Lembranças de uma noite de setembro

O dia 13 de setembro de 2005 entrou para a história do Lyon | Foto: AFP/Jean-Phillipe Ksiazek

Se hoje é o Paris Saint-Germain quem chama a atenção dos jovens e fãs de futebol quando o assunto é clube francês, na década passada, quem cumpria esse papel com maestria era o Lyon. Com uma ascensão meteórica, o time presidido pelo lendário Jean-Michel Aulas, acostumado a ocupar posições intermediárias em solo doméstico, conquistou o primeiro título francês em 2002 e só parou de erguer taças em 2008. Tudo isso com o brilhantismo de um ídolo nato: Juninho Pernambucano. Poucas vezes se viu uma química tão grande entre clube, atleta e torcida.

Uma das grandes noites daquele time, que ainda tinha personagens marcantes como Gregory Coupet, Cris, Cláudio Caçapa, Florent Malouda e outros, foi exatamente no dia 13 de setembro de 2005. Pela frente do campeão francês, o estrelado Real Madrid, ainda na era Galáctica sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, pela primeira rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa.

Aqueles próximos 90 minutos sob o Estádio Gerland lotado entrariam para a história do clube.

Faltava protagonismo

Maribor provocou o primeiro grande pesadelo europeu do Lyon | Foto: Divulgação

Se hoje nos acostumamos a ver o Lyon disputando copas europeias, o hábito era diferente até metade da década de 90. Salvo discretas participações em torneios de segundo escalão, o OL disputou a primeira Liga dos Campeões apenas na temporada 1999/00 – depois de alguns anos com disputas pouco efetivos na antiga Copa da Uefa.

A primeira participação em Liga dos Campeões, porém, foi traumática. Jogando contra o modesto Maribor, da Eslovênia, o Lyon perdeu a vaga ainda na primeira eliminatória, ao ser derrotado nos dois jogos por 1 a 0 na França e 2 a 0 em solo esloveno.

Naquele mesmo ano, o OL conseguiu um feito ainda maior na Copa da Uefa: venceu o alemão Werder Bremen por 3 a 0 no Gerland e conseguiu perder por 4 a 0 na volta e dar adeus precocemente, na terceira fase.

Nos anos seguintes, o Lyon se recompôs e conseguiu resultados mais expressivos. Em 2000/01, por exemplo, só caiu na segunda fase de grupos da Liga dos Campeões, quando tinha os poderosos Bayern e Arsenal pela frente, e em 2003/04 e 2004/05, foi eliminado nas quartas-de-final para o futuro campeão Porto e nos pênaltis pelo PSV, respectivamente.

O time amadurecia temporada após temporada, dominava o solo doméstico e dava amostras claras de que estava pronto para dar o salto adiante na Europa.

Noite mágica no Gerland

Aulas foi atrás do veterano Houllier em 2005 | Foto: Divulgação

Para dar o passo além na temporada 2005/06, um novo treinador. Paul Le Guen pediu as contas e um velho conhecido do futebol francês foi chamado: Gérard Houllier, ex-técnico de PSG, Liverpool e seleção francesa.

Apesar de conseguir um treinador tarimbado e buscar reforços importantes, como os meio-campistas Benoît Pedretti e Tiago, o atacante norueguês John Carew e a então jovem revelação brasileira Fred, Aulas não teve forças para segurar o ótimo volante Mickael Essien. Mesmo renovando contrato com o ganês, o Chelsea investiu 28 milhões de euros no atleta e o tirou do Gerland.

O início de temporada foi promissor e o Lyon emendou cinco vitórias e um empate nas primeiras seis rodadas de Campeonato Francês. Mas isso era pouco para as ambições do clube e o grande teste veio três dias depois de desbancar o Monaco por 2 a 1, na 6ª rodada do torneio nacional.

