Olympique Lyonnais: a boa nova do Campeonato Francês

Foto: Guiochon - Le Progrès

Foto: Guiochon – Le Progrès

Caros irmãos e irmãs, venho por meio desta anunciar a boa nova do Campeonato Francês: o Olympique Lyonnais.

Formalidades paroquiais à parte, o Lyon realmente é a melhor notícia da Ligue 1 nesta primeira metade de temporada, encerrada no último dia 21. Em um campeonato com dois times milionários e com outra equipe que possui um treinador que é referência para, simplesmente, Pep Guardiola, ver o OL apresentando um futebol vistoso, ofensivo e, principalmente, marcado por um bom trabalho de base é o que anima os amantes do bom jogo.

Esse desempenho é notado especialmente quando comparamos números entre um ano e outro. O Lyon teve uma ceia natalina indigesta em 2013, passando as festas de fim de ano no 11º lugar, com apenas seis vitórias em 19 jogos. Além disso, a equipe então comandada por Rémi Garde havia sofrido 27 gols – apenas Ajaccio, Sochaux, Valenciennes (que estavam na zona de rebaixamento e viriam a ser rebaixados) e Evian haviam sofrido mais. Neste ano a história é diferente. Com o promissor Hubert Fournier, ex-Stade de Reims, no comando técnico, Les Gones encerraram o primeiro turno na segunda colocação, afrente do atual bicampeão Paris Saint-Germain. O Lyon têm 39 pontos e tem o melhor ataque da competição com 40 gols.

Evidentemente que boa parte desse desempenho passa pelos pés do atacante Alexandre Lacazette, autor de 17 dos 40 gols e ainda responsável por cinco assistências. Ou seja, o artilheiro da competição participou de impressionantes 55% dos gols do time no campeonato. Números impressionantes que o colocam como um dos grandes nomes da temporada europeia até o momento.

Um detalhe interessante desta marca do atacante é que ele não fez nenhum gol de pé esquerdo. Dos 17 tentos, 15 foram de pé direito e dois foram anotados de cabeça. Confira abaixo os mapas dos gols de Lacazette:

Arte: Squawka

Arte: Squawka

Combinação que dá certo

Falou em franco-argelino no Lyon, logo nos lembramos de Karim Benzema, que vestiu a camisa do OL por cinco temporadas, fez 66 gols e foi campeão francês quatro vezes. A fórmula parece que foi novamente usada e vai tendo sucesso, claro, com suas devidas proporções. Falo do habilidoso Nabil Fekir, meia-atacante de 21 anos.

O franco-argelino foi lançado por Rémi Garde na temporada passada, mas teve números discretíssimos. Apenas 544 minutos em campo na Ligue 1, sendo 11 partidas e apenas seis como titular. Fez um gol e deu duas assistências… Todos registrados no mesmo jogo (vitória por 4×1 sobre o Bastia). Na atual temporada, Fekir já tem mais que o dobro de minutos e tem desempenho além do satisfatório. Foram seis gols e quatro assistências.

Hoje ele é, tranquilamente, um dos principais jogadores do campeonato. E não são só os números que me fazem afirmar isso, mas também o contexto do time. Fekir é meia armador, joga mais centralizado no já calejado 4-3-1-2 do OL. Olhando o elenco, você sabe quem poderia jogar por ali? Clément Grenier e Yoann Gourcuff, só isso. O primeiro ainda nem estreou na temporada, sofrendo com problemas no adutor da coxa, já o segundo atuou em apenas sete jogos, mas foi importante na vitória sobre o Marseille, anotando o gol da vitória.

Sem Grenier e Gourcuff, a pressão recaiu sobre Fekir, que soube driblar bem a carga extra de cobrança (e seus marcadores também) para ser um dos destaques da equipe.

