O dilema de Oliver

FC Bayern Muenchen v Chelsea FC - UEFA Champions League FinalSeis horas da manhã. Era esse o horário que o despertador tocava, marcando o momento em que se iniciava um novo dia para Oliver. Bom, talvez não tão “novo” assim. Ele tinha uma rotina: levantava, tomava um banho, preparava um reforçado café, vestia sua camisa social e sua calça jeans e pegava o metrô para ir ao trabalho, de onde retornava apenas no fim da tarde.

Não era e nunca seria a rotina de seus sonhos, mas não gostava de reclamar. Seu emprego era em uma escola do outro lado da cidade. Oliver era uma espécie de assessor de imprensa ou secretário, nem ele sabia descrever exatamente seu cargo, mas recebia um bom salário, suficiente para um homem solteiro sobreviver.

Nessa rotina um tanto quanto monótona encontrava-se uma de suas maiores paixões: o Bayern. Oliver não perdia nenhum jogo de seu time de coração. Se não havia jeito de ir ao estádio, sentava no sofá e assistia pela TV. Se nem isso era possível, procurava um bar, um vizinho, um amigo, um parente ou até mesmo aquelas lojas de vendas que deixam os televisores a mostra na vitrine para saber quanto estava o jogo do Bayern.

Apesar da paixão pelo time bávaro, Oliver nunca foi um fanático. Ele condena as ações hostis contra adversários, até mesmo xingamentos, prefere criticar o jogador expulso e não o árbitro que o botou pra rua, é contra as contratações milionárias e os salários astronômicos, mas apoia a modernização dos estádios e acha que a Uefa está certa em colocar cadeiras nos locais reservados aos torcedores que preferem ficar em pé.

Oliver viu o Bayern ser campeão alemão diversas vezes, sempre comemorou os títulos e nunca pestanejou em comemorar os triunfos com seus amigos em festas banhadas de cerveja. Mas nunca ter visto seu time ganhar a Liga dos Campeões não era uma mera decepção, e sim uma enorme ferida ainda não cicatrizada.

Apesar dos 23 anos de idade, Oliver não comemorou o título europeu de 2001. Ele tinha 11 anos na época e aguardava ansiosamente pela partida. Uma das lembranças mais fortes é de seu pai falando insistentemente após a semifinal contra o Real Madrid que não trabalharia no dia da final, mesmo correndo o risco de ser demitido.

Por ironia do destino, seu pai, que deveria estar ocupado na hora da partida, conseguiu uma folga para acompanhar Bayern x Valencia, enquanto Oliver, que deveria ser a pessoa livre da ocasião, não pôde assistir ao jogo.

No mesmo dia da decisão havia uma viagem da escola para o “interior do interior do interior” da Alemanha, um local tão isolado que ninguém sabia como estava no mapa do país. Se estivesse na forma geométrica dividida para as nações asiáticas ou americanas no Mapa Mundi, Oliver entenderia tal distância, mas era Alemanha e custava a acreditar.

O fato era que a cidade estava tão distante do que alguns consideram como “civilização” que não havia nenhum telefone na cidade, muito menos internet ou televisão. Poderiam encontrar alguns rádios durante o caminho, mas a sintonia não era das melhores e as estações se preocupavam mais em tocar músicas tradicionais ou anunciar o preço do arroz.

Os moradores, então, nem se interessavam por esportes. Para eles era perda de tempo, coisa inútil. Mais valia uma plantação bem feita, animais bem tratados e o aconchego familiar do que um jogo bobo.

Como a viagem duraria três dias, Oliver só saberia do resultado no sábado.

– Maldito dia que vim ao mundo – pensava o garoto.

Não havia o que fazer.

O Bayern ganhou, o pai de Oliver festejou, Munique estava em êxtase e ele só soube do motivo quando a população estava de ressaca. O garoto lembra-se de poucas coisas daquela época, era muito jovem, mas guarda com angústia aqueles momentos de distância do time. A partida foi reprisada diversas vezes naquela semana, mas ele optou pelo afastamento da televisão. Não queria ver aquilo, só lhe traria lembranças ruins, recordações do dia que não festejou a glória máxima de seu time.

Em 2010 veio o momento da libertação. Mais maduro, formado no ensino médio, trabalhando e independente, Oliver ia sozinho aos jogos do Bayern e não titubeava em ir aos bares próximos beber após as massacrantes vitórias. Já era um homem, já era um torcedor bávaro.