Pela frente naquele dia 13 de setembro, o galáctico Real Madrid. De um lado, o esquadrão brasileiro de Cris, Caçapa e Juninho e, do outro, o estrelado time de Robinho, Beckham e Raúl, sob a regência de Vanderlei Luxemburgo – que estava desfalcado de Zidane, Figo e Ronaldo, é bem verdade.

Sem dúvidas que se tratava de um jogo especial.

O Lyon sabia disso e entrou com a seriedade necessária para uma partida desta envergadura. Cris e Caçapa, como era padrão, mantinham a virilidade de seu jogo, não abandonando nenhuma dividida, sempre com o amparo de um meio-campo forte, mas ao mesmo tempo técnico, composto por Diarra, Tiago e Juninho, que constantemente trocavam de posição.

Se nas divididas isso acabava sendo positivo, em alguns momentos extrapolava e, em menos de dez minutos, o Lyon deu ao Real Madrid duas faltas na entrada da área. Beckham e Roberto Carlos não aproveitaram as chances, mas deram um aviso claro ao Lyon: poderiam errar uma cobrança, mas duas seria difícil.

Só que o recado valia para o outro lado também. O 8 do OL era simplesmente Juninho, dono de um pé direito potente e calibrado, no auge da carreira. Míchel Salgado, porém, parecia não saber disso.

Aos 19 minutos, cometeu uma falta boba em Malouda. Era uma bola quase perdida no lado esquerdo. Afoito, puxou o atacante pelo ombro, levando-o ao chão. Não era uma falta para cobrança direta, mas boa para jogar na área e provocar dores de cabeça ao goleiro Iker Casillas.

Insatisfeito por provocar tal perigo a própria meta, Salgado completou o serviço. Juninho cobrou a falta em direção da área e o lateral, além de dar ao menos três passos adiante, esticou os braços para bloquear o chute. A falta ficou mais perto ainda.

Lembram do recado “errou uma, mas duas seria difícil”? Juninho, desta vez, cobrou forte, na direção do gol. Carew, que vinha sendo o desafogo do time com seus pivôs, deu uma casquinha na bola quase imperceptível. O leve desvio foi suficiente para impedir a defesa de Casillas, que até tocou na bola, mas a viu morrer dentro das redes.

E era aberta a contagem.

De pé calibrado, Juninho participou do primeiro gol | Foto: AFP/Jean-Philippe Ksiazek

O Real, de Luxa, era uma contradição só. Se sobrava técnica com Beckham, Robinho, Raúl e Roberto Carlos, exalava jogo físico e bruto com Thomas Gravesen, Pablo García e Míchel Salgado. Em campo, um 4-4-2 bem brasileiro, com dois volantes, dois meias, um atacante mais móvel e outro para empurrar a bola para as redes.

E dessa contradição, a truculência parecia falar mais alto. Num intervalo rápido, de pouco mais de dois minutos, três faltas, duas em Juninho e uma em Diarra. Pobre do time que não aprende com os próprios erros.

A falta de Raúl em Diarra foi típica de quem não sabe marcar. Foi um prato cheio para Juninho. A distância não foi problema, ainda mais quando Casillas colocou apenas três jogadores na barreira. Chute forte, de pé direito, rasante. O único quique no chão foi antes de fugir do alcance do goleiro espanhol e beijar as redes.

Como um boxeador prestes a ir a lona, o Real Madrid balançava no gramado do Gerland. Não sabia para onde ia, tampouco qual o rumo das jogadas do Lyon. Quando o relógio marcava 31 minutos, veio o golpe que praticamente nocauteou os galácticos.

De Wiltord para Réveillère.

De Revéillère para Wiltord.

De Wiltord para o gol.

O jogo no Gerland nem bem tinha completado 30 minutos e o Lyon já colocava um imponente 3 a 0 em cima do Real Madrid. Três gols dos 21 aos 31 minutos. Dez minutos de loucura, de brilhantismo, que mostraram para o que o OL vinha naquela temporada.

O estrago só não foi maior porque Juninho desperdiçou um pênalti aos 40 minutos.

