Bombardeando os anos 70

Ser campeão europeu já é um enorme feito para qualquer seleção, vide o fato de termos oito campeões diferentes, representando que a seqüência de conquistas é um feito difícil de conseguir. Mas levar os troféus da Europa e do Mundo em seguida é muito mais complicado ainda. Conheça agora a história de um dos times que conseguiu isto.

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Após a Copa do Mundo de 1970 o planeta ficou encantado com o Brasil de Pelé, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Rivelino e outros. Sem boa parte desta trupe após o tri-campeonato, a vaga de “melhor seleção do mundo” parecia estar em aberto.

A grande favorita a tomar esse espaço era a Alemanha Ocidental de Helmut Schön. Eliminados na Copa de 70 no “Jogo do Século” – Itália 4×3 Alemanha, na semifinal -, os alemães vinham anos férteis na Bundesliga. Bayern de Munich e Borussia Mönchengladbach viviam grandes momentos e duelavam ponto a ponto pelos títulos nacionais.

Grande mentor daquele time, Helmut Schön conversa com Beckenbauer

Como não poderia deixar de ser, a base da seleção era justamente a dupla que dominava o futebol do país. Apenas Michael Bella, Horst-Dieter Hötges, Horst Köppel, Jürgen Grabowski, Erwin Kremers e Hannes Löhr não jogavam no Gladbach ou no Bayern. Vindo da dupla, tínhamos nomes como Franz Beckenbauer, Paul Breitner, Uli Hoeness, Jupp Heynckes e Gerd Müller. Helmut Schön possuía um grande time em mãos!

A UEFA Euro de 1972 seria disputada na Bélgica e dava para dizer que isto era um problema para as outras três seleções da fase final – sempre lembrando que na época havia uma fase de qualificação que resultava em quatro times, desse quarteto era escolhido o país sede. Os belgas fizeram uma fase de classificação quase impecável.

Atuando no mesmo grupo de escoceses, dinamarqueses e portugueses, os belgas venceram seus quatro primeiros jogos sem nem ter sofrido gols nos três duelos iniciais. A derrota para a Escócia e o empate diante de Portugal nem prejudicou tanto a Bélgica, que venceu o grupo 5 e partiu para o confronto contra a Itália no mata-mata, definindo a vaga para a fase final. Os belgas seguraram o 0x0 no San Siro lotado – mais de 63 mil pessoas – e mataram a Azzurra no Émile Versé, 2×1.

Conter a Bélgica empolgada e com apoio do torcedor seria a primeira tarefa alemã na Euro de 72. Com treze gols marcados e três sofridos na fase de classificação, o favoritismo era todo da Alemanha Ocidental, mas jogar contra uma seleção em ótima forma e atuando em casa seria um duro desafio.

A partida chamou a atenção de toda a Europa e parou a Bélgica. Cerca de 55 mil pessoas foram ao Bosuilstadion – atualmente, o estádio não acomoda nem 17 mil espectadores – acompanhar belgas e alemães, já em Hungria e União Soviética, outra semifinal e que era realizada no mesmo horário, menos de 18 mil pessoas foram acompanhar a peleja.

A Bélgica parou para acompanhar a partida, mas principalmente, parou para ver e admirar “O Bombardeiro” Gerd Müller. O artilheiro do Bayern balançou as redes em seis oportunidades na fase classificatória e mais uma vez no mata-mata contra a Inglaterra. Müller vivia o auge de sua carreira e decidiu provar isto na semifinal, balançando as redes em duas oportunidades. O gol de Odilon Polleunis não foi o suficiente para colocar a Bélgica em uma final de Eurocopa.

Teríamos um campeão invicto! A União Soviética chegou à final da competição sem ser derrotada. Foram cinco vitórias e três empates na fase qualificatória – contando com o mata-mata – e no duelo eliminatório contra a rival Iugoslávia, veio uma sonora vitória por 3×0 no placar agregado. Nas semifinais, os soviéticos bateram a Hungria de Flórián Albert por 1×0, gol de Konkov.

