Chance de ouro

O Lyon terminou a temporada 2010/11 aos frangalhos.

Claude Puel era criticado; jogadores do próprio elenco criticavam o técnico; haviam até casos de atletas que saiam no braço com torcedores, graças a má campanha da equipe; contratações como a de Yoann Gourcuff se tornaram verdadeiros fracassos; e a vaga para os playoffs da Uefa Champions League foi conquistada muito mais pelos vários vacilos do Paris Saint-Germain do que por seus próprios méritos.

Era normal então que os torcedores do Lyon não tivessem grandes ambições para a temporada seguinte.

Rémi Garde feliz da vida com o bom início do Lyon

A grande alegria dos torcedores foi a saída de Claude Puel. Porém, no lugar do controverso treinador, chegou o inexperiente Rémi Garde. “Patrimônio” do Lyon – Garde é cria do clube e jogou no OL de 1987 até 1993 -, Garde teria no OL seu primeiro desafio profissional como técnico. Anteriormente, ele havia sido assistente técnico de Paul Le Guen e Gérard Houllier quando estes passaram pelo Lyon. De lá pra cá, virou dirigente e mais tarde treinador dos times de base do OL.

Somada a essa inexperiência, poucos reforços chegaram para Garde, que teve que se virar basicamente com o que Puel também tinha.

Era esperado um início turbulento no Campeonato Francês, sem esquecer da Champions League. O Lyon havia caído num complicado grupo, onde bateria de frente com equipes como Real Madrid e Ajax.

Mas o início de temporada do Lyon foi totalmente diferente do que os torcedores poderiam imaginar.

Nas primeiras seis rodadas da Ligue 1, Les Gones permaneceram imbatíveis. Apenas na 7ª rodada o Lyon veio a perder – 1×0 diante do Caen. Hoje, os comandados de Rémi Garde tem 17 pontos e dividem com Paris Saint-Germain e Toulouse a liderança da liga após 8 jogos.

Não eram só os resultados que chamavam a atenção, mas também o modo como a equipe jogava e se portava dentro das quatro linhas. Era uma atitude bem diferente da vista nos tempos de Puel.

Já na Champions League, o Lyon terá nesta terça-feira uma chance de ouro de começar a encaminhar a vaga para as oitavas-de-final do torneio.

Ajax e Lyon ficaram no zero (Reuters)

Após interessante 0x0 contra o Ajax em Amsterdã, o OL receberá no Gerland a equipe mais fraca do grupo, o Dínamo de Zagreb. Chance de ouro pro Lyon vencer – e vencer bem para fazer saldo – e ir tranquilo pros dois jogos seguidos diante do Real Madrid.

O Lyon tem se mostrado uma equipe bem equilibrada. Lovren e Koné tem estado firmes na marcação, sempre contando com a segurança de Hugo Lloris na meta. No meio campo, Gonalons tem jogado muito bem e feito a torcida do Lyon esquecer Toulalan, enquanto Källstrom segue sendo o maestro da “meiuca”. Mais à frente, o brasileiro Michel Bastos e o francês Gomis tem mostrado bom entrosamento e sempre são a válvula de escape do time. A velocidade de Bastos somada com a presença de área de Gomis são fatores que contribuem para uma maior combinação entre ambos, e consequentemente, no entrosamento e evolução do time.

Jogando em casa, o Lyon tem a obrigação de bater o Dínamo de Zagreb, pois se não conseguir isso, o 0x0 conquistado na Amsterdã ArenA de nada servirá. Uma boa vitória sobre os croatas deixará o time francês mais leve e tranquilo para enfrentar o Real Madrid por duas vezes seguidas. Essas características são boas, pois tornam o Lyon um franco-atirador nesses duelos, podendo partir para cima sem aquele temor de sofrer gols nos contra-ataques.

Outro motivo para tornar a vitória sobre o Dínamo de Zagreb obrigatória. Pegar o Real Madrid por duas vezes seguidas, tendo como obrigação vencer pelo menos um dos dois jogos é difícil. Os jogadores não ficam só pressionados, como ficam também com medo de partir pra cima e estragar tudo lá atrás.