A segunda parte do jogo foi protocolar. Numa nova analogia ao boxe, Juninho e companhia esperavam apenas o fim da luta para vencer por pontos. O Real Madrid se esforçou e martelou, mas esbarrou em Cris e Caçapa. Imponentes e eficientes, os brasileiros tiveram atuação para ser lembrada.

Se a primeira impressão é a que fica, a imagem que o Lyon deixou naquela estreia pautou toda a campanha ao longo da Liga dos Campeões. O time de Houllier ficou a apenas dois minutos da semifinal da competição. Na fase de grupos, além do Real, ficaram pelo caminho Olympiakos e Rosenborg.

Nas oitavas-de-final, uma revanche para cima do PSV Eindhoven, que na temporada anterior tirou o OL nos pênaltis em jogo polêmico até hoje devido a um pênalti – escandaloso – não marcado em cima de Nilmar na prorrogação. Desta vez, atropelo: 5 a 0 no agregado.

Os franceses caíram apenas nas quartas-de-final para o Milan em dois jogos duros. Na ida, no Gerland, 0 a 0. No San Siro lotado, com mais de 80 mil pessoas, Inzaghi colocou o Milan em vantagem, mas Diarra empatou ainda na primeira etapa. O placar se manteve assim até os 43 minutos da etapa complementar, quando Pippo apareceu novamente, aproveitando sobra de bola que bateu nas duas traves, fez 2 a 1 e abriu caminho para a classificação, que seria completada com mais um gol.

Momentaneamente, ficou a tristeza de não vir uma classificação para a semifinal que esteve a ponto de se concretizar. Na história, porém, ficou o legado daquele time. O Lyon, dominante em solo local, mostrou, enfim, que poderia ir além. Bateu poderosos, jogou de igual para igual com times pesados, mostrou do que era capaz. Aquele 13 de setembro durou longos anos para uma torcida inebriada por uma equipe que deixa saudades até hoje.

Ficha técnica:

Lyon 3×0 Real Madrid

Liga dos Campeões – Grupo F

Estádio Gerland | 40.309 pessoas

Arbitragem: Massimo De Santis (Itália)

Lyon (4-3-3): Coupet; Réveillère, Cris, Caçapa e Berthod; Diarra, Tiago (Pedretti, aos 43’/2º) e Juninho; Wiltord (Govou, aos 36’/2º), Carew (Fred, aos 27’/2º) e Malouda – Técnico: Gérard Houllier

Real Madrid (4-4-2): Casillas; Salgado, Helguera, Ramos e Roberto Carlos; Gravesen (Guti, aos 16’/2º), Garcia, Beckham e Júlio Baptista; Robinho e Raúl – Técnico: Vanderlei Luxemburgo

Gols: 1×0 Carew, aos 21’/1º; 2×0 Juninho, aos 26’/1º; e 3×0 Wiltord, aos 31’/1º;

Cartões amarelos: Salgado, aos 20’/1º; Berthod, aos 23’/1º; Garcia, aos 39’/1º; Diarra, aos 7’/2º; e Beckham, aos 45’/2º;

11 na História: Bordeaux 1998/1999

Inauguramos agora mais uma seção no blog, o “11 na História”. Neste quadro, vamos recordar alguns times que marcaram na Europa – com foco, é claro, na França – seja pelos resultados ou por um legado futebolístico que tenha deixado. A ideia é valorizar os times pelos seus feitos e resgatar a história destas conquistas.

O time que abre a nossa série é o Bordeaux da temporada 1998/1999, campeão nacional depois de mais de uma década. A equipe também marcou a história do Campeonato Francês ao apresentar ao mundo um quarteto ofensivo de dar inveja a muitos times, composto por Ali Benarbia, Johan Micoud, Lilian Laslandes e Sylvain Wiltord, o astro da companhia.