Cogitou a possibilidade de viajar a Madrid para assistir a decisão contra a Internazionale, mas algo lhe dizia que não seria uma boa ideia. Durante alguns dias, Oliver passou por uma espécie de “inferno astral”, quase sofrendo acidentes, se machucando, recebendo broncas que não recebia normalmente. Em sua ingênua cabeça, aquilo estava acontecendo porque pensou em ir para Espanha assistir ao jogo, logo desistiu da ideia.

No dia da final, reuniu os amigos em sua casa, preparou a cerveja e armou todo ambiente para que se sentissem dentro da decisão. Mas o inferno astral não havia ido embora. O Bayern perdeu, a cerveja esfriou e o clima ficou quente. Houve bate-boca entre os amigos e alguns deles não se falam até hoje.

Sua paciência com o Bayern e a sina de não vencer a Liga dos Campeões da Europa estava acabando. 2012 era o ano limite. A final seria em Munique, os bávaros foram às compras e trouxeram Manuel Neuer para ser o tão aguardado substituto de Kahn, ídolo de Oliver na infância.

Neuer era um dos poucos que não lhe inspiravam confiança, mas não era pelo motivo que trazia os mesmos suspiros em outros torcedores – ser cria do Schalke 04 – mas sim por ele ser o primeiro grande goleiro do Bayern desde Oliver Kahn. Oliver era fã de seu xará e não aceitava qualquer um na meta de seu time. Se fosse para vestir a camisa 1, que fosse para honrá-la e mostrar ao mundo toda raça bávara e Neuer seria cobrado até demonstrar tais características.

Essa birra de Oliver só caiu na semifinal, novamente contra o Real Madrid. Ele havia assistido todos os jogos em casa, mas se engajou em viajar para Espanha acompanhar aquela partida e não se arrependeu… Ou melhor, se arrependeu. Naquele mesmo dia, pediu perdão por todas as críticas, cornetadas, xingamentos e tudo mais que havia feito a Neuer nos últimos meses.

Ver aquele alemão embaixo dos três postes agindo como um leão perante um adversário espanhol em uma disputa de pênaltis lhe trouxe a imagem nunca vista de Kahn contra o Valencia em 2001. No instante que Neuer agia, Oliver voltou a se sentir como um garoto de 11 anos, imaginando que via em campo Élber, Effenberg, Scholl e, principalmente, Kahn. Foi com aquele time que teve sua iniciação em campos de futebol e guarda lembranças sentimentais destes jogadores até hoje.

Nada o faria perder a decisão da Allianz Arena, nem mesmo um novo “inferno astral”. Os ingressos já estavam comprados, os compromissos desmarcados e o teste cardíaco… Bom, o teste seria durante o jogo, dentro do estádio.

Oliver fazia parte daquele mar vermelho, ele sentia que aquilo poderia pesar contra o Chelsea. O adversário, aliás, era um time que não lhe inspirava nenhuma simpatia. Lembra-se daquele assunto que nosso personagem “não gosta de transferências milionárias”? Pois é, esse é o motivo que fazia com que Oliver alimentasse certo ódio pelo time azul.

A bola havia rolado e o coração batia de forma nunca antes notada. Era um momento único e nosso protagonista não aceitava sair do estádio sem o título.

O placar zerado ao fim dos tensos 45 minutos iniciais deixavam Oliver cada vez mais nervoso. Seu tradicional lanche de intervalo ficou de lado. Preferiu ir ao banheiro e jogar uma água no rosto, ele suava como nunca.

Seu nervosismo era tanto que, na volta para seu lugar no estádio, passou por amigos e colegas de trabalho e não os viu. Dias depois foi cobrado por não dizer nada, cumprimentar ou fazer um simples sinal, mas não havia o que falar. Enquanto seguia o percurso, a única coisa que enxergava era sua cadeira. Não era concentração, era tensão.

Durante o segundo tempo, Oliver não tinha certeza se passaria no teste cardíaco. Perdeu a conta de quantas vezes ficou sentado em lances de perigo e em pé em bolas controladas da defesa. Perdeu a noção de tudo, não conseguiu distinguir o que era certo ou errado e xingava até passe certo de seu time.