É a chance do Lyon começar a encaminhar a vaga no enroscado Grupo D!

Curtinhas da rodada:

Jupp Heynckes prepara o Bayern pra pegar o City

– O grande jogo da rodada acontecerá na Alianz Arena, Bayern x Manchester City. Os Citizens entrarão na partida com a obrigação de vencer, já que empataram na 1ª rodada. Tarefa complicada, já que os bávaros sofreram somente um gol na temporada. O Napoli receberá o Villarreal e tem tudo para vencer e começar a complicar a vida do Manchester City no grupo;

– No Grupo B, Inter e Lille jogarão fora de seus domínios, mas ambos tem a obrigação de vencer. Os italianos perderam em casa pro Trabzonspor e agora não podem pensar nem em empatar com o perigoso CSKA na Rússia. Já o Lille deixou a vitória escapar contra os russos e agora tem de perder a ingenuidade e partir pra cima do Trabzonspor;

– Rodada importante para Leverkusen e Valencia no Grupo E. Os alemães pegam o Genk e os espanhóis o Chelsea. Ambos jogam em casa e nenhum dos dois pode pensar em perder pontos antes dos confrontos diretos nas rodadas 3 e 4;

– Jogo dos renascidos no Vélodrome: O Marseille, que finalmente venceu na Ligue 1, contra o Borussia Dortmund, que voltou a vencer na Bundesliga. Os franceses podem até especular com o empate, mas o BVB nem tanto, já que empatou no primeiro jogo;

Bonde do Dragão sem freio

É golo!!!! (Getty Images)

Não gosto muito do termo “final antecipada”. Acho que isso não existe. “Final é final” – como diria o filósofo Ronaldinho -, ou seja, é o desfecho, o encarramento, o término. Sem falar que o termo é jogado pro espaço se o time que vencer a tal final perder a verdadeira final.

Porto e Villarreal, pelas semifinais da Liga Europa era descrita por alguns como final antecipada. Como disse acima, não gosto do termo, mas o jogo teve cara de final. O primeiro tempo foi aberto, com as duas equipes querendo jogar, buscando a vitória e na etapa final, o então perdedor decidiur jogar. Para uma quinta-feira à tarde, foi uma partida bem agradável.

Só um parágrafo sobre o jogo: o Porto começou marcando forte, atrapalhando a saída de bola do Villarreal, que quando conseguia escapar da forte marcação, sempre arranjava bons ataques. A linha de impedimento portuguesa foi burra mesma e diversas vezes, Nilmar e Rossi ficaram cara-a-cara com Hélton. Esse foi o grande pecado do time espanhol, que poderia ter feito três, quatro gols se não fosse incompetente em suas finalizações. Mesmo assim, o Villarreal foi pro intervalo em vantagem, após gol de Cani, aproveitando cruzamento de Nilmar, que se aproveitou da “avenida Álvaro Domínguez”, que só faltou botar uma placa e avisar: “Joguem por aqui”. Na etapa final, poucas palavras: o Porto sobrou. Sobrou fisicamente e tecnicamente. O time espanhol morreu e quase nem passou do meio campo. Com Álvaro mais preso, Guarín pôde chegar mais à frente e teve grande atuação. Hulk também teve atuação destacada. Falcão foi magistral, com quatro gols.

Agora sim, vou falar do “Bonde do Dragão sem freio”. Tá certo que esse papo de bonde do Flamengo e trem bala do Vasco já encheu a paciência aqui no Brasil, mas fiquei imaginando: se o time rubro-negro, jogando essa bolinha aí já virou bonde sem freio, o Porto é o quê então? Os Dragões tem uma equipe de muito respeito. Um meio campo forte, com Fernando fazendo a proteção à zaga, com Guarín e Moutinho chegando à frente. No ataque, Hulk, Varela – hoje jogou o nulo Cristian Rodríguez – e Falcão cumprem muito bem seu papel. É certamente, um dos times mais fortes da Europa!