A Europa inteira tinha a impressão de que a União Soviética era a única seleção capaz de parar a Alemanha Ocidental em uma partida de futebol. Sem a mesma qualidade técnica, experiência e conjunto, mas com muita dedicação e com algo já explicado no nome do país, a “União” das potências locais. Se hoje Dynamo de Kiev, Shakhtar Donetsk, Dynamo e Spartak Moscow se enfrentam raramente, naquela época faziam parte da mesma nação e sempre se confrontavam. Estes times formavam a base da seleção soviética.

Só que assim como no confronto diante da Bélgica, a Alemanha jogou todas as esperanças adversárias ralo abaixo. Foi uma partida de um time só e uma das maiores atuações da seleção considerada por muitos como a maior da história do país.

O Kaiser Beckenbauer mostrou como um líbero deve jogar e ocupou os espaços como poucos, na lateral, Paul Breitner era rígido na marcação e eficiente no ataque, enquanto Uli Hoeness e Günter Netzer davam solidez ao meio-campo.

Com quatro gols, Müller foi o artilheiro da Eurocopa de 1972

Para tornar tudo perfeito, Gerd Müller estava no ataque para seguir mandando bolas pra dentro. Depois de dois gols na semifinal, “O Bombardeiro” anotou mais dois tentos na decisão e se tornou o grande destaque da competição. Ainda na mesma temporada, Müller recebeu o “European Golden Shoe”, prêmio entregue ao maior artilheiro da Europa e na ocasião, o alemão havia marcado 40 gols. Até hoje, Gerd Müller é o único alemão a ganhar o prêmio e também o único atuando na Bundesliga.

Era o auge da carreira do atacante bávaro e também da seleção alemã, que dois anos depois receberia a Copa do Mundo e mostraria que realmente era uma das maiores seleções da história. Na grande final contra a Laranja Mecânica Holandesa de Cruyff e Rinus Michels, a Alemanha Ocidental venceu por 2×1 e Gerd Müller novamente marcou no jogo decisivo. No caso, o gol do artilheiro foi o da virada.

O feito dos alemães é tão grande que somente em 2008-2010 uma seleção foi repetir tal conquista. A Espanha curou a fama de amarelona e venceu de forma consecutiva a Eurocopa e a Copa do Mundo.

Este talvez tenha sido um dos últimos “Contos da Euro” originalmente meus. A partir da próxima semana, teremos novidades na série. Aguardem!

Quem diz que vizinho não se entende?

Uma hora é o som alto, outra hora é a gritaria, outra hora são os bichos de estimação, na outra é a sujeira… Enfim, sempre há uma reclamação sua do vizinho, ou do vizinho pra você. No futebol é quase a mesma coisa. Geralmente, vizinhos no mundo futebolístico são rivais e se odeiam até a alma. Mas isso não impede que em alguns casos eles se entendam. É o que aconteceu em 1992.

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A Suécia recebeu a nona edição da UEFA Euro

O ano era 1992 e a Escandinávia receberia uma Eurocopa. O país em questão era a Suécia. Mesmo com toda boa organização feita, algo já esperado de uma entidade como a UEFA, o torneio teve alguns percalços antes mesmo de seu início.

A Iugoslávia era uma das seleções que estava qualificada para a Euro 1992. A seleção treinada por Ivica Osim terminou em primeiro no Grupo 4 das eliminatórias, tendo somado 14 pontos, ficando na frente de Dinamarca, Áustria, Irlanda do Norte e Ilhas Faroe. Porém, os iugoslavos, que terminaram a fase qualificatória com o melhor ataque – 24 gols – e com Pancev de artilheiro – 10 gols – não pode participar da fase final. Uma guerra que acontecia no país, somadas a alguns problemas políticos, forçaram a UEFA a banir os iugoslavos da competição.