Relembre mais dessa história:

Período de reconstrução

Nos anos 80, o Bordeaux se notabilizou como uma das equipes mais fortes do futebol francês ao conquistar três títulos do Campeonato Francês entre 1984 e 1987. Neste meio tempo, venceu duas edições da Copa da França e chegou a semifinal da Copa dos Campeões da Europa em 1984/1985, quando ficou por um gol de chegar à final – perdeu na ida para a Juventus por 3×0 e venceu na volta por 2×0. Naquela época, se notabilizaram no clube atletas renomados, como Jean Tigana, Alain Giresse, René Girard e Dieter Müller.

Sob a batuta do clube estava Claude Bez, presidente girondino, imortalizado pelos bons resultados no período de construção do sucesso nos anos 80. Entretanto, o que era um sonho para o Bordeaux, tornou-se em um pesadelo em pouco tempo. Ao término da temporada 1990/1991, a Direção Nacional de Controle de Gestão (DNCG, na sigla em francês) decidiu rebaixar os Girondins por causa do déficit orçamentário, que batia na casa dos € 45 milhões. Bez foi forçado a renunciar e o clube disputou a segunda divisão por uma temporada.

Com esse rápido recuo, o Bordeaux teve uma década de 90 de pura reconstrução. Novos parceiros, novos jogadores e objetivos sendo alcançados passo a passo. Foi nesta época que o clube lançou atletas como Christophe Dugarry e Bixente Lizarazu, teve no elenco Zinedine Zidane e, com eles, foi vice-campeão da Copa da Uefa em 1996, diante do Bayern – só ressaltando que os franceses fizeram a partida de ida sem o citado trio e perderam por 3×0.

O treinador: Elie Baup

Baup foi de auxiliar a campeão francês no Bordeaux | Foto: Jean Jacques Saubi

Baup foi de auxiliar a campeão francês no Bordeaux | Foto: Jean Jacques Saubi

O ápice dessa reconstrução do Bordeaux começou a ser concretizado na metade da temporada 1997/1998. Longe da briga pelo título, a diretoria optou por trocar o técnico. Guy Stephan foi embora e deu lugar a Elie Baup, que era o auxiliar-técnico. Ao término da temporada, os Girondins ficaram na 5ª colocação, com 56 pontos e Baup mantido no posto.

Sempre com seu bonezinho na beirada do gramado, Baup teria na temporada seguinte o grande desafio da carreira. Depois de uma fracassada passagem pelo Saint-Étienne entre 1994 e 1996, onde conseguiu rebaixar o clube duas vezes (na primeira vez, não caiu pelo escândalo envolvendo Marseille e Valenciennes), ele teria em mãos um elenco talentoso, que tinha como grandes expoentes os jovens Ali Benarbia e Sylvain Wiltord, além do talentoso Johan Micoud e o matador Lilian Laslandes.

Jogos chave

22ª rodada – Bordeaux 4×1 Marseille

A briga pelo título estava polarizada entre Bordeaux e Marseille. Ambos possuíam campanhas sólidas e faziam jus a tal status. O OM, líder com 48 pontos, tinha a melhor defesa e contava com uma equipe experiente, composta pelos campeões mundiais Laurent Blanc e Christian Dugarry e pelo italiano goleador Fabrizio Ravanelli. Além deles, compunham o elenco os cobiçados Willy Gallas e Robert Pirès. Rolland Courbis tinha em mãos um time bastante forte.

Do outro lado, porém, estavam os Girondins, campeões do primeiro turno, sofreram dois tropeços no início da segunda parte da competição e acabaram ficando na vice-liderança com 45 pontos. Ainda assim, tinham o melhor ataque, com 44 gols marcados.

A gana de vencer e diminuir essa diferença fez com que tivessem 20 minutos de gala. Entre os 14 e 34 minutos da primeira etapa, o Bordeaux abriu 4×0 e encaminhou a vitória que lhe recolocou na liderança. Dugarry chegou a descontar na etapa final, apenas para fazer valer a “Lei do Ex”, mas insuficiente para estragar a festa dos Girondins, que assumiram a liderança da competição.