André Villas Boas: um Mourinho, só que mais simpático (Getty Images)

E no banco fica André Villas-Boas. Esse rapaz revolucionou o time do Porto. O time que se acostumou a só ganhar a liga portuguesa, do nada se viu fora da Champions League e esse garoto mudou a mentalidade do time. Os Dragões fizeram uma primeira etapa abaixo do que podem render, bastou uma papinho e jogadores como Guarín e Falcão passaram a decidir. Villas Boas é um dos “seguidores de Mourinho”, só que mais novo e essa jovialidade dele parece fazer bem ao Porto. A equipe não se conforma com o pouco e sempre quer mais. Com o jogo em 3×1, 4×1, os Dragões seguiram em cima e após o 5×1, só não marcaram mais por falta de tempo.

É uma equipe avassaladora!

Falcão é o artilheiro da Europa League (Getty Images)

Os jogadores que mais me chamam a atenção nesse Porto são dois colombianos: Freddy Guarín e Radamel Falcão. O primeiro atua no meio-campo, mas tem uma chegada ao ataque muito boa. É forte fisicamente, tem bom passe, é inteligente e o principal: tem um potente chute de direita. Guarín já anotou diversos gols em chutes de média e longa distância. Já Falcão, que já era um terror em seus tempos de River Plate, – os botafoguenses confirmam – evoluiu muito no futebol português. É um atacante letal. Não costuma perder tantas chances de gol, sempre aproveita as que tem. Sabe fazer gols, tem técnica e tem algumas artimanhas que lhe dão vantagem aos zagueiros, como o seu domínio de bola, que é sempre girando pra cima do marcador.

O Porto poderia muito bem estar na Champions League. É uma equipe forte e poderia fazer suas surpresinhas na Liga.

O 5×1 deixa os Dragões com as passagens encaminhadas para Dublin e só Deus sabe quem pode parar o “bonde sem freio” do Porto.

Sobre o Villarreal…

Preocupa essa queda de rendimento do Submarino Amarelo. No início da temporada, o Villarreal era um dos times capazes de parar a dupla Barça-Madrid, mesmo que só por um jogo, hoje podem até ficar sem a vaga para a Champions League. O Villarreal é um bom time, com Borja Valero armando o time, com Cani e Cazorla carregando a equipe pelos flancos e com a poderosa dupla de ataque formada por Nilmar e Rossi. A prova foi hoje. É muito difícil parar o Porto no Estádio do Dragão e o Villarreal fez isso…por 45 minutos. Morreu nos outros 45 e esse resto de jogo deve custar a eliminação na Liga Europa.

Na outra semifinal…

Benfica vence na ida (Getty Images)

Resultado bom…mas nem tanto pro Benfica. O 2×1 sobre o Braga na Luz, deixa os Encarnados com a vantagem do empate, mas os braguistas já provaram que podem encrencar um jogo no Municipal de Braga. É só 1×0… Dá pra tirar. Ainda mais que sou daqueles que prefiro que nesses mata-mata, meu time jogue a primeira em casa, pra tentar matar logo a série. 2×1 não é confortável. O Braga, de Domingos Paciência, conhece muito bem o Benfica. Sabe suas virtudes e seus defeitos.

O Municipal de Braga vai tremer na próxima quinta!

Elas não são tão diferentes assim….

Os troféus pelo menos são bem diferentes...

Em tese, Europa League e Champions League são competições muito diferentes. A UCL reúne os principais times das grandes ligas européias e tem menos times se comparada a competição citada à seguir. Enquanto isso, a UEL reúne times de um segundo escalão europeu, de países sem grande tradição, há muito mais times e por consequencia, mais fases e jogos.

Porém, as quartas de final de ambas as competições mostram que pelo menos nessa fase, elas não são tão diferentes assim.