A Dinamarca, que acabara na segunda colocação no grupo da Seleção Iugoslava, foi convidada para participar do torneio em seu lugar.

O outro “problema” talvez até não mereça receber esta alcunha. A União Soviética, única seleção ao lado de França e Inglaterra a se classificar para a fase final do torneio de forma invicta, foi desmantelada no final de 1991 após o fim da Guerra Fria. O resultado disto foi que a seleção que disputou a Euro de 1992 foi um “apanhado” de jogadores das repúblicas da ex-União Soviética, menos Estônia, Letônia e Lituânia, formando estão a CIS – Commonwealth of Independent States, em português, Comunidade dos Estados Independentes. A base do time era feita por jogadores russos e ucranianos, porém, muito enfraquecida, já que alguns atletas importantes decidiram não se juntar a esta seleção.

No resto, nenhum problema maior!

Julgando apenas os nomes, poderíamos dizer que o grupo A era o mais curioso. Duas seleções nórdicas estariam frente-a-frente: Suécia e Dinamarca, vizinhos no continente, mas naquela oportunidade, adversários no gramado. Do outro lado, duas seleções com história e que saíram da fase de grupos invictas: França e Inglaterra.

E o interesse pelo grupo não ficou apenas no pensamento, já que tivemos emoção até a última rodada. Só para ter noção do nível de dramaticidade do grupo, a primeira vitória saiu no quarto jogo, Suécia 1×0 Dinamarca. Este triunfo foi o impulso necessário para os suecos conquistarem a torcida local e buscar a vitória no jogo seguinte diante a Inglaterra – 2×1, com mais um gol de Brolin, que já havia deixado sua marca na partida contra a França – e consequentemente, a classificação.

Já os Dinamarqueses pareciam desinspirados. Chegavam ao torneio como convidados e dos quatro pontos – a vitória valia dois pontos na época – possíveis para se somar, apenas um veio. A sorte da Dinamarca era que tanto França quanto Inglaterra somaram dois pontos. E como foi dito no parágrafo anterior, o English Team perdeu na última rodada para a Suécia, então bastava aos dinamarqueses uma vitória sobre a França para voltar a uma semifinal desde 1984, quando ganharam o apelido de “Dinamite Dinamarquês”, graças a bela campanha no torneio.

Henrik Andersen e Flemming Povlsen comemoraram a classificação dinamarquesa (Getty Images)

O duelo contra a França estava nervoso. Já passávamos dos 30 minutos da etapa final e dinamarqueses e franceses estavam no 1×1 – Larsen pra Dinamarca e Papin para a França -, mesmo resultado de Suécia e Inglaterra. Os anfitriões da competição estavam se classificando, enquanto franceses e ingleses estavam empatados em todos os critérios. Pior pra Dinamarca, que eliminada, ficaria chupando dedo. Só que um jogador salvou a pátria dinamarquesa: seu nome é Lars Elstrup.

O atacante que defendia o Odense aproveitou cruzamento rasteiro que veio da direita e completou pro gol. Mal sabia Elstrup que este gol decisivo foi uma surpresa inclusive pro técnico Richard Moller-Nielsen, que anos mais tarde declarou que já estava se preparando para consertar a cozinha, quando soube que sua seleção disputaria a Euro de 92.

Minutos depois, Brolin marcaria mais um para a seleção sueca e classificaria as duas seleções nórdicas para as semifinais da Euro 92. Um feito marcante ter duas seleções da mesma região do continente disputando a fase decisiva do maior torneio de seleções da Europa, ainda mais que ambos os selecionados poderiam ser considerados azarões na competição.

Os suecos protagonizaram um jogo histórico, porém, com final triste na semifinal. O adversário da vez era a Seleção da Alemanha, comandada pelo lendário Berti Vogts. Os alemães venceram por 3×2, mas com alta dose de dramaticidade. Com o jogo em 2×1, Riedle marcou o terceiro gol aos 43 minutos da etapa final e um minuto depois, Kennet Andersson descontou. Só que a reação sueca parou por aí.

