Ser campeão europeu já é um enorme feito para qualquer seleção, vide o fato de termos oito campeões diferentes, representando que a seqüência de conquistas é um feito difícil de conseguir. Mas levar os troféus da Europa e do Mundo em seguida é muito mais complicado ainda. Conheça agora a história de um dos times que conseguiu isto.
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Após a Copa do Mundo de 1970 o planeta ficou encantado com o Brasil de Pelé, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Rivelino e outros. Sem boa parte desta trupe após o tri-campeonato, a vaga de “melhor seleção do mundo” parecia estar em aberto.
A grande favorita a tomar esse espaço era a Alemanha Ocidental de Helmut Schön. Eliminados na Copa de 70 no “Jogo do Século” – Itália 4×3 Alemanha, na semifinal -, os alemães vinham anos férteis na Bundesliga. Bayern de Munich e Borussia Mönchengladbach viviam grandes momentos e duelavam ponto a ponto pelos títulos nacionais.
Como não poderia deixar de ser, a base da seleção era justamente a dupla que dominava o futebol do país. Apenas Michael Bella, Horst-Dieter Hötges, Horst Köppel, Jürgen Grabowski, Erwin Kremers e Hannes Löhr não jogavam no Gladbach ou no Bayern. Vindo da dupla, tínhamos nomes como Franz Beckenbauer, Paul Breitner, Uli Hoeness, Jupp Heynckes e Gerd Müller. Helmut Schön possuía um grande time em mãos!
A UEFA Euro de 1972 seria disputada na Bélgica e dava para dizer que isto era um problema para as outras três seleções da fase final – sempre lembrando que na época havia uma fase de qualificação que resultava em quatro times, desse quarteto era escolhido o país sede. Os belgas fizeram uma fase de classificação quase impecável.
Atuando no mesmo grupo de escoceses, dinamarqueses e portugueses, os belgas venceram seus quatro primeiros jogos sem nem ter sofrido gols nos três duelos iniciais. A derrota para a Escócia e o empate diante de Portugal nem prejudicou tanto a Bélgica, que venceu o grupo 5 e partiu para o confronto contra a Itália no mata-mata, definindo a vaga para a fase final. Os belgas seguraram o 0x0 no San Siro lotado – mais de 63 mil pessoas – e mataram a Azzurra no Émile Versé, 2×1.
Conter a Bélgica empolgada e com apoio do torcedor seria a primeira tarefa alemã na Euro de 72. Com treze gols marcados e três sofridos na fase de classificação, o favoritismo era todo da Alemanha Ocidental, mas jogar contra uma seleção em ótima forma e atuando em casa seria um duro desafio.
A partida chamou a atenção de toda a Europa e parou a Bélgica. Cerca de 55 mil pessoas foram ao Bosuilstadion – atualmente, o estádio não acomoda nem 17 mil espectadores – acompanhar belgas e alemães, já em Hungria e União Soviética, outra semifinal e que era realizada no mesmo horário, menos de 18 mil pessoas foram acompanhar a peleja.
A Bélgica parou para acompanhar a partida, mas principalmente, parou para ver e admirar “O Bombardeiro” Gerd Müller. O artilheiro do Bayern balançou as redes em seis oportunidades na fase classificatória e mais uma vez no mata-mata contra a Inglaterra. Müller vivia o auge de sua carreira e decidiu provar isto na semifinal, balançando as redes em duas oportunidades. O gol de Odilon Polleunis não foi o suficiente para colocar a Bélgica em uma final de Eurocopa.
Teríamos um campeão invicto! A União Soviética chegou à final da competição sem ser derrotada. Foram cinco vitórias e três empates na fase qualificatória – contando com o mata-mata – e no duelo eliminatório contra a rival Iugoslávia, veio uma sonora vitória por 3×0 no placar agregado. Nas semifinais, os soviéticos bateram a Hungria de Flórián Albert por 1×0, gol de Konkov.
A Europa inteira tinha a impressão de que a União Soviética era a única seleção capaz de parar a Alemanha Ocidental em uma partida de futebol. Sem a mesma qualidade técnica, experiência e conjunto, mas com muita dedicação e com algo já explicado no nome do país, a “União” das potências locais. Se hoje Dynamo de Kiev, Shakhtar Donetsk, Dynamo e Spartak Moscow se enfrentam raramente, naquela época faziam parte da mesma nação e sempre se confrontavam. Estes times formavam a base da seleção soviética.
Só que assim como no confronto diante da Bélgica, a Alemanha jogou todas as esperanças adversárias ralo abaixo. Foi uma partida de um time só e uma das maiores atuações da seleção considerada por muitos como a maior da história do país.
O Kaiser Beckenbauer mostrou como um líbero deve jogar e ocupou os espaços como poucos, na lateral, Paul Breitner era rígido na marcação e eficiente no ataque, enquanto Uli Hoeness e Günter Netzer davam solidez ao meio-campo.
Para tornar tudo perfeito, Gerd Müller estava no ataque para seguir mandando bolas pra dentro. Depois de dois gols na semifinal, “O Bombardeiro” anotou mais dois tentos na decisão e se tornou o grande destaque da competição. Ainda na mesma temporada, Müller recebeu o “European Golden Shoe”, prêmio entregue ao maior artilheiro da Europa e na ocasião, o alemão havia marcado 40 gols. Até hoje, Gerd Müller é o único alemão a ganhar o prêmio e também o único atuando na Bundesliga.
Era o auge da carreira do atacante bávaro e também da seleção alemã, que dois anos depois receberia a Copa do Mundo e mostraria que realmente era uma das maiores seleções da história. Na grande final contra a Laranja Mecânica Holandesa de Cruyff e Rinus Michels, a Alemanha Ocidental venceu por 2×1 e Gerd Müller novamente marcou no jogo decisivo. No caso, o gol do artilheiro foi o da virada.
O feito dos alemães é tão grande que somente em 2008-2010 uma seleção foi repetir tal conquista. A Espanha curou a fama de amarelona e venceu de forma consecutiva a Eurocopa e a Copa do Mundo.
Este talvez tenha sido um dos últimos “Contos da Euro” originalmente meus. A partir da próxima semana, teremos novidades na série. Aguardem!