PSG: O fiel da balança

Contra o PSG, Wiltord foi quem decidiu com dois gols | Foto: Divulgação

Contra o PSG, Wiltord foi quem decidiu com dois gols | Foto: Divulgação

Depois da vitória no confronto direto, a liderança tornou-se uma batata quente, que queimava de mão em mão. Só houve uma estabilização no posto entre a 29ª e a 31ª rodada, quando o Bordeaux acumulou três tropeços seguidos e o Marseille se aproveitou.

Entretanto, faltando duas rodadas para o término da temporada, entrou em cena o Paris Saint-Germain. Com uma péssima campanha, ocupando a indigesta 10ª colocação, a equipe da capital francesa receberia o Marseille na 32ª rodada e o Bordeaux na última. Seria o legítimo fiel da balança, que decidiria o campeonato de forma indireta.

Tudo corria de vento em popa para o OM durante a rodada 32. Vencia o clássico por 1×0 e via os Girondins empatando em 2×2 com o Lens. Com essa combinação, chegaria a 68 pontos e abriria quatro pro Bordeaux, podendo ser campeão na rodada seguinte. Essa história virou pó a partir dos 37 minutos do segundo tempo dos dois jogos.

Neste mesmo minuto, Sylvain Wiltord acertou um chute de rara felicidade, do meio da rua, e virou a partida para o Bordeaux em Lens. A vantagem, que era de quatro pontos, voltava para dois. Um minuto depois, em Paris, Marco Simone finalizou de fora da área para empatar o clássico – e também o campeonato. Não deu muito tempo para respirar, e em um vacilo na saída de bola, Bruno Rodriguez aproveitou, virou a partida para o PSG e abriu caminho para o título do Bordeaux.

O trágico 2×1 tirou o Marseille da ponta e colocou lá o time de Élie Baup, que precisava manter a regularidade para ser campeão. E assim o fez ao vencer o Lyon por 1×0 e o próprio PSG por 3×2, numa emocionante partida decidida no minuto 88 por Pascal Feindouno, garoto de 18 anos que fez naquela noite o primeiro gol como profissional.

Cabe aqui abrir parênteses: essa vitória do Bordeaux sobre o Paris é até hoje questionada, especialmente pelo Marseille, pela vontade – ou falta dela – do PSG em vencer o jogo, tendo em vista a rivalidade criada pelas duas equipes.

Para o Bordeaux, essa rixa entre marseilaises e parisienses pouco importa. O que valeu foi o título, que veio 12 anos depois, superando frustrações como um vice-campeonato europeu, campanhas ruins e até um rebaixamento.

Time-base:

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Jogadores-chave:

Lassina Diabaté: meio-campista defensivo de bom combate, Diabaté era peça de confiança de Elie Baup. Canhoto e incansável, ajudou a solidificar o meio-campo da equipe, que ainda tinha o capitão Michel Pavon e os talentosos Ali Benarbia e Johan Micoud.

Ali Benarbia: O talentoso meia argelino ficou apenas uma temporada no Bordeaux, mas fez valer a pena cada uma das 25 partidas que disputou. Ao lado de Micoud, Wiltord e Laslandes, compôs um dos quartetos ofensivos mais poderosos dos últimos tempos na França. Com destaque nas assistências, foi eleito o melhor jogador da temporada antes de migrar para a capital e vestir a camisa do PSG.

Johan Micoud: Jogador de muita classe e técnica refinada, Micoud fez sua história especialmente no Bordeaux, por onde passou seis temporadas. O título em 1999 foi a grande conquista que teve pelo clube. Ao todo, anotou nove gols e deu seis assistências na temporada, sendo decisivo para o título e também para seu ingresso na seleção francesa – em 2000, seria campeão europeu com a França.

Lilian Laslandes: Centroavante a moda antiga, Laslandes teve a melhor temporada da carreira no ano do título do Bordeaux. Esteve em campo em 33 dos 34 jogos e marcou 15 gols, incluindo um triplé diante do Metz, na goleada por 6×0. Ingressou na lista de maiores artilheiros da história do clube e cravou nome entre os ídolos girondins.