Como escrevi ontem, três dos quatro jogos da Champions League podem ser considerados definidos. Schalke, Real Madrid e Barcelona dificilmente serão eliminados, após abrirem boas vantagens nos jogos de ida. Chelsea x Manchester United é o único confronto que podemos dizer que está aberto, embora os Red Devils tenham vantagem no placar.

A Europa League manteve a mesma história. Porto, Benfica e Villarreal – curiosamente, mesmo sequencia numérica de países, dois do mesmo país e um de outro – dificilmente serão eliminados, enquanto Braga e Dynamo de Kiev fazem o único duelo aberto.

Falcão, vice-artilheiro da Europa League (Getty Images)

O Porto, que para mim é o grande favorito ao título, mostrou o “porque” de merecer esse rótulo. Enfrentando o bom time do Spartak Moscow, meteu 5×1, com três gols de Falcão García. O atacante colombiano chegou a 10 gols e lidera o ranking de artilheiros da Europa League. Só pra mostrar como será difícil, pra não dizer impossível, a missão russa, o Porto sofreu somente 9 gols no Campeonato Português. O Spartak terá de meter 4×0 pra se classificar!

Se o Porto já está quase classificado, pode-se dizer o mesmo de seu provável futuro adversário, o Villarreal. O Submarino Amarelo pegou o Twente – time que já havia eliminado o bom time do Zenit – e surrou os holandeses com um impiedoso 5×1, com dois gols de Nilmar e mais um do vice-artilheiro da competição, Rossi. Dificil imaginar o líder da Eredivisie fazendo 4×0 no Villarreal, levando em conta que terá de se expor diante de um time que tem Borja Valero ligando os velozes Nilmar e Rossi. É pedir pra tomar contra-ataques e por consequência, gols.

Salvio anotou "dois golos" (Getty Images)

Não é só o líder da Eredivisie que está em maus lençóis, o vice-líder também está. O PSV Eindhoven caiu diante do Benfica: 4×1. A grande notícia do jogo fica à cargo do renascimento dos argentinos que tanto ajudaram os Encarnados na conquista do título português da temporada passada, mas que andavam com um futebol meio xoxo. Salvio, que nem estava no Benfica na última época, fez dois gols, enquanto Saviola e Aimar, destaques do time no então título fecharam a conta. No duelo contra o PSG, deu para ver um Benfica sabendo o que fazer, isso tendo uma vantagem menor e arriscada, dificilmente cairá na Holanda.

Na mesma chave, duelo aberto. Dynamo de Kiev e Braga ficaram no 1×1 e a disputa da vaga vai para Portugal.

Agora tentem ir no mesmo pensamento que eu. O grande favorito da Champions League é o Barcelona. Nas quartas-de-final da dita cuja, o time catalão venceu o Shakhtar por 5×1. O grande favorito da Europa League, o Porto, fez a mesma coisa: 5×1 no Spartak. O Real Madrid, time do mesmo país do Barcelona, venceu o Tottenham por 4×0 e só cai por incompetência própria. O Benfica, time do mesmo país do Porto meteu 4×1 no PSV e está na mesma situação Merengue. O Schalke, time de “país isolado” em relação aos prováveis classificados, venceu a Inter fora de casa por 5×2 e tem tudo para segurar a vantagem. O time do “país isolado” na Europa League, o Villarreal, com o 5×1 aplicado no Twente, tem tudo para passar de fase. No outro duelo de ambas as competições, confronto aberto entre Manchester e Chelsea na UCL e Braga e Dynamo na UEL.

Saldo: 3 times (praticamente) classificados e um duelo aberto nas duas competições.

É, Manolev, ficou difícil.... (Getty Images)

Mas que conclusão dá pra tirar disso? Não sei….Se tivesse que mandar logo de cara, diria que isso tudo é coincidência, mas isso pode mostrar como está nivelado o futebol que até assim, em competições diferentes a semelhança permanece.

A única conclusão que pude tirar realmente veio do tweet do amigo Fernando Ribeiro.

Você realmente está ansioso para os jogos de volta tanto da Champions League e da Europa League? Eu pelo menos nem tanto….