A fortaleza de aço

Foto: Guiochon - Le Progrès

Foto: Guiochon – Le Progrès

Outro fator preponderante para a excelente campanha do Lyon é o desempenho jogando no estádio Gerland. Dos 39 pontos, 27 foram conquistados em casa – 69,2% dos pontos. Como mandante, o OL tem impressionantes 90% de aproveitamento, tendo vencido nove jogos e perdido um nos dez que fez no primeiro turno. Além do mais, 25 dos 40 gols foram marcados em casa, assim como cinco dos 17 sofridos.

Para efeito de comparação, o Lyon somou 31 pontos jogando em casa na temporada passada toda e 37 na anterior! É impossível imaginar que não vá bater esses números. Aliás, o OL venceu oito jogos como mandante na temporada 2013/2014. Já tem uma vitória há mais nesta temporada.

Vale ressaltar que nos sete anos consecutivos em que ergueu o troféu de campeão nacional, o máximo de pontos que o Lyon somou em casa no primeiro turno foi 23, número que certamente anima ainda mais o torcedor mais fanático.

Base

Mas o que mais chama a atenção na ótima campanha do Lyon no Campeonato Francês é o trabalho muito bem feito com as categorias de base. Como frisei algumas vezes no blog e também no podcast, o OL tem sido muito mais um clube formador do que comprador. Isso se reflete na política do clube, que vendeu nos últimos anos Benzema, Michel Bastos, Lisandro Lopez, Hugo Lloris e outros e não repôs com contratações, mas sim com atletas criados no próprio Lyon.

Somente nesta primeira metade de temporada, o técnico Hubert Fournier utilizou 23 jogadores, 14 deles eram formados pelo clube, sendo alguns mais calejados, como Maxime Gonalons, Steed Malbranque, outros em momento de afirmação, como Samuel Umtiti, Alexandre Lacazette e Jordan Ferri e outros expoentes como Nabil Fekir, Clinton N’Jie, Corentin Tolisso e Yassine Benzia. O detalhe é que entre os dez que mais jogaram pelo OL no primeiro turno, apenas o lateral Christophe Jallet e o volante Arnold Mvuemba não são da base.

E vale lembrar que o Lyon investiu somente 3 milhões de euros nesta temporada e em apenas duas contratações: Jallet e Lindsay Rose. Para ter uma ideia, o Rennes, oitavo colocado com 28 pontos, investiu mais de 10 milhões de euros em contratações, mais que o dobro que o OL e tem resultados absolutamente inferiores.

Logo você para pra ver que esse mesmo Lyon dos 3 milhões de euros está na frente do PSG, que gastou quase 50 milhões, e coladinho no Marseille, que investiu 20,5 milhões em contratações. Em uma analogia meio fanfarrona, é a vitória da metodologia agricultora: você planta e colhe – e no futuro vai vender. O presidente Jean-Michel Aulas pode até não sair com o caneco no final da temporada, mas vai poder dizer que sua ideia está dando certo e o Lyon está formando excelentes jogadores. Que essa boa nova permaneça e possamos vê-la se disseminando em outros clubes franceses.

Dinastia Barcelonista sem data para o fim

A Dinastia Barcelonista? (AP)

O Barcelona confirmou no meio dessa semana seu tri-campeonato espanhol, 20º em sua história e 10º nos últimos 20 anos. O Barça começa a criar uma dinastia no futebol espanhol.

Desses dez títulos nos últimos vinte anos, o Barça conseguiu um tetra-campeonato – 1990/1991 até 1994/1995 –  e o atual time do Barcelona já conseguiu um tri campeonato e pelo andar da carruagem, o recorde dos anos 90 não será apenas igualado, como tem tudo para ser superado e aumentado.

O Barcelona hoje tem um treinador jovem. Josep Guardiola, ainda com 40 anos, ainda tem muita lenha para queimar e se tornar um dos grandes, se não o maior treinador da história do clube. Tá certo que trabalhar com um time que tem Messi, Xavi, Iniesta (…) é fácil, mas ele tem seus méritos. Não à toa desde sua chegada, ele mexeu bastante no time.

Outro fator que me faz pensar que o Barcelona pode realmente criar uma dinastia no futebol espanhol é o fato de seu elenco ser jovem e quando parece envelhecer, logo surge um jogador das categorias de base para me desmentir. A média de idade do time catalão é de 24,5 anos!