Quando começou a se conformar com mais trinta minutos de sufoco, veio o gol de Thomas Müller. Oliver não se conteve. A característica “frieza alemã” deu espaço a euforia, a loucura e aos gritos e pulos de alívio.

Oliver não sabia e tudo aquilo era verdade ou se o coração já estava parado e o que acontecia era obra da fantasia criada em sua mente. Ele sabia que a mente poderia pregar peças, mas o trapaceiro da vez não foi seu cérebro e sim Didier Drogba.

O marfinense foi durante toda semana a maior preocupação bávara. As esperanças de título do Chelsea passavam por ele e o Bayern sabia disso. Oliver nunca foi daqueles que levantavam a ideia de “quebrem o craque adversário”, mas na partida, sua mente estava tão agitada que gritava “quebra, quebra” nos poucos toques na bola de Drogba.

Ninguém do time o ouviu. Talvez se ouvissem, quebrassem o jogador ou nem dessem bola. Se dessem, sairiam no lucro. O golpe de cabeça do marfinense no gol de empate londrino foi de mesma intensidade que um tiro no peito. Direto, reto, veloz e fatal.

Oliver desabou, não sabia o que fazer. Ele tinha consciência de que teria a prorrogação pela frente, mas não acreditava que aquele gol havia acontecido.

O tempo extra tinha um sentimento diferente para nosso personagem. Ele não estava nervoso como antes, parecia mais um ser em estado vegetativo, se é que podemos descrever assim. Seu corpo estava lá, sua visão acompanhava cada lance, mas a alma estava perdida. Nem mesmo quando Robben perdeu o pênalti ele esboçou uma reação mais clamorosa. Lamentou, como todos no estádio fizeram, mas, feito um robô, voltou seus olhos ao jogo.

Era chegada a hora da disputa por pênaltis. Havia um misto de emoções na Allianz Arena. Uns choravam, outros gritavam, uma parte do estádio mostrava confiança, outra parte sentia medo. Alguns poucos ficavam de costas para o gramado só para não ver o que se passaria.

Oliver mantinha seu status robótico. Ele estava de pé, com os braços cruzados e com os olhos fixos em Manuel Neuer. Em algum lugar de seu peito queria que o antigo arqueiro do Schalke voltasse a invocar Kahn e deixasse a ‘orelhuda’ em Munique. A fixação era tão grande e assustadora que Oliver nem notou as cobranças desperdiçadas por Ivica Olić e Bastian Schweinsteiger. Só se deu conta de que voltaria a viver uma decepção quando viu Drogba convertendo a cobrança que rendeu o título ao Chelsea.

Esse dia ficou marcado como um divisor de águas para Oliver. Enquanto 90% dos torcedores bávaros deixavam a Allianz Arena de forma cabisbaixa, o rapaz permanecia em sua cadeira e tentando entender o que havia se passado. Aquele momento foi o pior de sua vida, nunca havia presenciado algo tão chocante, isso que trabalhava em uma escola lotada de crianças que adoram correr de forma aloprada e que invariavelmente surgiam com cortes profundos em suas frágeis pernas.

Daquele dia em diante, Oliver queria fazer sua própria felicidade e decidiu não se envolver tanto com o futebol. Ele percebeu que não era muito saudável andar cabisbaixo por causa de uma derrota em um jogo e que era burrice demais entregar o estilo de seu comportamento a 11 jogadores que vestem uma camisa vermelha.

Coincidência ou não, sem Oliver torcendo ferrenhamente, o Bayern vive uma de suas mais gloriosas temporadas da história. Em nenhum momento pensou em ir a Allianz Arena acompanhar seu time. Além disso, passou a se contentar em saber apenas o resultado da última partida, às vezes, nem isso era preciso para que seu dia transcorresse normalmente.

O único jogo que ousou bisbilhotar pela televisão foi contra o Arsenal. Viu o começo e desligou após o gol londrino, percebeu que não era uma boa ideia continuar em frente à telinha. Efeito do “choque Chelsea”.

O tempo foi passando e o terremoto bávaro seguia em Munique. Oliver tentava se manter distante do Bayern, mas o Bayern queria ficar próximo de Oliver. Não havia escapatória, apesar da relutante fuga.

Hoje faltam dois jogos para o término da temporada, duas decisões, diga-se de passagem. Oliver acreditava que poderia permanecer alheio a tudo, mas ele não esperava que um episódio acontecesse.