Na outra semifinal, a Dinamarca bateu de frente com a Holanda e os dois selecionados proporcionaram um confronto que não perdeu em dramaticidade para a outra semifinal. Os dinamarqueses levavam a vitória por 2×1 até os minutos finais, quando Frank Rijkaard empatou o jogo quando restavam menos de cinco minutos para encerrar a partida.

A partida foi para as penalidades e foi a hora da grande estrela dinamarquesa brilhar. Peter Schmeichel já havia evitado a derrota de sua seleção no tempo normal, após fazer inúmeras defesas importantes. Na hora que o goleiro só tem uma alternativa – defender o pênalti – a sua estrela teve o maior brilho. Schmeichel catou uma cobrança de van Basten, herói holandês no título da última Eurocopa, e colocava sua seleção numa inédita final continental. E os dinamarqueses, de convidados eram finalistas da Eurocopa!

Na final, teríamos o voluntarioso time dinamarquês contra o badalado esquadrão alemão. A Alemanha tinha nomes de peso no cenário internacional, como Völler, Effenberg, Klinsmann e Sammer, já a Dinamarca não poderia se gabar de ter seu principal nome no torneio. Michael Laudrup, grande jogador do país na época, decidiu não participar da competição por divergências com o técnico. Um grande tapa na cara do atacante, que deixou de ser a estrela de uma seleção marcante.

Jogando de forma simples, porém, muito eficiente, a Dinamarca conseguiu terminar a etapa inicial com 1×0 de vantagem. O tento foi anotado John Jensen, em um petardo que deixou Bodo Ilgner sem pai nem mãe, vide velocidade e colocação do tiro. Assim como nos jogos anteriores, muito do placar vantajoso se devia a atuação de Schmeichel, que novamente ia salvando sua seleção.

E a história se repetira na etapa final, com o arqueiro evitando o empate alemão. Só que em feroz contra-ataque, Vilfort matou a decisão ao chutar no contrapé de Ilgner.

Em 1992, a Dinamarca conquistou a Europa pela primeira vez (Getty Images)

Após o apito final do árbitro, uma emoção nunca antes sentida pelos dinamarqueses explodiu no estádio Ullevi em Götemburgo. A Dinamarca, outrora badalada – “Dinamite Dinamarquês” e “Dinamáquina” são só alguns exemplos de times anteriores ao campeão em 92 – conquistava um título europeu em cima de um gigante do continente e todos os atletas eram gratos a Schmeichel, o humilde astro daquele time.

As fantásticas campanhas de Dinamarca e Suécia deixaram um enorme legado para o futebol escandinavo. Muitos dos atletas que participaram da Eurocopa em 1992, viriam também a participar de competições futuras tanto de Dinamarca, quanto da Suécia. O problema de ambos foi uma tal seleção que tem apelido de Amarelinha. O Brasil parou os suecos na Copa de 1994 e os dinamarqueses em 1998.

Será que se não fosse a Seleção Brasileira, esses selecionados seriam mais do que “um rostinho bonito”? Impossível saber! Mas o fato é que a Euro 92 ficou marcada na história de Dinamarca e Suécia, já que foi o pontapé inicial para o considerável avanço de ambos países no cenário futebolístico.

A única glória de uma grande geração

Como de praxe, nas sextas-feiras tento trazer mais um “Conto da Euro”. A personagem da semana é a seleção holandesa. Acostumada a chamar a atenção por seu futebol vistoso, a Holanda nunca se firmou como uma seleção de ponta. Mas em 1988, Rinus Michels, van Basten e Gullit encerraram com esta sina. Este é mais um “Conto da Euro”.

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Campeã em 1988, a Holanda tinha tudo pra conquistar mais títulos (Foto: Bongarts)

Durante toda a história do futebol, a Holanda se notabilizou por formar grandes jogadores. A grande maioria destes atletas demonstrava alta técnica e elegância com a bola nos pés. Porém, a Laranja nunca conseguiu se tornar uma seleção vencedora.

