaram a cargo de Drogba, Terry e Lampard.

Contando com atletas insatisfeitos e outros tantos não rendendo o esperado – entenda-se Fernando Torres -, os maus resultados se tornaram rotina e Villas-Boas duraria apenas mais três meses. A derrota diante do West Bromwich foi a página final da decepcionante passagem do treinador português, que colecionou em suas últimas semanas de “vida útil”, cinco vitórias, três derrotas, quatro empates e o incrível prejuízo de estar perdendo pro Napoli por 3×1 na série das oitavas-de-final da UEFA Champions League.

Di Matteo e Villas-Boas estavam juntos, mas a patota os separou (Reuters)

Subitamente, o Chelsea cresceu de produção com a saída de André Villas-Boas e com a efetivação do italiano Roberto Di Matteo – que já tinha uma boa passagem pelo West Brom em sua curta carreira. Foram quatro vitórias seguidas logo de cara, algo que não acontecia desde o início da temporada, curiosamente, época da chegada de AVB, em suas semanas de adaptação.

Depois da derrota para o Manchester City no dia 21 de março, os Blues só voltariam a ser derrotados no começo de maio, no 2×0 diante do Newcastle quando já estavam levando a Premier League com a barriga.

Honestamente, eu não gosto muito de sair acusando jogadores de fazerem “corpo mole” ou algo do gênero, mas no caso do Chelsea, parece ser nítido que a “patota” só aceita trabalhar com quem eles querem. Porém, a evolução do clube londrino não se deve apenas a um excesso súbito de vontade de Drogba, Lampard e Cia., mas Di Matteo também tem seus méritos. O deslocamento de Ramires da cabeça de área para a linha de armadores foi uma ótima sacada. O brasileiro conseguiu melhorar seu rendimento e ter suas arrancadas melhor exploradas. O ex-volante encarnado foi eleito o melhor jogador do time na temporada!

O italiano também aproveitou para apostar em homens mais experientes, como John Obi Mikel e Salomon Kalou, em preterimento os jovens Romeu e Sturridge, que perderam muito espaço após a saída de Villas-Boas. Cá pra nós, Mikel e Kalou, com a qualidade técnica que possuem, não podem, em hipótese alguma, fazer “corpo mole” pra derrubar treinador, já que são jogadores de nível inferior a outros do elenco.

Desde que Roberto Di Matteo assumiu o comando técnico londrino, o time conquistou treze vitórias, três derrotas e quatro empates. Os Blues ainda ergueram o troféu da FA Cup pela sétima vez na história.

Na UEFA Champions League, a campanha que já era regular com Villas-Boas, se tornou heróica pela superação. Os treze gols marcados na fase grupos colocaram os ingleses na ponta da chave, o que não significava caminho fácil no mata-mata. O perigoso Napoli ajudou a instalar a crise em Stamford Bridge ao vencer o duelo de ida por 3×1. Na volta, já com Di Matteo, o Chelsea venceu por 4×1 e conseguiu reverter o resultado.

A classificação “um tanto quanto” sufocante diante do Benfica nas quartas-de-final mostrava que o time inglês estava vários degraus abaixo do seu adversário na semifinal, o Barcelona. A série ficou marcada nos grandes jogos da UEFA Champions League. O Chelsea marcou como nunca, segurou o time catalão com unhas e dentes, tomou pressão nos dois jogos, mas com a dupla Ramires e Drogba inspirada, os Blues conseguiram chegar a mais uma final. O brasileiro participou de dois dos três gols ingleses na série, enquanto o marfinense mostrou seu lado “catimbeiro” e incomodou demais.

Com Villas-Boas no comando, Frank Lampard chegou a ficar na reserva (Reuters)

Essa nova final para o clube londrino consegue ser bacana e injusta ao mesmo tempo. Foi simplesmente sensacional ver a reação inglesa diante do Napoli quando estava quase eliminado, e ainda observar a enorme superação diante do poderoso Barcelona. Porém, fica aquela pontinha de raiva ao ver que os jogadores responsáveis por estas glórias, foram os mesmos que derrubaram Villas-Boas.

É a história de 2008 se repetindo. Roman Abramovic já comandava o Chelsea e buscava obsessivamente o título europeu, e para isso, também contava com um treinador português que fez sucesso no Porto, José Mourinho. Diferentemente de Villas-Boas, Mou já fazia sucesso na Inglaterra e figurava entre os principais treinadores do continente europeu. Porém, o magnata russo, sedento por resultados, demitiu o português e apostou em Avram Grant, que assim como Di Matteo, levou o clube para a final da UEFA Champions League. Em Moscow, os Blues tropeçaram diante do rival inglês, Manchester United.

O italiano terá o mesmo destino do israelita e será um técnico “tampão”? Talvez o título europeu mude os rumos da repetida história londrina.

Extremidade bávara

Desde que o Bayern bateu o Zürich na fase pré-grupos da UEFA Champions League, o que mais se fala em Munich é da possibilidade do time local disputar a final do torneio em sua casa. Sábado será este dia! Os bávaros, comandados por Jupp Heynckes, poderão participar da final do maior torneio do continente europeu em seu estádio, a Allianz-Arena.