Faltando uma semana para o embate com o Borussia Dortmund pela Liga dos Campeões, o chefe de Oliver o chamou em sua sala para receber um convite. Nosso protagonista já imaginava se tratar de uma promoção ou um aumento de salário, mas não era nada disso.

O filho do chefe trabalha em uma das empresas que patrocinava a Liga dos Campeões. Empresa essa que distribuiu algumas dezenas de ingressos para funcionários e o chefe de Oliver também recebeu alguns. Inesperadamente, vários empregados da escola receberam ingressos e passagens pagas para a decisão como forma de agradecimento do chefe pelos vários anos de dedicação.

Oliver foi um dos contemplados e nem sabia o que dizer. Não queria fazer a desfeita de rejeitar um presente daqueles, assim como não queria quebrar sua sina de deixar o Bayern de lado naquele ano. Aceitou o convite, mas não decidiu se vai ou não para Londres. Esse é o dilema.

E vocês? O que fariam na situação de Oliver?

TOP 7: Eliminados, mas valorizados

Muito se fala que a fase de grupos da UEFA Champions League é recheada de times fracos. Em partes, não dá para discordar. Muitas equipes que participaram deste estágio do torneio não fariam falta alguma se ficassem se preocupando com suas ligas domésticas. Porém, alguns dos times que não conseguem nem passar da fase de grupos mostram a Europa bons valores individuais. É justamente isso que veremos hoje.

Neste momento da temporada, a primeira metade do torneio segue almejando o sonho de vencer o troféu mais cobiçado do continente e a outra parte vai embora com este desejo desfeito. Ainda assim, outras oito equipes irão manter a vontade de conquistar um torneio internacional, a Liga Europa.

Dos 16 privilegiados que poderão conquistar a Europa, falarei outra hora, afinal de contas, os jogos das oitavas de final só serão realizados em 2013. Darei espaço aos eliminados. Desses 16 times saíram alguns bons valores e selecionei sete que me chamaram a atenção nesta fase de grupos. Obviamente, se vocês entenderem que esqueci alguém ou que fui bonzinho demais ao colocar outro atleta, invadam a caixa de comentários e deem suas análises.

7) Dieumerci Mbokani – Anderlecht

Mbokani é o grande nome do atual Anderlecht

Mbokani é o grande nome do atual Anderlecht

O congolês Mbokani teve início bem complicado no Anderlecht. Logo em sua chegada, sofreu uma grave lesão que o afastou dos gramados por dois meses. Quando retornou, recebeu a triste notícia de que seu filho faleceu enquanto dormia. Isso atrapalhou sua temporada marcada por apenas oito gols no Campeonato Belga. Nesta temporada, Mbokani já tem um gol há mais e é o principal nome ofensivo do time.

Na fase de grupos da Champions League, o atacante fez dois gols e deu uma assistência, isso depois de ter feito uma fase preliminar boa, onde marcou quatro gols nos três jogos da equipe. Mbokani, que já teve chances maiores em sua carreira, começa a dar sinais de amadurecimento e talvez possa aparecer como boa peça de reposição de clubes mais fortes na Europa.

6) Lucas Biglia – Anderlecht

Desde 2006 na Bélgica, o argentino Lucas Biglia está muito bem adaptado ao futebol europeu. Volante técnico, de boa marcação e passe bem qualificado, Biglia foi um dos destaques da fraca campanha do Anderlecht nesta fase de grupos da UEFA Champions League, participando de todas as partidas da equipe sem ser substituído.

O argentino obteve destaque no quesito passe. Das 467 tentativas de passe, 349 foram concluídos e se tornou o quarto melhor passador do torneio. Na questão de porcentagem, Biglia teve 75% de aproveitamento em seus passes. Aos 26 anos e com algumas passagens pela seleção argentina, o volante parece pronto para alçar voos mais altos na carreira.

5) Kostas Mitroglou – Olympiacos

O artilheiro do Campeonato Grego é Rafik Djebbour do Olympiacos, mas quem decidiu na UEFA Champions League foi o outro jogador do time: Kostas Mitroglou. O atacante nunca havia emplacado nos Lendários, mas após duas temporadas emprestado a Panionios e Atromitos, se encaixou no representante grego.