Nos anos 70, tendo como base o Ajax e o “futebol total”, a Holanda conseguiu dois resultados pra lá de expressivos em Copas do Mundo. Em 1974, o time de Rinus Michels mostrou todo seu potencial logo em sua estréia, ao bater o Uruguai por 2×0, tendo enorme facilidade para obter o resultado. Mais tarde, na então existente segunda fase de grupos, os holandeses mostraram ao mundo que não estavam de brincadeira e conseguiram a vaga para a final da Copa ao passar por um grupo que tinha Alemanha Oriental, Brasil e Argentina. Na grande final, o time holandês “travou” e após abrir o placar com menos de dois minutos – a Alemanha literalmente não havia tocado na bola -, o time cedeu a pressão alemã e logo tomou a virada.

Quatro anos depois, na Argentina, a Holanda – já sem Cruyff – precisou seguir um caminho parecido ao de 1974. Para chegar à final, o time na época treinado por Ernst Happel passou por uma segunda fase de grupos complicada, desta vez tendo que enfrentar Itália e Alemanha Ocidental. Mesmo sem lembrar seus tempos de “futebol total”, a Holanda conseguiu sua vaga na final. Mas no último jogo daquela copa, a Laranja sucumbira a Mário Kempes e o Monumental de Nuñez lotado e perdera por 3×1 já na prorrogação.

Foi uma geração que ficou marcada tanto positivamente quanto negativamente. A parte positiva foi na de jogar futebol. Parte essa que foi vitoriosa no Ajax, mas que não foi executada com tanta perfeição no selecionado holandês. Outro ponto positivo daquela geração certamente está no enorme cartel de atletas criados, como Johann Cruyff, Rob Rensenbrink, Rud Krool e Johan Neeskens. A parte negativa não é segredo pra ninguém: a ausência de títulos. Este time que foi formado nos anos 70 conseguira dois vice-campeonatos mundiais e uma semifinal de Eurocopa.

Após essa geração se encerrar, ficava a dúvida na cabeça dos torcedores da Laranja: “será possível termos outro time forte e envolvente como o time de Michels?”. A Holanda precisava fugir da fama que a Hungria pegou. Poderosíssima nos anos 50 e 60, os húngaros nunca mais repetiram atuações parecidas com as que metiam medo nos adversários nos anos dourados dessa seleção. Está difícil até para a Hungria formar bons jogadores, já que os húngaros de maior destaque acabam sendo coadjuvantes de times de meio da tabela, como Hajnal no Stuttgart e Gera no West Bromwich.

O início dos anos 80 geraram certo pavor nos holandeses. Então “bi vice-campeã” do mundo, a Holanda ficou de fora das Copas de 82 e 86, enquanto na Eurocopa, a Laranja caiu na primeira fase em 1980 e nem disputou a edição de 1984.

Após muito tentar e fracassar, a Holanda finalmente conseguiu voltar a uma edição de Eurocopa. Isso aconteceu em 1988, na edição realizada na Alemanha Ocidental. Mas desta vez, a intenção não era entrar no torneio simplesmente pra fazer figuração. Rinus Michels, que voltava a treinar a seleção da Holanda após quatro anos, tinha a sua disposição a dupla do Milan, Marco van Basten e Ruud Gullit. Junto dos dois estavam também Frank Rijkaard – que se juntaria a seus compatriotas no Rossonero após a Eurocopa – e Ronald Koeman. Era um time que não devia nada para ninguém e que poderia brigar pelo título mais cobiçado em nível continental pelas seleções européias.

Ainda é necessário destacar que a base do time era formada pelos dois times mais fortes da Holanda naquela época: Ajax e PSV. Dos 20 jogadores convocados por Rinus Michels para a disputa daquela Eurocopa, dez defendiam a dupla citada anteriormente – cinco pra cada lado. Não custa lembrar que menos de 20 dias antes da estréia holandesa na Eurocopa, o PSV Eindhoven batia o Benfica nos pênaltis e se sagrava campeão europeu. Era apenas mais um motivo para não menosprezarmos a Seleção Holandesa.