Para chegar à final, que pode resultar em seu quinto título continental, o Bayern alternou durante a temporada os dois extremos, mas para conquistar mais um troféu, os bávaros terão de chegar novamente a ponta máxima de suas qualidades.

O começo de temporada do time alemão foi simplesmente avassalador. Mesmo com a derrota na abertura da temporada – 1×0 diante do Borussia Mönchengladbach -, o Bayern conseguiu, em seguida, estabelecer uma grande série invicta e sem sofrer gols. O goleiro, outrora odiado, Manuel Neuer ficou vários minutos sem sofrer gols e quase quebrou alguns recordes germânicos. Suas seguras atuações fizeram com que os torcedores bávaros deixassem a vaidade de lado e admirassem o arqueiro que defendia a meta de seu time.

Com dois gols a menos que Messi, Mário Gomez é o vice-artilheiro da Liga (Reuters)

Na frente, o ataque atuava de forma competente. Nas primeiras dez rodadas da Bundesliga, o setor formado por Mário Gomez, Franck Ribéry e Thomas Müller anotou 26 gols. Borussia Mönchengladbach e Hoffenheim foram as únicas equipes que não sofreram gols do Bayern. Em contrapartida, Hamburgo, Freiburg e Hertha sofreram cinco, sete e quatro – respectivamente – num mesmo jogo.

Além dos atletas citados no parágrafo anterior, Toni Kroos foi outro a obter grande destaque no time alemão. Sem nunca ter passado confiança para a imprensa e aos torcedores do Bayern, o meio-campista se encontrou nesta temporada ao jogar centralizado na linha de três armadores, demonstrando técnica, habilidade e precisão nos passes. A companhia de Bastian Schweinsteiger, obviamente, fez bem a Kroos, mas ele soube aproveitar bem e se tornou a cabeça pensante do time.

Ao término do primeiro turno, a sensação deixada para a Europa era de que o Bayern de Munich era a única equipe capaz de parar a dupla Real Madrid e Barcelona na UEFA Champions League. Com os times de Manchester eliminados ainda na fase inicial do torneio e com as equipes italianas demorando a encontrar a melhor forma, sobrava apenas o time bávaro com a dura missão de ser comparado à dupla espanhola.

Um novo ano chegou e tudo mudou para os lados do Bayern, que demorou a engrenar e atuar de forma convincente. Esses acontecimentos geraram algo óbvio, se tratando de um time do tamanho do Bayern, as críticas! A imprensa alemã começou a pegar pesado e a questionar Jupp Heynckes. No meio do vendaval, brigas entre os jogadores durante os jogos acabaram escancarando a crise no clube entre os meses de fevereiro e março.

Os problemas foram deixados de lado e o time bávaro voltou a jogar bola. Da derrota para o Bayer Leverkusen, no dia 3 de março, até o tropeço que resumiu sua vida útil na Bundesliga, contra o Dortmund, em 11 de abril, o Bayern venceu cinco jogos, anotando dezoito gols e sofrendo apenas três gols. Destes dezoito tentos, treze foram apenas em Hoffenheim e Hertha, sete e seis, respectivamente.

Na UEFA Champions League, os torcedores alemães tiveram a sorte de ver seu time no extremo inferior em apenas um momento, já que o Bayern passou tranquilamente pela fase de grupos – que tinha equipes fortes, como Manchester City e Napoli. O clima esquentou nas oitavas-de-final diante do Basel. Na derrota por 1×0, a imprensa alemã registrou discussões e possíveis trocas de agressões entre os atletas no vestiário. Foi exatamente aí que existiram os questionamentos ao time, todos eles afastados com o incontestável 7×0 do jogo de volta.

O confronto contra o fraco Olympique de Marseille nas quartas-de-final foi um mero treino para a série diante do Real Madrid. Após vencer por 2×1 na Alianz-Arena, os bávaros perderam na volta pelo mesmo marcador, mas superaram os merengues na disputa de pênaltis, tirando o doce da boca de José Mourinho, que enxergava uma grande possibilidade de conquistar a Europa sem nem precisar enfrentar o Barcelona, eliminado no dia anterior.

Jupp Heynckes pode novamente ser campeão europeu (AFP/Getty Images)

Mas a decisão do torneio expôs um problema antigo do Bayern: o elenco. Com vários desfalques no setor defensivo, Jupp Heynckes terá se inventar algo para poder cobrir as ausências, mas aí que está o problema: Ele vai ter que “inventar”, pois o grupo de jogadores bávaros não possibilita ao treinador uma opção simples e confiável.

Mesmo com a humilhante derrota por 5×2, diante do Dortmund na final da DFB Pokal, o Bayern chega com a mente no lugar. Desde a derrota pro mesmo algoz da copa nacional, mas na Bundesliga, o time bávaro passou a concentrar suas atenções na UEFA Champions League e levar o Campeonato Alemão com a barriga, sem passar sustos.

O Bayern também leva para a decisão “apenas” o problema da defesa, que outrora ajustada – sim, ajustada, sempre disse que a zaga bávara é subestimada -, estará remendada no duelo contra o Chelsea. O ataque está voando, até a dupla Robbéry, antes brigada, está bem, com o holandês de contrato renovado.

O sábado ficará marcado na história da Baviera, com a união afinca entre população e time. Na vitória ou na derrota, o dia 19 ganhará um lugarzinho especial na história bávara.