No campeonato nacional já foram cinco gols e na Champions League foram mais quatro. Seus tentos foram valiosos, pois serviram pro Olympiacos desbancar o campeão francês Montpellier e ficar com a vaga para a Liga Europa. Mitroglou, que já esteve defendendo seu país na última Eurocopa, vai começando a dar forma a sua carreira que já foi mais instável.

4) Niklas Moisander – Ajax

Moisander perdeu apenas para Xavi em questão de passes

Moisander perdeu apenas para Xavi em questão de passes

Considerado o substituto do zagueiro Jan Vertonghen, o finlandês Niklas Moisander do Ajax fez boa fase de grupos, mesmo com a eliminação de seu time. Apesar de acumular duas goleadas por 4×1 nas rodadas derradeiras do torneio, o defensor conseguiu se destacar ao lado do parceiro Toby Alderweireld. Curiosamente, os dois estão no top 5 de jogadores que mais passaram bolas nessa fase de grupos.

Nesse quesito, Moisander ficou atrás apenas de Xavi do Barcelona. O finlandês tentou dar 480 passes e concluiu 404, ou seja, teve 84% de aproveitamento em seus passes. O catalão concluiu 92% dos passes. Essa é apenas uma amostra de como o Ajax aplica sua filosofia de toque de bola, vinda desde a metade do último século. Na vitória ou na derrota, é bola no pé.

3) Silvio Proto – Anderlecht

Desde 2005 no Anderlecht, o belga com origens italianas Silvio Proto se fixou como titular do time e exibiu ótima forma na meta de sua equipe, se tornando, assim, um dos grandes nomes da campanha dos Roxos. A principal partida do goleiro foi contra o Milan, curiosamente, time que, segundo ele, é o preferido de sua família.

Outro ponto peculiar de Proto é que ele, juntamente com os já citados Biglia e Mbokani, além de Milan Jovanović, ajudou a formar a equipe que mais me chamou a atenção dentre os eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões. Porém, o Anderlecht não pode reclamar do grupo em que caiu, pois era uma chave, de certa forma, “acessível”.

2) Alan – Sporting Braga

Desde que o Braga começou a se aventurar Europa afora, o meia-atacante Alan tem se destacado. Antes do início da competição, o brasileiro havia marcado quatro vezes em 44 jogos por torneios UEFA. Alan abandona a fase de grupos da Liga dos Campeões com nove gols na conta. A importância do brasileiro foi tão grande que em todos os jogos em que o Braga fez gol, Alan também marcou.

A partida mais chamativa do meio-campista foi contra o Manchester United no Old Trafford, onde marcou dois gols e o Braga abriu 2×0. Os portugueses acabaram cedendo a virada mais tarde, mas esses tentos o ajudaram a igualar-se com Messi na lista de artilheiros com cinco gols.

1) Oscar – Chelsea

Oscar não sentiu o peso de uma Champions League

Oscar não sentiu o peso de uma Champions League

Longe de querer duvidar da capacidade técnica do garoto Oscar, mas eu esperava ver o rapaz mais acanhado nos jogos de UEFA Champions League. Nada disso aconteceu. Em sua estreia contra a Juventus, Oscar não se intimidou e marcou dois gols. No restante da campanha foram outros três tentos, sendo um do meio-campo contra o Shakhtar Donetsk.

Oscar não chega a ser uma surpresa – talvez uma revelação para os europeus -, mas o modo como atuou no torneio, sem sentir o peso de defender o atual campeão do continente, impressionou. Nos próximos anos, se o Chelsea arrumar a casa, Oscar tem tudo para brilhar muito mais na Liga dos Campeões da Europa.

*Crédito das imagens: Getty Imagens

Gangorra

Os alemães estão tomando o lugar dos ingleses?

Durante a última década, nos acostumamos a ver times ingleses nas semifinais da UEFA Champions League. Não à toa, quando faltaram britânicos nesta fase na edição 2009/10, chegaram a falar em declínio da Premier League, mas preferimos tratar o caso como temporada de exceção. Na última edição do torneio, a dupla de Manchester caiu na fase de grupos, sendo que esses mesmos times foram os dois líderes do Inglês ao término da temporada. Queda? Ainda deixamos essa hipótese de lado, principalmente com o Chelsea conseguindo o almejado título europeu.