A seleção de Rinus Michels estava no grupo B da competição, junto de seleções fortes como União Soviética e Inglaterra, além da Irlanda, na época, estreante em Eurocopas.

Logo na estréia, decepção: a Holanda não conseguiu furar a forte marcação da União Soviética, além, é claro, de não passar pela barreira Rinat Dasayev e acabou perdendo o jogo no contra-ataque. Rácz, em um violento tiro cruzado fez o gol da vitória dos soviéticos.

No outro jogo do grupo, a Irlanda fez o jogo de sua vida e bateu a Inglaterra por 1×0. Pros ingleses, aquele jogo era apenas mais um, pois eles não consideravam os irlandeses “no seu nível”, mas o selecionado irlandês não pensava deste modo. Apenas quatro dos vintes convocados atuavam fora da Inglaterra, então eram motivos pessoais que cercavam aquela partida. A vitória por 1×0, gol de Ray Houghton, foi certamente uma das mais marcantes da história da Irlanda. A seleção treinada por Jack Charlton viria a cometer outro “crime” ao arrancar um empate da poderosa União Soviética, 1×1.

Na segunda rodada, o mundo viu do que Marco van Basten era capaz. O camisa 12, na época com 23 anos, anotou os três gols holandeses na vitória por 3×1 sobre a Inglaterra e deixava o seu país a uma vitória da classificação.

Win Kieft salvou a Holanda contra a Irlanda (Getty Images)

Era confronto direto: Irlanda x Holanda. Os irlandeses de Jack Charlton tinham três pontos e jogavam pelo empate. Já os holandeses de Rinus Michels, com dois, necessitavam dos dois pontos – era o que valia a vitória na época – se quisessem se qualificar para as semifinais.

A partida era muito nervosa. A Irlanda buscava de qualquer modo segurar o resultado que lhe garantiria pela primeira vez na semifinal da Eurocopa. Já a Holanda, necessitando de outro marcador, ia com tudo pra cima, mas esbarrava na retrancada seleção adversária. O gol da vitória custou a sair e veio em um lance de sorte. Após levantamento, Paul McGrath, então jogador do Manchester United, cortou a bola para frente de sua área. A gorduchinha caiu no pé direito de Koeman. O chute dele saiu esquisito, pro chão. Na verdade, o jogador que ganhara dias atrás a Copa dos Campeões com o PSV pareceu ter chutado por chutar. Koeman contou com a sorte, pois a bola foi na cabeça de Wim Kieft, outro campeão europeu. O atacante do PSV cabeceou no contrapé do goleiro Packie Bonner, que fez de tudo para tentar defender, mas a bola fez uma curva estranha e foi parar dentro do gol. A Holanda chegava aos quatro pontos, ultrapassando a Irlanda e conquistando a vaga nas semifinais.

Por fim, foi melhor para todos. A Holanda, time mais forte, conquistava a classificação e a seleção da Irlanda ficava marcada por sua honrosa campanha, que só não foi melhor por causa de um gol sofrido aos 37 minutos do segundo tempo.

Na semifinal, Rinus Michels e seus comandados dariam de frente com um velho algoz: a Alemanha Ocidental. Em 1974, a Laranja Mecânica de Cruyff perdeu a final justamente para esta seleção. Quatro anos mais tarde, essas duas seleções se reencontraram na copa da Argentina e ficaram no 2×2. Em 1980 houve outro encontro entre as duas seleções, na Eurocopa da Itália e novamente deu Alemanha, 3×2, com três gols de Allofs.

Era a hora da verdade – perdão pelo uso do clichê -! A Holanda precisava mostrar se era mesmo a melhor seleção do mundo em 1988 ou se era uma simples freguês da Alemanha Ocidental. Era a verdadeira hora de van Basten, Gullit, Koeman e Rijkaard mostrarem que queriam ficar marcados como vitoriosos na história do futebol.