Sylvain Wiltord: Para formar dupla letal com Laslandes, nada melhor que um atacante rápido e incisivo como Sylvain Wiltord. A combinação deu certo e ele anotou 22 gols na temporada, sendo o artilheiro do campeonato. Ou seja, 37 dos 66 gols saíram da dupla. Wiltord, porém, acabou sendo mais decisivo, com dois gols importantes no jogo do título diante do PSG, na vitória sobre o Marseille e em outros jogos de placares apertados, onde seus gols aumentaram em importância. O atacante do Bordeaux acabou sendo eleito o jogador francês do ano pela revista France Football – a última vez que o premiado foi um jogador girondin foi o ídolo Jean Tigana.

Futuro

Mesmo mantendo boa parte da base, o Bordeaux não teve uma temporada 1999/2000 das mais felizes. A dupla Laslandes e Wiltord foi às redes apenas 14 e 13 vezes, respectivamente, e não conseguiram ajudar os Girondins a conquistarem mais do que um 4º lugar. Além disso, o time ficou marcado por ter sido eliminado da Copa da França na fase semifinal diante do modesto Calais RUFC, clube da quarta divisão.

O seguinte – e até agora último – título francês do Bordeaux veio apenas na temporada 2008/2009, no histórico time comandado por Laurent Blanc.

Lances:

No vídeo abaixo, você confere todos os gols da campanha do Bordeaux no título da temporada 1998/1999, os 11 na História do Europa Football:

Top 10 da Euro 2000

Engana-se quem pensa que a Eurocopa apenas se joga, é um torneio que se vive! Não só pelos atletas profissionais envolvidos na disputa, mas também por quem cobre e quem assiste. Para dar uma incrementada na série “Contos da Euro”, o blogueiro que vos transmite este texto convidou alguns jornalistas e amigos para falar um pouco de suas experiências em Eurocopas, sejam elas vividas in loco ou daqui do Brasil mesmo.

O convidado desta semana é Dassler Marques, repórter do Portal Terra e editor do site Olheiros, especializado na cobertura do futebol de base. Dassler contará nos próximos parágrafos a história da Euro 2000, torneio que ficou marcado em sua vida.

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Por: Dassler Marques

 

#1 – Les Bleus

A Euro 2000 foi a consagração da França de Deschamps (Getty Images)

A consagração definitiva para a França de Zinedine Zidane. Semifinalista da Euro 96, caiu nos pênaltis para a República Tcheca, mas foi campeã mundial em 1998 contra o Brasil e voltou à fase final da Euro 2000, nos Países Baixos. A decisão, uma das mais emocionantes da história do torneio, foi à segunda consecutiva a ser resolvida no hoje extinto gol de ouro. A morte súbita, como também ficou conhecida, foi abolida de vez em 2004, após a Euro realizada em Portugal.

#2 – Lemerre vs. Zoff

A França chegou a Euro com trajetória ascendente e toda a base campeã mundial, mas com Petit e Karembeu agora reservas. O treinador era Roger Lemerre, auxiliar técnico de Aimé Jacquet em 1998. A Itália não vinha entre as favoritas, mas empilhou quatro vitórias e despachou a anfitriã e sensação Holanda, nos pênaltis, na semifinal. O treinador era Dino Zoff, que a exemplo de Lemerre, não tinha – e também não faria – carreira sólida.

#3 – Opções para Lemerre

A França em seu 4-2-3-1 indefectível que girava em torno de Zidane. Dugarry e Djorkaeff, abertos, ofereciam posse de bola demais e velocidade de menos, o que era a missão de Henry, mais experiente que em 98 e titular na função de 9. Mas os franceses, também do fantástico quinteto defensivo Barthez-Thuram-Blanc-Desailly-Lizarazu, venceriam principalmente graças ao banco de reservas.