Jogadores como Xavi, Puyol e Abidal, são só exemplos de atletas do clube que já ultrapassaram os 30 anos e que parecem ter um prazo de validade, mas como já é de conhecimento de todos, o Barcelona tem uma forte categoria de base. Fontàs, Muniesa, Bartra, Sergi Roberto, Thiago Alcântara e Jonathan são só alguns exemplos de garotos promissores que você pouco ouve falar, porque são lançados aos poucos. Mas certamente você já ouviu falar de Xavi, Iniesta, Messi, Bojan, Pedro e Jeffren. Todos são crias da base e enquanto o rival de Madrid vai esbanjando dinheiro, o clube da Catalunha vai formando atletas.

Quando Guardiola assumiu o Barcelona, ele já usava Messi, Xavi, Iniesta, Puyol (…), o tempo foi passando e jogadores como Pedro, Busquets e Jeffren começaram a ganhar mais chances. E assim vai. Guardiola vai rodando o elenco de ano pra ano.

Messi é a grande estrela do Barça

Aos poucos, Guardiola deve ir preparando esses garotos, que hoje são coadjuvantes, para logo serem sucessores dos grandes personagens atuais. Se hoje, Messi é a estrela da companhia, daqui há vários anos, com a carreira já bem desenhada e consagrada, ele pode vir a ser mais um e “se rebaixar” a um outro grande jogador, que pode vir a ser cria do Barcelona.

Vasculhando o elenco do Barça, nota-se que apenas dez jogadores não são cria ou não jogaram nos times de base do Barça. Num elenco de 35 jogadores e levando em conta que desses dez, quatro atletas, no máximo cinco jogam com frequência, é muito pouca coisa. Mas o que o Barcelona quer mesmo é armar uma dinastia. O Barça quer ter o domínio total do futebol espanhol com sua categoria de base, com a implantação de seu já característico jogo, com paciente toque de bola e muita ocupação de espaço. É assim que o Barcelona joga, é assim que eles aprendem desde garotos!

É um contraste com o Real Madrid, que com seus investimentos malucos, com a vinda de jogadores atrás de jogadores, com garotos da base sendo dispensados a cada momento – é só vasculhar os elencos dos times da Liga BBVA que tu encontra centenas de crias do Real Madrid –  e acumulando uma escassez de títulos. O Real vai virando freguês do Barcelona, seja na Espanha, seja na Europa.

Quem quer dinheiro?

Seria um modo errado de pensar futebol de Florentino Pérez? Talvéz não. Os Merengues tem dinheiro, podem investir e montar elencos caros. Isso não é um erro, é até normal. O problema é o modo de como esse dinheiro é investido. O Real tem um time diferente a cada ano. Basta olhar o elenco dessa temporada. Ricardo Carvalho, Özil, Dí María e Khedira não estavam na temporada anterior e são peças importantes de José Mourinho, que nem era técnico do Real Madrid. Levando em conta que um time pode levar, dois, três meses para se entrosar e somar mais uns três ou quatro para beirar o limite de seu potencial, pode-se dizer que é um crime o que o Real faz ao montar vários times diferentes em anos diferentes.

Times são montados para curto prazo, para ganhar torneios de tiro curto, elencos são montados para ganhar os grandes campeonatos, as ligas de maiores importâncias e sempre acabam rendendo frutos, como o aumento da receita, um número maior de torcedores e de garotos torcedores, o que pode promover um aumento nas categorias de base.

Enfim, enquanto o Real Madrid vai com o simplório pensamento de que com dinheiro tudo pode e que assim os títulos virão, o Barcelona vai investindo na base, fazendo somente em contratações cirúrgicas e vai criando uma dinastia no futebol espanhol, que pelo que parece, vai se expandir pela Europa inteira…

Parabéns ao Barcelona! Não só pelo título espanhol, como também por recuperar um pouquinho desse charme do futebol, que é a criação de atletas!