A semifinal de 1988 lembrou muito a final de 1974. Na Copa do Mundo, o primeiro gol surgiu de um pênalti sofrido por Cruyff, que decidiu dar uma arrancada – após uma série incansável de toques na bola – e só foi parado com falta, no caso, pênalti. Já na Eurocopa, Klinsmann decidiu iniciar uma arrancada somada a uma série de dribles. O atacante do Stuttgart só foi parado por Rijkaard, que cometeu pênalti no alemão. Neeskens converteu a penalidade em 74, Matthäus converteu em 88.

van Basten foi o artilheiro da Euro 88 com 5 gols (Getty Images)

Marco van Basten, que andava meio sumido desde o hat-trick diante da Inglaterra, passou a decidir a partida. Primeiro, o atacante do Milan sofrera o pênalti que resultou no gol de empate de Koeman – assim como em 74, a partida chegava ao 1×1 com dois gols de pênalti.

A partida ia se encaminhando para a prorrogação. Já estávamos no minuto 44 da etapa complementar. Muitos já se preparavam para o tempo extra… outros levavam a sério a frase “o jogo só acaba após o último apito”. Um destes era van Basten, que recebera na grande área e de carrinho mandava pras redes.

Foram precisos dois lances para van Basten encerrar a freguesia de sua seleção perante a Alemanha e colocar a Holanda na final da Eurocopa pela primeira vez na história!

Na final, um adversário bem conhecido: a União Soviética, única equipe que conseguiu derrotar a Holanda naquela edição da Euro.

Na grande final disputada no estádio Olímpico de Munich, a Holanda conseguiu tirar a sua sina de perdedora, de time do “futebol total mas que não vence”. Nem toda força defensiva soviética foi capaz de segurar van Basten e companhia.

No primeiro gol, a União Soviética caiu na própria armadilha. Após levantamento na grande área, a zaga conseguiu afastar a bola, mas todos saíram para fazer a linha de impedimento. Mas van Basten veio de trás e conseguiu fazer o toque para Gullit abrir o placar na decisão.

Com 1×0 contra, os soviéticos seriam obrigados a fazer algo que não estavam muito acostumados: atacar. Em suas quatro partidas anteriores, a União Soviética só havia ficado atrás no marcador uma vez.

Na etapa final viria a prova de que seria impossível tirar o título das mãos holandesas. Nos aproximávamos dos dez minutos, quando Arnold Mühren avançou pela esquerda e cruzou para Marco van Basten. O atacante holandês recebeu a bola no lado oposto do campo, próximo a linha de fundo, com ângulo quase inexistente. Mas van Basten tirou um coelho da cartola: acertou um raro chute de pé direito, fazendo com que a bola tomasse várias direções diferentes, matando Dasayev. Uma obra prima, digna de um monstro como van Basten, que mesmo sendo letal com a bola nos pés, tinha uma elegância com a pelota poucas vezes vista neste planeta. E pensar que o atacante Rossonero só participou da Euro por causa de Cruyff, que o convenceu a disputar o torneio, mesmo tendo perdido praticamente toda a temporada devido as lesões.

Ajax e PSV formavam a base deste poderoso selecionado holandês

Depois deste gol, não havia jeito dos soviéticos tirarem o título da Holanda! Foi o primeiro e único título holandês em uma Eurocopa.

Era esperado que após o esperado título, a Laranja Mecânica finalmente engrenasse nos torneios que viriam à seguir. Mas nada feito. Na Copa de 1990, a Holanda novamente parava diante dos alemães e na Eurocopa de 1992, a Dinamarca brecava os holandeses na semifinal. Foi o último torneio de van Basten, Gullit e Rijkaard, além de Rinus Michels com a Seleção Holandesa. Era o fim daquela geração que tinha tudo pra ser vitoriosa, mas que acabou com apenas um título.