#4 – A Itália de Zoff

Dino Zoff assumiu após a eliminação na Copa de 1998 – para a França – com a missão de formar um time menos defensivo. Jogava com três zagueiros, alas que não avançavam, dois volantes e Fiore, meia pouco criativo e trabalhador. Mas soltou a equipe durante a final com Del Piero para um dueto raro com Totti junto de Delvecchio. Era a Squadra Azzurra entre o 3-4-1-2 e o 3-4-2-1, que poderia ser campeã se Del Piero, em jornada infeliz, tivesse feito uma das duas chances nítidas de gol que teve na etapa final.

#5 – Concorrência antiga

Zidane e Cannavaro disputam a bola em um dos vários controntos decisivos entre França e Itália

A rivalidade entre as duas finalistas estava ainda mais forte após o chatíssimo confronto das quartas de final da Copa de 98 – 0 a 0 e com vitória francesa nos pênaltis após erro do romanista Di Biagio. Seis anos depois, em Berlim, se reencontrariam para a Azzurra se livrar de vez do estigma das penalidades, fatais em 94 e 98. A França era um inimigo ainda mais íntimo porque, dos titulares, só Barthez e Lizarazu não atuavam ou já haviam atuado no Calcio. Zidane e Deschamps papavam títulos com a Juventus.

#6 – Italianos pragmáticos

O domínio do jogo foi quase todo francês, mas quando poderia ter sido da Itália em uma final dessa natureza? Difícil. Mas bem armada e com saídas fortes de Maldini por fora e Albertini por dentro, se encorpavam com Francesco Totti no auge. É ele que, com lindo calcanhar, inicia a jogada do gol de Delvecchio, servido por cruzamento do dedicado e juventino Pessotto. 1 a 0. Uma decisão com cenário que os italianos adoram.

#7 – Mexidas decisivas

Lemerre aciona o banco. Primeiro Wiltord (saiu Dugarry) para um jogo mais incisivo pela ponta esquerda. Depois Trezeguet (saiu Djorkaeff), melhor na bola alta, o que traz Henry para a ponta. Depois, no desespero, Robert Pirès (saiu Lizarazu) na lateral esquerda para ter mais força pelos lados. Aos 48min do segundo tempo, o lance capital: chutão ao alto, Trezeguet escora e a bola passa por cima do baixo Cannavaro. Wiltord, gelado, bate seco, marca e exige a prorrogação. Fosse Nesta ou Iuliano naquela bola, era quase certo que a Itália levaria vantagem.

#8 – Italianos aos cacos no tempo extra

A prorrogação foi um martírio para os italianos extenuados. Sem seus centroavantes – Vieri cortado antes e Inzaghi que se lesionou durante a Euro -, sem seus goleiros – Peruzzi, cortado como em 98, e Buffon, também machucado – mas ainda assim com Francesco Toldo, o melhor goleiro da Euro 2000. Com Maldini, Cannavaro e Albertini no sacrifício. Por uma bola no gol de ouro. Mas que é de Trezeguet.

#9 – David Trezeguet

O gol do título se inicia com os italianos em tentativa frustrada de se livrar da bola, que cai para Robert Pires. Ele arranca, deixa Cannavaro no chão e dá a Trezeguet, com 22 anos, a chance de marcar para dar a Euro aos franceses. A vendetta italiana viria na Copa do Mundo de 2006. Trezeguet foi o único a errar na disputa por pênaltis que a Azzurra venceu por 5 a 3 para ser tetra.

#10 – Zinedine Zidane

O top 10 acaba com, claro, Zinedine Zidane. Herói do primeiro título mundial dos Bleus, ele jogara demais contra a Espanha, nas quartas de final, e matou Portugal de Figo com o gol de ouro na semifinal. Sua classe, domínio de bola e ocupação de espaços aos 27 anos, no auge, são o retrato da perfeição de um dos maiores gênios da bola.

Zidane igualou o feito de Michel Platini e conquistou uma Eurocopa (Getty Images)