Nesta nova temporada, corre-se o risco de avançarmos para a fase mata-mata, novamente, com apenas dois ingleses. O Manchester City, atual campeão nacional, parece que ainda não aprendeu a jogar a Champions League e já está eliminado com uma rodada de antecedência. Já o Chelsea precisa de um milagre para evitar o vexame de ser o primeiro campeão europeu eliminado ainda na fase de grupos.

Em outro canto da Europa, a história é completamente oposta. Mesmo perdendo o Borussia Mönchengladbach na fase prévia da competição, a Alemanha tem seus demais representantes classificados, com o Dortmund tendo assegurado a ponta do temido “Grupo da Morte”. Enquanto isso, Schalke e Bayern dependem de seus esforços para confirmar a primeira colocação de suas chaves.

Os parágrafos anteriores demonstram uma significativa mudança no cenário europeu. Os ingleses, outrora clubes dominantes do continente, não conseguem impor internacionalmente a força vista nos campeonatos domésticos, enquanto a Alemanha, antes resumida, em cenário europeu, ao Bayern, enxerga muito mais do que resultados, mas também, bom futebol.

No Borussia Dortmund, impressiona a frieza de Marco Reus nessa primeira fase de Champions League. O garoto estreou em um torneio continental nesta temporada e não sentiu nenhum peso, chegando a marcar um gol no vislumbrante Santiago Bernabéu. O Schalke 04 está bem mais amadurecido em relação o time que chegou nas semifinais da temporada retrasada e salve um equívoco ou outro do técnico Huub Stevens, tem tudo para surpreender no torneio.

O Bayern dispensa maiores apresentações e não é exagero algum colocá-lo como um dos principais favoritos ao caneco. A campanha na Bundesliga beira a perfeição, o ataque ganhou nova movimentação com o croata Mandžukić e a defesa já não é mais o grande problema, tendo sofrido poucos gols na temporada. Acima do Barcelona no ranking de favoritos? Exagero. Mas os bávaros, se não estão acima, pelo menos estão em patamar igual ao do Real Madrid.

Deposito parte considerável desse sucesso a divisão de forças dos principais times alemães. Manuel Neuer foi o único exemplo recente de jogador que trocou uma equipe de porte por outra. No restante, os clubes buscam se reforçar com atletas de equipes menores ou então revelar jogadores. É o caso de Schalke e Dortmund, que contam com nomes do calibre de Füchs, Neustadter, Draxler, Reus, Götze, Lewandowski e Gündoğan. Todos estes citados são crias dos times citados ou foram trazidos de clubes menores da Alemanha e outros países.

O Bayern, por ser um clube mais rico, se dá ao luxo de buscar jogadores renomados internacionalmente, como foi, recentemente, com Arjen Robben e Javi Martínez. Porém, o clube bávaro tem seguido as ações dos adversários e buscou novos talentos em equipes menores, caso de Dante, Mandžukić e Luiz Gustavo.

Em contrapartida, as equipes inglesas não estão tendo a capacidade de se “reforçar mutuamente”. Basta olhar o seguinte exemplo: Liverpool e Arsenal não estão brigando por títulos, logo, seus destaques trocam de clube por esse motivo. O pior disto tudo é que esses jogadores reforçam os rivais, ou seja, entre as equipes de porte do país, um perde, outro ganha. Os principais atletas ficam concentrados nos mesmos times e a circulação de bons jogadores fica menor.

Isso indica declínio da Premier League? Eu ainda prefiro esperar antes de dar uma opinião final. Se fosse para dar uma resposta agora, diria que não, mas fica aquela pontinha de desconfiança se essa opção de buscar reforços no rival é uma boa em âmbito geral. O adversário forte lhe obriga a ser mais poderoso ainda. Se você enfraquece o rival, pode lhe causar acomodação. Se isso vier acontecer, aí sim poderemos apontar uma decadência da Liga Inglesa… Decadência mental!

Mas ainda é cedo para chegarmos a uma conclusão. Na temporada passada, vimos o campeão alemão cair na fase de grupos e outro time do país chegando na final, assim como notamos a dupla mais forte da Inglaterra afundar cedo e um desacreditado Chelsea ganhando a competição. São times que adoram brincar de gangorra quando o assunto é torneios UEFA e como toda gangorra, tem o momento que desce e o momento que sobe.

*Crédito da imagem: Getty Images